Como vivem os negros no clube do 1% mais rico do país:apostar em esportes virtuais

  • Noemia Colonna
  • De Brasília para a BBC Brasil
Sabrina Fidalgo, Júlio César Chagas Santos e Mônica Valéria Gonçalves

Crédito, Phil Clarke Hill e Leopoldo Silva/BBC Brasil

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Sabrina, Júlio César e Mônica fazem parte do 1% mais rico

apostar em esportes virtuais Mônica Valéria Gonçalves,apostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais47 anos, é servidora públicaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisum tribunalapostar em esportes virtuaisBrasília. É casada com um juizapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisdireito branco. Júlio César Chagas Santos,apostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais50 anos, é empresário do ramoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisreciclagem no Rioapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisJaneiro. Enfrentou a pobreza na infância e conquistou seu espaço com muito trabalho e sensoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisoportunidade. Sabrina Fidalgo,apostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais36 anos, é cineasta e já nasceuapostar em esportes virtuaisfamília abastada. No balé, era a única negra da turma.

Mais do que a cor da pele, os três têmapostar em esportes virtuaiscomum a classe social: são brasileiros negros que fazem parte do 1% mais rico do país. Frequentam festas, restaurantes, hotéis, cursos, espaçosapostar em esportes virtuaisque são minoria. Geralmente, únicos: na academia onde faz ginástica no Lago Sul,apostar em esportes virtuaisBrasília, Mônica conta que não há outro sócio negro, como ela.

São exceções também nas estatísticas. Segundo dados do Instituto Brasileiroapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisGeografia e Estatística (IBGE), o 1% mais rico é formado por 79%apostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisbrancos e 17,4%apostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisnegros (classificação usada pelo órgão para os que se autodeclaram pretos e pardos. Os percentuais restantes se referem a amarelos e indígenas).

Há diferentes métodos para se chegar ao topo da pirâmideapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisrenda. Um deles considera o 1% mais rico da população brasileiros que ganham maisapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisR$ 260 mil por ano - o cálculo é do Institutoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisPesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseadoapostar em esportes virtuaisdados da Pesquisa Nacional por Amostraapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisDomicílios (Pnad) e da Receita Federal.

Neste grupo, que segundo projeções do IBGE reúneapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais1,4 milhãoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaispessoas adultas, há cada vez mais negros. Em 10 anos, a presença deles aumentouapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais12,5%,apostar em esportes virtuais2004, para 17,4%apostar em esportes virtuais2014.

"Mas ainda é pouco. A riqueza no Brasil é majoritariamente branca", diz Marcelo Medeiros, economista e sociólogo do Ipea e uma das maiores autoridades do país sobre o tema renda e desigualdade, referindo-se ao fatoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque esses 17,4% ainda estão muito longeapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisrefletir os 53,6% da população brasileira negra, segundo o último censo.

Preconceito econômico e social

Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismoapostar em esportes virtuaisBrasília,apostar em esportes virtuaisnovembroapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais2015

Crédito, Ag. Brasil

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Embora correspondam a 53,6% da população, negros são só 17,4% entre os mais ricos

Sociólogo e professor da Universidadeapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisBrasília (UnB), Emerson Rocha desenvolveu um estudo com baseapostar em esportes virtuaisdados do IBGE sobre o negro no mundo dos ricos. O que ele descobriu questiona a teseapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque o preconceito no Brasil é mais econômico do que racial.

Segundo Rocha, a percepção do racismo aumenta ao longo da distribuiçãoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisrenda. "Quanto mais alto na escala social o negro subir, maior o peso do racismo, contrariando a ideiaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque, no Brasil, o negro que enriquece é socialmente aceito como 'branco'", afirma.

Sua explicação éapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque o negroapostar em esportes virtuaisposições subalternas tende a ser confrontado com menor frequência pelo racismo pelo fatoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisestar no que poderia ser chamadoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais"posição natural" - ao sair desse espaço, gera estranhamento, surpresa ou rejeição e está mais suscetível a manifestaçõesapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaispreconceito.

"O que a gente observa é que, à medida que os negros ascendem, novas formasapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisdiscriminação vão ganhando espaço. Mesmo com diplomas e carreiras bem-sucedidas, mais do que nunca, ele será um negro. E, para muitos, um corpo estranho e fora do lugar. As estruturas sociais ainda não estão preparadas para isso", avalia Rocha.

A educação é apontada como fundamental para que se diminua a desigualdade na parcela dos mais ricos. "É preciso que mais negros ingressem nas universidadesapostar em esportes virtuaiscursosapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaiselite como Medicina, Engenharia e Direito", exemplifica a socióloga Tatiana Silva.

Em um estudo sobre raça e educação que conduziu no Ipea, a pesquisadora mostra que a desigualdade no ensino superior continua muito alta, apesarapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisum avanço nas últimas décadas. Em 2001, 13,3% das pessoas brancas e 3,5% das pessoas negras tinham 12 anos ou maisapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisestudo. Jáapostar em esportes virtuais2012, última pesquisa feita sobre o tema, os números subiram para 22,2% e 9,5%, respectivamente.

"Mesmo evoluindo, os dados indicam que a desproporção continua. Com menos negros nas universidades, há menos delesapostar em esportes virtuaisposiçõesapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisprestígio no mercadoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaistrabalho e na sociedade", conclui a pesquisadora.

Autossegregação

Tatiana Silva, do Ipea

Crédito, João Viana/Ipea

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Estudo liderado por Tatiana Silva no Ipea mostra abismo na escolaridade

Contudo, os estudiosos avaliam que, sozinha, a educação não amplia a presençaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisnegros entre os mais ricos - o racismo continua sendo um forte empecilho.

"Por ser socialmente aceito como normaapostar em esportes virtuaislugaresapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaispoder, um profissional branco consegue 'vender' um títuloapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaismédico, advogado ou arquiteto no mercadoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaistrabalho a preços mais altos que seu colega negro. E é geralmente por aí que a gente identifica a discriminação racial e a exclusão do negro nas esferasapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaispoder", diz Rocha.

Ou seja: se um negro se formaapostar em esportes virtuaisMedicina, terá, provavelmente, menos perspectivas nos ramos mais bem pagos da profissão.

Para Rocha, apesarapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisavanços como a ampliação do acesso às universidades e no serviço público por ações afirmativas como cotas, ainda é preciso desnaturalizar a visãoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque o lugar do negro é na pobreza.

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Pesquisas apontam que essa visão afeta a sociedade como um todo. Por um lado gera discriminação e, por outro, cria o fenômeno da autossegregação.

Um estudoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais2006 do economista e demógrafo Eduardo Rios Neto, da Universidade Federalapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisMinas Gerais (UFMG), mostra como, apesar da ascensão econômica, muitos negros, diferentementeapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisbrancos, acabam se restringindo a seus espaços originaisapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaismoradia.

A pesquisa revela, por meioapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaismapasapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaissete grandes capitais brasileiras, que, apesarapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisterem condiçõesapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaismorarapostar em esportes virtuaisum distritoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisclasse média alta, negros tendem a optar viverapostar em esportes virtuaisáreas onde o padrãoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisrenda é inferior - se um branco enriquece, tende a se mudar para uma áreaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaismaior status.

Essa separação é mais alta nas classesapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisrenda mais elevada. "Pode-se inferir que a segregação racial entre brancos, pretos e pardos não pode ser atribuída apenas ao status socioeconômico. Fatores como autossegregação e racismo também têm que ser levadosapostar em esportes virtuaisconsideração", conclui o estudo, citado pelo Programaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisDesenvolvimento Humano da ONU.

Excepcionalidade

Grupoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisalunos da USP realiza ato a favor do sistemaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaiscotas,apostar em esportes virtuais2012

Crédito, Ag. Brasil

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Políticas como aapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaiscotasapostar em esportes virtuaisuniversidades são temaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaismuito debate no Brasil

Mônica, Júlio e Sabrina são exceções também neste aspecto. Vivemapostar em esportes virtuaisáreas nobresapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaissuas cidades, frequentam espaços consideradosapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaiselite e contarão para a BBC Brasil, nesta sérieapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisreportagens, como lidam com a situação excepcional na qual vivem.

Os três descreverão episódiosapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisracismo que enfrentaram ao longo da vida, mas também suas soluções para lidar com o problema.

No casoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisSabrina, que já nasceuapostar em esportes virtuaisfamíliaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisalta renda, a educação que recebeu dos pais foi fundamental.

"Meus pais me diziam: você é linda, seu cabelo,apostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaiscor, nossa história. Nunca tenha vergonhaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaissua raça e nem abaixe a cabeça para nada. Se você quiser ser médica, será. Se quiser ser atriz, também pode ser. Bailarina, miss, o que quiser. Eles diziam que eu era inteligente o bastante para isso", lembra.

Marcelo Medeiros, do Ipea

Crédito, João Viana/Ipea

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Marcelo Medeiros, do Ipea: 'A riqueza no Brasil é majoritariamente branca'

Para ela, esse conselho lhe deu a certezaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque as dificuldades enfrentadas pelo negro na sociedade devem, sim, ser devidamente narradas, mas também as inúmeras histórias positivas que existem por aí.

"Incomodam muito esses discursosapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque só vivências opressivas são legítimas. Soam quase como uma reafirmação do racismoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisque, nós negros, só podemos merecer algo mediante à imposiçãoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisuma vivênciaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisdor, humilhação, provações e opressões."

Rocha, da UnB, acrescenta ser necessária uma reflexão sobre o significadoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaishistórias individuaisapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaissuperação diante das barreiras impostas pela discriminação. Ele explica que, muitas vezes, essas histórias positivas são usadas para se negar a existênciaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisobstáculos provocados, entre outras coisas, pelo preconceito. "Algo como: se ela conseguiu, todos podem conseguir, então não reclame", diz.

"Mas há outro olhar a ser lançado sobre essas histórias. Um olhar mais generoso e necessário. O olhar da inspiração e do aprendizado. Essas histórias mostram a todos que mulheres e homens negros têm plena capacidade para ocupar os mais diversos espaçosapostar em esportes virtuaissociedade e que, portanto, o preconceito não tem cabimento", analisa.

"Esse é o sentido por trás da intençãoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaistermos cada vez mais pessoas negrasapostar em esportes virtuaisposiçõesapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisdestaque: construir um país onde sejam comuns os exemplos vivos que contrariam o preconceito. Visibilizar essas histórias é muito importante para mostrar a possibilidadeapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaissuperação, tanto do pontoapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaisvista individual quanto coletivo."

Noemia Colonna

Crédito, Martin Levandowsky

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Repórterapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuaissérie da BBC Brasil sobre os negros que fazem parte do 1% mais rico do país, Noemia Colonna discute narrativaapostarapostar em esportes virtuaisesportes virtuais"superação da pobreza"