Progressão continuada prejudica a qualidade da educação no Brasil?:blaze jogo da bolinha

Jovem negro fazendo prova

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Legenda da foto, A progressão continuada foi pensada para ter avaliações constantes

"É minha única reclamação. Não adianta ela passarblaze jogo da bolinhaano e ter dificuldadeblaze jogo da bolinhaescrever. Ela pode não conseguir se recuperar", diz ele.

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"Como ela vai avançar e estudar, por exemplo, inglês, se ainda tem dificuldadeblaze jogo da bolinhaescrever no próprio idioma?"

Fábio acha que as aulasblaze jogo da bolinhareforço dablaze jogo da bolinhafilha, que começa a estudar mais cedo duas vezes por semana para isso, não são suficientes.

"Sei que ao repetir ela pode ficar frustrada, porque os amiguinhos foram para outra sala. Mas é um problema menor diante da possibilidadeblaze jogo da bolinhaela avançar sem ter aprendido", afirma.

Ele não está sozinho no descontentamento: muitos pais reclamam da progressão continuada, e há críticas até mesmo entre professores.

A diferença é que,blaze jogo da bolinhavezblaze jogo da bolinhaum aluno poder repetir todos os anos caso não atinja as notas esperadas, a repetição só é possível ao finalblaze jogo da bolinhacada ciclo, que costuma serblaze jogo da bolinhatrês anos.

A progressão continuada foi adotada no Brasil a partir da criação da Leiblaze jogo da bolinhaDiretrizes e Bases (LBD) para a educação,blaze jogo da bolinha1996.

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A legislação criou a possibilidadeblaze jogo da bolinhauso desse novo sistemablaze jogo da bolinhaprogressão escolar, mas não o tornou obrigatório. Cada Estado e município decide se adota e quais são as regras, e nem mesmo o Ministério da Educação (MEC) diz saber quantos Estados usam a progressão.

São Paulo foi o primeiro Estado a implementar o modeloblaze jogo da bolinhatoda a rede pública estadual,blaze jogo da bolinha1998.

Aos menos outros oito Estados (Acre, Amazonas, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Rioblaze jogo da bolinhaJaneiro), além do Distrito Federal, adotaram a progressão continuada ou um sistema equivalente desde então, segundo um levantamento da BBC News Brasil.

Seis Estados (Bahia, Paraná, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins) informaram que não usam a progressão, e outros 11 não responderam à consulta da reportagem.

Anna Helena Altenfelder, do Centroblaze jogo da bolinhaEstudos e Pesquisablaze jogo da bolinhaEducação (Cenpec), organização sem fins lucrativos voltada para a promoção da qualidade do ensino público nacional, explica que a progressão continuada foi criada para combater a evasão escolar e atingir a metablaze jogo da bolinhauniversalizar a educação brasileira, ou seja, garantir o acessoblaze jogo da bolinhatodos a um ensinoblaze jogo da bolinhaqualidade e que continuem na escola.

A pesquisadora diz que a estratégia funcionou: a evasão caiu. Mas o método é muito questionado porque criou um novo problema.

Um aluno pode chegar ao fim do ensino fundamental sem ter conhecimentos básicos — há casosblaze jogo da bolinhaque o estudante passa para o ensino médio sem compreender um texto básico.

Resultados do sistemablaze jogo da bolinhaavaliaçãoblaze jogo da bolinharendimento escolar do Estadoblaze jogo da bolinhaSão Paulo, que foi pioneiro no uso da progressão, mostram que,blaze jogo da bolinha2019, a última prova aplicada antes da pandemia, 69% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental tinham conhecimentos abaixo do considerado adequadoblaze jogo da bolinhaportuguês. Em matemática, 80% dos alunos do 9º ano tiveram desempenho abaixo do ideal.

Foram feitos outros estudos desde então, mas, segundo os especialistas, a pandemiablaze jogo da bolinhacovid-19 gerou dificuldades que afetaram os dados, tornando-os ruins para esse tipoblaze jogo da bolinhaanálise.

Educadores ouvidos pela BBC News Brasil apontam, no entanto, que o problema não está na progressão continuadablaze jogo da bolinhasi, masblaze jogo da bolinhacomo ela é aplicada, especialmente quando isso significa uma aprovação automática.

Além disso, Estados que não usam o sistema têm resultados semelhantes aos que usam — o que indica que os problemasblaze jogo da bolinhaaprendizagem no ensino público brasileiro têm uma causa mais profunda, apontam os especialistas.

"Se você perguntar para dez pessoas, mais da metade vai dizer que tem preocupação com a progressão continuada. Elas vão dizer que os alunos saem da escola sem saber português, matemática", diz Altenfelder.

“De fato, as avaliações mostram que há insuficiênciasblaze jogo da bolinhamaneira evidente. O equívoco estáblaze jogo da bolinhaachar que o sistema anterior era melhor."

O que estudos dizem sobre a repetiçãoblaze jogo da bolinhasérie

A repetiçãoblaze jogo da bolinhaséries na educação é temablaze jogo da bolinhainúmeros estudos no Brasil e no exterior.

Uma análise da Unesco, braço das Nações Unidas para educação, ciência e cultura, mostra que, embora existam estudos que apontem alguns benefícios do usoblaze jogo da bolinharepetição a cada série, a maioria dos indícios éblaze jogo da bolinhaque,blaze jogo da bolinhapaísesblaze jogo da bolinhadesenvolvimento, isso gera mais danos do que vantagens.

"Na América Latina, estudantes que repetiram pelo menos uma vez obtêm resultados mais baixosblaze jogo da bolinhatodos os exames, sobretudoblaze jogo da bolinhamatemática e leitura", explica Rebeca Otero, coordenadorablaze jogo da bolinhaeducação da Unesco no Brasil.

"Ou seja, o estudante repete para que ele melhore seu desempenho acadêmico, mas isso muitas vezes não acontece."

A análise da Unesco aponta ainda que a repetiçãoblaze jogo da bolinhaano está associada a um maior riscoblaze jogo da bolinhaabandono da escola, a um maior índiceblaze jogo da bolinhaatrasoblaze jogo da bolinhadois anos ou mais dos alunosblaze jogo da bolinharelação à sérieblaze jogo da bolinhaque deverima estarblaze jogo da bolinhaacordo comblaze jogo da bolinhaidade — a chamada defasagem idade-série —, e a impactos negativos na autoestima e motivação dos repetentes.

Os dados mostram também que os resultados escolares gerais onde a repetência é aplicada são muito parecidos com osblaze jogo da bolinhaonde a progressão continuada foi adotada.

Por exemplo, no Paraná, onde não há progressão, o sistemablaze jogo da bolinhaavaliaçãoblaze jogo da bolinharendimento escolarblaze jogo da bolinha2019 mostrou que 68% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental estavam abaixo do esperadoblaze jogo da bolinhaportuguês, muito próximo dos 69%blaze jogo da bolinhaSão Paulo.

Otero explica que a Unesco não faz uma recomendação específica sobre o assunto porque qualquer orientação requer aprovaçãoblaze jogo da bolinhatodos os países-membros e não há consenso.

Ela defende que a repetiçãoblaze jogo da bolinhasérie "deve ser o último recurso para remediar a situaçãoblaze jogo da bolinhaatraso dos estudantes na aprendizagem".

Altenfelder argumenta que a repetência não é uma boa ferramenta pedagógica, porque,blaze jogo da bolinhageral, um estudante não adquire as habilidades que não conseguiu desenvolver antes ao cursarblaze jogo da bolinhanovo um mesmo ano letivo.

"Tanto que os alunos que repetem, repetem uma, duas, três vezes. Claro que sempre vai ter alguém que conhece um aluno que repetiu e depois progrediu, passou a aprender, mas isso é a exceção", diz a pesquisadora.

"Os alunos que repetemblaze jogo da bolinhaano o fazem várias vezes e acabam largando a escola. E o aluno estar fora da escola é o pior cenário."

A visão é compartilhada por Ivan Gontijo, gerenteblaze jogo da bolinhapolíticas educacionais da organização sem fins lucrativos Todos pela Educação.

"Se o aluno repetiu, o que faz você acreditar que fazendo tudo exatamente da mesma forma, tendo as mesmas aulas, os mesmos problemas na rede, ele vai aprender?", diz Gontijo, que já foi professorblaze jogo da bolinhaensino fundamental.

"Não vai funcionar, é preciso ter um comprometimento diferente com esse estudante.”

As evidênciasblaze jogo da bolinhaque a repetiçãoblaze jogo da bolinhasérie está ligada a uma maior evasão escolar são motivoblaze jogo da bolinhapreocupação para gestores públicos, diz Gontijo, porque o Estado deve garantir que todas as crianças e adolescentes estejam estudando.

Jovem negro lendo um livroblaze jogo da bolinhauma biblioteca
Legenda da foto, Estrutura escolar, como bibliotecas acessíveis, é essencial para o funcionamento do modelo

Por que a progressão continuada foi adotada?

Quando a progressão começou a ser adotada no Brasil, os altos índicesblaze jogo da bolinhareprovação, defasagem idade-série e evasão escolar eram os grandes desafios da educação pública, explica a pedagoga Cleidilene Ramos Magalhães.

"O Brasil é um país que universalizou a educação muito tardiamente, somente no final do século passado"”, afirma Magalhães, que é professora da Universidade Federalblaze jogo da bolinhaCiências da Saúdeblaze jogo da bolinhaPorto Alegre (UFCSPA).

"Mas a ideiablaze jogo da bolinhaprogressão continuada e esse entendimentoblaze jogo da bolinhaque a repetência não é uma boa prática são algo que existe desde os anos 1920."

O sistemablaze jogo da bolinhaciclos e a progressão continuadablaze jogo da bolinhafato ajudaram a reduzir o abandono da escola, afirma a pesquisadora Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, que se dedica a melhorias na formaçãoblaze jogo da bolinhaprofissionais da educação.

Em 2007, o índice erablaze jogo da bolinhaquase 5% no ensino fundamental e caiu progressivamente até atingir 2,2%blaze jogo da bolinha2020, antesblaze jogo da bolinhavoltar a subirblaze jogo da bolinhameio à pandemiablaze jogo da bolinhacovid-19, segundo dados do Instituto Brasileiroblaze jogo da bolinhaGeografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação (MEC).

No ensino médio, a evasão erablaze jogo da bolinha13,2%blaze jogo da bolinha2007 e passou para 6,9%blaze jogo da bolinha2020.

O Brasil não eliminou totalmente a reprovação com muitos pensam, diz Costin, e ainda se reprova muito, tanto onde existe essa possibilidade ao finalblaze jogo da bolinhaum ciclo quanto onde não se aplica a progressão continuada.

O Brasil é, na verdade, um dos que mais reprovam entre os 38 paísesblaze jogo da bolinhaum estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"A reprovação é maior no sexto ano do ensino fundamental e no início do ensino médio, e está diretamente ligada à desmotivação e ao abandono escolar", diz Costin.

Um estudo do economista especializadoblaze jogo da bolinhaeducação Reynaldo Fernandes , da Universidadeblaze jogo da bolinhaSão Paulo (USP), mostra que o problema da evasão afeta principalmente jovensblaze jogo da bolinhabaixa renda, negros, da periferia oublaze jogo da bolinhaáreas rurais.

Isso mostra que fatores socioeconômicos têm grande influência sobre os índicesblaze jogo da bolinhareprovação e abandono escolar, diz Gontijo, do Todos pela Educação.

"Tem a ver com as condições financeiras da família, com o índiceblaze jogo da bolinhaescolaridade da mãe, com a vulnerabilidadeblaze jogo da bolinhamoradia, etc.", diz ele.

"Por isso, a reprovação é uma grande preocupação na rede pública, que atende os alunosblaze jogo da bolinhamaior situaçãoblaze jogo da bolinhavulnerabilidade."

Progressão continuada x aprovação automática

A socióloga Maria Valéria Barbosa, que pesquisa sobre educação, diz que a progressão continuada foi pensada para que o sistemablaze jogo da bolinhaensino seja mais inclusivo ao dar um tempo maior para o aluno aprender.

Mas ela diz que isso não deve ser sinônimoblaze jogo da bolinhauma garantiablaze jogo da bolinhaaprovação ou aprovação automática.

"A progressão continuada não é ausênciablaze jogo da bolinhaavaliação, muito pelo contrário", diz Barbosa, que é professora da Universidade Federalblaze jogo da bolinhaSão Paulo.

"Para que funcione, é necessária uma avaliação constante e não só no final da série oublaze jogo da bolinhaum ciclo, para identificar as dificuldades dos alunos que precisam ser trabalhadas, para que ele avance para o próximo ciclo sem atrasos."

Ou seja,blaze jogo da bolinhaum cenário ideal, a cada ano, os alunos fazem provas, atividades e trabalhos para que a escola avalie o quanto foi retido das habilidades e conhecimentos necessários.

A escola deve oferecer reforços para superar eventuais deficiências, desde aulas e atividades extras até trabalhoblaze jogo da bolinhaconjunto com outras instituições.

No entanto, diz Barbosa, "muitas vezes, não é isso que acontece”.

"Quando a progressão continuada foi implantada, foi para diminuir a evasão, mas também com o desejoblaze jogo da bolinhaaumentar a eficiência na educação e reduzir gastos — porque um aluno que repete gera um custo financeiro", diz Barbosa.

"Nessa lógicablaze jogo da bolinhaeficiência, não foram feitos os investimentos necessários para a progressão continuada dar certo."

Claudia Costin, do Singularidades, aponta que há Estados que implementaram a progressão continuada sem montar estratégias eficientes para corrigir falhas na aprendizagem, que vão se acumulando conforme as crianças avançam nos ciclos.

O combate à repetência e à evasão não deveria vir a custo da qualidade da aprendizagem do aluno, diz Costin.

Professores ouvidos pela BBC News Brasil apontam no mesmo sentido.

Eles afirmam que os resultados insatisfatórios na educação não são resultado da progressão continuadablaze jogo da bolinhasi, mas da faltablaze jogo da bolinhacondições para aplicar o modelo da forma como ele foi idealizado.

"Em São Paulo, não existe progressão continuada, existe aprovação automática", diz a deputada estadual Maria Izabel Noronha, presidente da Associação dos Professores da Rede Pública Estadualblaze jogo da bolinhaSão Paulo (Apeoesp).

"É muito difícil para mim, que sou progressista e acreditoblaze jogo da bolinhamodernizar a pedagogia, ver a progressão continuada não dando certo por causablaze jogo da bolinhauma implementação inadequada."

O professorblaze jogo da bolinhahistória Juliano Godoi, que dá aula há maisblaze jogo da bolinhadez anos na rede municipalblaze jogo da bolinhaSão Paulo, concorda.

"A progressão continuada exige uma atenção para o desenvolvimento individualblaze jogo da bolinhacada aluno, para as dificuldadesblaze jogo da bolinhaaprendizadoblaze jogo da bolinhacada um", afirma.

"Mas como o professor vai fazer issoblaze jogo da bolinhauma classeblaze jogo da bolinha35 alunos?"

Godoi destaca ainda as demissões recentesblaze jogo da bolinhacentenasblaze jogo da bolinhaprofessores temporários da rede estadual paulista que haviam sido contratados entre 2018 e 2020.

"Como um professor vai conseguir dar o reforço adequado, pensar no plano pedagógico, se está preocupado se vai ter como pagar as contas?"

A Secretariablaze jogo da bolinhaEducaçãoblaze jogo da bolinhaSão Paulo disse à BBC News Brasil que a prorrogaçãoblaze jogo da bolinhacontratos foi uma prioridade da atual gestão e estendeu o contratoblaze jogo da bolinha61 mil professores temporários contratados entre 2021 e 2023blaze jogo da bolinhadezembro passado.

Diminuir o tamanho das salas, afirmou o governo, é um desafio maior.

"Cada turma custa R$ 45 mil por ano. Para ter 20 alunos por sala, precisaria dobrar o tamanho da idade. Seriam necessários bilhõesblaze jogo da bolinhareais", diz Vinicius Neiva, secretário-executivoblaze jogo da bolinhaEducaçãoblaze jogo da bolinhaSão Paulo.

Protestoblaze jogo da bolinhaprofessores

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Legenda da foto, Melhores condiçõesblaze jogo da bolinhatrabalho para professores são essenciais para o modelo funcionar

O que pode ser melhorado

A professora Anne Telma Mieri, que tem 27 anosblaze jogo da bolinhamagistério e hoje dá aula no ensino fundamentalblaze jogo da bolinhaJundiaí, no interiorblaze jogo da bolinhaSão Paulo, está entre os professores que avaliam positivamente a progressão continuada.

"Com a progressão continuada, a gente dá chance para todos os alunos", diz ela.

"O alunoblaze jogo da bolinhauma escolablaze jogo da bolinhaperiferia tem uma realidade totalmente diferente daqueleblaze jogo da bolinhauma escola central, que tem mais renda e acesso à informação. Quando o aluno tem uma família que o acompanha, que está interessada, isso faz toda a diferença."

Mas, para o modelo funcionar, é preciso uma equipe pedagógica unida, uma diretoria que entenda o modelo e um investimento para acelerar o aprendizado das crianças que não atingem os níveisblaze jogo da bolinhahabilidades desejados ao finalblaze jogo da bolinhacada ciclo.

"No finalblaze jogo da bolinhaum ciclo, eu faço um relatório detalhado, aluno por aluno, das habilidades que eles aprenderam e também dos que não aprenderam, e isso tem que ser resolvido já no início do ciclo seguinte. Mas nem sempre acontece", afirma.

Para Ivan Gontijo, do Todos para a Educação, muitos professores têm resistência à progressão porque acreditam que a possibilidadeblaze jogo da bolinhareprovação é uma formablaze jogo da bolinhacontrole disciplinar.

"A ordem é importante, não dá para aprender no caos. E é claro que com classes maiores, com mais gente na escola, você tem mais indisciplina, mas é preciso formar os professores para encontrar outras estratégias", diz Gontijo.

Ele argumenta ainda que,blaze jogo da bolinhamuitos casos, alunos tumultuam a salablaze jogo da bolinhaaula porque estão com o aprendizado defasado.

"Tem professor que diz que os alunos não estão interessados, por exemplo. Mas, se eles não estão interessados, não é a ameaçablaze jogo da bolinhareprovação que vai gerar disciplina."

Para Cleidilene Ramos Magalhães, da UFCSPA, essa questão da disciplina também está relacionada ao tipoblaze jogo da bolinhaapoio e formação que os professores precisam receber para aplicar a progressão continuada da maneira ideal.

"Quando a gente falablaze jogo da bolinhacondiçõesblaze jogo da bolinhatrabalho, não é só salário e carga horária", diz ela.

"É ter, por exemplo, um psicólogo na escola, porque muitos problemasblaze jogo da bolinhaindisciplina podem virblaze jogo da bolinhaquestões emocionais,blaze jogo da bolinhadificuldades externas dos alunos”, diz ela.

A faltablaze jogo da bolinhaformação continuada dos professores eblaze jogo da bolinhanúcleos que pensem o projeto pedagógico também são fatores que dificultam a implementação adequada do modeloblaze jogo da bolinhaprogressão, afirma.

"Cercablaze jogo da bolinha70% dos professoresblaze jogo da bolinharede pública no Brasil são formados por EAD [educação a distância], sem experiênciablaze jogo da bolinhasalablaze jogo da bolinhaaula."

Gontijo diz que o professor precisa se conectar com os alunos, entender suas históriasblaze jogo da bolinhavida, criar uma relação mais próxima,blaze jogo da bolinhatutoria.

"Isso é impossível quando grande parte dos professores são temporários, têm que rodar a cidade porque dão aulasblaze jogo da bolinhaescolas diferentes. O professor precisa ter tempoblaze jogo da bolinhaqualidade com os alunos", afirma.

Mesmo com as dificuldades que atrapalham a aplicação ideal da progressão continuada, voltar ao sistema anterior seria um equívoco, diz Gontijo.

"Adotar novamente a repetiçãoblaze jogo da bolinhacada série sem resolver os outros problemas não melhoraria nada, só aumentaria o númeroblaze jogo da bolinhacrianças fora da escola", afirma.

Nesse sentido, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil concordam que a prioridade da rede pública deveria ser melhorar o sistemablaze jogo da bolinhareforço para alunos com dificuldades e as condiçõesblaze jogo da bolinhatrabalho para os professores antesblaze jogo da bolinharediscutir a progressão.

"Para tudo isso é necessário um enorme investimento", diz Claudia Costin.

"Educaçãoblaze jogo da bolinhaqualidade custa caro."

As escolas particulares adotam a progressão?

A BBC News Brasil não encontrou um levantamento sobre o usoblaze jogo da bolinhaprogressão continuadablaze jogo da bolinhaescolas particulares.

Instituições como o Sindicato dos Estabelecimentosblaze jogo da bolinhaEnsino no Estadoblaze jogo da bolinhaSão Paulo (Sieeesp) não têm esse tipoblaze jogo da bolinhadado.

Mas especialistas explicam que embora o usoblaze jogo da bolinharepetição seja muito comum, também há várias escolas que usam métodosblaze jogo da bolinhaprogressão continuada, embora não com esse nome, mas as práticas são equivalentes.

Diferentemente do ensino público, no entanto, as escolas particulares que não usam a repetição tendem a ter mais recursos para investir no apoio necessário que os alunos não tenham atrasos, apontam analistas.

Além disso, o setor não precisa se preocupar com evasão, dizem especialistas, porque não tem a responsabilidadeblaze jogo da bolinhaatender a totalidade da população.

A perdablaze jogo da bolinhaalunos pode significar um prejuízo financeiro para a escola, mas a responsabilidadeblaze jogo da bolinhaatender os alunosblaze jogo da bolinhasituaçãoblaze jogo da bolinhavulnerabilidade e mantê-los na escola é do Estado, ressalta Claudia Costin.

Isso não significa que não haja evasão nas escolas particularesblaze jogo da bolinhacasosblaze jogo da bolinhaalunos que repetem muitas vezesblaze jogo da bolinhaano, diz ela.

"O que acontece quando um aluno repete muito é que os pais mudam o alunoblaze jogo da bolinhaescola, ou o colocam no sistema públicoblaze jogo da bolinhaensino", afirma.

Como funcionablaze jogo da bolinhaoutros países

A Unesco não tem um levantamentoblaze jogo da bolinhaquais países usam ou não repetição ano a ano — até porque,blaze jogo da bolinhamuitos casos, como no Brasil, existe um sistema mistoblaze jogo da bolinhaque o modelo é usadoblaze jogo da bolinhaalgumas regiões eblaze jogo da bolinhaoutras não.

Mas existem estudos sobre experiências internacionais com a progressão continuada e sistemas semelhantes.

Em geral, segundo a Unesco, a adoçãoblaze jogo da bolinharepetiçãoblaze jogo da bolinhasérie é mais comumblaze jogo da bolinhapaíses pobres.

Foram alguns países europeus que começaram a eliminar a reprovação no sistema público nos anos 1980, explica Gontijo.

"Foi justamenteblaze jogo da bolinhauma épocablaze jogo da bolinhaque perceberam que mais alunos imigrantes estavam entrando no sistema", diz.

"Eram crianças com dificuldades com a língua, com a adaptação eblaze jogo da bolinhauma situação socioeconômica mais desfavorecida. Eles perceberam que ficar repetindoblaze jogo da bolinhaano não ia levar ao aprendizado, só ia afastar as crianças das escolas."

Na França,blaze jogo da bolinha1989, por exemplo, a retençãoblaze jogo da bolinhaalunos passou a ser possível apenas ao finalblaze jogo da bolinhaciclos.

"A reprovação aconteceriablaze jogo da bolinhaúltimo caso, e não seria vista como uma reprovação e sim como um prolongamentoblaze jogo da bolinhaciclo", diz um estudo da pedagoga Fláviablaze jogo da bolinhaCarvalho Spada publicadoblaze jogo da bolinha2007.

Segundo ela, algumas escolas dos Estados Unidos que não usam reprovação tiram as crianças que estão atrasadasblaze jogo da bolinhacertas disciplinas da sala para fazerem aulas diferentes, específicas para suas dificuldades. Ou então agrupam os alunosblaze jogo da bolinhauma mesma sala por nívelblaze jogo da bolinhaaprendizado e trabalham para compensar o que está faltando.

"É bom para ela estar com crianças da mesma idade e não ser estigmatizada como repetente", diz Spada.

"Mas ela tem que ter momentosblaze jogo da bolinhaque as insuficiênciasblaze jogo da bolinhaaprendizagem são sanadas."

Finlândia, Noruega, Suécia, Dinamarca e Japão estão entre os países que eliminaram ou reduziram o uso da repetição no ensino público.

Em paísesblaze jogo da bolinhadesenvolvimento, o Chile é um exemplo onde políticasblaze jogo da bolinhaapoio aos estudantes com dificuldades foram substituindo a repetição como método pedagógico e obtiveram um resultado positivo, diz Rebeca Otero, da Unesco.

Camarões conseguiu reduzir pela metade as taxasblaze jogo da bolinhaevasão nas escolas desde a aplicação da progressão continuada no ensino fundamental,blaze jogo da bolinha2006.

No entanto, uma pesquisa da Unesco nas regiõesblaze jogo da bolinhalíngua inglesa do país mostrou que, embora a progressão tenha sido aplicada,blaze jogo da bolinhamuitos casos as políticasblaze jogo da bolinhaapoio e reforço não foram implementadas.

Com isso, a maioria dos professores que responderam à pesquisa nessas regiões se opõe ao uso da progressão continuada.

Já na Índia, uma leiblaze jogo da bolinha2009 que proibia a repetiçãoblaze jogo da bolinhaqualquer série foi revogada após preocupações com o desempenho dos alunos, explica Otero.

O país passou a permitir repetição no final dos ciclos do ensino fundamental e médio, mas continua tendo problemas como infraestrutura inadequada e faltablaze jogo da bolinhaprofessores.