O apelo a moral e bons costumes que torna notícias enganosas mais 'compartilháveis' na eleição:estrela bet affiliates

  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC News Brasilestrela bet affiliatesLondres
Pessoa com celular na mão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Estudo com textosestrela bet affiliatesinglês identifica 37% mais expressõesestrela bet affiliatescunho moralestrela bet affiliatestextos desinformativos do queestrela bet affiliatesnotícias convencionais; esse amplo à moralidade torna-os mais 'compartilháveis'

estrela bet affiliates "Cidadãosestrela bet affiliatesbem" versus "jihadistas", "patriotismo e decência" versus "perversão" e "princípios e valores" versus "declínio nacional".

Expressões e palavras parecidas a essas, com forte cunho moral e apelo à identidade social do público, apareceram com frequênciaestrela bet affiliates92 mil textosestrela bet affiliateslíngua inglesa analisados pelo pesquisador espanhol Carlos Carrasco-Farré.

O pesquisador coletou esse materialestrela bet affiliates194 sites americanos classificados como difusoresestrela bet affiliatesdesinformação pelo bancoestrela bet affiliatesdados Fake News Corpus e dividiu-oestrela bet affiliatescategorias (notícias puramente falsas, teorias da conspiração, discursosestrela bet affiliatesódio, pseudociência, rumores e conteúdo "caça-clique" enganoso).

Em seguida, Carrasco-Farré comparou as palavras desses textos com asestrela bet affiliates3 mil reportagensestrela bet affiliatesveículos jornalísticosestrela bet affiliatesinglês, como The New York Times, The Wall Street Journal, The Guardian e BBC.

O resultado dessa comparação, publicado no periódico científico da Nature Humanities and Social Sciences Communication, é o que o pesquisador chamaestrela bet affiliates"impressão digital da desinformação".

Palavras e expressões com algum tipoestrela bet affiliatesapelo à moralidade — "honra", "infidelidade", "patriotismo", "demônio" — apareceram 37% a mais nos textos classificados como desinformação do que nos jornalísticos convencionais.

"Ou seja, eles tentam influenciar psicologicamente o usuário por intermédioestrela bet affiliatesideias que expressam um ataque à identidade social individual do leitor", conclui o estudo. Algo que, com baseestrela bet affiliatespesquisas e observações empíricas, estudiosos dizem ocorrer também no Brasil, sobretudoestrela bet affiliatesperíodo eleitoral (leia mais abaixo).

Embora o uso da moralidade como armaestrela bet affiliatesdesinformação já fosse conhecido, Carrasco-Farré diz que essa é a primeira vez que o emprego desse palavreado moral foi medidoestrela bet affiliatestantos detalhes.

"Isso foi o mais surpreendente da pesquisa, porque o apelo à moralidade é a variável [entre todas as estudadas] com mais diferençaestrela bet affiliatesrelação às notícias reais, que têmestrela bet affiliatesseguir um código deontológico [normas] e jornalístico", diz à BBC News Brasil Carrasco-Farré, atualmente professor na Toulouse Business School, na França.

Mulher lendo celular

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Com mais apelo a emoções, estrutura gramatical mais simples e menos diversidade léxica, textos desinformativos são mais fáceisestrela bet affiliatesse ler

Classificar automaticamente textos falsos unicamente pelo tipoestrela bet affiliatespalavreado tem limitações. Dalby Dienstbach, linguista da Escolaestrela bet affiliatesComunicação, Mídia e Informação da FGV, lembra que a moralidade é um conceito relativo, e a própria escolhaestrela bet affiliatesquais palavras serão tratadas como "de cunho moral" exige um juízoestrela bet affiliatesvalor prévio, que pode gerar discordâncias.

No estudo, Carrasco-Farré explica que usou como referência um dicionário acadêmico previamente empregado para mensurar discursosestrela bet affiliatesassuntos polarizados nos EUA, como controleestrela bet affiliatesarmas, casamento homossexual e mudanças climáticas.

Ele calculou quantas das palavras contidas no dicionário apareciam nos textosestrela bet affiliatesdesinformação e mediuestrela bet affiliatesfrequência (númeroestrela bet affiliatespalavrasestrela bet affiliatescunho moral a cada 500 palavrasestrela bet affiliatestexto).

Além da moralidade, ele mensurou a complexidade léxica dos textos e a evocaçãoestrela bet affiliatesemoções negativas.

Textos falsos são mais fáceisestrela bet affiliatesler

Pule Podcast e continue lendo
BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

Dos 92 mil textosestrela bet affiliatesinglês analisados, 16 mil eram especificamente "fake news" — ou seja, seu conteúdo era totalmente fabricado.

Segundo os cálculosestrela bet affiliatesCarrasco-Farré, esse conteúdo falso tinha 18 vezes mais ênfaseestrela bet affiliatesemoções negativas do que as notícias veiculadas pela grande imprensa. Soma-se a isso o fatoestrela bet affiliatesque eram mais fáceisestrela bet affiliatesler, porque tinham menos diversidade léxica — ou seja, menos palavras difíceis.

Com isso e uma estrutura gramatical mais simples, eles exigiam,estrela bet affiliatesgeral, menos esforço cognitivo do leitor. Essas características dão à desinformação vantagens competitivas para serem mais compartilhadas nas redes sociais do que as notícias com padrões jornalísticos, explica Carrasco-Farré.

"Em geral, conteúdo que evoca emoções intensas é mais viral, o que explica por que redes sociais são uma fonteestrela bet affiliatescontágio emocionalestrela bet affiliatesgrande escala", escreve.

Ao ler ou assistir ao conteúdo com forte carga moral, o leitor que acredita no discursoestrela bet affiliatesdesinformação conclui que seu grupo social está sob ataque, aponta o pesquisador.

Recorteestrela bet affiliatestrechosestrela bet affiliatescunho moral identificados pelo pesquisador Carlos Carrasco-Farréestrela bet affiliatestextos desinformativos
Legenda da foto,

Recorteestrela bet affiliatestrechos com palavrasestrela bet affiliatescunho moral identificados pelo pesquisador Carlos Carrasco-Farréestrela bet affiliatestextos desinformativos

"Isso cria uma espécieestrela bet affiliatesconflito, na maioria das vezes falso,estrela bet affiliatesque alguém externo está atacando o grupo ao qual você pertence, e portanto atacando você pessoalmente", explica ele à BBC News Brasil.

Desinformação nas eleições brasileiras

Algumas das palavras encontradasestrela bet affiliatesgrande volume pelo pesquisador espanhol — como "decência", "cidadãoestrela bet affiliatesbem", "perversão" — são vistas diariamente pela equipe do coletivo jornalístico Bereia, dedicado à checagemestrela bet affiliatesinformações que circulam no meio religioso cristão brasileiro,estrela bet affiliatessites e blogs gospel às redes sociaisestrela bet affiliatesinfluenciadores. No momento, o coletivo está voltado à checagemestrela bet affiliatesinformações ligadas às eleições.

"O conteúdoestrela bet affiliatespânico moral é muito utilizado", diz à BBC News Brasil Magali Cunha, editora-geral do Bereia e pesquisadora do Institutoestrela bet affiliatesEstudos da Religião (Iser).

Nestas eleições, a maior parte da desinformaçãoestrela bet affiliatescunho moral nos grupos religiosos tem sidoestrela bet affiliatesfalsas ameaças à liberdade religiosa e ao funcionamentoestrela bet affiliatesigrejas, prossegue a pesquisadora.

Urna eletrônica

Crédito, Reuters

Legenda da foto,

Conteúdoestrela bet affiliatespânico moral é usado também para tentar influenciar eleitores

Embora identifique também conteúdoestrela bet affiliatesdesinformaçãoestrela bet affiliatesdiscursos da direita e da esquerda tradicionais, Cunha observa que, no meio religioso, a maior parte do materialestrela bet affiliates"pânico moral" vem do que ela classifica como extrema direita.

"São materiais mais enganosos do que falsos — têm algum elemento verdadeiro que trazem alguma credibilidade, mas são manipulados", explica Cunha.

E ganham muita relevância porque, assim como as notíciasestrela bet affiliatescunho moralestrela bet affiliateslíngua inglesa, afetam as emoções do público.

"Sensibilizam muito as pessoas porque mexem com suas crenças. Se você diz que é algo que está sob ameaça, as pessoas se mobilizam e se tornam propagadoras. É uma estratégia antigaestrela bet affiliatesdesinformação que tem muito impacto no público religioso. (...) E tem efeitos fortíssimosestrela bet affiliatestemas eleitorais, por isso passou a ser estratégico."

Mesmo antes das eleições, conteúdos enganosos com alguma referência à "moralidade sexual" foram os mais volumosos entre os checados pelo Bereia até o ano passado, atrás apenas da desinformação ligada à covid-19.

Cunha classifica como desinformaçãoestrela bet affiliates"moralidade sexual" notícias enganosas sobre sexualidade nas escolas, por exemplo. "E sempre com essa ideia do pânico —estrela bet affiliatescolocar medo nas pessoasestrela bet affiliatesque possa haver destruição da família, erotização das crianças, 'imposição do gayzismo'", diz Cunha.

Mesmo para o públicoestrela bet affiliatesgeral (e não apenas o religioso), estratégiasestrela bet affiliatesapelo moral são usadas com frequência no Brasil, explica Raquel Recuero, coordenadora do Laboratórioestrela bet affiliatesMídia, Discurso e Análiseestrela bet affiliatesRedes Sociais (MIDIARS) da Universidade Federalestrela bet affiliatesPelotas.

Na eleiçãoestrela bet affiliates2018, uma das pesquisasestrela bet affiliatesRecuero no Twitter identificou que os tuítes e retuítes com avaliação moral (que faziam algum tipoestrela bet affiliatesreferência a "bem contra o mal" e "moralmente desejável versus indesejável") tiveram mais sucesso do que a médiaestrela bet affiliatesserem compartilhados e legitimados.

O objetivo é fazer com que o leitor que se enxergue como "pessoaestrela bet affiliatesbem" reaja contra os que "estão prejudicando a sociedade", ela explica.

"É uma das principais estratégias da desinformação — feita para (apelar para) as pessoas 'valorosas', para o 'bem contra o mal'", diz Recuero à BBC News Brasil.

É um método com potencial impacto na decisãoestrela bet affiliatesuma parcela dos eleitores, avalia Jacqueline Moraes Teixeira, professora do Departamentoestrela bet affiliatesSociologia da UnB, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiroestrela bet affiliatesAnálise e Planejamento) e do Iser.

"As pessoas sempre percebem a política como um espaçoestrela bet affiliatescorrupção e da lógicaestrela bet affiliatesque 'vou ter que escolher o menos pior' [na eleição]. Nesse processo, esses princípios morais acabam sendo significativos", diz Teixeira.

"E isso sustenta muito a circulação e o engajamentoestrela bet affiliatesvoto ao [presidente Jair] Bolsonaro", agrega Teixeira — uma vez que o presidente se apresenta como um defensor da moral e da família.

'Ativar os sinaisestrela bet affiliatesalerta'

Nos textosestrela bet affiliateslíngua inglesa avaliados pelo pesquisador Carrasco-Farré, se sobressaíram temas como a imigração (ligada, sobretudo, à ideiaestrela bet affiliatesataque à civilização ocidental) e feminismo ("apelando à população masculinaestrela bet affiliatesmedo ao grupo social sendo atacado por outro gênero", detalha o pesquisador).

"O mais importante é se dar conta que, quando um conteúdo nos gera emoções fortes, é preciso ativar os sinaisestrela bet affiliatesalerta. Porque a intenção desse tipoestrela bet affiliatesconteúdo é nos afastar da racionalidade e nos levar ao campo da emoção, onde as decisões que tomamos já não são tão corretas", diz ele.

Telaestrela bet affiliatescelular

Crédito, EPA

Legenda da foto,

"O mais importante é se dar conta que, quando um conteúdo nos gera emoções fortes, é preciso ativar os sinaisestrela bet affiliatesalerta. Porque a intenção desse tipoestrela bet affiliatesconteúdo é nos afastar da racionalidade e nos levar ao campo da emoção, onde as decisões que tomamos já não são tão corretas", diz pesquisador espanhol

"Não somos computadores. Quando nosso cérebro está mais cansado, não consegue se concentrar, é muito mais fácil cairestrela bet affiliatesum conteúdo que seja mais fácilestrela bet affiliatesse processar. (...) E o mesmo ocorre com o tema da identidade social: a emoção torna mais provável que compartilhemos esse conteúdo nas redes, no grupoestrela bet affiliatesWhatsApp da família, e que ajudemos a difundir desinformação — isso no melhor dos casos. No pior, mais extremo, nos leva a agir, com consequências não muito boas para o resto da sociedade", afirma Carrasco-Farré.

Leitor se acostuma com desinformação

Embora alguns dos exemplos estudados pelo pesquisador sejam bastante extremosestrela bet affiliatesdiscursoestrela bet affiliatesódio, teorias da conspiração ou fake news, ele se preocupa também com os casos mais sutis.

"Alguns textos fazem soar todos os alarmes [por serem claramente falsos ou conspiratórios], exceto pelas pessoas que estão muito convencidasestrela bet affiliatesque essas conspirações existem. Os casos mais sutis são mais perigosos porque não são tão facilmente detectáveis. E há evidência científicaestrela bet affiliatesque quando as pessoas são submetidas a eles por muito tempo, começam a se acostumar a esse tipoestrela bet affiliatesconteúdo. Isso faz com que seja menos provável que ela perceba que os casos extremos são falsos, porque começam a ter dúvidas."

Por isso, o pesquisador espanhol acha problemático quando meios jornalísticos profissionais também recorrem a táticas como "caça-cliques" — com manchetes exageradas ou dúbias para atrair audiência e publicidade.

"Isso é perigoso não pelo caça-cliqueestrela bet affiliatessi, mas sim porque faz o público se aclimatar e se acostumar a esse tipoestrela bet affiliatesconteúdo. E gente que talvez fosse muito boa a identificar pseudociência ou teoria da conspiração terá mais dificuldade", avalia Carrasco-Farré.

No estudo, o pesquisador reconhece que classificar um texto por seu palavreado tem limitações. Mas ele argumenta que o método pode servirestrela bet affiliatesparâmetro inicial para ajudar os algoritmos das redes sociais e as agênciasestrela bet affiliateschecagem a identificar quais textos e vídeos têm mais potencial para viralizar.

Com essa informaçãoestrela bet affiliatesmãos, argumenta ele, seria possível checá-los, hierarquizá-los ou contextualizá-los nas redes sociais com mais rapidez, antes que uma informação potencialmente enganosaestrela bet affiliatesfato viralize.

- Este texto foi publicadoestrela bet affiliateshttp://roberthost1.accountsupport.com/salasocial-62933317

Línea

estrela bet affiliates Sabia que a BBC está também no Telegram? Inscreva-se no canal estrela bet affiliates .

estrela bet affiliates Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube estrela bet affiliates ? Inscreva-se no nosso canal!

Pule YouTube post, 1
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosestrela bet affiliatesautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaestrela bet affiliatesusoestrela bet affiliatescookies e os termosestrela bet affiliatesprivacidade do Google YouTube antesestrela bet affiliatesconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueestrela bet affiliates"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoestrela bet affiliatesterceiros pode conter publicidade

Finalestrela bet affiliatesYouTube post, 1

Pule YouTube post, 2
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosestrela bet affiliatesautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaestrela bet affiliatesusoestrela bet affiliatescookies e os termosestrela bet affiliatesprivacidade do Google YouTube antesestrela bet affiliatesconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueestrela bet affiliates"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoestrela bet affiliatesterceiros pode conter publicidade

Finalestrela bet affiliatesYouTube post, 2

Pule YouTube post, 3
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosestrela bet affiliatesautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaestrela bet affiliatesusoestrela bet affiliatescookies e os termosestrela bet affiliatesprivacidade do Google YouTube antesestrela bet affiliatesconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueestrela bet affiliates"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoestrela bet affiliatesterceiros pode conter publicidade

Finalestrela bet affiliatesYouTube post, 3