Por que Amazônia virou 'barrilvaidebet é brasileirapólvora' e queimadas batem recordes:vaidebet é brasileira

“Às vezes, o mesmo incêndio gera para o satélite centenasvaidebet é brasileirafocosvaidebet é brasileiracalor”, diz Agostinho à BBC News Brasil.

Ainda assim, alguns Estados estão sob alerta maior. Roraima,vaidebet é brasileiraacordo com Agostinho, é o que se encontravaidebet é brasileirasituação mais crítica dentro do bioma amazônico hoje.

Das detecçõesvaidebet é brasileirafogo por satélites, 33% estão ali, ou 4.627 focos, o maior número desde o início da série histórica medida pelo Inpe,vaidebet é brasileira1998.

“A temporada seca lá ocorrevaidebet é brasileiranovembro e dezembro, mas se arrastou até março deste ano”, explica o presidente do Ibama.

Na mesma esteira, o Mato Grosso, que abriga os biomas da Amazônia, Cerrado e Pantanal, apresentou o maior númerovaidebet é brasileirafocosvaidebet é brasileiraincêndiovaidebet é brasileiratodo o país, batendo um recordevaidebet é brasileiravinte anos.

A Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema-MT) afirmouvaidebet é brasileiranota que "o Estado sofre com estiagem severa e baixa umidade desde o fim do ano passado e, com isso, o material orgânico seco oriundo da vegetação se acumula, o que tem facilitado a combustão".

A secretaria também apontou que o governo do Estado investe, neste ano, R$ 74 milhões na execução do Planovaidebet é brasileiraAçãovaidebet é brasileiraCombate ao Desmatamento Ilegal e Incêndios Florestais.

A capacitaçãovaidebet é brasileirabrigadistas e bombeiros, monitoramentovaidebet é brasileiratempo real dos focosvaidebet é brasileiraqueimadas, a construçãovaidebet é brasileiraaçudes e perfuraçõesvaidebet é brasileirapoços, assim como a substituiçãovaidebet é brasileirapontesvaidebet é brasileiramadeira por concreto, são parte das ações do plano.

A BBC News Brasil procurou também a Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (FEMARH)vaidebet é brasileiraRoraima, mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem.

Ane Alencar, diretoravaidebet é brasileiraCiência do Institutovaidebet é brasileiraPesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), explica que o déficit hídrico do ano passado no bioma junto à antecipação da estação seca ocorrida neste ano deixaram a vegetação muito inflamável.

"Passei por algumas regiões do Mato Grosso recentemente e pude perceber que a vegetação já formou aquela camavaidebet é brasileirafolhas secas no chão, algo que costuma ocorrer no finalvaidebet é brasileirajulho, iníciovaidebet é brasileiraagosto", explica Alencar.

"A regiãovaidebet é brasileiraSantarém [no Pará] também. E ali começa a secar geralmentevaidebet é brasileirasetembro, outubro".

Diante do cenáriovaidebet é brasileiraantecipação da seca, Agostinho afirma que as operações para o segundo semestre estão sendo intensificadas.

No caso da Amazônia,vaidebet é brasileiraacordo com o presidente do Ibama, as ações serão voltadas principalmente para o cinturão do desmatamento, "onde a área degradada é propícia para os incêndios".

O cinturão (ou arco) do desmatamento é o nome dado a uma extensãovaidebet é brasileiracercavaidebet é brasileira500 km2vaidebet é brasileiraterras que vão desde o leste e o sul do Parávaidebet é brasileiradireção a oeste, passando pelo Mato Grosso, Rondônia e Acre.

É nesta região onde ocorre a maioria do desmatamento na Amazônia.

O governo federal anunciou na semana passada uma quedavaidebet é brasileira38% no desmatamento da Amazônia no primeiro semestre deste ano.

Entre 2022 e 2023, a redução havia sido ainda mais significativa,vaidebet é brasileira50%, segundo dados oficiais.

Ao fazer o anúncio, na quarta-feira (4/7), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), disse ter “esperança”vaidebet é brasileirachegar ao desmatamento zero no bioma até 2030, uma promessa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A preservação da floresta é fundamental para mitigar os estragos causados pelo fogo,vaidebet é brasileiraacordo com Ane Alencar.

“Percebemos que, onde houve a redução do desmatamento também houve queda nas queimadas e nos incêndios no ano passado”, diz a diretora do Ipam.

“Ainda bem que houve um esforço forte para reduzir o desmatamento no ano passado. Essa redução impediu que a área afetada por incêndios fosse muito maior.”

Além das questões climáticas, que podem ser incontroláveis, mas já podem ser,vaidebet é brasileiragrande parte, previstas, o desmatamento é considerado pelos ambientalistas peça fundamental para o alastramento do fogo.

“Quando alguém derruba uma floresta, na sequência põe fogo”, diz Agostinho.

“Mas, muitas vezes, o sujeito derruba 100 hectares, põe fogo, mas o fogo se alastra e queima outros 500 hectares.”

Além disso, a área desmatada, muitas vezes, é uma terra pública, o que dificulta a identificação e punição dos responsáveis do local, segundo o presidente do Ibama

A relação do El Niño com o fogo

No ano passado, a Amazônia sofreu uma seca histórica,vaidebet é brasileiradecorrência das mudanças climáticasvaidebet é brasileiraum anovaidebet é brasileiraEl Niño, fenômeno caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente das águas do Pacífico na linha do Equador.

“A mudança na temperatura do oceano Pacífico Equatorial acarreta efeitos globais nos padrõesvaidebet é brasileiracirculação atmosférica, transportevaidebet é brasileiraumidade, temperatura e precipitação”, disse o Inpevaidebet é brasileiraum comunicado.

Ou seja, seus impactos são diferentes para cada região do país: no Rio Grande do Sul, causou altos volumesvaidebet é brasileirachuva. Na Amazônia, foi o contrário.

“É importante destacar que não tivemos só o El Niño”, lembra Alencar.

“O El Niño foi potencializado por uma ondavaidebet é brasileiraaquecimento do globo que também impactou o oceano Atlântico e potencializou seus efeitos.”

Neste cenário, a seca do ano passado já havia deixado a região vulnerável aos incêndios.

Em 2023, o bioma perdeu para o fogo uma áreavaidebet é brasileiraextensão pouco maior que Portugal.

No total, foram queimados 10,7 milhõesvaidebet é brasileirahectares, um aumentovaidebet é brasileira35%vaidebet é brasileirarelação a 2022,vaidebet é brasileiraacordo com os dados da plataforma do Inpe.

A Agência Nacional Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos previa que o El Niño terminariavaidebet é brasileirajunho deste ano, já que, normalmente, o fenômeno dura entre 9 e 12 meses.

Suas consequências, no entanto, devem se estender na Amazônia, já que ele termina quando a estação seca,vaidebet é brasileirafato, deveria começar.

Alencar lembra que, embora a mistura das mudanças climáticas com o El Niño contribuam para a condiçãovaidebet é brasileiraum solo altamente inflamável, a Amazônia não é um bioma que queima naturalmente.

“A resposta do fogo, principalmente na Amazônia, onde o fogo deveria ser algo raro, deve-se a uma fontevaidebet é brasileiraignição primordialmente humana”, explica.

“E, para combatê-la é preciso estabelecer uma estratégiavaidebet é brasileiracomando e controle, com operações conjuntasvaidebet é brasileiravários órgãos, instituições, e multas e responsabilizações cada vez mais sofisticadas."

Crime ambiental

De acordo com o Código Florestal, o uso do fogo é permitidovaidebet é brasileirasituações bem específicas.

Dentre elas, estão a agriculturavaidebet é brasileirasubsistência exercida por populações tradicionais e indígenas, as atividadesvaidebet é brasileirapesquisas científicas ouvaidebet é brasileiraprodução e manejovaidebet é brasileiraatividades agropastoris ou florestais.

Neste caso, a prática é chamadavaidebet é brasileiraqueima controlada e requer autorização prévia, alémvaidebet é brasileiraexigir uma sérievaidebet é brasileirarequisitos, como a delimitação da área que será queimada e do acompanhamento por uma equipe treinada.

Cabe aos Estados emitir a autorização e, se necessário, determinar um período proibitivo para a prática, considerando fatores que favorecem a disseminação do fogo, como umidade do ar, temperatura e ventos.

No Mato Grosso do Sul, por exemplo, onde está presente 65% do Pantanal, as queimas controladas estão proibidas desde o iníciovaidebet é brasileirajunho.

Por meiovaidebet é brasileirauma portaria, o Institutovaidebet é brasileiraMeio Ambientevaidebet é brasileiraMato Grosso do Sul (Imasul), vinculado ao governo estadual, tornou sem efeito todas as autorizações emitidas e ainda não executadas para queima controlada.

A tramitaçãovaidebet é brasileiraprocessosvaidebet é brasileiralicenciamento e a emissãovaidebet é brasileiranovas autorizações do gênero também foram suspensas.

Já o incêndio florestal é caracterizado pelo fogo descontrolado que avança sobre qualquer formavaidebet é brasileiravegetação e pode resultarvaidebet é brasileiraautuações, caso os responsáveis sejam identificados.

De acordo com a Lei dos Crimes Ambientais, as queimadas e incêndios florestais podem render uma multavaidebet é brasileiraaté R$ 7,5 mil por hectare queimado e até seis anosvaidebet é brasileiraprisão.

Alémvaidebet é brasileiraconter o fogo, identificar os criminosos é um ponto nevrálgico da crise que se instalou no Pantanal.

O bioma tem enfrentado incêndiosvaidebet é brasileiraproporções recordes nos últimos anos, incluindovaidebet é brasileira2024. De acordo com o presidente do Ibama, ao menos 5% do bioma foi queimado até o momento,vaidebet é brasileiraum anovaidebet é brasileiraseca e incêndios históricos.

Na semana passada, o Ministério Público do Mato Grosso do Sul anunciou que doze fazendeiros são alvovaidebet é brasileiraum inquérito por serem proprietáriosvaidebet é brasileiraimóveis rurais onde podem ter iniciado focosvaidebet é brasileiraincêndio no Pantanal.

"Mas identificar os agentes causadoresvaidebet é brasileiraum incêndio é muito difícil", reconhece Agostinho.

Isso porque, como apontam especialistas, é preciso identificar onde o incêndio teve início e o responsável por aquela terra que, muitas vezes, é pública e está sendo ilegalmente ocupada.

"Esse tipovaidebet é brasileiradesmatamento [com fogo], feito com base na ilegalidade, na exploraçãovaidebet é brasileirarecursos, é muito mais difícilvaidebet é brasileiracombater", completa Ane Alencar.

Entre 2019 e 2021, mais da metade (51%) do desmatamento da Amazônia ocorreuvaidebet é brasileiraterras públicas, as chamadas Florestas Públicas não Destinadas (FPNDs).

São áreas que ainda aguardam destinação do Estado para conservação ou uso sustentável.

Os números foram levantados pelo Projeto Amazônia 2030, uma iniciativa do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia, do Centrovaidebet é brasileiraEmpreendedorismo da Amazônia, da Climate Policy Initiative (CPI) e do Departamentovaidebet é brasileiraEconomia da Pontifícia Universidade Católica do Rio.

Por isso, as mudanças climáticas, o El Niño e a criminalidade tornam a Amazônia um lugar bastante propício a incêndios neste momento.

"A Amazônia está um barrilvaidebet é brasileirapólvora por causa da seca, politicamentevaidebet é brasileiraalvoroço por causa das eleições municipais e, além disso, está dominada pelo crime", resume Alencar.

"Os esforços e as etratégias para combater o desmatamento, portanto, têm que ser muito mais inovadores do que antes".

Para Agostinho, o incêndio ainda é tratado como um crimevaidebet é brasileiramenor potencial ofensivo. "Precisamos aperfeiçoar isso", diz.

Ele aponta a obrigatoriedadevaidebet é brasileirabrigadas própriasvaidebet é brasileiracombate imediato nas propriedadesvaidebet é brasileiraáreas sensíveis, revisãovaidebet é brasileiraatos normativos, preparo da comunidade para uma pronta resposta e maior controle dos Estados como parte desse aperfeiçoamento.

Para Ane Alencar, do Ipam, alémvaidebet é brasileiraseguir com a redução do desmatamento, diminuir o usovaidebet é brasileirafogo e controlar mais as queimadas são medidas que deveriam ser tomadas imediatamente.