Reformas são mais importantes para elite econômica do que a preservaçãoaposta da blazeTemer, diz analista:aposta da blaze

  • André Bernardo
  • Do Rioaposta da blazeJaneiro para a BBC Brasil
Protestosaposta da blazequinta-feira diante do Palácio do Planalto

Crédito, LULA MARQUES/AGPT

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Protestosaposta da blazequinta-feira diante do Palácio do Planalto; para analista, chanceaposta da blazeeleição direta é remota

aposta da blaze Um dia após as denúncias da delaçãoaposta da blazeJoesley Batista, dono da JBS, milharesaposta da blazebrasileiros foram às ruas para protestar contra o presidente Michel Temer (PMDB) e pedir a convocaçãoaposta da blazeeleições diretas. Com baixíssimo respaldo popular - segundo a mais recente pesquisa Ibope, a avalição positiva do governo éaposta da blazesó 10% -, o futuro políticoaposta da blazeTemer está nas mãos tantoaposta da blazepartidos da base quantoaposta da blazesetores da economia.

Se aliados do presidente começarem a abandoná-lo à própria sorte, ele não vai ter para onde fugir. Essa é a avaliação do cientista político Christian Edward Cyrill Lynch, doutoraposta da blazeCiência Política pelo Institutoaposta da blazeEstudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rioaposta da blazeJaneiro (UERJ). Para Lynch, é bem provável que o establishment econômico já tenha um "curinga" na manga para o casoaposta da blazecassação ou impeachmentaposta da blazeTemer.

"Pode-se imaginar que, hoje, as cartas na mesa sejam personalidades como a ministra Cármen Lúcia (STF) ou o ministro Henrique Meirelles (Fazenda). De preferência, alguém que não esteja sendo investigado nem que tenha riscoaposta da blazeser investigado pela Lava Jato", afirma Lynch.

Quanto à convocaçãoaposta da blazeeleições diretas, o cientista político admite que a possibilidade é remota. Só seria possível se o Congresso aprovasse uma emenda constitucional,aposta da blazedois turnos e por três quintos dos parlamentares da Câmara e do Senado. Veja os principais trechos da entrevista:

aposta da blaze BBC Brasil - Como o senhor analisa o impacto das denúncias do dono da JBS? Emaposta da blazeopinião, Michel Temer pode sofrer impeachment ou ser cassado?

aposta da blaze Christian Lynch - Temer nunca gozouaposta da blazepopularidade. Os índices dele são muito baixos. De alguma maneira, ficou dependendo dos programasaposta da blazereforma econômica para sobreviver. A partir do momentoaposta da blazeque ele não teve apoio da rua, teveaposta da blazebuscá-lo na classe política, que,aposta da blazealguma maneira, o apoiava na expectativaaposta da blazeque pudesse ser blindada contra as investigações da Lava Jato. Temer adotou um reformismo radical para mostrar aos setores sociais e econômicos comprometidos com a pauta liberal no Brasil que valeria a pena protegê-lo contra a impopularidade. Então, tudo o que acontecer nas próximas 48 horas terá a ver comaposta da blazecapacidadeaposta da blazedar uma explicação plausível sobre o que aconteceu e essa explicação ser levadaaposta da blazeconsideração pelas forças que o sustentam no Congresso e pelos setores econômicos.

aposta da blaze BBC Brasil - O senhor acreditava na hipóteseaposta da blazerenúncia?

aposta da blaze Lynch - Não. Imaginava que, com foro privilegiado, Temer não fosse renunciar. O que acontece agora? Se os partidos da base começarem a abandoná-lo, ele não vai ter para onde fugir. E, aí, abrem-se alguns cenários.

aposta da blaze BBC Brasil - Quais?

aposta da blaze Lynch - Um deles é a cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) daqui a duas semanas. A gente sabe que o voto do relator é pela cassação da chapa. Então, se a crise não for solucionada até lá, a tendência do TSE pode ser oferecer uma saída "digna", a cassação da chapa. Aí, Temer seria obrigado a sair. O segundo cenário é o impeachment. Mas não acredito muito nisso.

aposta da blaze BBC Brasil - Caso haja eleições diretas, quem sairia fortalecido na disputa?

aposta da blaze Lynch - Existe expectativa, por parte do PT,aposta da blazeque, numa eventual eleição direta, o Lula possa vencer e, assim, escapar do julgamento na Lava Jato,aposta da blazeque se esperaaposta da blazecondenação. Pessoalmente, apesaraposta da blazedesejável, não acho que a eleição direta prevaleça como meioaposta da blazeresolução da crise.

Temer, no discursoaposta da blazequarta-feira

Crédito, Lula Marques / AGPT

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Temer, no discursoaposta da blazequarta-feira; segundo analistas, revelações que atingem o presidente mostram que Lava Jato não foi direcionada ao PT

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aposta da blaze BBC Brasil - E candidatos aposta da blaze outsiders aposta da blaze , como João Dória e Luciano Huck, têm chance numa eventual eleição direta?

aposta da blaze Lynch - Os outsiders vão competiraposta da blazequalquer jeito na eleição do ano que vem. Mas acho que nenhum deles está interessadoaposta da blazeeleição agora. O establishment prefere ter mais tempo e uma eleição indireta como opção mais segura para continuar tocando as reformas liberais.

aposta da blaze BBC Brasil - Qual é o impacto das manifestaçõesaposta da blazequinta-feira nos desdobramentos dessa crise política?

aposta da blaze Lynch - Gostaria que essas manifestações fizessem diferença, mas sou cético. Quem vai para as ruas provavelmente está nos extremos do espectro político, já não gostam ou gostavam do Temer. Ou é gente ultraliberal ou é militante da esquerda. Por outro lado, esse Congresso é notoriamente insensível às manifestaçõesaposta da blazerua. Então, acho que elas tendem a não produzir grande impacto.

aposta da blaze BBC Brasil - Como ficam as reformas trabalhistas e da Previdência? Tendem ao fracasso?

aposta da blaze Lynch - As reformas são mais importantes para o establishment do que a preservação do Temer. Por isso, a partir do momentoaposta da blazeque (a elite econômica) abandona Temer, é lícito supor que tenha um plano B, ou seja, que tenhaaposta da blazemira outra pessoa, que se preste ao papelaposta da blaze"novo Temer", comprometidaaposta da blazetocar as reformas.

aposta da blaze BBC Brasil - Que figura seria essa? A presidente do STF, Cármen Lúcia, talvez?

aposta da blaze Lynch - Com a queda do Temer, assumiria (interinamente até a nova eleição, o presidente da Câmara, Rodrigo) Maia, que já está comprometido com as reformas. Não é possível imaginar, agora, quem seria o ungido. Mas pode-se imaginar que as cartas na mesa sejam personalidades como a ministra Cármen Lúcia ou o ministro Henrique Meirelles. De preferência, alguém que não esteja sendo investigado nem que tenha riscoaposta da blazeser investigado pela Lava Jato. Cármen Lucia seria um nome perfeito, porque não só está fora das investigações, como tem um perfil "republicano" e "liberal", acimaaposta da blazequalquer suspeita, é chefe do único poder que restouaposta da blazepé e por isso está absoluto no país, que é o Judiciário. O STF é hoje o fiador da "revolução judiciária" promovida pelo Ministério Público Federal, que derrubou a Nova Repúblicaaposta da blaze1985/88.

Carmen Lucia

Crédito, Rovena Rosa/Agência Brasil

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Ministra Carmen Lucia pode ser uma das opções defendidas pelo establishment para substituir Temer, diz analista

aposta da blaze BBC Brasil - Há quem sustente, um ano depois, que a presidente Dilma Rousseff foi vítimaaposta da blazegolpe. A denúnciaaposta da blazequarta-feira reforça essa tese?

aposta da blaze Lynch - Entendo que a teseaposta da blazeque a Dilma foi vítimaaposta da blazeum golpe não faz sentido, porque o instituto do impeachment é,aposta da blazesi mesmo, um golpe constitucionalizado, isto é, um instituto que permite a uma maioria do Congresso adversária do presidente,aposta da blazecontextoaposta da blazeclamor público, removê-lo a pretextoaposta da blazeter ele cometido um delito político, que ele mesmo qualifica, acusa e julga. Então, não faz sentido dizer que um presidente foi vítimaaposta da blazegolpe, já que o impeachment é uma forma legalizadaaposta da blazegolpe. O que eu posso dizer é que a ação da Lava Jato enfraquece a teseaposta da blazeque a operação é toda voltada com o fito exclusivoaposta da blazeperseguir o PT, o que evidentemente não é verdade.

aposta da blaze BBC Brasil - Pode-se dizer que, com as revelaçõesaposta da blazequarta-feira, a investigação ganhou mais força?

aposta da blaze Lynch - Acredito que sim. Na minha opinião, a Lava Jato não é uma investigação direcionada contra o PT e, sim, contra toda a classe política como um todo. Os promotores se percebem como iluminados, tenentes encarregados da missão providencialaposta da blazelivrar o Brasil da corrupção. Não à toa, muitos deles professam orientações religiosas que moralmente os guiam nessa concepçãoaposta da blazemissão pública. É claro que o PT e o PMDB ficam no centro do fogo porque, nos últimos 12 anos, eles eram o establishment do sistema político. Então, são mais afetados. Mas não parece haver um recorte específico no sentidoaposta da blazepoupar os demais partidos. No fundo, o que os "tenentes togados" fazem é o processo da vida política brasileira como um todo: querem,aposta da blazenome da ética jurídica, dos "valores republicanos", erradicar a "politicagem" da cena brasileira. Mas é inegável que existe também um viés antipetista, às vezes por questãoaposta da blazeclasse, às vezes por perceberem a misturaaposta da blazesocialismo com corrupção como satânica ou herética. É esse viés que seus detratores exploram, não sem alguma razão.

aposta da blaze BBC Brasil - O fatoaposta da blazea operação ter atingido nomesaposta da blazeoutros partidos como o senador Aécio Neves, pode reduzir a polarização da sociedade?

aposta da blaze Lynch - Acho improvável. O único fator que pode reduzir a divisão do país entre "coxinhas" e "mortadelas" ou "tucanos" e "petralhas", para a esquerda, é o Lula poder concorrer a presidenteaposta da blazeuma eleição honesta e ser claramente derrotado. São dois fatores, portanto. Mas o cenário seria catastrófico para o PT, que perderia o discurso do golpe e a perspectivaaposta da blazepoder. O partido teria que ser reconstruído do zero, fazer autocrítica, que é tudo o que por enquanto o grupo no poder dentro do partido evita fazer, para evitar, entre outras coisas, o esfacelamento da legenda, que só permanece unidaaposta da blazetorno da esperançaaposta da blazevitória do Lula.

aposta da blaze BBC Brasil - O senhor está otimista quanto ao futuro político do Brasil?

aposta da blaze Lynch - Não. Vamos ter continuidade deste governo zumbi, destituídoaposta da blazelegitimidade, ou outro governo, eleito indiretamente por um Congresso desmoralizado,aposta da blazeviés igualmente oligárquico. Quem for escolhido para o lugar do Temer, se ele sair, vai continuar tocando essas reformas, a economia vai seguir ressabiada, a tensão política e a polarização vão continuar até a eleiçãoaposta da blazeum novo presidente e um novo Congresso. Quando isso acontecer, a situação vai melhorar, mas a polarização vai continuar, emboraaposta da blazegrau menor, porque o presidente seráaposta da blazedireita ouaposta da blazeesquerda. Quem perder, vai continuar batendo panela. Além disso, a eleiçãoaposta da blaze2018 oferece claros riscos, o pior dos quais é o da vitóriaaposta da blazeum aventureiro e/ou voluntarista. A cena pode ser semelhante àaposta da blaze1989, que elegeu Fernando Collor. Esse candidato não vem para fazer a paz, mas para viver da guerra e do conflito político já instalado entre nós.

aposta da blaze BBC Brasil - Poderia citar alguns exemplos?

aposta da blaze Lynch - Pode ser um aventureiro voluntarista, como Jair Bolsonaro ou João Dória, ou alguém que está longeaposta da blazeser um aventureiro político, masaposta da blazepavio curto, como Ciro Gomes. Então, não sei se as coisas vão melhorar do pontoaposta da blazevista do ambiente. Nenhum deles tem as qualidades conciliatóriasaposta da blazeum FHC ou um Lula. Então, não vejo sossegoaposta da blazeum futuro próximo.

aposta da blaze BBC Brasil - Em um futuro não muito distante, como o episódioaposta da blazequarta-feira deverá será retratado nos livrosaposta da blazeHistória?

aposta da blaze Lynch - O incidente só entrará nos livrosaposta da blazeHistória se ele provocar a quedaaposta da blazeTemer. Nesse caso, ainda assim, ele será visto como um incidente dentro da "revolução" começada nas chamadas jornadasaposta da blaze2013 e avolumadas pela operação Lava Jato , que pôs fim à Nova República, isto é, ao regime político instalado entre 1985, consagrado juridicamenteaposta da blaze1988 e consolidadoaposta da blaze1994. Aquilo que o Tancredo, o avô, ajudou a construir, o neto, Aécio, ajudou a destruir. Raro casoaposta da blazeinício e fim provocados por uma mesma família.

aposta da blaze BBC Brasil - Como o senhor resumiria o diaaposta da blazequarta-feiraaposta da blazeuma só palavra ou frase?

aposta da blaze Lynch - Todo poder ao STF. Até a posse do novo presidente por eleições diretas, estamos inteiramente nas mãos do STF. O ideal é que nós tivéssemos um presidente da República razoável, eleito, legítimo e um Congresso, novo, igualmente eleito e legítimo. Era o que gostaria como cidadão. Mas, como cientista político, não acho que isso vai acontecer. Como você vê, separo aquilo que acho que vai acontecer daquilo que eu gostaria que acontecesse. Triste destino para uma hoje triste profissão.