Tim Vickery: Beatles tratavam a música negra com respeito - e aí está parte da explicaçãoblaze crash 3xseu sucesso:blaze crash 3x

Crédito, Eduardo Martino
Vou tentarblaze crash 3xnovo, porque o filme me levoublaze crash 3xvolta para um momento mágico, quando tinha 10 anosblaze crash 3xidade e o primeiro filme dos Beatles, A Hard Day's Night - detesto a traduçãoblaze crash 3xportuguês, Os Reis do Iê Iê Iê - passou na televisão inglesa.
Descobri naquela hora e meia que queria ser um Beatle. Fiquei fascinado. A explosãoblaze crash 3xeuforia, as risadas irreverentes, a roupa, o corteblaze crash 3xcabelo (que até imitei durante um tempo - nenhuma foto sobrevive!) e a alegria daquele som divino. Era isso que queria.
Na época, minha família tinha um aparelhoblaze crash 3xsom com tocadorblaze crash 3xfitas que funcionava com pilhas. Fui para a casablaze crash 3xamigos mais abastados, donosblaze crash 3xum toca-discosblaze crash 3xestéreo, e graveiblaze crash 3xuma fita o disco dos sucessos dos Beatlesblaze crash 3x1962-66, e na outrablaze crash 3x1967-70.

Crédito, PA
Ouvia aquelas fitas quase sem parar, até que as pilhas se desgastassem e passassem a tocar com a metade da velocidade normal.
Cada vez que ouvia, era uma viagem e tanto, uma aula sobre a passagem do tempo.
Das músicas simples e alegres no início para as coisas mais pesadas e profundas mais tarde. De uma comemoração das oportunidades da nova sociedadeblaze crash 3xconsumo para as advertênciasblaze crash 3xuma crise espiritual coletiva.
As músicasblaze crash 3x67-70 eram mais longas, e nem tudo cabia na minha fita, que, se não me engano, cortou no meio a música Don't Let Me Down. Gostava também das músicas dos últimos anos, mas as achava um pouco desconcertantes, cheiasblaze crash 3xemoções e visões complexas e quando a fita acabava, era sempre um alívio voltar para as certezas alegres das primeiras faixas e curtir a viagem mais uma vez.
E até hoje essa coisa minha é curtida por geração atrásblaze crash 3xgeração no mundo inteiro.
Parte do sucesso vem do formato da banda - totalmente normal hojeblaze crash 3xdia, mas revolucionário na epoca. The Beatles eram autossuficientes. Não somente tocavam, mas também compunham as músicas. E tiveram dois compositores geniais: John Lennon e Paul McCartney.
A dinâmica entre os dois,blaze crash 3xuma misturablaze crash 3xcooperação e concorrência, sempre elevava a banda para novos picos artísticos - a tal dinâmica, assim como fez a banda, também acabou a destruindo.

Crédito, PA
Acredito, também, que o fatoblaze crash 3xser inglês ajudou. A combinação da irreverência e bravata, típico da classe operária britânica, foi cativante. Além disso, tem a questão racial. Isso porque as raízes da música dos Beatles,blaze crash 3xgrande parte, eram da cultura negra americana.
Nos Estados Unidos, o legado da escravidão tinha peso. Elvis Presley e outros eram "brancos que cantavam como negros", mas logo sofriam pressão para ficar mais suaves, mais "aceitáveis" para uma audiênciablaze crash 3xmassa.
Os Beatles não tinham tais complexos raciais. Como esclarece o filme, se recusaram a tocar para plateias segregadas.
Um dos momentos mais fortes do documentário é o depoimento da atriz Whoopi Goldberg, que conta que sentiu uma conexão imediata com os Beatles e podia se imaginar sendo amiga deles, apesarblaze crash 3xser negra.
Os Beatles pegavam emprestado da música negra americana, a tratavam com respeito, ficavam adicionando elementos novos e deu no que deu. Como Lennon uma vez contou, quanto mais real a banda ficava, mais surreal o entorno.
O filme mostra bem o preço que se pagava para gerar tanta histeria. Assédio o tempo todo - a pontoblaze crash 3xnão conseguir nem se ouvir no palco, pois a tecnologiablaze crash 3xsom na época não era boa suficiente para funcionar nos estádios onde a banda foi obrigada a tocar.
Nenhuma surpresa, então, que os Beatles resolveram deixarblaze crash 3xfazer shows e ficavam no estúdio tentando processarblaze crash 3xmúsica as suas experiências e pensamentos.
Lá na poltrona,blaze crash 3xcimablaze crash 3xoceano Atlântico, refleti que não realizei o sonho da infânciablaze crash 3xvirar um Beatle. Não faz mal. Como escreveu Richard DiLello, que trabalhou com a banda nos últimos anos, "quem, entre nós,blaze crash 3xum momento ou outro não sonhoublaze crash 3xser um beatle? Mas se você não fosse você, e fosse um beatle, pense no que você teria perdido. Você teria perdido os Beatles".
*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formadoblaze crash 3xHistória e Política pela Universidadeblaze crash 3xWarwick.
Leia colunas anterioresblaze crash 3xTim Vickery:
- Como vim ao Brasil para fugir da tirania do inverno, me nego a reclamar do calor
- Quem aplaude massacreblaze crash 3xpresos já teve o senso ético decapitado, o coração arrancado
- George Michael teveblaze crash 3xbuscarblaze crash 3xprópria verdade para virar um artista
- A queda da centro-esquerda, Trump e a conta que os pobres não pediram, mas terãoblaze crash 3xpagar
- Resposta à tragédia da Chapecoense mostra que quase todas as terras são países do futebol
- O que a banda The Sex Pistols e a redemocratização brasileira têmblaze crash 3xcomum
- Por que quem exige homenagens aos mortos da guerra não quer o mundo justo pelo qual lutaram?
- Mito da democracia racial no Brasil é propaganda enganosa, mas alivia dureza do mundo
- Quando o assunto é crime no Rio, é melhor exagerar na cobertura do que jogar para debaixo do tapete
- A amizade entre símbolo da propaganda nazista e boxeador negro - e o poder do esporte
- Repúdio à imigração no Brexit nos força a pensarblaze crash 3xuma sociedade mais inclusiva
- Um inglês entre os excessos do sonho americano e o modelo alternativo
- Por que a declaração vaga da OMS sobre zika e Olimpíada causa medo
- A turbulência avança, mas o Brasil não discute questões-chave
- O estádio que vai deixar saudadesblaze crash 3xLondres - e o que ele conta sobre a imigração na cidade
- Será o impeachment uma 'cirurgia' drástica demais no corpo político do Brasil?









