Tim Vickery: Por que quem exige homenagens aos mortos da guerra não quer o mundo justo pelo qual lutaram?:rocco gallo slot

Pode ser que o engenheiro inglês tenha razão. Mas há uma outra explicação. Homens não faltavam a Caxias - o seu exército era muito maior que o do Paraguai.

Perder tantos soldados não era um grande problema, uma vez que o comandante não dava muito valor à vida deles.

Uma acusação, claro, não exclui a outra. É possível ser, ao mesmo tempo, desumano e um idiota - a mesma visão que muitos têm dos generais do Exército inglês na Primeira Guerra Mundial.

Há exatamente 100 anos, eles estavam mandando milhares para uma morte certa, no conflitorocco gallo slotque a obediência e a velha hierarquia encontraram a metralhadora moderna.

Esse Exército britânico ganhou o apelidorocco gallo slot"leões comandados por burros". Mas nos últimos anos uma nova escolarocco gallo slothistoriadores surgiu para argumentar que os generais não eram tão estúpidos assim.

No entanto, contra a acusaçãorocco gallo slotdesumanidade não há defesa. O marechal britânico Douglas Haig, por exemplo, registrou várias vezesrocco gallo slotsuas anotações que a morterocco gallo slot10 mil ou até mais soldados era uma coisa "muito pequena".

Já o lorde Kitchener criticou um general por ter usado um excessorocco gallo slotmunição,rocco gallo slotvezrocco gallo slothomens. Para ele, soldados poderiam ser substituídos com muito mais facilidade do que as armasrocco gallo slotartilharia.

A matança acabou no dia 11rocco gallo slotnovembro 1918. Nos anos seguintes, a data foi comemorada com festas. Depois, quando se deu conta como uma geração havia sido perdida, instaurou-se um climarocco gallo slotluto.

E desde então criou-se o hábito de, nesta época do ano, as pessoas usarem brochesrocco gallo slotfloresrocco gallo slotpapoulasrocco gallo slotplástico para celebrar a data. Isso porque as batalhas mais sangrentas aconteceram numa região da Bélgica cheiarocco gallo slotcampos dessas flores vermelhas.

Quando eu morava na Inglaterra, até 1994, o atorocco gallo slotusar a papoula era opcional. Mas depois disso, com a ascendênciarocco gallo slotideais direitistas, isso parece ter virado uma obrigação.

Na histeria da imprensa popular, tem-se hojerocco gallo slotdia uma "patrulha patriótica", que interpreta qualquer ausênciarocco gallo slotuma flor vermelha como faltarocco gallo slotrespeito.

Confesso que não consigo entender, e fico até assustado com isso. Acredito que é preciso ficar muito claro o que está sendo lembrado ou comemorado.

Da geração que viveu a Primeira Guerra Mundial, não sobrou mais ninguém. Da Segunda, há alguns veteranos vivos.

Os motivos, os certos e os errados, da Primeira Guerra ainda são alvorocco gallo slotdebates. Já na Segunda Guerra, não há debate. Fica claro que o adversário nazista foi um monstro, uma combinaçãorocco gallo slotciência moderna com obscurantismo medieval que formaram a encarnação do mal.

Anos dourados

A luta contra Hitler, e tudo que representava, é obviamente um sacrifício que deve ser lembrado e comemorado. Mas essa geração não somente lutou contra. Lutou também a favor -rocco gallo slotprolrocco gallo slotum mundo mais justo.

O prêmio veio depois, com o estabelecimentorocco gallo slotum Estadorocco gallo slotbem-estar social; um sistemarocco gallo slotsaúde gratuito, moradia decente com aluguel barato, seguro-desemprego, educação até faculdaderocco gallo slotgraça - um pacote que permitiu os anos dourados da história.

Nos últimos anos, essas conquistas têm sido ameaçadas por uma ideologia neoliberal que sabe o preçorocco gallo slottudo e o valor do nada, com a mentalidaderocco gallo slot"público é ruim, particular é bom".

E narocco gallo slotface mais populista e demagoga, a mesma correnterocco gallo slotopinião exige uma papoularocco gallo slotrespeito pelo sacrifício dos soldados enquanto procura retirar os frutos desse mesmo sacrifício.

Assim o respeito é mais artificial do que a papoularocco gallo slotplástico. Há aí uma hipocrisia grotesca - o heroísmo dos leões a serviço dos burros.

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formadorocco gallo slotHistória e Política pela Universidaderocco gallo slotWarwick.

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