Pontobetboo contatovista: 'Ser mulher nos EUA não é tão melhor do que ser mulher no Brasil':betboo contato

Hillary Clinton

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Hillary Clinton está combetboo contatoindicação para a corrida presidencial praticamente assegurada

Foi na filabetboo contatoum consultório que eu descobri que os americanos me enxergavambetboo contatomaneira bem diferente. A mocinha da recepção perguntava meus dados. "Idade, estado civil, raça?". Quando disse "branca", ela não segurou o riso. "Não entendi, eu não sou branca?". E ela, com jeitinho, me explicou: "Não, você é latina."

Isso explica muito. Quando levo meu cachorro a um parque no bairrobetboo contatoque moro, algumas pessoas me perguntam se eu sou a cuidadora dele ─ não faz sentido para alguns americanos brancos que alguém como eu more num lugar bom da cidade. Quando digo que sou brasileira, alguns homens se sentem no direitobetboo contatome tocar, algo que não se atrevem a fazer com as brancas. Eu nunca tinha experimentado a vidabetboo contatoser mulher e membrobetboo contatouma minoria racial até chegar aos EUA.

Protesto

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Mulheres protestaram contra casosbetboo contatoestupro com ato na praiabetboo contatoCopacabana, no Rio,

Semelhanças

Claro, enquanto mulher, também compartilho dificuldades com as americanas brancas. Mary*, por exemplo, a mãe da linda meninabetboo contatoquem eu era babá, havia dado à luz fazia poucos meses quando eu cheguei. Ela sofria bastante pressão para voltar imediatamente ao trabalho. É que os EUA são o único país do mundo desenvolvido onde mulheres não têm direito à licença maternidade remunerada.

Mary era um furacão: falava uma sériebetboo contatoidiomas (incluindo russo!), era formada por uma das melhores universidades do país e era executivabetboo contatoum grande banco. Em suma, ela não tinha que provar nada a ninguém. Mesmo assim, toda aquela tensão a derrubou e ela caiubetboo contatodepressão.

Vamos pular no tempo um pouquinho quando, aos 30 anos, jornalista e casada, eu volto a morar nos EUA e decido participarbetboo contatoalgumas reuniõesbetboo contatoum grupo feminista na capital, Washington. Eu era a única estrangeirabetboo contatouma rodabetboo contatoque todas éramos convidadas a falar sobre as dificuldadesbetboo contatoser mulher. Nenhuma delas faloubetboo contatolicença maternidade.

Mas o que mais me surpreendeu é que, quando eu defendi a política, algumas delas se opuseram, dizendo que tinham medobetboo contatoque a licença maternidade se tornasse uma desvantagem para as mulheres no mercadobetboo contatotrabalho. Ou seja: o sistema econômico americano não está disposto a flexibilizar algumas regras nem mesmo para garantir que a forçabetboo contatotrabalho do futuro possa ser alimentada adequadamente.

E sabe quem também paga os custos sociais da inexistência da licença maternidade nos EUA? As mulheres imigrantes que precisam deixar seus filhos sozinhos ou com os avós, às vezesbetboo contatooutro país, para poder sustentá-los enquanto cuidam dos bebês das mulheres da classe média americana.

Cantadas

Sinto que as mulheres aqui recebem menos cantadas indesejadas na rua do que no Brasil. Mas também há muitos casosbetboo contatoestupro por aqui, e tenho medo ao andar à noitebetboo contatozonas afastadas.

Segundo o RAINN, maior institutobetboo contatoestudo e prevençãobetboo contatoestupro dos EUA, aqui ocorre um estupro a cada dois minutos. No Brasil, com população 37% menor que a americana, há 1 estupro a cada 11 minutos, segundo o 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública.

Claro, há quesitosbetboo contatoque os EUA levam vantagem: por aqui, o feminismo é mais popular e a cantora Beyoncé é uma força sem paralelo na sociedade americana.

Ela está nas capasbetboo contatorevistas gritando que merecemos direitos iguais e, na minha escolabetboo contatodança, é presença garantidabetboo contatocoreografias e letras que fortalecem nossa autoestima. Mulheres americanas ganham 21% a menos que os homens ─ no Brasil, 30% a menos ─ e elas ocupam 19,4% dos assentos no Congresso - no Brasil, são 10%.

Mas, se me perguntarem o que estou achandobetboo contatoser mulher nos EUA, eu digo: tá mais ou menos igual. Será que é porque ser minoria me colocou mais posições atrás nessa escala social? Espero que, se chegar à Casa Branca, Hillary ajude a mudar o jogo. E que a corbetboo contatosua pele não a deixe esquecer que nós, latinas e negras, também precisamosbetboo contatoatenção.

Nana Queiroz

Crédito, Arquivo pessoal

* Nana Queiroz é diretora executiva da Revista AzMina (Facebook.com/revistaazmina), autora do livro "Presos Que Menstruam" e roteirista da sériebetboo contatomesmo nomebetboo contatoprodução. Também é criadora do protesto "Eu Não Mereço Ser Estuprada". É jornalista pela USP e especialistabetboo contatoRelações Internacionais pela UnB.