Para debater no Dia do Índio: 'Usomr jack bet codigo promocionalcocar no carnaval é troca, não discriminação', diz líder indígena:mr jack bet codigo promocional

  • Nathalia Passarinho
  • Da BBC Brasilmr jack bet codigo promocionalLondres
Ysani na tribo
Legenda da foto,

Ysani diz que gostaria que problemas como demarcaçãomr jack bet codigo promocionalterras, faltamr jack bet codigo promocionalacesso à saúde nas tribos e apropriação da cultura indígena por igrejas recebessem a mesma visibilidade dada à polêmica sobre fantasias no carnaval | Foto: Divulgação/Facebook

mr jack bet codigo promocional "Usar cocar no carnaval não é desrespeito, é troca entre culturas". Essa é a opiniãomr jack bet codigo promocionalYsani Kalapalo, índigena da região do Alto Xingu, no Mato Grosso.

Em meio à polêmica sobre o que se "pode ou não" usar nos blocosmr jack bet codigo promocionalrua neste ano, a ativista dos direitos indígenas comentou sobre o assunto num vídeo que viralizou na internet ao longo do fimmr jack bet codigo promocionalsemana - alcançou 1,5 milhãomr jack bet codigo promocionalvisualizações no Facebook.

Enfatizando que cada povo indígena tem cultura e opiniões diferentes, Ysani afirmou que, para ela, ver foliões usando cocar no Carnaval não ofende.

"Eu vou falar da minha cultura. Eu sou do povo Kalapalo, natural do parque indígena do Xingu. Na minha cultura Kalapalo, pelo que eu vivi e vi, não tem nada demais usar cocar e adereços indígenas no carnaval", afirma ela, no vídeo.

"Quando um branco vai para a nossa tribo, ele usa cocar e adereços e a gente não acha nadamr jack bet codigo promocionalruim. E quando a gente vai para a cidade a gente usa roupa, óculos, tênismr jack bet codigo promocionalmarca", completa, afirmando que racismo é "quando branco chama o índiomr jack bet codigo promocionalbicho e incapaz" e "tira o índio damr jack bet codigo promocionalterra".

Em entrevista à BBC Brasil, a jovemmr jack bet codigo promocional27 anos disse que conversou com outros membros da aldeia antesmr jack bet codigo promocionalfazer o vídeo.

"Eu consultei minha família e outras lideranças indígenas da tribo, principalmente da tribo Kalapalo. Depois disso, a gente decidiu gravar o vídeomr jack bet codigo promocionalgrupo. Só eu apareço, mas tomamos a decisão juntos", contou.

vídeomr jack bet codigo promocionalYsani
Legenda da foto,

Vídeomr jack bet codigo promocionalYsani sobre cocar no carnaval viralisou no Facebook e foi reproduzido por sites feministas, atingindo maismr jack bet codigo promocional1,5 milhãomr jack bet codigo promocionalvisualizações | Fonte: Reprodução/Facebook

Pule Podcast e continue lendo
BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

A opinião contrasta com amr jack bet codigo promocionaloutra ativista dos direitos dos indígenas. Em vídeo divulgado no YouTube, Katú Mirim,mr jack bet codigo promocional31 anos, argumenta que o usomr jack bet codigo promocionalcocares e pinturas corporais no carnaval "ajuda a perpetuar o estereótipo e a hipersexualização da mulher indígena."

Katú foi adotada quando criança por um casalmr jack bet codigo promocionalSão Paulo e batizada como Kátia Rodrigues, mas resgatou as origens indígenas depoismr jack bet codigo promocionaladulta e adotou o nome Katú Mirim,mr jack bet codigo promocionalcerimônia na aldeia Guarani Mbya, no Jaraguá,mr jack bet codigo promocionalSão Paulo.

"O que é fantasia? Criação imaginação, ficção, algo que não existe. Pessoas, culturas, não são fantasias, porque elas existem. Usar a fantasiamr jack bet codigo promocionalíndio é uma faltamr jack bet codigo promocionalrespeito, não é uma homenagem. Vocês estão ajudando a invisibilizar uma luta, a alimentar estereótipos, a violência, e o estupro", afirma ela no vídeo.

A partir daí a campanha com a hashtag "ÍndioNãoéFantasia" ganhou as redes sociais. Um vídeo postado pelo site Catraca Livre criticou, além do usomr jack bet codigo promocionaladereços indígenas, fantasiasmr jack bet codigo promocionalcigano, Iemanjá e árabe por serem consideradas preconceituosas.

Katú Mirim
Legenda da foto,

Em vídeo divulgado namr jack bet codigo promocionalconta no YouTube, Katú Mirim,mr jack bet codigo promocional31 anos, argumenta que o usomr jack bet codigo promocionalcocares e pinturas corporais no carnaval 'ajuda a perpetuar o estereótipo e a hipersexualização da mulher indígena' | Fonte: Divulgação/YouTube

mr jack bet codigo promocional A visãomr jack bet codigo promocionalYsani mr jack bet codigo promocional : mr jack bet codigo promocional trocas culturais e celebração

Ysani Kalapalo critica a campanha pela proibição categóricamr jack bet codigo promocionalfantasiamr jack bet codigo promocionalíndio, porque, para ela, isso soa como se fosse a opinião dos indígenas como um todo. E destaca que não existe apenas "uma população indígena", mas sim 305 etnias diferentes no Brasil.

Ela compara o usomr jack bet codigo promocionalfantasias no carnaval ao usomr jack bet codigo promocionaladereçosmr jack bet codigo promocionaloutros povos que os Kalapalos adotam numa cerimônia chamada Hagaka.

"A gente vive essa trocamr jack bet codigo promocionalcultura. A Hagaka é um momentomr jack bet codigo promocionalque a gente se fantasiamr jack bet codigo promocionalvárias culturas,mr jack bet codigo promocionalbichos emr jack bet codigo promocionalnão indígenas também. É parecido com o carnaval. Se você for analisar na história da humanidade, o que a gente mais faz é troca. Trocamr jack bet codigo promocionalobjeto,mr jack bet codigo promocionalconhecimento,mr jack bet codigo promocionalcultura, entre pessoas e nações. "

Ysani descreveu ainda outra cerimônia realizada entre tribos no Xingu que também envolve o que chamamr jack bet codigo promocional"troca cultural". "O Uluki é uma cerimôniamr jack bet codigo promocionalque fazemos trocas com outras tribos,mr jack bet codigo promocionalbens emr jack bet codigo promocionalconhecimentos. Isso faz parte."

"Nós não achamos nada demais no uso dos cocares no carnaval. Primeiro eu acho engraçado quando vejo, e legal ao mesmo tempo. As pessoas que discriminam o índio não vão usar cocar. Se está usando, é porque gosta e admira. Eu enxergaria dessa maneira."

Ysani Kalapalo
Legenda da foto,

'A gente vive essa trocamr jack bet codigo promocionalcultura. Tem uma cerimônia chamada Hagaka que é um momento que a gente se fantasiamr jack bet codigo promocionalvárias culturas,mr jack bet codigo promocionalbichos emr jack bet codigo promocionalnão-indígenas também. É parecido com o carnaval', diz Ysani | Fonte: Divulgação/Facebook

Ysani admite, porém, que o tema é controverso. Desde que publicou o vídeo, recebeu feedbacks positivos, mas também muitas críticas.

"Você faz ideia ou tem visto a chuvamr jack bet codigo promocionalhorrores e deboches e racismo contra nós indígenas!?!", questionou uma pessoa na página dela no Facebook. Alguns foram mais agressivos: "Vergonha, você é uma vergonha! Parabéns, Ysani, agora você já pode ir fazer papelmr jack bet codigo promocionalíndio na próxima novela, elas amam isso", disse outro usário da rede social.

"Os feedbacks negativos são mais vindosmr jack bet codigo promocionalindígenas que não têm muita familiaridade com a aldeia, que não cresceram dentro da aldeia. Que não convivem com a tribo. Eles se doem com isso. Dos indígenas tribais, só tenho recebido agradecimentos", afirmou Ysani.

Ela também rebateu as críticasmr jack bet codigo promocionalque a representação dos indígenas no Carnaval é estereotipada. "Não vejo dessa forma. Cada um idealiza o indígenamr jack bet codigo promocionalum jeito. Até porque somos diferentes mesmo um do outro, nas culturas tribais."

Ysani disse que gostamr jack bet codigo promocionalcarnaval e conta que já desfilou na Sapucaí. "No ano passado, a Imperatriz Leopoldinense homenageou os povos indígenas do Xingu. Fui uma das homenageadas e desfilei. Foi muito legal. E também acho bonitos os blocosmr jack bet codigo promocionalrua."

Conhecimento para defender direitos indígenas

Ysani vive entre a cidade e a tribo. Ela concluiu o ensino médio e fez cursos técnicos na áreamr jack bet codigo promocionaltecnologia da informação. Atualmente, trabalhamr jack bet codigo promocionalprojetos ligados a mídias digitais - está criando uma rede social chamada Uitigu- e dá palestras sobre direitos indígenas.

"Ao contrário do que muita gente pensa, que o índio vive na mamata do governo, a gente tem que trabalhar e muito quando vive na cidade."

Ysani
Legenda da foto,

Ysani saiu pela primeira vez da tribo Kalapalo, no Parque Indígena do Xingú, aos 12 anos, com os pais e os irmãos. Na época, não falava um palavramr jack bet codigo promocionalportuguês | Fonte: Reprodução/Facebook

Em 2008, ela criou uma campanha nas redes sociais com o lema "orgulho indígena", voltada a elevar a autoestima das populações indígenas.

Ysani saiu pela primeira vez da tribo Kalapalo, no Parque Indígena do Xingu, aos 12 anos, com os pais e os irmãos. Na época, não falava uma palavramr jack bet codigo promocionalportuguês. A família foi morarmr jack bet codigo promocionalSão Carlos, no interiormr jack bet codigo promocionalSão Paulo.

O objetivo era entender a "cultura dos brancos", para melhor defender os interesses dos índios das aldeias. E também levar conhecimento indígena para os povos da cidade.

"Os Kalapalo não tinham contato com a cultura não indígena. E meus pais tomaram uma decisão difícil,mr jack bet codigo promocionaltrazer os filhos para conhecer outra realidade. Eles achavam que se pudéssemos conhecer a cultura dos brancos, poderíamos nos defender melhor", diz.

"Precisamosmr jack bet codigo promocionalindígenas para falar sobre coisas como essa para não indígena. Os antropólogos continuariam falandomr jack bet codigo promocionalnome dos índios, se não fossemos para as cidades."

Slogan
Legenda da foto,

Em 2008, Ysani criou uma campanha nas redes sociais com o slogan 'orgulho indígena', voltada a elevar a auto-estima das populações indígenas | Fonte: Divulgação/Facebook

Ysani conta que, quando começou a ir à escola, virou "atração" entre as outras crianças.

"Fui mais ou menos bem recebida. Mas nem por isso vou me vitimizar. Foi um momentomr jack bet codigo promocionalaprendizagem. Perguntavam muito da cultura e eu praticamente não falava nadamr jack bet codigo promocionalportuguês. Depois, na adolescência, eu pude explicar coisas", disse.

"Português é uma linguagem complicada. Mas hojemr jack bet codigo promocionaldia, depois que a gente aprendeu a trabalharmr jack bet codigo promocionalportuguês, eu dou palestras, eu levo isso como uma motivação."

Problemas indígenas

Ysani disse que gostaria que problemas como demarcaçãomr jack bet codigo promocionalterras, faltamr jack bet codigo promocionalacesso à saúde nas tribos e apropriação da cultura indígena por igrejas recebessem a mesma visibilidade dada à polêmica sobre fantasias no Carnaval.

"Tem tanta coisa séria rolando. A saúde indígena está cada vez mais precária. Não tem mais verba. Temos problemamr jack bet codigo promocionalviolência e entradamr jack bet codigo promocionaldrogas nas aldeias. E tem muito indígena deixandomr jack bet codigo promocionalfalar a língua nativa, porque as igrejas falam que é cultura do capeta", afirmou.

Apesar dos problemas, ela diz que a cultura Kalapalo está sendo mantida. E celebra a trocamr jack bet codigo promocionalexperiências entre indígenas e pessoas das cidades que desejam conhecer mais sobre a cultura deles.

"Na tribo da minha família temmr jack bet codigo promocionaltornomr jack bet codigo promocional80 pessoas. No momento, eles estãomr jack bet codigo promocionalfesta. Comemorando, celebrando, recebendo visitantesmr jack bet codigo promocionalvários lugares. A minha aldeia recebe pessoas que querem passar um tempo lá. A gente faz trocamr jack bet codigo promocionalcultura, ensina e aprende."

Ysani Kalapalo
Legenda da foto,

Ysani Kalapalo diz não ver problemamr jack bet codigo promocionalusomr jack bet codigo promocionalcocar no Carnaval. Para ela, significa uma 'troca cultural', não discriminação | Fonte: Reprodução/Facebook