O que explica as 'presenças invisíveis' que muitos sentem no dia a dia:11 sports

Conversei com Robertson para o programa All in the Mind, da BBC Radio 4. Ele me disse que foi estranho. Mas tudo ficaria ainda mais esquisito.

O carregador dele não estava funcionando, e ele não conseguia ouvir as músicas que havia levado. Os únicos sons que o acompanhavam eram o ranger dos seus esquis sobre o gelo e os ventos uivantes da Antártida. Mas, por alguma razão, a música-tema11 sportsOs Flintstones tocava sem parar na11 sportscabeça.

Talvez não fosse algo tão estranho — todo mundo já ficou com uma música "chiclete" na cabeça —, mas ele via os personagens do desenho animado na frente dele, no horizonte.

À medida que os dias passavam, as experiências dele ficavam mais estranhas. Ele ouviu alguém gritando seu nome e se convenceu11 sportsque havia uma pessoa atrás dele, seguindo seus passos. Mas, sempre que se virava para verificar, não via ninguém.

Mesmo assim, Robertson não conseguia afastar esta sensação11 sportsque havia outra presença, que permaneceu até11 sportschegada ao Polo Sul.

Quando se sentou sobre o trenó, fraco e exausto, e fechou os olhos por um segundo, ele ouviu uma segunda voz. Desta vez, uma voz feminina advertiu que ele deveria se levantar, e não adormecer, o que poderia ser perigoso.

Ele sentiu que a voz o incentivava a seguir adiante. Ela pode até ter salvado11 sportsvida. Mas, novamente, não havia mais ninguém por ali.

Outros exploradores e aventureiros relataram sentir presenças parecidas, sobretudo Ernest Shackleton (1874-1922), que teve a sensação11 sportshaver um "quarto homem" acompanhando seu grupo11 sportstrês exploradores na etapa final da11 sportsjornada épica pela Geórgia do Sul,11 sports1916.

Alpinistas do Everest também sentiram esses "fantasmas" agindo como se fossem anjos da guarda, ajudando-os a sobreviver e fornecendo um conforto misterioso.

Às vezes, o fenômeno é chamado11 sports"fator terceiro homem". Na psicologia, é uma experiência conhecida como "sensação11 sportspresença".

O professor11 sportspsicologia Ben Alderson-Day, da Universidade11 sportsDurham, no Reino Unido, é autor11 sportsum novo livro chamado Presence: The Strange Science and True Stories of the Unseen Other ("Presença: a estranha ciência e histórias verdadeiras do outro invisível",11 sportstradução literal). Ele descobriu que estas experiências não se limitam a pessoas11 sportssituações extremas.

Você pode muito bem ter sentido,11 sportsalgum momento, que alguém está ao seu lado no quarto com você, mesmo que não pudesse ver aquela pessoa. Não é um fenômeno incomum após o luto ou11 sportspessoas que sofrem11 sportspsicose.

Até 25% das pessoas que têm Parkinson relatam esta experiência. E pode acontecer também quando você está prestes a acordar ou adormecer.

Para alguns, a experiência pode ocorrer como parte da paralisia do sono, quando você acorda, mas não consegue se mover. As pessoas podem ter a forte sensação11 sportsque alguém está no quarto com elas ou até sentado sobre o seu peito, pressionando-as para baixo.

Alderson-Day descobriu que metade das experiências relacionadas à paralisia do sono envolve uma presença muito assustadora.

A sensação11 sportspresença faz parecer que alguém está com você, no seu espaço particular.

É difícil determinar exatamente do que consiste a sensação11 sportspresença. Não é uma experiência percebida com os cinco sentidos físicos do tato, visão, audição, olfato ou paladar – logo, não é uma alucinação.

Objetivamente falando, não existe nada ali, na realidade. Mas também não é uma ilusão, que envolve pensamentos. E tampouco é o mesmo que imaginar que alguém esteja ali.

Às vezes, as pessoas falam11 sportsalgo nebuloso, como "densidade no ar". É quase um sexto sentido, que parece muito real naquele momento.

Nas palavras11 sportsAlderson-Day, "é muito vazio para ser uma alucinação, mas tangível demais para ser uma ilusão".

Quais são as causas?

Na11 sportsbusca por explicações, Alderson-Day se volta para uma combinação entre o físico e o fisiológico.

No caso11 sportsmontanhistas e exploradores, a falta11 sportsoxigênio no cérebro é conhecida por induzir alucinações e pode ser a responsável. Mas existe também o aspecto da sobrevivência. Será que a mente,11 sportsalguma forma, estaria evocando uma presença para nos ajudar?

A explicação do próprio explorador Luke Robertson é que seu cérebro estava criando o que ele mais precisava para ajudá-lo em11 sportsárdua jornada — às vezes, trazendo retratos reconfortantes11 sportscasa, para que ele pudesse enfrentar a paisagem desoladora e solitária à11 sportsfrente. E,11 sportsoutros momentos, o cérebro evocava as vozes11 sportsque ele precisava para incentivá-lo a seguir adiante.

Algumas pessoas têm maior propensão a vivenciar a sensação11 sportspresença do que outras.

Em parte da11 sportspesquisa, Alderson-Day e11 sportsequipe descobriram que as mulheres costumam relatar mais sensações11 sportspresença — e são mais propensas a considerá-las perturbadoras ou invasivas. E a sensação11 sportspresença também é mais comum entre as pessoas mais jovens.

Pesquisadores11 sportsum laboratório11 sportsGenebra, na Suíça, criaram um robô que, com um procedimento complexo, é capaz11 sportsenganar o seu cérebro para fazer você sentir que alguém está atrás11 sportsvocê.

E as pessoas com Parkinson são particularmente suscetíveis a esta experiência.

Um padrão incomum11 sportsatividade cerebral foi encontrado11 sportsuma rede que inclui a junção temporoparietal, a ínsula e o córtex frontoparietal. Estas regiões são associadas à integração dos sentidos e à sensação11 sportsonde está o seu corpo.

A variedade11 sportssituações11 sportsque pode ocorrer a sensação11 sportspresença levou Alderson-Day a formular a hipótese11 sportsque a causa seja a perda do senso11 sportslimites físicos do nosso corpo.

Quando algo está faltando, devido ao estresse físico extremo do corpo, como ocorreu com Robertson, ou ainda devido à psicose ou ao Parkinson, as informações que recebemos dos nossos sentidos podem gerar a curiosa sensação11 sportsque alguém está conosco, muito embora não possamos ver, tocar nem sequer ouvir a "pessoa".

Mas a expectativa também parece ser parte do processo. Existe uma segunda teoria relacionada ao chamado processamento preditivo – a ideia11 sportsque o cérebro preenche as informações que estão faltando quando algo não faz muito sentido.

Por isso, da mesma forma que vemos padrões como rostos nas nuvens, podemos identificar uma pessoa que não está ali. Ou, nas palavras11 sportsAlderson-Day, o cérebro está "fazendo uma suposição informada sobre o que está ali".

Anjos ou fantasmas?

A forma como vivenciamos a sensação11 sportspresença pode depender dos nossos sentimentos e crenças pessoais.

Ela pode parecer reconfortante, como aconteceu com Robertson, ou talvez maligna ou religiosa, dependendo11 sportscomo você interpretar a experiência – talvez um anjo da guarda, um fantasma, um visitante ou o seu cérebro tentando te ajudar.

Alderson-Day acredita que o corpo e a mente precisam ser estudados para compreendermos verdadeiramente o que é esta experiência comum. Enquanto isso, começar a falar sobre as experiências pode fazer com que elas pareçam menos assustadoras para algumas pessoas.

Os médicos costumam pedir aos pacientes com psicose que informem sobre quaisquer vozes que venham a ouvir, mas é muito mais raro questioná-los sobre a sensação11 sportspresença.

Alderson-Day acredita que vale a pena explorar estas sensações. As estratégias para lidar com elas poderiam ser compartilhadas. Ou simplesmente saber que você não é o único a ter essa sensação já pode ajudar.

Robertson acabou chegando ao Polo Sul. Mas, quando ele viu a estação11 sportspesquisa, achou que era fruto da11 sportsimaginação — quando havia,11 sportsfato, chegado ao seu destino.

Ele também gostaria11 sportsver mais discussões sobre estas experiências, para que outros exploradores como ele possam compreender o que está acontecendo e sigam concentrados na11 sportsjornada.

Assim, o visitante invisível terá condições11 sportsajudá-los melhor.

11 sports Leia a 11 sports versão original desta reportagem 11 sports (em inglês) no site 11 sports BBC Future 11 sports .