Os falsos espíritos que enganaram o criadormarjosports aposta futebolSherlock Holmes:marjosports aposta futebol

A mulher que entrou na sala usava um véu que cobria a metade inferiormarjosports aposta futebolseu rosto. Ela iniciou a sessão com uma demonstraçãomarjosports aposta futebolclarividência.

Cada membro do comitê havia sido instruído a trazer consigo um pequeno objeto pessoal, ou uma carta.

Antes da chegada da médium, todos os objetos haviam sido colocados dentromarjosports aposta futeboluma sacola e esta, pormarjosports aposta futebolvez, havia sido trancada dentromarjosports aposta futeboluma caixa.

A médium manteve a caixa trancadamarjosports aposta futebolseu colo e, diante do olhar atento do comitê, começou a descrever,marjosports aposta futeboldetalhes, cada objeto.

Ela adivinhou, por exemplo, que havia na caixa um anel que pertencera ao filho, já falecido, do investigador paranormal. E foi capaz inclusivemarjosports aposta futeboller uma inscrição, já desgastada, que o objeto continha.

Em seguida, demonstrou o fenômeno da "materialização"marjosports aposta futebolum espírito.

Os integrantes do comitê amarraram a médium àmarjosports aposta futebolcadeira e diminuíram a iluminação ambiente. A mulher pareceu entrarmarjosports aposta futeboluma espéciemarjosports aposta futeboltranse e uma "névoa luminosa" surgiu na sala, tomando a formamarjosports aposta futeboluma mulher idosa. A forma flutuou pela sala e pareceu atravessar o corpo da médium antesmarjosports aposta futebolse evaporar na direção da parede oposta.

Porta para o 'oculto'?

O que aconteceu naquela sala? Teria aquela mulher sido realmente capazmarjosports aposta futebolabrir uma porta que separava as pessoas ali presentesmarjosports aposta futeboloutro mundo?

O comitê estava dividido e, embora você não esteja familiarizado com a maior partemarjosports aposta futebolseus membros, provavelmente já ouviu falar do investigador paranormalmarjosports aposta futebolquestão: o escritor Sir Arthur Conan Doyle, autor dos livrosmarjosports aposta futebolSherlock Holmes.

Na ocasião, o escritor, que também era médico, declarou estar muito impressionado com a demonstraçãomarjosports aposta futebolclarividência, mas disse que precisaria ver o fantasma novamente antesmarjosports aposta futebolpoder ter certeza da paranormalidade da médium.

Conhecido hoje por suas históriasmarjosports aposta futeboldetetive, ele era também um ilustre investigador paranormal que, com frequência, se deixava enganar pelas mais absurdas farsas.

Acreditou, por exemplo, ser verídica uma montagem fotográficamarjosports aposta futebolfadasmarjosports aposta futebolum jardim — as chamadas Cottingley Fairies, ou Fadasmarjosports aposta futebolCottingley — feita por duas crianças, Frances Griffiths e Elsie Wright. Em parte graças ao avalmarjosports aposta futebolpessoas como Doyle, a fotografia chegou aos jornais e ficou conhecidamarjosports aposta futeboltoda a Inglaterra.

Algum tempo após o encontro do comitê no apartamentomarjosports aposta futebolBloomsbury, a médium do rosto coberto foi desmascarada. No entanto, como mágico e psicólogo experimental, acredito que este é um entre dois episódios que podem nos ajudar a entender a aparente credulidademarjosports aposta futebolConan Doyle e também algumas fascinantes ilusões cognitivas que podem, às vezes, afetar todos nós.

Mágicos Profissionais x Charlatões

Nos dois casos, houve o envolvimentomarjosports aposta futebolmágicos profissionais que viam a si próprios como "enganadores honestos", criadoresmarjosports aposta futebolilusões como formamarjosports aposta futebolentretenimento. Seu público, esperava-se, tinha plena consciênciamarjosports aposta futebolestar testemunhando truques cuidadosamente construídos.

Muitos mágicos, inclusive um amigomarjosports aposta futebolConan Doyle chamado Harry Houdini, eram radicalmente céticosmarjosports aposta futebolrelação à paranormalidade. Alguns, inclusive, expunham médiuns enganadores. Faziam isso para prestar um serviço ao público e também como formamarjosports aposta futebolautopromoção.

O caso que descrevo agora teve a participaçãomarjosports aposta futebolum mágico chamado William Marriott. Fora dos palcos, onde atuava sob o pseudônimomarjosports aposta futebolDr. Wilmar, Marriott trabalhava incansavelmente para expor os métodos fraudulentos utilizados por médiuns.

Ele investigou vários supostos "fenômenos paranormais", como aparições, leituramarjosports aposta futebolpensamento e textos escritos por espíritos.

Mas Marriott tinha particular interessemarjosports aposta futebolfotografiasmarjosports aposta futebolespíritos — imagensmarjosports aposta futebolespíritosmarjosports aposta futebolpessoas mortas que, segundo alguns, podiam ser capturadasmarjosports aposta futebolfilme fotográfico.

Seu objetivo era demonstrar que muitas dessas fotografias, tidas como genuínas, poderiam ser falsificações.

Espiritualistas como Conan Doyle reconheciam que fotos podiam ser falsificadas, mas achavam que, se fosse possível controlar o processomarjosports aposta futebolfeitura e revelação da foto, as chancesmarjosports aposta futebolque fosse falsificada poderiam ser cientificamente descartadas.

O argumento era similar a uma das máximasmarjosports aposta futebolSherlock Holmes: "Depoismarjosports aposta futeboleliminado tudo o que é impossível, o que restar, por mais impossível que pareça, deve ser verdade" (em tradução livre).

Primeiro caso: A sessãomarjosports aposta futebolfotografia

No dia 5marjosports aposta futeboldezembromarjosports aposta futebol1921, Marriott decidiu provar que eliminar o impossível era muito mais difícil do que Conan Doyle imaginava. Seu plano era convidar Conan Doyle e três outras testemunhas para observá-lo enquanto ele tirava e depois revelava fotografias do famoso escritor.

O comitê examinou cuidadosamente a câmera e depois ficou observando o trabalhomarjosports aposta futebolMarriott.

As testemunhas, entre elas um especialistamarjosports aposta futebolfotografia, confirmaram que haviam observado os movimentos do mágico e que não tinham visto qualquer indíciomarjosports aposta futebolque ele teria feito outra coisa senão revelar as fotos.

Ainda assim, quando as fotos foram apresentadas aos observadores, notou-se que havia, na primeira delas, uma figura translúcida,marjosports aposta futebolaspecto fantasmagórico. A segunda continha uma imagemmarjosports aposta futebolfadas dançantesmarjosports aposta futebolformação circular. Essas imagens não tinham sido vistas na sala no momentomarjosports aposta futebolque a foto fora feita.

A inclusão das fadas foi provavelmente uma provocação a Conan Doyle, por contamarjosports aposta futebolseu aval anterior à foto das Fadasmarjosports aposta futebolCottingley.

Após o experimentomarjosports aposta futebolMarriott, o jornal Sunday Express publicou ambas as fotos, com destaque para o "fantasma intruso" e as "fadas favoritas"marjosports aposta futebolConan Doyle.

O jornal também publicou declaraçõesmarjosports aposta futebolMarriott e das testemunhas.

Marriott disse que tinha usado técnicasmarjosports aposta futebolilusionismo para manipular o processo.

Conan Doyle levou tudo na esportiva e guardou a foto com as fadas como lembrança. "O sr. Marriott provou claramente que um mágico profissional pode, sob o escrutíniomarjosports aposta futeboltrês pessoas muito atentas, colocar uma impressão falsamarjosports aposta futeboluma foto. Temosmarjosports aposta futebolreconhecer isso."

No entanto, o escritor acrescentou quemarjosports aposta futebolcrençamarjosports aposta futebolfotografiasmarjosports aposta futebolespíritos permanecia inabalada.

Emarjosports aposta futeboltípico estilo Sherlock Holmes, pediu aos leitores que considerassem as mãosmarjosports aposta futebolMarriott. "Um ilusionista", ele argumentou, "tem certos atributos físicos" como "dedos longos, nervosos e artísticos". Já os médiuns que Conan Doyle acreditava ser capazesmarjosports aposta futebolproduzir fotografias reaismarjosports aposta futebolespíritos tinham mãos com dedos "curtos, grossos e manchados pelo trabalho".

Segundo caso: A médium mascarada

O caso da médium mascarada é um exemplo ainda mais dramático da determinaçãomarjosports aposta futebolConan Doylemarjosports aposta futebolcrer. Em vezmarjosports aposta futebolobservar imagensmarjosports aposta futebolfilmes fotográficos, esse cenário envolvia uma demonstração ao vivo, organizada por dois artistas.

Naquela noite, o anfitrião era na verdade o mágico Percy Thomas Tibbles, que se apresentava como P.T. Selbit. A médium era a aspirante a ilusionista Molly Wynter, que havia se especializadomarjosports aposta futebolrepresentar médiuns.

Wynter foi apresentada ao comitê como uma médium genuína. Selbit se fez passar por empresário da médium. À medida que Wynter identificava os objetos na caixa trancada, e o espírito "se materializava"marjosports aposta futebolfrente à audiência, não havia qualquer indíciomarjosports aposta futebolque os convidados estariam assistindo a um elaborado truquemarjosports aposta futebolilusionismo.

A dupla só esclareceu seus métodos após o evento.

Para a demonstraçãomarjosports aposta futebolclarividência, o véumarjosports aposta futebolWynter tinha ocultado não apenas amarjosports aposta futebolface, mas também um rádio sem fio por meio do qual ela podia receber informações.

Os convidados também não sabiam que a caixa sobre o colo da médium era, na verdade, uma imitação. A original, com os objetos trazidos pelo comitê, tinha sido levada, sem que os convidados percebessem, para uma sala adjacente. De lá, um assistente descrevia, pelo rádio, cada objeto.

O fenômenomarjosports aposta futebol"materialização", pormarjosports aposta futebolvez, foi realizado não por meiomarjosports aposta futebol"ectoplasma" (segundo o espiritualismo, substância perceptível à visão que é capazmarjosports aposta futebolocasionar a materialização do espírito), mas por outro assistente secreto: um acrobata vestido inteiramentemarjosports aposta futebolpreto que escalou as paredes do prédio e entrou na sala pela janela após o comitê ter feitomarjosports aposta futebolbusca na sala.

De acordo com o mágico, o "fantasma" era um pedaçomarjosports aposta futebolgaze pintado com tinta fosforescente que o acrobata removiamarjosports aposta futebolseu bolso e abanava pela sala.

Para reforçar seu ponto, os ilusionistas repetirammarjosports aposta futeboldemonstração na frentemarjosports aposta futebolum comitê ainda maior. E é aqui que a reaçãomarjosports aposta futebolConan Doyle se torna ainda mais interessante.

Ele insistiumarjosports aposta futebolafirmar que o que tinha visto na primeira sessão não era o que os mágicos tinham descrito posteriormente. E ainda acrescentou que, mesmo que a segunda demonstração tivesse sido feita por meiomarjosports aposta futebolum truque, "não havia nada que provasse que a primeira sessão não tinha sido genuína".

Talvez os mágicos fossem médiunsmarjosports aposta futebolverdade, ele disse. Talvez estivessem simplesmente mentindo a respeitomarjosports aposta futebolseus poderes paranormais.

Ele criticou a cobertura sobre o episódio na imprensa. "O tempo vai provar a nossa causa", escreveu.

"O tempo também vai provar aos que nos depreciam que estão brincando com fogo. Não estão julgando o Oculto. O Oculto os está julgando."

Pensando sobre o pensar

Tempos depois, durante uma entrevista para a TV, Conan Doyle tentou explicar seu jeitomarjosports aposta futebolpensar.

"Quando falo nesse assunto, não estou falando sobre o que acredito. Não estou falando sobre o que penso. Estou falando sobre o que eu sei. Há uma diferença enorme entre acreditarmarjosports aposta futeboluma coisa e saber uma coisa, falar sobre coisas que toquei, que ouvi com meus ouvidos."

"E aliás, sempre na presençamarjosports aposta futeboltestemunhas. Nunca corro o riscomarjosports aposta futebolsofrer alucinações. Na maioria dos meus experimentos, tive seis, oito ou dez testemunhas, e todas viram e ouviram as mesmas coisas que eu", disse.

Com base nessa argumentação, é fácil colocarmosmarjosports aposta futebolquestão as credenciaismarjosports aposta futebolConan Doyle no campo das investigações científicas, mas acho que ele foi, verdadeiramente, um homem brilhante.

Alémmarjosports aposta futebolseus feitos literários, Doyle também trabalhou, na vida real, como advogado, usando técnicas "sherloquianas" para libertar vários prisioneiros condenados erroneamente.

As reaçõesmarjosports aposta futebolConan Doyle a essas charlatanices são problemáticas, mas também são um exemplomarjosports aposta futebolum fenômeno psicológico conhecido como "ilusão metacognitiva".

Memória: reconstrução ou composição?

"Metacognição" é pensar sobre o pensar. Ilusões metacognitivas ocorrem quando as pessoas têm opiniões equivocadas sobre seus próprios sistemas cognitivos. É natural que nos julguemos conhecedores da nossa percepção e memória. Afinal, percebemos e nos lembramosmarjosports aposta futebolcoisas corretamente na maior parte do tempo.

No entanto,marjosports aposta futebolmuitos casos, nossas intuições a respeitomarjosports aposta futebolnossos próprios sistemas cognitivos podem ser pouco confiáveis — não somos tão bons observadores quanto pensamos ser, e nossas memórias podem ser surpreendentemente maleáveis.

Pesquisas revelam que maismarjosports aposta futebolmetade do público concorda com a seguinte afirmação: "A memória funciona como uma câmeramarjosports aposta futebolvídeo, gravando com precisão os eventos que vemos e ouvimos, para que possamos revê-los e analisá-los mais tarde".

Isso é, provavelmente, uma ilusão metacognitiva. Segundo as teorias mais recentes, a memória humana seria na verdade um conjuntomarjosports aposta futebolprocessosmarjosports aposta futebolreconstrução —marjosports aposta futebolvezmarjosports aposta futebolreprodução. Isso quer dizer que lembrar um acontecimento é muito menos o atomarjosports aposta futebol"tocarmosmarjosports aposta futebolnovo" uma gravação mental e, sim, um processomarjosports aposta futebolcomposiçãomarjosports aposta futeboluma história.

A psicóloga Elizabeth Loftus, por exemplo, demonstrou que, no processomarjosports aposta futebolrelembrar um evento, pessoas podem, erroneamente, integrar elementos imagináriosmarjosports aposta futebolsuas lembranças. Essas pessoas, no entanto, têm a sensação nítidamarjosports aposta futebolque as memórias fictícias são verdadeiras, e podem até ser persuadidas a acreditar que cometeram um crime.

'Cegueira à Mudança'

Outro intrigante tipomarjosports aposta futebolilusão metacognitiva que pode ter afetado Conan Doyle é o fenômeno conhecido como change blindness (cegueira à mudança,marjosports aposta futeboltradução livre). Antesmarjosports aposta futebolexplicar esse conceito, precisamos examinar o fenômeno no qual está baseado, conhecido como "paradigmamarjosports aposta futebolflicker".

O termo descreve situações nas quais observadoresmarjosports aposta futeboluma dada cena deixammarjosports aposta futebolperceber alterações (muitas vezes dramáticas) nesse cenário. Esse efeito pode ser demonstrado por um procedimentomarjosports aposta futebolque dois cenários visuais com algumas diferenças entre si se alternam rapidamente diante do observador.

Detectar alteraçõesmarjosports aposta futeboluma situação como essa é algo tão difícilmarjosports aposta futebolfazer, e tão surpreendente, que quando,marjosports aposta futebolmeadosmarjosports aposta futebol1990, uma equipemarjosports aposta futebolpsicólogos liderada por Ronald Rensink tentou publicar pesquisas pioneiras sobre esse assunto, seus resultados foram considerados impossíveis e rejeitados por outros cientistas.

Ou seja, o fatomarjosports aposta futebolque pessoas possam ser incapazesmarjosports aposta futebolperceber uma mudançamarjosports aposta futeboluma cena é tão contrário ao senso comum que mesmo cientistas visuais duvidaram da veracidade do fenômeno.

Hoje, cegueira à mudança é um conceito estabelecido na psicologia cognitiva. Cientistas introduziram, inclusive, o termo "cegueira à cegueira à mudança" para se referirem ao fatomarjosports aposta futebolque as pessoas tendem a desconhecer que estão sujeitas à cegueira à mudança.

Mágicos como Marriott, Tibbles e Wynter, porém, já exploravam ilusões metacognitivasmarjosports aposta futebolseus truques muito antesmarjosports aposta futebolque psicólogos estudassem formalmente fenômenos como esses.

Hoje, há grande interesse no uso desses truquesmarjosports aposta futebolexperimentos psicológicos para ilustrar fenômenos desse tipo.

Um estudo recente liderado por Jeniffer Ortega, da Universidade Nacional da Colômbia,marjosports aposta futebolBogotá, explorou especificamente o papel da metacogniçãomarjosports aposta futeboltruquesmarjosports aposta futebolmágica.

Utilizando uma sériemarjosports aposta futeboltruques simples com moedas e jogosmarjosports aposta futebolcartas, a equipe demonstrou que a audiência repetidas vezes superestimavamarjosports aposta futebolhabilidademarjosports aposta futeboldetectar os métodos ocultos por trás dos truquesmarjosports aposta futebolilusionismo.

As pessoas às vezes interpretam esses resultados como provasmarjosports aposta futebolquemarjosports aposta futebolpercepção e memória são falhas, não funcionam.

A percepção e a memória humanas são, no entanto, o resultadomarjosports aposta futebolum sistema cognitivo extremamente efetivo que lida, diariamente, com informações complexas e confusas.

É possível apreciarmos a complexidade da memória e percepção humanas e, ao mesmo tempo, percebermos os limites e excentricidades desse sistema. Da mesma forma, você pode admirar os livrosmarjosports aposta futebolConan Doyle, mesmo que não se impressione muito com o esoterismo do escritor.

A realidade é, com frequência, muito mais estranha do que pensamos.

*Matthew Tompkins é psicólogo e mágico profissional, autor do livro The Spectacle of Illusion.

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