Cirurgias, retirada do útero e dor 'insuportável': a sagabeto esportes várzea grande20 anosbeto esportes várzea grandeuma mulher para identificar endometriose:beto esportes várzea grande

“Eu tinha muito a entregar na vida e até conseguir um tratamento não tive oportunidade”, diz.

Paula demorou mais anos do que o previsto para se formar na faculdade e teve que adiar o início e a entrega do seu projetobeto esportes várzea grandemestrado maisbeto esportes várzea grandeuma vez por contabeto esportes várzea grandecontratempos associados à doença. Ela ainda teve que desistirbeto esportes várzea grandeum estágio e foi demitidabeto esportes várzea grandeoutro por contabeto esportes várzea grandefaltas e do tratamento.

Além disso, ela afirma que as dores a impediambeto esportes várzea granderealizar atividades do dia a dia, manter uma vida social regular e até praticar atividades físicas normalmente.

“A endometriose — e a forma como a sociedade trata a doença — colocaram minha vidabeto esportes várzea grandepausa e prejudicaram minha carreira.”

A endometriose afeta cercabeto esportes várzea grande10%beto esportes várzea grandetodas as mulheres e meninasbeto esportes várzea grandeidade reprodutiva do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda assim, a doença demora,beto esportes várzea grandemédia, sete anos para ser diagnosticada, desde o surgimento dos primeiros sinais e sintomas.

Alysson Zanatta, ginecologista especializadobeto esportes várzea grandeendometriose que acompanha Paula atualmente, explica que a condição é definida pela presençabeto esportes várzea grandelesões fora do útero que contenham célulasbeto esportes várzea grandeendométrio.

“O endométrio é a camada interna do útero que descama durante a menstruação”, explica.

“E quando falamosbeto esportes várzea grandelesão nos referimos desde a um nódulo pequeno localizado até lesões extensas, que causam uma distorção anatômica severa da pelve ebeto esportes várzea grandeórgãos extrapélvicos.”

‘Saíbeto esportes várzea grandelá aos prantos’

A odisseiabeto esportes várzea grandePaula começou ainda na adolescência, quando sentia fortes dores menstruais e fazia visitas constantes ao hospital por infecções urinárias e respiratórias.

“A partir da minha segunda menstruação comecei a sentir cólica forte e, pouco antes dos meus 12 anos, elas já eram incapacitantes”, conta.

A brasiliense relata que os sangramentos intensos sempre eram acompanhadosbeto esportes várzea grandeenjoo e vômito, fortes doresbeto esportes várzea grandecabeça e na lombar e sofrimento para urinar e defecar.

Quando ingressou na faculdadebeto esportes várzea grandeRelações Internacionaisbeto esportes várzea grande2008 e começou a estagiar, esse quadro passou a ser um problema ainda maior, já quebeto esportes várzea grandealguns dias sair da cama era impossível, conta Paula.

Ela já havia consultado um ginecologista, que apenas receitou um anticoncepcional para que ela parassebeto esportes várzea grandemenstruar. Mas a pílula não foi suficiente e os sangramentos e as dores persistiram.

“Tive que pedir para sair do estágio porque eu faltava demais e, mesmo justificando minhas ausências, outros funcionários não entendiam e me perseguiam por isso”, diz.

“Muitos colegas na faculdade também diziam que eu ‘fingia doença’ ou usava as cólicas para fazer os professores sentirem penabeto esportes várzea grandemim.”

Em novembrobeto esportes várzea grande2012, Paula desenvolveu uma infecção nos rins decorrente da endometriose, que naquele momento ainda não havia sido diagnosticada pelos médicos, apesar das constantes visitas ao hospital ebeto esportes várzea granderepetidos examesbeto esportes várzea grandeimagem e análises clínicas.

“Os médicos me disseram que eu não tinha nada e que as dores e infecções eram normais para uma mulher”, diz. “Por isso fiquei empolgada para procurar outro estágio.”

Em 2013, ela foi contratada para estagiar na própria faculdade, mas depoisbeto esportes várzea grandealguns meses foi demitida diante do excessobeto esportes várzea grandefaltas.

“Não comentei sobre minhas dores na entrevista porque fiquei envergonhada, mas não imaginava que minha saúde ia piorar tanto”, relata.

“As dores que antes eu sentia quando menstruava ou um pouco antesbeto esportes várzea grandemenstruar passaram a ser o tempo todo.”

Paula conta que nesse período passou por vários médicos, mas se sentiu invalidada por muitos deles. Até que encontrou uma especialistabeto esportes várzea grandediagnósticos que relacionou os sintomas ao históricobeto esportes várzea grandeendometriose na família.

“Minhas duas irmãs já tinham sido diagnosticadas com endometriose. Uma delas descobriu por contabeto esportes várzea grandedores, mas outra só soube porque não conseguia engravidar”, conta.

Foi só neste momento que Paula fez a primeira ressonância pélvica, indicada para detecção da endometriose.

Após o procedimento recebeu o diagnósticobeto esportes várzea grandeadenomiose. Enquanto que na endometriose há a presença das células do endométrio fora do útero, espalhadas pelo abdome (ovário, intestino, bexiga etc), a adenomiose é caracterizada pela infiltração destas células no miométrio (músculo uterino).

Mas o tratamento com anticoncepcionais para adenomiose ainda não foi suficiente para acabar com as dores. Em novembro daquele ano, Paula foi internada com infecção renal grave.

“Chegueibeto esportes várzea grandechoque no hospital e com sepse no rim esquerdo. Fiquei 12 dias internada”, conta.

“Foi aí que meu chefe me avisou que eu teria que sair do estágio para me dedicar ao cuidado com a minha saúde. Não tive escolha e fiquei muito magoada.”

Segundo Paula, apesar da maior partebeto esportes várzea grandesuas tarefas poder ser realizada à distância, o RH da faculdade via suas ausências constantes como um problema. “Eu não acumulava trabalho, mesmo passando mal”, diz.

No ano seguinte, após consultas com um especialista, a brasiliense fez novos exames, que dessa vez indicaram também uma endometriose.

O médico decidiu encaminhá-la para cirurgia, mas durante o procedimento afirmou não ter encontrado células do endométrio fora do útero.

“Ele me tratou supermal, disse que minha dor era psicológica porque ele me abriu e viu que não tinha nada ali, nenhum foco. Eu saíbeto esportes várzea grandelá aos prantos e pensando que eu realmente era louca.”

As dores e infecções continuaram. “Devido à minha saúde levei 8 anos para me formar na graduação.”

‘Não acreditambeto esportes várzea grandemim’

Em 2016, aos 27 anos, Paula decidiu retirar o útero.

“A profissional que me acompanhava naquele momento falou que era algo muito radical, mas também disse que como provavelmente eu só tinha adenomiose, só a retirada do útero resolveria.”

Após a cirurgia, mais uma vez a médica disse que não encontrou nenhum sinalbeto esportes várzea grandeendometriose

As dores cessaram por alguns meses, mas logo voltaram, junto com as visitas constantes à emergência.

“Fiquei desesperançosa, desmotivada e juntando a outras questões da minha vida que não estavam indo bem,beto esportes várzea grandejaneirobeto esportes várzea grande2017, aos 27 anos, tentei suicídio”, conta.

“Eu vou viver com dor para sempre, não acreditambeto esportes várzea grandemim”, ela disse que pensava na época.

Após ficar internadabeto esportes várzea grandeuma clínica psiquiátrica por 47 dias, Paula encontrou o médico ginecologista que trata do seu caso até hoje, Alysson Zanatta.

O especialista a diagnosticou definitivamente com endometriose. Mesmo o caso sendo cirúrgico, Zanatta decidiu iniciar o tratamento com fisioterapia pélvica e acupuntura, já que ela havia passado por dois procedimentos recentes.

Por conta dos anos com endometriose e do estresse excessivo sobre os músculos, Paula havia desenvolvido síndrome miofacial, uma condição crônica que causa dorbeto esportes várzea grandepontos específicos do corpo.

O médico optou pela cirurgiabeto esportes várzea grandeendometriose apenasbeto esportes várzea grande2019. “Comecei uma saga para o plano liberar. Em um momentobeto esportes várzea grandeestresse,beto esportes várzea grandenovembrobeto esportes várzea grande2018, aos 29 anos, surtei e tentei suicídio, mais uma vez”, relata Paula.

A brasiliense foi então internadabeto esportes várzea grandeuma clínica psiquiátrica por mais dois meses e diagnosticada com Transtorno Disfórico Menstrual, uma forma mais grave da síndrome pré-menstrual — que anteriormente era chamadabeto esportes várzea grandeTPM.

A listabeto esportes várzea grandesintomas causados pelo transtorno é extensa e inclui manifestações físicas, como inchaço, dor nas mamas, aumento do volume abdominal, dorbeto esportes várzea grandecabeça e cansaço.

Também sintomas psíquicos, como humor deprimido, ansiedade, irritabilidade, sensaçãobeto esportes várzea grandenervos à flor da pele e até ideação suicida.

Pouco depoisbeto esportes várzea grandereceber altabeto esportes várzea grandesua internação,beto esportes várzea grandejaneirobeto esportes várzea grande2019, Paula tentou suicídio pela terceira vez.

Confirmação só na operação

Somente após fazer mudançasbeto esportes várzea grandesuas medicações e intensificar seus tratamentos com psicólogo e psiquiatra, ela foi liberada para a cirurgia.

Durante o procedimento, Alysson Zanatta encontrou focosbeto esportes várzea grandeendometriose muito próximos dos ureteres, dos nervos, do ligamento uterossacro e no fundo da vagina.

O médico afirma que os focos eram todosbeto esportes várzea grandecores claras — rosa e branco — e que estavam todos fibrosados. Isso significa que Paula possivelmente já tinha esses focos desde abeto esportes várzea grandeprimeira cirurgia,beto esportes várzea grande2014.

Mas, segundo Zanatta, o diagnóstico da endometriose ainda é um desafio para muitos médicos.

“Hoje já sabemos alguns dos sintomas mais característicos da endometriose: cólicas menstruais, dores durante a relação sexual, dores lombares e nos membros inferiores, dificuldadebeto esportes várzea grandeengravidar”, diz.

“Muitas vezes eles são vistos como naturais do período menstrual e relativizados, mas não é normal sentir dores muito fortes, vomitar, ficar incapacitada.”

Segundo o médico, o diagnóstico requer um treinamento específico que nem sempre está presente na formação dos médicos.

“Mas com um bom examebeto esportes várzea grandeimagem, seja uma ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal ou uma ressonância magnética feita por um bom profissional, é possível identificar mesmo pequenas lesõesbeto esportes várzea grandeendometriose.”

Ainda assim, explica,beto esportes várzea grandealguns casos os examesbeto esportes várzea grandeimagem não são conclusivos. Foi o que aconteceu com Paula.

“Não é uma situação habitual, geralmente nós temos a confirmação no examebeto esportes várzea grandeimagem, mas há casosbeto esportes várzea grandeque a história clínica é muito característica e mesmo sem a comprovação no examebeto esportes várzea grandeimagem acabamos optando por uma cirurgia”, afirma.

“E como já era esperado, só tivemos a confirmação do caso da Paula no intra-operatório”.

Zanatta explica ainda que existem teorias que relacionam a endometriose a condiçõesbeto esportes várzea grandedeficiência imunológica.

Isso não significa que a doença possa causar ou favorecer infecções, mas o médico afirma que as condições podem estar indiretamente ligadas, o que explicaria o quadrobeto esportes várzea grandePaula.

“Recebo muitos relatosbeto esportes várzea grandepacientes que tiveram a vida profundamente impactada pela endometriose, sejabeto esportes várzea grandetermosbeto esportes várzea granderedução da produtividade da mulher ou consequências na vida emocional e afetiva”, conta o médico ginecologista.

“A endometriose é um problemabeto esportes várzea grandesaúde pública e as mulheres precisambeto esportes várzea grandeum tratamento efetivo e mais rápido.”

*Caso seja ou conheça alguém que apresente sinaisbeto esportes várzea grandealerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:

- O Centrobeto esportes várzea grandeValorização da Vida (CVV), por meio do telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opçãobeto esportes várzea grandeconversa por chat, e-mail e busca por postosbeto esportes várzea grandeatendimento ao redor do Brasil;

- Para jovensbeto esportes várzea grande13 a 24 anos, o Unicef oferece também o chat Pode Falar;

- Em casosbeto esportes várzea grandeemergência, outra recomendaçãobeto esportes várzea grandeespecialistas é ligar para os Bombeiros (telefone 193) ou para a Polícia Militar (telefone 190);

- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo telefone 192;

- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centrosbeto esportes várzea grandeAtenção Psicossocial (CAPS),beto esportes várzea grandeUnidades Básicasbeto esportes várzea grandeSaúde (UBS) e Unidadesbeto esportes várzea grandePronto Atendimento (UPA) 24h;

- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimentobeto esportes várzea grandesaúde mental gratuitobeto esportes várzea grandetodo o Brasil.

- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e gruposbeto esportes várzea grandeapoio.