Véus, cabelos longos e saias: o que a Bíblia diz sobre a aparência das mulheres:slot totem

“Há passagens conhecidas que mostram o impacto que o encontro com Jesus tem sobre o modo como nos vestimos. Concordamos, no mínimo, que Deus não aprova a exposição pública da nudez”, ressalta ele, no seu livro.

“A escritura falaslot totemforma mais geral sobre os perigos da vaidade, sobre uma preocupação exagerada com a nossa aparência. E vai dar alguns padrões que não são muito específicos mas são termos gerais também sobre a modéstia, que é a linguagem que a gente usa para falar sobre como nos vestimos”, diz ele, à BBC News Brasil.

Beleza e pecado

São muitos os trechos bíblicos que associam cuidados com embelezamento a práticas consideradas pecaminosas.

No segundo livro dos Reis, Jezebel “pintou os olhos, arrumou os cabelos e sentou-seslot totemfrente a uma janela” para seduzir Jeú. Em Provérbios, a mulher adúltera é descrita como a que usa “roupas provocantes”.

O pastor Martins lembra que no livro do Gênesis, o primeiro da Bíblia, “descobrimos que a roupa foi criada por causa do pecado” pois “lemos que Adão e Eva estavam nus, e que a faltaslot totemroupa não representava vergonha alguma”. É quando, conforme o texto bíblico, o pecado lhes dá consciência da nudez e vergonha, então eles “costuraram folhasslot totemfigueira umas às outras para se cobrirem”.

Na primeira das cartas que enviou a Timóteo, o apóstolo Paulo manda “que as mulheres tenham discrição emslot totemaparência”.

“Que usem roupas decentes e apropriadas, sem chamar a atenção pela maneira como arrumam o cabelo ou por usarem ouro, pérolas ou roupas caras. Pois as mulheres que afirmam ser devotasslot totemDeus devem se embelezar com as boas obras que praticam”, escreveu.

Emslot totemprimeira carta, Pedro também exortou que as mulheres não se preocupassem “com a beleza exterior obtida com penteados extravagantes, joias caras e roupas bonitas”.

No livro Igrejas que Calam as Mulheres, Martins ressalta que “as Escrituras não condenam o cuidado com o corpo, nem criam padrões absolutosslot totemvestimenta”, embora apontem “alguns limites claros”.

“Não cabe a mim determinar o tamanho daslot totemsaia, ou algo desse tipo. Se Pedro e Paulo não fizeram isso, eu não farei”, salienta o pastor. “De todo modo, as Escrituras contêm algumas respostas para uma sérieslot totempolêmicas sobre como nos vestimos”.

O caso das calças versus saias é trazido por ele ao debate. Ele lembra queslot totemmuitos ambientes conservadores até hoje mulheres são proibidasslot totemusar calças, não apenasslot totemigrejas pentecostais comoslot totemoutras protestantes e até mesmoslot totemambientes católicos mais tradicionalistas.

“Na Bíblia não diz qual o tamanho da saia e não fala se calça ou vestido são apropriados, até porque são textos escritos há 2 mil anos, então não é um modelo que a gente pode simplesmente trazer para cá”, salienta o teólogo

Em outras palavras, é preciso cuidado para não cair no anacronismo. Calças eram condenadas quando eram peças que não faziam parte do vestuário feminino e “o sentido das roupas muda com o passar das eras”.

“A Bíblia refere-se a um tempo e a uma cultura ou melhor culturas diferentes. Não se pode tomar isso como mandato divino. A vestimenta é expressãoslot totemtempos e culturasslot totemmutação”, comenta à BBC News Brasil a filósofa e teóloga feminista Ivone Gebara, freira agostiniana e autora de, entre outros livros, As Incômodas Filhasslot totemEva na Igreja da América Latina.

Véu para casadas

Véus e cabelos compridos são outros pontos comumente associados às crentesslot totemdenominações mais tradicionalistas. Não só nas protestantes.

A Igreja Católica determinava, no Códigoslot totemDireito Canônicoslot totem1917, que as mulheres deveriam “cobrir suas cabeças e vestir-se com modéstia, especialmente quando se aproximam da mesa do Senhor”.

O artigo deixouslot totemvigorar no códigoslot totem1983 — mas a praxe já estavaslot totemdesuso desde os anos 1960, com o Concílio Vaticano 2º.

Martins lembra, contudo, que setores conservadores do catolicismo ainda recomendam o véu e a peça é necessáriaslot totemencontrosslot totemmulheres com o papa.

No segmento protestante, há diversas denominações que impõem que os cabelos sejam cobertos. O teólogo cita a Congregação Cristã do Brasil, que se tornou conhecida como “igreja do véu”. Segundo ele,slot totemlivreto oficial da instituição há a determinação que “sempre que a mulher orar ou profetizar deve estar com a cabeça coberta”.

Na Bíblia, Paulo diz naslot totemprimeira carta aos Coríntios que “toda mulher que reza ou profetizaslot totemcabeça descoberta desonra aslot totemcabeça” e “se a mulher não usa véu, mande raspar a cabeça”.

O pastor comenta que há uma explicação sócio-histórica para isso. Segundo ele, no contexto grego-romano, as mulheres casadas usavam sobre a cabeça um véu para representar que tinham marido e não estavam sexualmente disponíveis. E raspar a cabeça era um tiposlot totempunição — por prostituição ou adultério.

“O véu era um sinal públicoslot totemque a mulher era casada. Tinha um significadoslot totemfidelidade ao marido, era um item social daquela cultura como usar uma aliançaslot totemcasamento hojeslot totemdia”, compara Martins.

“É necessário entender o contexto da comunidadeslot totemCorinto”, acrescenta à BBC News Brasil a teóloga, filósofa e biblista Zuleica Aparecida Silvano, freira da Congregação das Filhasslot totemSão Paulo, professora na Faculdade Jesuítaslot totemFilosofia e Teologia e integrante da Associação Brasileiraslot totemPesquisa Bíblica.

Ela lembra que, naquele espaço, havia nas casas e nos templos as chamadas “prostituições sagradas”, que eram “os cultos das deusasslot totemfecundidade e outras práticas”. “E Paulo não desejava que a comunidade primitiva cristã fosse confundida com esses cultos”, explica Silvano.

Além disso, a teóloga ressalta que “Paulo é filhoslot totemsua cultura e as mulheres casadas deveriam cobrir seus cabelos, como um sinalslot totemque eram casadas, quando estavam expostas ao público”.

Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o historiador e teólogo Gerson Leiteslot totemMoraes também enfatiza a importância da compreensão do contexto da missiva paulina.

“Corinto [na atual Grécia], naquela época, era uma cidade portuária com muitas meretrizes. E o véu era uma maneiraslot totemdistinguir as mulheres cristãs dessas mulheres”, afirma Moraes, à BBC News Brasil.

“Ele [Paulo] faz uma observação sobre o uso do véu, dá a opinião dele, diz que está repassando uma tradição.”

O professor comenta que se trataslot totem“uma passagem muito específica dentroslot totemum contexto muito específico”.

“Nas cartas pastorais, os autores pedem para as mulheres se vestiremslot totemforma sóbria”, pontua a biblista.

Sobre o trecho da carta a Timóteo, porslot totemvez, Moraes interpreta que a orientação para que as mulheres não usem adereços ou não se arrumemslot totemmodo a chamar a atenção, “pode ter uma leitura mais sexual”.

“Ele parece dizer que essas mulheres podem excitar os homens, então seria melhor que não fosse assim”, analisa.

Nas igrejasslot totemhoje

A biblista Silvano defende a liberdadeslot totemcada denominação. “Penso que cada religião é livre para escolher o modoslot totemse vestir dependendoslot totemseus cultos, como os presbíteros na nossa igreja ou as congregações que escolhem seus hábitos. Isso não é o mais importante, mas sim a prática da justiça, do respeito, da igualdade, do não clericalismo”, comenta ela.

Sobre as restrições impostas às mulheres, Moraes compara as diferentes vertentes do cristianismo. “Grupos mais consolidados como protestantismo histórico vão lendo essas passagens mas a força do tempo vai impondo mudanças e eles vão aceitando”, comenta.

“Os grupos que vêm depois, mais sectários, geralmente se agarram à letra fria da lei, ao que está escrito. Aí vários grupos que nasceram do pentecostalismo são apegados a isso, a esses usos e costumes que eles diziam ser doutrinas.”

Já no neopentecostalismo, Moraes acredita que essas restrições tendem a cair por terra. “Vemos mulheres neopentecostais explorando linhasslot totemmaquiagem, vestimentas e cabelosslot totemtodo o tipo, sem uma regra específica”, diz ele.

Moraes acredita que hoje o que prevalece é muito mais um costume específico como caráter identitário. “Uma formaslot totemdistinção: você vê uma mulher com um tiposlot totemcabelo e automaticamente sabe que ela pertence a determinado segmento religioso”, afirma ele.

Elogios aos cuidados

O pastor Martins também ressalta passagens bíblicasslot totemque rituaisslot totembeleza foram enfatizados.

No livroslot totemEster, consta que as virgens do rei passavam por um ritualslot totem“doze meses prescritosslot totemtratamentosslot totembeleza: seis meses com óleoslot totemmirra e seis meses com perfumes e cosméticos”.

Diversas outras personagens do Antigo Testamento são descritas por predicados que indicam beleza e cuidados pessoais, como Sara, Rebeca, Betsabé e Tamar.

O religioso lembra ainda que no livro do profeta Isaías, quando ele descreve a promessa divinaslot totempunição ao povo pecador, ele usa como imagem uma mulher que é desprovida dos enfeites — tiaras, perfumes, anéis, vestidos, bolsas, etc. “No texto profético, perder os adornos é símboloslot totemmaldição e desgraça”, explica Martins.