'Fui confundida com prostituta na minha lua1xbet 64mbmel':1xbet 64mb

Mônica1xbet 64mbseu casamento

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Mônica e o marido, Carlos Augusto Nobre, se casaram duas décadas atrás

A "confusão" que mais a marcou, no entanto, ocorreu há 22 anos, quando passava lua1xbet 64mbmel1xbet 64mbFortaleza.

"Meu marido e eu estávamos hospedados1xbet 64mbum hotel1xbet 64mbluxo. Fomos fazer um passeio na orla da praia, na noite da virada do ano, quando um homem tocou o meu corpo e me assediou abertamente. Levei um susto e gritei com ele, que se desculpou dizendo que achou que eu estivesse ali com um homem branco fazendo programa", lembra.

"Não passou pela cabeça dele que aquele homem fosse meu marido, casado com uma bacharel1xbet 64mbDireito e dona da própria renda", diz. "É como se, como negra, eu não pudesse ser uma pessoa assim ou estar ali naquele lugar. Já fui assediada várias vezes, inclusive quando novinha. Cheguei a pensar que a culpa fosse minha."

Obstáculos do preconceito

Única pessoa1xbet 64mbsua família a ascender socialmente, Mônica superou vários obstáculos no caminho.

"A vida inteira tive que provar que era muito boa1xbet 64mbtudo que fazia. Acabei me acostumando a isso porque, se sou exceção, tenho que ser exceção para a excelência. Senão, posso ser julgada tanto pela qualidade do meu trabalho quanto pela minha cor. Sou julgada duas vezes", afirma.

"No trabalho, as duas vezes1xbet 64mbque consegui chegar à chefia1xbet 64mbgabinete foi com ministros negros. Minha expertise é a mesma, mas só outros negros reconhecem isso. Porque isso acontece?"

A servidora pública Mônica Valéria Gonçalves

Crédito, Leopoldo Silva/BBC Brasil

Legenda da foto, A servidora pública relata muitas vezes ser a única negra1xbet 64mbambientes1xbet 64mbelite

Ela conta que1xbet 64mbposição social "suaviza o preconceito"1xbet 64mbalgumas situações, fazendo com que seja mais bem tratada1xbet 64mbalguns lugares. Em outros momentos, porém, a discriminação acaba falando mais alto.

"Eu consigo perceber mais o preconceito quando, por exemplo, se pergunto o preço1xbet 64mbum produto1xbet 64mbalguma loja, a pessoa,1xbet 64mbvez1xbet 64mbme dizer, fala: 'É caro'. Isso já aconteceu comigo. Fui comprar uma jaqueta e a vendedora, depois1xbet 64mbme dizer que era caro, ficou desconcertada quando eu pedi duas e à vista. Vou me impondo, mostrando que sou exatamente o contrário da ideia que as pessoas fazem1xbet 64mbmim."

'Corpo estranho'

O estranhamento1xbet 64mbparte da sociedade à presença da servidora pública1xbet 64mblugares1xbet 64mbelite é explicado por Emerson Rocha, sociólogo e pesquisador da Universidade1xbet 64mbBrasília (UnB),1xbet 64mbseu estudo1xbet 64mb2015 sobre a participação da população negra entre os mais ricos.

Segundo ele, o negro ainda é visto como um "corpo estranho" nesses espaços.

"No Brasil, não existe uma segregação racial aberta como nos EUA. Aqui, essa desigualdade se acomoda na estrutura1xbet 64mbclasses que cumpre o papel da segregação", explica à BBC Brasil.

Mas isso, aponta o pesquisador, não significa que basta o negro ascender economicamente para ser aceito. Pelo contrário: quanto mais degraus ele sobe na escada socioeconômica, maior é a distância do "espaço natural" e, consequentemente, o racismo enfrentado no dia a dia.

"Quando um negro ocupa uma profissão que se espera dele - ou seja, as subalternas -, as pessoas não reparam. Agora, quando ele passa a exercer funções mais privilegiadas ou a frequentar espaços1xbet 64mbelite, isso se torna algo incomum e aí há um estranhamento por parte da sociedade, que muitas vezes vem1xbet 64mbforma suave ou agressiva1xbet 64mbatitudes racistas", complementa.

O pesquisador Emerson Rocha

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Segundo o pesquisador Emerson Rocha, mulheres negras ricas tendem a não se casar

Rocha destaca ainda uma segunda particularidade da experiência1xbet 64mbvida da servidora pública: ela não apenas representa uma exceção ao fazer parte do 1% mais rico do país, mas também por ser uma mulher negra casada com um branco1xbet 64mbnível educacional equivalente.

O estudo do professor indica que casamentos inter-raciais entre pessoas no topo da pirâmide brasileira, como o1xbet 64mbMônica, acontecem mais entre homens negros e mulheres brancas do que o contrário.

As negras casam-se menos do que as brancas e, quando ricas ou com alto nível educacional, tendem a não se casar. E quando o fazem, juntam-se a parceiros1xbet 64mbmenor status social, que podem ser brancos ou negros.

"As mulheres brancas são racialmente endogâmicas: elas se casam mais com parceiros da mesma raça. Ao contrário das mulheres negras, elas não experimentam a solidão nem o rebaixamento social porque, quando ricas, casam-se com homens da mesma faixa social e brancos", explica o sociólogo.

Na1xbet 64mbavaliação, tal realidade seria uma das razões pelas quais mulheres como Mônica podem sofrer o tipo1xbet 64mbassédio vivido por ela na lua1xbet 64mbmel.

O senso comum, diz, ainda vê a mulher negra1xbet 64mbforma sexualizada: se ela frequentar locais1xbet 64mbluxo como hotéis ou restaurantes cinco estrelas acompanhada1xbet 64mbum homem branco, estará sujeita a ser confundida com prostituta.

"Tudo isso se deve à visão naturalizada da sociedade, que vê esta mulher no estereótipo1xbet 64mbfigura sensual ou1xbet 64mbserviçal ou empregada doméstica", afirma Rocha.

Futuras gerações

Mônica com o marido Carlos e a filha Letícia

Crédito, Leopoldo Silva/BBC Brasil

Legenda da foto, Mônica e Carlos moram com a filha Letícia no Lago Sul, área nobre1xbet 64mbBrasília

Mônica hoje tira1xbet 64mbletra a convivência com a pouca presença1xbet 64mbnegros entre os mais ricos, mas se preocupa com o futuro.

Ela é mãe1xbet 64mbuma menina1xbet 64mboito anos e gostaria que as mudanças por uma sociedade mais igualitária no quesito raça viessem mais rápido.

Sua filha, Letícia, estuda1xbet 64mbuma escola particular tradicional e bilíngue, onde também é exceção. "Lá, são mais1xbet 64mb200 crianças. Negras, apenas a minha filha e outra menina que é filha1xbet 64mbuma funcionária", conta a servidora pública.

Esta reportagem faz parte1xbet 64mbuma série sobre a experiência1xbet 64mbnegros que, como Mônica, fazem parte do 1% mais rico da população brasileira.

Segundo dados do IBGE, o total1xbet 64mbnegros nesse grupo aumentou cinco pontos percentuais nos últimos 12 anos (de 12,4% para 17,4%), mas ainda está longe1xbet 64mbrepresentar o peso da população declarada negra (pretos e pardos), que corresponde a 53,6% dos brasileiros,1xbet 64mbacordo com o Censo1xbet 64mb2010.