'Não vejo meus filhos há 3 anos': a sagasoftware analise futebol virtualrefugiados para trazer a família ao Brasil:software analise futebol virtual

Ele teve dificuldade para aprender português, fez trabalhos braçais – embora tenha dois diplomas universitários – e enfrentou dificuldades financeiras. Mas, nasoftware analise futebol virtualavaliação, é agora que vive seu maior desafio: trazersoftware analise futebol virtualmulher e trêssoftware analise futebol virtualseus cincos filhos para lhe fazer companhiasoftware analise futebol virtualterras brasileiras.

Com dinheiro para as passagens, arrecadadosoftware analise futebol virtualuma vaquinha por seus colegassoftware analise futebol virtualtrabalho, Bobolibanda esbarrou na burocracia: solicitados há seis meses, os vistos ainda não foram expedidos pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), revelando um problema que afeta outras pessoas que, como ele, tentam reunir suas famílias. Após a publicação da reportagem, o MRE informou que a demora não é responsabilidade do órgão e que espera encaminhamento dos casos pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).

Segundo o Conare, órgão ligado à pasta responsável pela concessão desses vistos, a médiasoftware analise futebol virtualespera para a emissão do documento ésoftware analise futebol virtualquatro meses, mas que alguns fatores podem causar atrasos, como faltasoftware analise futebol virtualdocumentos exigidos, documentaçãosoftware analise futebol virtualbaixa resolução ou "outros trâmites relacionados aos processos internos do MRE, que são particulares à competência deles, asoftware analise futebol virtualexpediçãosoftware analise futebol virtualvisto".

Questionado pela BBC Brasil sobre o status do caso do congolês, o Conare afirmou apenas "somente o interessado tem acesso a essa informação". Bobolibanda diz que o órgão nem sequer lhe avisou se os documentos enviados por ele para o processo estão corretos.

Ele está preocupado:software analise futebol virtualmulher, desempregada, depende do dinheiro que ele manda todos os meses para pagar o aluguel e as escolas dos filhos. "Lá, a situação é grave, não tem escola ou hospital públicos. Se você for ao Congo, você chora. Eu trabalhavasoftware analise futebol virtualtrês empregos para colocar comidasoftware analise futebol virtualcasa. Só queria que eles viessem para pertosoftware analise futebol virtualmim. Minha mulher era costureira lá e também poderia trabalhar aqui."

O desafiosoftware analise futebol virtualrecomeçar

Quando o refugiado chegou ao país, nem a formaçãosoftware analise futebol virtualinformáticasoftware analise futebol virtualgestão e contabilidade nem a experiência como professor universitário foram suficientes para lhe garantir um emprego. Nesses pouco maissoftware analise futebol virtualtrês anos no Brasil, ele já trabalhou carregando pedrassoftware analise futebol virtualmármore, foi ajudantesoftware analise futebol virtualum restaurante francês e operáriosoftware analise futebol virtualuma fábricasoftware analise futebol virtualplásticos.

Há sete meses, finalmente conseguiu migrar para umasoftware analise futebol virtualsuas áreassoftware analise futebol virtualatuação. Agora, trabalha como assistente contábil na consultoria Gradual Investimentos,software analise futebol virtualSão Paulo. Entre suas funções está fazer o controle do dinheiro que entra na empresa e, neste mês, está aprendendo funçõessoftware analise futebol virtualoutras áreas, como asoftware analise futebol virtualpagamentos.

Sensibilizados pela trajetória do congolês, colegassoftware analise futebol virtualtrabalhosoftware analise futebol virtualBobolibanda fizeram uma vaquinha e conseguiram juntar R$ 25 mil para pagar as passagens aéreas que trariam a família do refugiado ao Brasil.

"Eu estou muito feliz com toda essa ajuda que eu tive para conseguir emprego e conseguir o dinheiro. Quero crescer na empresa e continuar estudando, mas trazer minha família (para o Brasil) é minha prioridade. Não vejo minha mulher e meus filhos há três anos. É duro, mas eu tenho paciência e sei que daqui a pouco eles vão chegar aqui", disse ele à BBC Brasil no escritório onde trabalha, na zona oestesoftware analise futebol virtualSão Paulo.

Após ouvir uma pergunta sobre as três ou quatro conversas semanaissoftware analise futebol virtualáudio e vídeo que tem com a família por meio do WhatsApp, Bobolibanda faz uma pausa. E anuncia: "Vou chorar".

O casal, junto há 30 anos, tem filhossoftware analise futebol virtual9, 11, 13, 18 e 22 anos. "Durmo e acordo sozinho na quitinete onde eu moro. Não é fácil. Meu sonho é um dia poder viajar com meus filhos pelo Brasil. Os lugares que eu acho mais lindos são Curitiba e Porto Alegre", conta.

De acordo com o Conare, há 280 pedidossoftware analise futebol virtualvistos como ossoftware analise futebol virtualBobolibanda "aguardando expedição", sem previsão para serem emitidos. Somentesoftware analise futebol virtual2017, 473 pessoas foram reconhecidas como refugiadas no Brasil - requisito para pedir a reunião familiar.

A assessora jurídica da Missão Paz (comunidadesoftware analise futebol virtualreligiosos que auxilia migrantessoftware analise futebol virtual34 países), Livia Lenci, diz que a presença da família é vital para a adaptação do refugiadosoftware analise futebol virtualseu novo país. "O suporte familiar faz partesoftware analise futebol virtualuma necessidade humana básica. Sem ele, ocorre um impacto psicológico muito grande e essa pessoa com certeza não vai ter a mesma adaptação, no trabalho, sozinha", diz.

Segundo ela, a distância ainda ajuda a perpetuar a pobreza dos refugiados, pois a maior parte deles precisa sustentar duas casas, como Bobolibanda. "Eles mandam dinheiro para o paíssoftware analise futebol virtualorigem para ajudar a família e acabam pagando dois aluguéis e outras despesas. Sem contar que, para isso, precisam trabalhar exaustivamente", completa Lenci.

Sem estrutura

O diretor da ONG Adus (Institutosoftware analise futebol virtualReintegração do Refugiado), Sidarta Martins, diz que o Brasil não tem estrutura para julgar os casossoftware analise futebol virtualreunião familiar pedidos pelos refugiados.

"Muitas vezes, demora maissoftware analise futebol virtualdois anos. Isso é causado por vários fatores, mas um deles é a grande quantidadesoftware analise futebol virtualpedidos. Há dez anos, o Brasil recebia 200 pessoas por ano pedindo refúgio. Hoje, esse número estásoftware analise futebol virtualcercasoftware analise futebol virtual20 mil", afirma.

Martins diz ainda que outro impasse para a emissão do visto é a quantidadesoftware analise futebol virtualdocumentos exigidos aos estrangeiros, como comprovantesoftware analise futebol virtualvacinação esoftware analise futebol virtualresidênciasoftware analise futebol virtualtodos os familiares do refugiado. Segundo ele, o governo brasileiro também tem dificuldade para entender o conceitosoftware analise futebol virtualfamíliasoftware analise futebol virtualoutros países.

"O Brasil trata o refugiado como se fosse um turista comum – e não alguém que deixou para trás uma situaçãosoftware analise futebol virtualrisco ou conflito. Muitos parentes, como sobrinhos, têm dificuldades para provar que fazem parte da família do refugiado, pois o governo brasileiro só reconhece como família pais e filhos. Na África, é diferente", explica.

Esse é o caso da chefesoftware analise futebol virtualcozinha angolana Bernarda Brenda Kayembe,software analise futebol virtual34 anos, que tenta há sete meses trazer a irmã,software analise futebol virtual24 anos, e seu filho mais velho,software analise futebol virtual14, para o Brasil.

"É importante que minha irmã venha porque corre perigo. Ela está sendo ameaçada politicamente. E quero que o meu filho fique do meu lado. Lá ele não estuda, está passando fome, está sofrendo muito. Aqui, ele poderia estudar porque tudo ésoftware analise futebol virtualgraça", disse à BBC Brasil.

De acordo com seu relato,software analise futebol virtualmaiosoftware analise futebol virtual2014, seu marido foi preso após vender produtossoftware analise futebol virtualseu supermercado para tropas da Frente para a Libertação do Enclavesoftware analise futebol virtualCabinda – uma guerrilha separatista que luta pela independência da cidadesoftware analise futebol virtualCabinda.

Sozinha, a mulher vendeu o supermercado da família, pagou um advogado para defender o marido e fugiu com os três filhos para o Brasil. Dois meses depois, ele conseguiu a liberdade, vendeu a casa e foi ao encontro dos filhos e esposasoftware analise futebol virtualterras brasileiras.

"Ele veio num navio. Quando ele chegou no Brasil, sabia que a gente estava aqui, mas não onde. Os voluntários do Cáritas nos ajudaram, nos identificaram e nos uniram", conta a mulher, que trabalhasoftware analise futebol virtualuma lojasoftware analise futebol virtualum shopping da zona sulsoftware analise futebol virtualSão Paulo.

Hoje separada do marido, ela cuida sozinha dos quatro filhos. O dinheiro que ganha, conta, é suficiente apenas para comprar comida. Kayembe não sabe como vai pagar a passagem para trazer a irmã e o filho quando os vistos forem aprovados.

"Não sei o que vou fazer. Eu vou pedir ajuda, tentar trabalhar mais. Mas sinto muito medo quando lembro das tropas que estão atrás da minha irmã. Eles matam, cortam a cabeça e as colocamsoftware analise futebol virtualcima dos muros. Farei o que eu puder para trazê-la com meu filho para pertosoftware analise futebol virtualmim", diz.

Estruturasoftware analise futebol virtualacolhimento

Em 2017, o presidente Michel Temer aprovou uma nova Leisoftware analise futebol virtualMigração, que entrousoftware analise futebol virtualvigor no dia 21software analise futebol virtualnovembro. A intenção da portaria é facilitar a regularização dos estrangeiros no Brasil.

A lei evita a deportação imediatasoftware analise futebol virtualmigrantes na fronteira brasileira e cria o visto humanitário para pessoas vindassoftware analise futebol virtualpaíses com conflitos armados ou vítimassoftware analise futebol virtualviolaçõessoftware analise futebol virtualdireitos humanos. Ela também permite que o estrangeiro tenha os mesmos direitos trabalhistassoftware analise futebol virtualum brasileiro.

Para o diretor da Adus, o governo brasileiro deveria montar uma estrutura que orientasse os refugiadossoftware analise futebol virtualaeroportos internacionais.

"Hoje, a Adus dá orientação jurídica aos refugiados. Enviamos para a Defensoria da União todos os documentos necessários para regularizá-los aqui. Quando é algo simples, a gente até ajuda a formular o pedido, mas falta estrutura para tanta gente", afirma Sidarta Martins.

O projeto social Estou Refugiado também vem ajudando quem chega no Brasil nessas condições. A ONG os ajuda a montar o currículo e distribuí-los para as empresas. Foi dessa forma que a CEO da Gradual investimentos, Fernandasoftware analise futebol virtualLima, contratou três refugiados, entre eles Bobolibanda.

"O currículo deles me impressionou pela boa formação. Depois que entraram aqui, vi que, alémsoftware analise futebol virtualtudo, são muito dedicados e esforçados", conta ela.

Mas a dificuldadesoftware analise futebol virtualconseguir um emprego e o preconceito com alguns refugiados fazem com que eles aceitem trabalharsoftware analise futebol virtualambientes insalubres e sem direitos trabalhistas.

"Quando o Jeff chegou aqui, ele disse para mim que aprendeu nos empregos anteriores que não poderia receber salários todos os meses porque era refugiado. Eu fiquei indignada, disse que era uma mentira e ele ficou surpreso", conta Lima.

Segundo a executiva, a trajetória dos refugiados inspira outros funcionários. "Eu diria a outros empresários que os refugiados são profissionais capacitados, com muita vontadesoftware analise futebol virtualtrabalhar. Pessoas que valem a pena contratar".