'Precisamos odiar os ultraprocessados para deixarpoker online facebookcomê-los', diz autorpoker online facebookbest-seller sobre indústriapoker online facebookalimentos:poker online facebook

Crédito, Jonny Storey 2023

Legenda da foto, O médico Chris van Tulleken defende uma maior regulamentação sobre os alimentos ultraprocessados

Isso porque o conceitopoker online facebookultraprocessados foi desenvolvido pela equipe liderada pelo epidemiologista brasileiro Carlos Monteiro, professor da Faculdadepoker online facebookSaúde Pública da Universidadepoker online facebookSão Paulo (USP) — que, inclusive, assina o prefácio do novo livro.

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O médico britânico confessa que duvidou do conceitopoker online facebookultraprocessadospoker online facebookinício e achava que os malefícios apontados nos estudos estavam relacionados apenas aos excessospoker online facebookgordura, açúcar e sal presentespoker online facebookmuitos desses produtos.

Para colocar a ideia à prova, ele resolveu se submeter a uma pesquisa,poker online facebookque radicalizou a própria dieta e passou a comer basicamente alimentos ultraprocessados.

Entre muitos outros detalhes e informações contidas no livro, ele detalha tudo que passou durante a experiência.

Em entrevista à BBC News Brasil, van Tulleken sugere que países e governos tomem ações mais contundentes para diminuir o consumopoker online facebookultraprocessados entre a população.

Na opinião dele, as grandes redes alimentícias vão destruir as culinárias tradicionais nos próximos 50 anos — e não há muito o que as pessoas individualmente possam fazer para mudar esse cenário (ou a própria dieta).

Confira os principais trechos da entrevista a seguir.

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poker online facebook BBC News Brasil - Você tem uma formaçãopoker online facebookinfectologia e virologia molecular. De onde surgiu o interesse acadêmico e científico pela alimentação?

poker online facebook Chris van Tulleken - Ainda como um jovem médico, trabalheipoker online facebookpaísespoker online facebookrenda baixa e média, especificamente na África Central e no Sudeste Asiático. E, como infectologista, testemunhei crianças morrendo por causapoker online facebookdoenças infecciosas.

Muitas dessas crianças morreram porque seus pais foram convencidos a comprar fórmulas infantis, muitas vezes sem condições financeiras, e eles não tinham acesso à água potável para prepará-las. Muitas vezes, eles também não sabiam como fazer o preparo dessas fórmulas.

Esse foi o meu primeiro contato com a indústria alimentícia, sobre a qual faria investigações no futuro.

Alguns anos depois, eu participeipoker online facebookalguns programas da BBC nos quais comecei a focar nos determinantes comerciais da saúde, ou como algumas corporações, principalmente as empresas que fabricam alimentos, afetam todos nós.

poker online facebook BBC News Brasil - Você se lembra da primeira vez que ouviu o termo “alimento ultraprocessado”?

poker online facebook Van Tulleken - Sim, isso aconteceupoker online facebook2009, quando uma produtora da BBC me encaminhou um artigo científico enquanto estávamos produzindo um documentário sobre obesidade infantil.

Esse artigo estava escrito metadepoker online facebookportuguês, metadepoker online facebookinglês, e havia sido publicado num periódicopoker online facebooksaúde brasileiro. Para mim, à época, não pareceu muito importante e ignorei o assunto por um longo tempo.

Quando finalmente li o artigo, senti que ali estava a explicação para tudo. Esse foi meu instinto.

Na sequência, fiz muitas outras leituras e transformei esse tema no meu objetopoker online facebookpesquisa como cientista. Passados alguns anos, posso dizer que aquele meu instinto inicial estava correto e o conceitopoker online facebookultraprocessadopoker online facebookfato explica como esses alimentos nos prejudicam

poker online facebook BBC News Brasil - No livro, você diz que duvidou do conceitopoker online facebookultraprocessados, pois achava que os danos relacionados a muitos alimentos poderiam ser causados pelo excessopoker online facebooksal, gordura e açúcar. Quais foram os motivos que levantaram essa suspeita?

poker online facebook Van Tulleken - Como mencionei, meu primeiro instinto foi que aquele conceito explicava tudo. Mas, num segundo momento, pensei: será que ele realmente é verdadeiro? Ou será que o prejudicial desses alimentos é o sal, o açúcar e a gordura?

É difícil explicar a emoção que senti nesse momento, mas foi um mistopoker online facebookcuriosidade com ceticismo.

Crédito, Divulgação/Editora Elefante

Legenda da foto, No livro lançadopoker online facebookportuguês, van Tulleken detalha tudo que viveu quando fez uma dieta quase que completamente baseada nos ultraprocessados

poker online facebook BBC News Brasil - Depois desses anospoker online facebookpesquisa, napoker online facebookopinião, qual a forma mais simplespoker online facebookexplicar o que é um ultraprocessado?

poker online facebook Van Tulleken - Se você pegar um alimento e precisar ler a listapoker online facebookingredientes, provavelmente estará diantepoker online facebookum ultraprocessado.

E, se nessa lista, aparecem ingredientes que você não encontrapoker online facebookqualquer cozinha ou despensa, definitivamente está diantepoker online facebookum ultraprocessado.

Esse conceito é uma maneirapoker online facebookdescrever a maioria dos produtos que são feitos por corporações alimentícias transnacionais.

Há algumas exceções. A Nestlé, por exemplo, fabrica um cerealpoker online facebooktrigo que não é tecnicamente um ultraprocessado.

Mas a maioria dos produtos que garantem dinheiro para Nestlé, Danone, Pepsico, Kraft Heinz, Coca-Cola, Mondelez e outras dessas empresas são ultraprocessados.

Estou conversando com vocêpoker online facebookum quartopoker online facebookhotel e aqui na minha frente há um cesto com uma barrapoker online facebookcastanhas, uma barrapoker online facebookchocolate, chicletes e um pacotepoker online facebooknozes e castanhas temperadas. Tudo isso é ultraprocessado.

poker online facebook BBC News Brasil - No livro, você faz comparações entre a indústria alimentícia e a indústria do tabaco, e também entre ultraprocessados e cigarros. Napoker online facebookvisão, quais são as semelhanças e as diferenças entre esses dois setores e esses dois produtos?

poker online facebook Van Tulleken - Bem, essas indústrias não são apenas semelhantes. Elas são a mesma coisa.

Em meados dos anos 1980, uma das maiores companhiaspoker online facebookcigarro do mundo, a RJ Reynolds, comprou a Nabisco, uma enorme empresa alimentícia.

Nessa mesma época, a Philip Morris [indústria tabagista] comprou a General Foods [de alimentos].

Falamos, então, dos mesmos conglomerados [embora essas empresas tenham sido desmembradas e mudadopoker online facebookmãos nas décadas seguintes]. Eles usam as moléculas testadaspoker online facebooklaboratório para os cigarros, como os aromatizantes, nos alimentos. Eles usaram as mesmas técnicaspoker online facebookmarketing e as mesmas redespoker online facebookdistribuição para vender comida que é viciante e danosa, do mesmo modo que fizeram com os cigarros.

Essa comparação, portanto, é muito legítima.

Hojepoker online facebookdia, essas empresas são controladas pelos mesmos investidores institucionais e seguem se comportandopoker online facebookmaneira parecida.

Para mim, é muito importante que as pessoas entendam que a indústria tabagista não é excepcional ou um caso único.

Comida, cigarro, álcool, apostas, combustíveis fósseis e remédios, todos eles são governados pelo mesmo rol. E todos precisampoker online facebookalgum tipopoker online facebookregulamentação, com algumas nuances para casos específicos.

poker online facebook BBC News Brasil - Nós comumente pensamos que a obesidade está relacionada a uma conta matemática, que envolve o consumopoker online facebookcalorias, por meio da alimentação, e o gasto delas, através da atividade física. Essa equação faz sentido?

poker online facebook Van Tulleken - Quando pensamospoker online facebookcasos extremos, como um ciclista que faz o Tourpoker online facebookFrance ou um nadador olímpico, é claro que eles queimam mais calorias do que uma pessoa comum.

Mas ser mais ativo não alterapoker online facebookmaneira significativa o númeropoker online facebookcalorias que você queima.

O que isso significa? Bem, se um brasileiro desistirpoker online facebookseu trabalho sedentário no Riopoker online facebookJaneiro como médico ou jornalista e decidir viver na floresta, num estilopoker online facebookvida ancestral, provavelmente ele não vai queimar muitas calorias a mais.

Essa observação parece contraintuitiva, eu sei, mas ela vempoker online facebookestudospoker online facebookaltíssima qualidade.

O que as evidências recentes nos mostram é que um indivíduo, como eu, vai queimar 3 mil calorias por dia, independentemente se vivo como um caçador-coletor ou se decido investir na minha carreirapoker online facebookmédico e escritor.

E isso explica o porquêpoker online facebooko exercício ser tão benéfico para nós. Quando fazemos atividade física, nós meio que “roubamos” essa queimapoker online facebookcaloriaspoker online facebookoutras partes do corpo.

Ou seja, eu tenho que tirar energia que seria usada para outras coisas, como a ansiedade, a inflamação e a produçãopoker online facebookaltos níveispoker online facebookhormônios reprodutivos.

O exercício é bom para nós porque gastamos menos energia com coisas como ansiedade ou inflamação. Mas ele não chega a modificar significativamente o númeropoker online facebookcalorias que queimamos.

No meu capítulo favorito do livro, explico que a maioria dos estudos que falam o contrário — ou seja, que nós queimamos mais calorias quando fazemos exercícios — foram patrocinados pela indústria das bebidas açucaradas.

Ou seja, nós temos evidências boas e independentes dizendo que o exercício não queima mais calorias — e um conjuntopoker online facebookestudos que diz o contrário, mas que foi financiado pela indústria das bebidas açucaradas.

poker online facebook BBC News Brasil - Ainda sobre essa questão, nos últimos anos vimos a ascensão e o aumento da popularidadepoker online facebookremédios para tratar a obesidade. No seu pontopoker online facebookvista, esses fenômenos — aumento do consumopoker online facebookultraprocessados, crescimento da obesidade e surgimentopoker online facebooknovos remédios para lidar com o excessopoker online facebookpeso — estãopoker online facebookalguma maneira interligados?

poker online facebook Van Tulleken - O interesse privado não faz dinheiro se resolver a crise da obesidade. Claro, haveria um grande benefíciopoker online facebooktermospoker online facebooksaúde pública e economia, mas isso não beneficia as corporações.

A indústria alimentícia nos vende comida que engorda porque eles precisam fazer isso. Essa é a única maneira deles lucrarem. Eles precisam vender alimentos que levam a um excessopoker online facebookconsumo, a um exagero, para que possam fazer mais e mais dinheiro.

Imagine uma empresa alimentícia que vendesse comida para satisfazer as pessoas. Ou seja, os consumidores não precisariam comprar grandes quantidades, apenas o necessário. Como essa companhia poderia competir?

Acredito que a indústria alimentícia precisa vender esses produtos para que elas próprias continuem a existir.

Nesse contexto, faz muito sentido que as empresas farmacêuticas proponham e vendam soluções para esse problema na formapoker online facebooknovos medicamentos.

A comparação que faço aqui é entre o cigarro, a quimioterapia e o câncerpoker online facebookpulmão.

Não é como se a indústria do tabaco e as farmacêuticas tivessem se reunido algum dia para combinar: olha, eu causo o câncer e você cria a cura para essa doença.

Claro, é muito importante celebrar a existência da quimioterapia, que ajuda a tratar muitos pacientes. Isso é excelente. Assim como é importante ter drogas antiobesidade, porque elas podem ajudar muitas pessoas.

Mas a quimioterapia não pode nos distrair da terrível tragédiapoker online facebooksaúde causada pelo cigarro, que vai muito além do câncer.

O mesmo vale para os remédios que tratam a obesidade. Eles funcionam relativamente bem, mas não são a solução para todos os problemas relacionados àquilo que comemos. Essas drogas não curam a ansiedade, a depressão, o câncer, a inflamação, as doenças intestinais e os problemas cardiovasculares.

Não deveríamos nunca deixar as pessoas doentes para só depois cuidar delas. Seria muito mais barato e efetivo melhorar a dietapoker online facebookcrianças, regulamentar a indústria alimentícia e incentivar que todos vivampoker online facebookforma saudável.

Isso é algo factível, basta apenas limitar o poder da indústria alimentícia.

Crédito, Jonny Storey 2023

Legenda da foto, O Dr. van Tulleken é professor na Universidade College London e apresentou programas na BBC

poker online facebook BBC News Brasil - No livro, você diz que não deseja passar recomendaçõespoker online facebookdieta ou mudar a alimentaçãopoker online facebookninguém. Por que você tomou essa decisão?

poker online facebook Van Tulleken - O livro faz uma reflexão sobre o tema, mas não tem a pretensãopoker online facebookoferecer dicas práticas para o dia a dia. E o primeiro motivo disso é porque não existem soluções para o indivíduo.

Eu, inclusive, convido as pessoas a lerem o livro enquanto comem alimentos ultraprocessados. Ao final, muitos leitores me disseram que não queriam mais ingerir aquilo.

A verdade é que, mesmo assim, não existe uma solução. Por mais que a pessoa se sinta enojada com esse tipopoker online facebookcomida, é praticamente impossível evitá-la no dia a dia.

Você trabalha num escritório da BBCpoker online facebookLondres, e a comida vendida aí é ultraprocessada. Mesmo se você sair do prédio e decidir fazer uma refeiçãopoker online facebookalgum estabelecimento nas proximidades, a grande maioria deles vai vender apenas ultraprocessados.

Esses alimentos estão nos postospoker online facebookgasolina, nos aeroportos e praticamentepoker online facebooktodo o lugar. Eles nos cercam, não importa onde vamos. E, muitas vezes, os ultraprocessados são a única comida que as pessoas conseguem pagar nos supermercados. Então, me parece um tanto cruel sugerir que elas deixempoker online facebookconsumi-lo.

Parte da minha decisãopoker online facebooknão indicar mudançaspoker online facebookdieta vem dessa faltapoker online facebookesperança,poker online facebooknão achar muito gentil dizer às pessoas para mudar.

Estou verdadeiramente interessado no sistema alimentar. E desejo que o livro reduza a vergonha e o estigma que as pessoas sentempoker online facebookrelação à comida.

Eu conversei com muitos cientistas que trabalham na indústria alimentícia, e eles são muito claros ao dizer que fazem uma engenharia para alterar a comida,poker online facebookmodo que a gente não consiga pararpoker online facebookcomê-la.

Então meu livro tem como objetivo dizer que o problema não está nas pessoas, maspoker online facebooktodo o sistema. Com isso, quero dizer que, se você não consegue deixarpoker online facebookcomer esses produtos, não precisa se punir.

poker online facebook BBC News Brasil - Mas existe algum lugar do mundopoker online facebookque essa regulamentação sobre os produtos ultraprocessados funciona? Napoker online facebookvisão, quais seriam as maneiraspoker online facebookmudar esse sistema?

poker online facebook Van Tulleken - Chile, México e Argentina têm políticas públicas muito boas neste sentido. O Brasil também está desenvolvendo coisas interessantes.

Recentemente, dei uma palestra na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e um colega mexicano que estava na plateia comentou que, apesarpoker online facebooktodos os alertas incluídos nas embalagens epoker online facebooktodos os impostos sobre ultraprocessadospoker online facebookvoga no país, as pessoas ainda sofriam com obesidade.

Na minha visão, precisamos nos valer dos mesmos meios utilizados para o controle do tabaco. Precisamospoker online facebookum sistemapoker online facebookalerta nas embalagens que seja maior que as logomarcas das empresas ou dos produtos. Precisamos taxarpoker online facebookforma agressiva os piores alimentos. Precisamos banir qualquer propaganda. E precisamos proibir a venda deles para as crianças.

Em última análise, precisamos pensarpoker online facebookmaneiraspoker online facebooklimitar o poder dessas corporações, porque esse sistema atual é ruim para todo mundo. É ruim para os negócios e para a economia. É ruim para quem é saudável ou quem sofre com doenças. É ruim para as empresaspoker online facebookpequeno e médio porte que fazem comida boa.

Ah, e também precisamos nos livrar dos conflitospoker online facebookinteresse.

No Reino Unido, o British Medical Journal acaboupoker online facebookpublicar uma análise sobre o Comitê Científico Consultivopoker online facebookNutrição [um grupo que fornece subsídios para as políticas públicas sobre alimentação do país].

Os dados mostram que 65% dos membros do comitê receberam dinheiropoker online facebookindústrias alimentícias,poker online facebookempresas como Coca-Cola, Nestlé e Danone.

Ainda no Reino Unido, o Science Media Centre [um grupo que faz assessoriapoker online facebookimprensa relacionada a temas científicos] é ou já foi patrocinado por Nestlé e Procter & Gamble.

Temos departamentospoker online facebookpesquisa e cientistas sempre citados pela imprensa que recebem verbaspoker online facebookPepsico, Mars e Nestlé.

Há médicos, influencers e organizaçõespoker online facebooksaúde, como a Fundação Britânicapoker online facebookNutrição, que são financiadas por Coca-Cola e outras companhias.

Ou seja, enquanto não encararmos esse dinheiro da indústria alimentícia como algo sujo, não vamos acabar com todos esses conflitospoker online facebookinteresse.

poker online facebook BBC News Brasil - Você vê alguma diferença na formapoker online facebookatuação dessas empresas alimentíciaspoker online facebookpaíses ricos e pobres?

poker online facebook Van Tulleken - O problema é global, acontecepoker online facebooktodos os lugares. Vou te dar um exemplo prático. Em 2016, a redepoker online facebookpizzarias Domino's abriu 1.281 novas lojas, ou uma a cada sete horas, a maioria delas fora dos Estados Unidos. Atualmente, a Índia possui ao redorpoker online facebook1.500 unidadespoker online facebookDomino's.

No oeste da África, vemos o crescimento do Kentucky Fried Chicken (KFC) epoker online facebookoutras grandes redespoker online facebookfast food. O mesmo acontece na China.

Em todos os lugares, crianças pequenas tomam cada vez mais fórmulas infantis, que são piorespoker online facebooktermospoker online facebooksaúde quando comparadas à amamentação.

O projeto da indústriapoker online facebookalimentos ultraprocessados parece querer destruir todas as dietas tradicionais. Na Itália, as cafeterias viraram Starbucks e as pizzarias foram convertidaspoker online facebookPizza Hut. O mesmo acontece no Brasil, no Reino Unido, nos Estados Unidos…

Mesmo lugares com culturas gastronômicas muito fortes, como Itália, França e Espanha, ficam cada vez mais vulneráveis.

Ou nós limitamos o poder dessas corporações da mesma maneira que fizemos com a indústria do tabaco, ou todas as dietas tradicionais serão destruídas nos próximos 50 anos.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Alimentos ultraprocessados representam 60% da dieta dos britânicos, calcula van Tulleken

poker online facebook BBC News Brasil - Por que você decidiu submeter a si mesmo a uma experiênciapoker online facebookconsumopoker online facebookultraprocessados?

poker online facebook Van Tulleken - Bom, eu quis ser o primeiro paciente da pesquisa que estamos conduzindo sobre o assunto.

Sinceramente, eu não achei que o fatopoker online facebookaumentar o consumopoker online facebookultraprocessados mudaria algopoker online facebookminha vida.

Mas, na prática, tive efeitos muito significativos na saúde, o que está totalmente alinhado com a literatura científica publicada sobre o assunto.

poker online facebook BBC News Brasil - Você detalha todos esses efeitos no livro, mas poderia dizer quais emoções sentiu durante a experiência?

poker online facebook Van Tulleken - A primeira semana foi bastante divertida. Mas, a partir da segunda, comecei a me sentir mais cansado, porque os ultraprocessados são muito salgados. E isso causa desidratação e constipação, pois eles também são pobrespoker online facebookfibras.

Ou seja, eu acordava, comia mais do que precisava e dormiapoker online facebooknovo. Daí acordava durante a noite com vontadepoker online facebookir ao banheiro, fazer xixi, e beber água. Mas pareipoker online facebookfazer cocô regularmente. Ou seja, minha bunda começou a doer e meu sono ficou cada vez pior.

Daí, como você come mais durante o dia, sente que não tem controle sobre a dieta. Me senti horrível nessa segunda semanapoker online facebookexperiência.

Mas só percebi isso quando pareipoker online facebookingerir comida ultraprocessada.

Nós vemos esse comportamento nas crianças. Quando estão com fome, elas não verbalizam esse sentimento. Elas simplesmente ficam mais nervosas, bravas e irritadas com todo mundo.

E eu senti o mesmo. Ficava furioso com meus familiares e me tornei uma pessoa difícilpoker online facebookconviver. Mas achava que o problema era sempre os outros, nunca eu mesmo.

Porém, no meio da experiência, uma cientista brasileira falou uma frase que mudaria tudo. Ela me disse: “Isso que você está comendo não é comidapoker online facebookverdade”.

Essa frase girou uma chave no meu cérebro. A partir daquele momento, não tive mais vontadepoker online facebookcomer ultraprocessados.

Esse, aliás, foi outro motivo para convidar os leitores a continuar comendo ultraprocessados enquanto leem o livro.

poker online facebook BBC News Brasil - Mas, ao fim do experimento, você realmente conseguiu deixarpoker online facebookcomer ultraprocessados?

poker online facebook Van Tulleken - Eu deixeipoker online facebookcomê-los quase que completamente. Eventualmente até perdi peso, mas não posso prometer que isso vai acontecer com todas as pessoas.

No entanto, se você for capazpoker online facebookeliminar os ultraprocessados, existe alguma evidência que isso pode ser útil para o processopoker online facebookemagrecimento.

Mas, na minha opinião, a única maneirapoker online facebookeliminar os ultraprocessadospoker online facebooknossas dietas é começar a odiá-los.

Por isso que o livro foi escritopoker online facebookum modo para que você odeie esse sistema alimentar,poker online facebookvezpoker online facebookodiar a si próprio.

poker online facebook BBC News Brasil - E como foi a reação à publicação do livro no Reino Unido? Como as empresas mencionadas reagiram?

poker online facebook Van Tulleken - O livro se tornou popular no Reino Unido e sou muito grato por isso. E a indústria reagiupoker online facebookduas maneiras diferentes.

O primeiro contato que recebi foi do McDonald's. Eles enviaram um email, que pensei ser um processo judicial ou uma liminar para recolher os livros das gráficas e das lojas.

Mas, na verdade, eles me fizeram um convite para virar embaixador da marca.

Na sequência, todas as empresas alimentícias me ofereceram enormes somaspoker online facebookdinheiro para dar palestras. Algo como US$ 50 mil [R$ 283 mil, na cotação atual] para conversar com eles por uma hora.

Obviamente, disse não para todos esses convites.

Logo depois, começaram a aparecer processos jurídicos e queixas legais contra a editora que publicou o livro.

Felizmente, o livro foi escrito com muito cuidado e passou por muitas leituraspoker online facebookdiversos advogados antes da publicação. Então nenhum desses processos foi bem-sucedido.

Mas não deixapoker online facebookser estressante lidar com essas queixas e gastar horas para respondê-las.