'Doença da pobreza': o que é a tuberculose latente, que afeta 1casino bet3564 pessoas?:casino bet356
- Alejandra Martins
- BBC News Mundo
casino bet356 A tuberculose é uma doença que tem cura e pode ser prevenida. Mas,casino bet3562019, ela matou pelo menos 1,4 milhãocasino bet356pessoas no mundo e deixou cercacasino bet35610 milhões doentes, incluindo maiscasino bet3561 milhãocasino bet356crianças e adolescentes,casino bet356acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um dos desafios no combate à tuberculose é que as bactérias que a causam estão presentescasino bet356cercacasino bet356um quarto da população mundial, segundo a OMS.
E, a partir desse estado latente, a infecção pode se tornar ativa quando outros fatores, como pobreza e desnutrição, tornam-se mais agudos.
"A tuberculose é uma doença da pobreza", destaca a OMScasino bet356seu mais recente relatório global sobre o assunto.
Tanto a pobreza quanto o acesso aos serviçoscasino bet356saúde foram profundamente afetadoscasino bet356muitos países pela pandemiacasino bet356covid-19.
"Doze mesescasino bet356covid-19 eliminaram 12 anoscasino bet356progresso na luta global contra a tuberculose", disse esta semana o End TB Partnership, um consórcio global para impedir o avanço da doença.
O grupo disse que,casino bet356um grupocasino bet356apenas 23 países, o númerocasino bet356pessoas que receberam diagnóstico e foram tratadas para tuberculose caiu pelo menos 1 milhãocasino bet3562020casino bet356comparação com 2019.
A tendência também é percebida no Brasil. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado na quarta-feira (24-03), o país teve quedacasino bet3569,5%casino bet356casos registrados da doença: 66.819 novos casoscasino bet3562020 (31,6 para cada 100 mil habitantes), contra 73.864 casos novoscasino bet3562019 (35 casos por 100 mil habitantes).
Para especialistas, essa aparente queda preocupa porque pode refletir uma baixa no númerocasino bet356diagnósticoscasino bet356meio à pandemia do coronavírus, e não uma queda no númerocasino bet356pessoas infectadas.
Assim, mais brasileiros podem estar transmitindo a doença sem tratamento.
De acordo com dados da Índia e da África do Sul, as pessoas infectadas simultaneamente com tuberculose e covid-19 têm um riscocasino bet356mortalidade três vezes maior do que pacientes que só têm tuberculose.
A ameaça da tuberculose latente
A tuberculose é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que quase sempre afeta os pulmões, mas pode afetar outras partes do corpo.
A OMS explica que a infecção é transmitidacasino bet356pessoa para pessoa pelo ar. Quando alguém com tuberculose pulmonar tosse, espirra ou cospe, ela expele bacilos para o ar. E basta uma pessoa inalar alguns desses bacilos para se infectar.Cercacasino bet35625% das pessoas no planeta estão infectadas com o bacilo da tuberculose, segundo a OMS. A tuberculose latente pode ser detectada com um examecasino bet356pele ou sangue.
Para a maioria das pessoas que respiram a bactéria da tuberculose e ficam infectadas, seus corpos podem lutar contra as bactérias e impedir que se multipliquem.
Embora não apresentem sintomascasino bet356doença ou transmitam a infecção, essas pessoas têm um risco ao longo da vidacasino bet356adoecer com tuberculose entre 5% e 15%.
Pessoas imunossuprimidas, por exemplo, as que vivem com HIV ou sofremcasino bet356desnutrição ou diabetes, bem como usuárioscasino bet356tabaco, correm um risco "muito maior"casino bet356adoecer,casino bet356acordo com a OMS.
"A tuberculose latente significa aquela pessoa que num determinado momento se infectou, mas as defesas do seu corpo a protegeram, tem a tuberculose dentro do corpo e, graças às suas defesas, não desenvolve a doença; é como se a tuberculose estivesse dormindo ou hibernando", explica Leonid Lecca, diretor no Peru da Socios En Salud, uma ONG com sede nos Estados Unidos, e instrutor do Departamentocasino bet356Saúde Global e Medicina Social da Universidadecasino bet356Harvard.
"O problema é que se esse grupocasino bet356pessoas não estiver protegido,casino bet356algum momento da vida, quando suas defesas forem reduzidas (por exemplo, devido à má nutrição), o germe pode 'acordar' e causar a tuberculose."
"É por isso que há duas mensagens aqui: combater os determinantes sociais (pobreza, desnutrição) e proteger as pessoascasino bet356riscocasino bet356tuberculose (com terapia preventiva contra a tuberculose)."
No caso da Argentina "estima-se que 30% da população tenha uma infecção latente e que, nos imunocompetentes, a possibilidade dessa infecção se transformarcasino bet356doença écasino bet35610%", explica Marcela Natiello, coordenadora do programa contra tuberculose e hanseníase do Ministério da Saúde do país.
A especialista argentino destacou que correm o maior risco as pessoas que por alguma causa fisiológica ou adquirida tenham alteração do sistema imunológico (gestantes, crianças, desnutridas, com tratamento imunossupressor, HIV, etc.).
"A tuberculose latente pode ser tratadacasino bet356algumas situações para evitar que se transformecasino bet356doença", diz ela.
"Em nosso país, a maior fontecasino bet356contágio se deve à exposição a casos contagiosos, sendo necessário que os pacientes possam terminar o tratamento e fazer um controle adequado dos contatos."
Até 13 milhõescasino bet356pessoas nos Estados Unidos podem ter uma infecção latentecasino bet356tuberculose,casino bet356acordo com o Centro para Controle e Prevençãocasino bet356Doenças (CDC).
A mesma agência indica que maiscasino bet35680% das pessoas que adoecem com tuberculose nos Estados Unidos tiveram uma infecção tuberculosa latente que não foi tratada.
Evitável, mas letal
O CDC diz que as pessoas com infecção latentecasino bet356tuberculose devem ser tratadas para evitar que desenvolvam a doença.
O tratamento preventivo variacasino bet356acordo com o país, e os padrõescasino bet356terapia preventiva foram atualizados pela OMScasino bet3562020, explica Lecca.
"Por exemplo, um tratamento muito bom seria três mesescasino bet356isoniazida mais (o antibiótico) rifapentina semanalmente durante três meses, mas infelizmente a rifapentina é acessível a poucos países. O Peru, por exemplo, não tem acesso a esse medicamento e usa um regimecasino bet356isoniazida apenas por seis meses diariamente."
Depois que as pessoas desenvolvem a doença, a taxacasino bet356mortalidade pode ser alta.
A OMS destaca que sem tratamento adequado,casino bet356média 45% das pessoas soronegativas com tuberculose e praticamente todas as pessoas soropositivas com tuberculose morrerão.
Cercacasino bet35685% das pessoas que desenvolvem tuberculose podem ser tratadas com sucesso com medicamentos como a rifampicina, administrados por um períodocasino bet356seis meses.
Embora demore alguns meses para se curar, uma pessoa com tuberculose deixacasino bet356ser contagiosacasino bet356média 15 dias após o início do tratamento.
Mas o aumento global da tuberculose resistente é uma grande ameaça à saúde pública e requer um tratamento mais caro e prolongado.
Globalmente, cercacasino bet356meio milhãocasino bet356pessoas desenvolveram tuberculose resistente à rifampicinacasino bet3562019, das quais maiscasino bet35670% tinham tuberculose multirresistente,casino bet356acordo com a OMS.
Tuberculose no continente americano
A maioria dos casoscasino bet356tuberculosecasino bet3562019 ocorreu no sudeste da Ásia e na África. O continente americano representou 2,9% do total.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o braço da OMS nas Américas, estimou 289 mil casoscasino bet356tuberculosecasino bet3562019 nas Américas, dos quais cercacasino bet35615 mil eram pessoas com menoscasino bet35615 anos.
A OPAS estima que a tuberculose matou 22,9 mil pessoas na regiãocasino bet3562019, das quais 26% estavam infectadas com HIV.
"A região das Américas tem um grupo dos chamados paísescasino bet356alta carga que são liderados por Brasil, Peru, México, Colômbia e Haiti, com 69% dos casoscasino bet356tuberculose para 2019", diz Rafael López Olarte, especialista da OPAS para prevenção, controle e eliminação da tuberculose.
"Em relação à tuberculose resistente a medicamentos, Peru e Brasil respondem por 52%casino bet356todos os casos no continente."
Embora a incidênciacasino bet356tuberculosecasino bet356todo o mundo tenha diminuído, entre 2017 e 2018, o númerocasino bet356casos nas Américas aumentou 2,5%.
Em sete países da região, foi observado um aumento na taxacasino bet356incidência relatada entre 2014 e 2018,casino bet35682% na Venezuela, 58%casino bet356El Salvador, 6% no Brasil e México e 5% na Argentina.
O aumento da incidência na região se deve, por um lado, à utilizaçãocasino bet356métodos diagnósticos mais sensíveis.
Mas a OPAS afirma que também se deveu à "persistente deterioração das condições socioeconômicas e à fragmentação dos sistemascasino bet356saúde", entre outras causas.
O impacto da pandemia
Pouco maiscasino bet356um ano após o início da pandemia, seu impacto é muito pior do que o projetado,casino bet356acordo com a Stop TB Partnership.
Nove países, responsáveis por 60% dos casos globais, viram uma redução drástica,casino bet356até 41%, no diagnóstico e tratamentocasino bet356infecções por tuberculosecasino bet3562020. São eles: Bangladesh, Índia, Indonésia, Mianmar, Paquistão, Filipinas, África do Sul, Tajiquistão e Ucrânia.
A queda significa um retorno a níveis não vistos nesses países desde 2008, um retrocessocasino bet35612 anos.
"Doze anoscasino bet356progresso impressionante foram tragicamente revertidos por outra infecção respiratória", diz Lucica Ditiu, presidente da End TB Partnership. "Nesse processo, colocamos a vidacasino bet356milhõescasino bet356pessoascasino bet356perigo."
No continente americano, o impacto da pandemia foi sentido na queda na ofertacasino bet356serviçoscasino bet356detecção, tratamento e monitoramentocasino bet356pacientes com tuberculose, diz Olarte.
"O diagnóstico e a notificaçãocasino bet356novos casos diminuíram cercacasino bet35615-20%casino bet356média na regiãocasino bet356relação a 2019 segundo dados preliminares, que indicam casos não diagnosticados pelos serviçoscasino bet356saúde e a continuidade na transmissão", disse o especialista da OPAS.
"A transmissão intradomiciliarcasino bet356pessoas ainda não diagnosticadas, dada a situaçãocasino bet356confinamento, é preocupante."
O caso do peru
O Peru é o segundo país do continente americano com maior incidênciacasino bet356tuberculose depois do Haiti,casino bet356númerocasino bet356novos casos por ano a cada 100 mil habitantes.
"É preciso entender que a tuberculose, alémcasino bet356ser um problema médico, é um problema social. Isso significa que requer um enfoque multissetorial, e esse é o grande desafio paracasino bet356respostacasino bet356todos os países, inclusive no Peru", diz Lecca.
"Uma família com alguém afetado pela tuberculose não só enfrenta a doença, mas também geralmente a pobreza, as condições insalubres, a superlotação, o estigma e a discriminação."
No Peru, a doença está concentrada principalmente nas áreas urbanas e periferias dos bairros mais pobres e marginais, "onde coexistem pobreza, superlotação e má nutrição", acrescenta o especialista peruano.
O país também enfrenta o grande desafio com a tuberculose resistente. "O Peru infelizmente ocupa o primeiro lugar nas Américascasino bet356casoscasino bet356tuberculose resistente. É um problema muito sério porque requer medicamentos melhores e mais caros, alémcasino bet356apoio integral aos pacientes, já que são tratamentos que duram muitos meses."
O tratamento integral não inclui apenas os comprimidos, mas também o apoio emocional e socioeconômico aos pacientes para que não abandonem o regimecasino bet356cuidados.
"Infelizmente, no Peru, atualmente apenas cinco ou seiscasino bet356cada dez casoscasino bet356tuberculose multirresistente (TB MDR) são curados, e 2 a 3 abandonam o tratamento."
A Socios en Salud está no Peru há 25 anos e tratou maiscasino bet35612 mil casoscasino bet356tuberculose multirresistentecasino bet356parceria com o Ministério da Saúde.
Novos testes e inteligência artificial
Um dos avanços no Peru foi a incorporaçãocasino bet356um métodocasino bet356diagnóstico molecular mais sensível, denominado GeneXpert, embora apenascasino bet356alguns lugares.
Outro aspecto crucial, segundo Lecca, é a busca ativa da tuberculose, ou seja, ir às comunidades para identificar possíveis casos.
"É uma estratégia com ótimos resultados. Encontramos casos precoces e oportunos na comunidade, incluindo pessoas sem sintomas respiratórios (13% dos casos)."
A equipe identifica locais da comunidade onde sempre houve casoscasino bet356tuberculose, explica o especialista, oferece radiografiacasino bet356tórax gratuita para toda a comunidade (e não apenas para quem tem sintomas respiratórios) e usa softwarecasino bet356leitura automatizada baseadocasino bet356inteligência artificial para analisar o raio-x.
"Isso evita o erro humano e, muitas vezes, também a faltacasino bet356pessoalcasino bet356saúde treinado para ler os raios-X."Casos com radiografia anormal passam por um segundo teste, o teste molecular GeneXpert.
O caso da Argentina
A tuberculose na Argentina continua sendo um importante problemacasino bet356saúde pública e com tendênciacasino bet356aumento nos últimos anos, segundo Natiello.
"Desde 2013, a queda dos casos parou e, a partircasino bet3562014, a curva se inverteu, com um aumento aproximadocasino bet35620% nos últimos cinco anos."
"Este aumento coincide com o aumento da pobrezacasino bet356nosso país e a deterioração das condiçõescasino bet356vida."
A tuberculose na Argentina atinge principalmente gruposcasino bet356jovens, com significativa concentração nos grandes centros urbanos, disse a especialista.
"60% dos casos residem na região metropolitanacasino bet356Buenos Aires. Em grande parte, o padrão epidemiológico responde aos problemas das grandes cidades, afetando principalmente populações que vivemcasino bet356situaçãocasino bet356vulnerabilidade, aglomeradas,casino bet356ambientes sem ventilação, mal nutridas e com dificuldadescasino bet356acesso à saúde devido a diferentes tiposcasino bet356barreiras (fragmentação do sistemacasino bet356saúde, cultural, econômica, trabalhista, etc.)."
Outros grupos altamente afetados pela doença são pessoas privadascasino bet356liberdade, imigrantes e populações indígenas, principalmente no norte do país.
Em relação ao impacto da pandemia, "constatou-se que umcasino bet356cada três casos com tuberculose ativa e covid-19 requer hospitalização, e o riscocasino bet356morrer é 3,6 vezes maior neste grupo do que na populaçãocasino bet356geral."
Houve aproximadamente 30% menos notificações preliminarescasino bet356novos casoscasino bet3562020 na Argentina do quecasino bet3562019,casino bet356acordo com Natiello.
'Pode afetar a todos nós'
A estratégia da ONU para o fim da tuberculose visa reduzir as mortes por infecçãocasino bet35695% e reduzir os novos casoscasino bet35690% entre 2015 e 2035.
Mas essa é uma meta distante, já que milhõescasino bet356pessoascasino bet356todo o mundo ainda não têm acesso a um diagnóstico ou tratamento rápido.
Natiello recorda que "a tuberculose é uma doença evitável, tratável e curável com seis mesescasino bet356tratamento na maioria dos casos".
"Se tivermos contato repetido com uma pessoa doente, podemos desenvolver a doença até meses ou anos após a exposição."
"Qualquer pessoa que tiver tosse e expectoração com ou sem eliminaçãocasino bet356sangue por 15 dias pode fazer um estudocasino bet356resfriado para descartar a doença."
"Por décadas, a tuberculose tem sido uma doença negligenciada, então, ao contráriocasino bet356outros problemascasino bet356saúde, não temos boas ferramentascasino bet356diagnóstico ou muitos novos medicamentos", diz Lecca.
"A infecção é muito semelhante à covid-19, e não estamos fazendo muita coisa para controlá-la. Precisamos nos conscientizarcasino bet356que a tuberculose é uma doença que pode afetar a todos nós".
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