Dilúvios e monstros lendários: os mitos que revelam desastres do passado:crash blaze apostas

Crédito, JMW Turner/Getty Images
Com a possibilidadecrash blaze apostasum aumento global catastrófico do nível do marcrash blaze apostas1 metro até 2050, que pode forçar milhõescrash blaze apostaspessoas a deixar suas casas, os pesquisadores começaram a ver com outros olhos histórias antigascrash blaze apostascidades submersas e destruídas pelo mar.
Não só costumam ser boas histórias, repletascrash blaze apostaspoesia e simbolismo, como também transmitem a memória coletivacrash blaze apostasquem as viveu, e dentro das quais pode haver evidências factuais do que pode ter acontecido há milharescrash blaze apostasanos quando as camadascrash blaze apostasgelo derreteram.
Alguns pesquisadores argumentam que contos sobre rochas lançadas ao mar ou a construçãocrash blaze apostasbarreirascrash blaze apostascontenção contêm informações factuais, embora exageradas e distorcidas até certo ponto.
Eles nos oferecem uma ideiacrash blaze apostascomo nossos ancestrais se sentiram a respeito da elevação do nível do mar e o que fizeram a respeito, e podem fornecer evidênciascrash blaze apostasquecrash blaze apostasreação foi extremamente semelhante à nossa.
As percepções dos povos antigos podem, na verdade, salvar vidas no futuro.
Estes pesquisadores são conhecidos como geomitólogos. A geóloga americana Dorothy Vitaliano cunhou o termocrash blaze apostasuma palestracrash blaze apostas1967 (baseando suas ideias nas do filósofo grego antigo Euhemerus, que se propôs a encontrar os eventos reais ou pessoas por trás dos mitos populares).
Embora as pesquisas dos geomitólogos sobre as origens da lendacrash blaze apostasAtlântida ou do mito do monstro do Lago Ness possam ganhar as manchetescrash blaze apostasmaneira sensacionalista, o trabalho deles é estudar histórias antigas outrora consideradas mitos ou lendas, mas que agora são vistas como possíveis observaçõescrash blaze apostasfenômenos naturais por povos primitivos.
"Os geomitos representam os primeiros indícios do impulso científico", diz a folclorista e historiadora da ciência antiga Adrienne Mayor, pesquisadora da Universidadecrash blaze apostasStanford, na Califórnia, e autora do livro The First Fossil Hunters.
"Isso mostra que os povos da Antiguidade eram observadores atentos e usavam o melhor pensamento racional e coeso do seu espaço e tempo para explicar as forças naturais notáveis que vivenciaram".

Crédito, Paul Chinn/Getty Images
Hoje, o número cada vez maiorcrash blaze apostasartigos publicados, citações e resultadoscrash blaze apostaspesquisa no Google mostram que o interesse por tais trabalhos está crescendo na comunidade científica.
São eventos como erupções vulcânicas no início da história humana ou até mesmo temas bíblicos, que mostram como vulcões, terremotos e pragas podem ter moldado a história do Êxodo que aparece na Bíblia Hebraica.
"Os geólogos começaram a perceber que há realmente informaçõescrash blaze apostasalgumas das tradições e histórias mais antigas da humanidade", diz David Montgomery, da Universidadecrash blaze apostasWashington, nos EUA, autor do livro The Rocks Don't Lie: A Geologist Investigates Noah's Flood.
"E que embora seja um tipocrash blaze apostasinformação diferente daquela que tendemos a gravitarcrash blaze apostastorno na ciência contemporânea, ainda é informação", completa.
No entanto, muitos geomitos podem estar com os dias contados, e o conhecimento local que eles contêm corre o riscocrash blaze apostasser degradado e perdido.
"Nas ilhas do Pacífico, os idosos estão sempre reclamando comigo que os jovens ficam o tempo todo no telefone e que realmente não querem ouvir as histórias dos avós", conta o geólogo Patrick Nunn, professorcrash blaze apostasGeografia da Universidadecrash blaze apostasSunshine Coast, na Austrália, e autor do livro Worlds in Shadow: Submerged Lands in Science, Memory and Myth.
"Mas acho que no mundo todo, à medida que as sociedades orais [em que as histórias e as tradições são passadascrash blaze apostaspessoa a pessoa nas conversas e eventos sociais] estão se tornando amplamente letradas, o conhecimento que era mantido oralmente está desaparecendo, mas é esse conhecimento indígena que vai ajudá-los a lidar com o aumento do nível do mar."
Nunn é um dos principais geomitólogos do mundo.
Geólogo por formação, ele costuma ser encontradocrash blaze apostasbermuda e camiseta,crash blaze apostasum pequeno barco navegando entre as ilhas do Oceano Pacífico, com um gravador na mão.
A pesquisa dele se concentroucrash blaze apostasalgumas histórias sobre ilhas desaparecidas, como Teonimenu, que podem ser ouvidascrash blaze apostastodas as ilhas espalhadas pelo Pacífico.
Para seu projetocrash blaze apostaspesquisa mais recente, Nunn não precisou molhar os pés. Ele tem analisado histórias milenares da Austrália e do noroeste da Europa sobre como os povos antigos entenderam e responderam às diferentes experiênciascrash blaze apostasaumento do nível do mar pós-glacial.
Ao longo da costa australiana, o nível do mar paroucrash blaze apostassubir significativamente há cercacrash blaze apostas6 mil anos, ao passo que continuou a subir no noroeste da Europa até os dias atuais.
Em quase todos os 23 gruposcrash blaze apostashistórias aborígenes australianas que Nunn estudou, a memória das mudanças na paisagem e no modocrash blaze apostasvida causadas pelo aumento do nível do mar pós-glacial parece ter sido preservada desde 7 mil anos atrás.
Em dois grupos particulares,crash blaze apostasresistência parece evidente.
Uma dessas histórias, contada pelo povo aborígene Gungganyji nos arredorescrash blaze apostasCairns, na costacrash blaze apostasQueensland, pode ser ouvidacrash blaze apostasdiferentes versões no nordeste da Austrália.

Crédito, Jorge Fernández/LightRocket/Getty Images
Nesta história, o mau comportamentocrash blaze apostasum homem chamado Goonyah fez com que o mar inundasse a terra, e ele então organizou o povo para impedir isso.
Em outra, ele levou o povo até uma montanha para escapar da água, onde trabalharam juntos para rolar pedras aquecidas no mar. Ao fazer isso, conseguiram conter seu avanço.
No noroeste da Europa, as histórias que Nunn e seus colaboradores estudaram são obviamente bem diferentes.
São pelo menos 15 histórias focadas no destinocrash blaze apostascidades submersas, cada uma com um nome diferente, e estão concentradas ao longo da costa da Bretanha, das Ilhas do Canal da Mancha, da Cornualha e do Paíscrash blaze apostasGales — áreas onde, diz Nunn, a "continuidade cultural" pode ter sido maior nos últimos milharescrash blaze apostasanos.
Em duas histórias, as elaboradas barreirascrash blaze apostascontenção da cidade sugerem que os habitantes haviam lutado uma batalha perdida contra o mar por gerações.
Na Bretanha, a história é sobre a cidadecrash blaze apostasYs, governada pelo rei Gradlon, que era protegida por uma série complexacrash blaze apostasbarreiras marítimas que exigiam a aberturacrash blaze apostasportões na maré baixa para permitir que o excessocrash blaze apostaságua escoasse da terra.
Um dia, a filha do rei, Dahut, possuída por um demônio, abriu esses portões na maré alta, permitindo que o oceano inundasse a cidade, que acabou sendo abandonada.
No oeste do Paíscrash blaze apostasGales, uma história semelhante é contada sobre o destino da cidadecrash blaze apostasCantre'r Gwaelod, na Baíacrash blaze apostasCardigan.
O trabalhocrash blaze apostasdetetive não para por aí. Nunn foi capazcrash blaze apostasreconstruir as linhas costeiras mencionadas nas histórias e, a partir do conhecimento das mudanças anteriores no nível do mar, estabeleceu uma idade mínimacrash blaze apostas6 mil a 8 mil anos para essas histórias.
"Uma coisa que podemos aprender com essas histórias antigas é que o aumento do nível do mar não pode ser interrompido com muita facilidade por barreirascrash blaze apostascontenção, como quebra-mares", diz Nunn.
"A única soluçãocrash blaze apostaslongo prazo são as soluções transformadoras, que realmente envolvem as pessoas saírem da zonacrash blaze apostasperigo."

Crédito, Sevrette J/UIG/Getty Images
"A outra coisa que acho que podemos aprender é que os tipos mais eficazescrash blaze apostasadaptações para esses tiposcrash blaze apostaspressões ambientais são locais. Isso é algo que a ciência realmente só descobriu nos últimos cinco anos, mas, se você voltar 7 mil anos, você pode ver que as pessoas agiram localmente e acreditaram nacrash blaze apostaseficácia, e conduziram isso por conta própria. Não esperaram por instruçõescrash blaze apostasoutros lugares."
Apesar do crescimento da geomitologia, ela ainda é vista como "excêntrica" por alguns acadêmicos.
"Provavelmente ainda tem um caráter indigesto para partecrash blaze apostascientistas e historiadores!", diz Mayor.
"Mas as histórias geomitológicas são expressascrash blaze apostasmetáforas poéticas e imagens míticas ou sobrenaturais, e as descriçõescrash blaze apostaseventos catastróficos e fenômenos naturais podem ser distorcidas ao longocrash blaze apostasmilênios e, por causa disso, os cientistas e historiadores tendem a não perceber o fundocrash blaze apostasverdade e os conceitos racionais embutidoscrash blaze apostassuas narrativas."
Nunn expõe esse argumentocrash blaze apostasmaneira mais contundente.
"Sou um geólogo com formação convencional e posso dizer que muitos outros geocientistas com formação convencional realmente não gostam desse tipocrash blaze apostascoisa. Muitos têm curiosidade, mascrash blaze apostasgeral, é algo considerado tão radical que as pessoas realmente não querem pensar a respeito."
"Pessoas letradas também são intrinsecamente céticas sobre o poder das tradições oraiscrash blaze apostastransmitir as coisas por meiocrash blaze apostascentenascrash blaze apostasgerações."
E, nesse contexto, aparecem ainda outras questões.
O fatocrash blaze apostasacadêmicos pegarem históriascrash blaze apostaspovos indígenas e publicarem pesquisas sobre as mesmas pode facilmente levar a acusaçõescrash blaze apostasapropriação cultural caso não sigam boas práticas simples, como pedir permissão primeiro.
A geomitologia enfrentou uma longa caminhada para ser considerada pelo meio científico, e esta jornada está longecrash blaze apostasterminar.
Um ano depoiscrash blaze apostasDorothy Vitaliano usar o termo pela primeira vez, ela escreveu no Journal of the Folklore Institute que a geomitologia é a "aplicação geológica do evemerismo", e que os geomitólogos poderiam "ajudar a converter a mitologiacrash blaze apostasvolta à história", e cinco anos depois ela publicou seu pioneiro livro Legends of the Earth (1973). Infelizmente, ele agora está esgotado.
Foram necessárias três décadascrash blaze apostasinteresse crescente sobre a área até o 32º Congresso Geológico Internacional realizarcrash blaze apostasprimeira sessão sobre geomitologiacrash blaze apostas2004, na qual Vitaliano, já idosa, fez uma palestra para "250 pessoascrash blaze apostasuma sala reservada para cercacrash blaze apostas100 pessoas" .

Crédito, R M Nunes/Getty Images
A geóloga morreu quatro anos depois, após ver a primeira coleçãocrash blaze apostasartigos revisados por pares sobre o assunto, Mito e Geografia, lançadacrash blaze apostas2007.
"Foi preciso muita coragem para ela publicar seu livro na décadacrash blaze apostas1970, e ela foi mantida à distância por vários geólogos por muito, muito tempo", diz Nunn, que falou após Vitaliano naquele evento.
"Foi a sessãocrash blaze apostas2004 no Congresso Internacionalcrash blaze apostasGeologia que realmente ajudou a validar a geomitologia na cabeçacrash blaze apostasmuitos cientistas."
O campo fundado por Vitaliano começou a evoluir.
Pode ter levado 20 anos para Mayor pesquisar e escrever The First Fossil Hunters (2000), mas o livro que ela lançou criou o conceitocrash blaze apostas"mitos fósseis" porque foi o primeiro estudo sistemáticocrash blaze apostasevidências para a antiga descobertacrash blaze apostasfósseis.
Mayor é conhecida por ter feito a conexão entre as descrições gregas e romanas do lendário grifo, que ela achou que pareciam relatoscrash blaze apostastestemunhas oculares, e os incríveis fósseiscrash blaze apostasdinossauros que podem ser encontrados na superfície do desertocrash blaze apostasGobi, perto da Rota da Seda, usada para conectar comercialmente a Europa e a China.
Sua pesquisa mais recente inclui trabalhar com o paleontólogo Lida Xing, na China, para descobrir como as tradições orais chinesas sobre criaturas míticas explicam os rastroscrash blaze apostasdinossauros locais.
Em maiocrash blaze apostas2021, o livro Geomythology: How Common Stories are Related to Earth Events, de Timothy Burbery, chegará às livrarias para se tornar o primeiro livro didáticocrash blaze apostasgeomitologia.
"Mayor colocou a geomitologiacrash blaze apostasoutro patamar, não olhando apenas para eventos geológicos, mas também para os paleontológicos", diz Burbery, professorcrash blaze apostasinglês na Universidade Marshall, nos EUA.
"E realmente tendo noçãocrash blaze apostasquão traumático teria sido para os povos antigos encontrarem os ossoscrash blaze apostasalgum animal enorme e estranho", completa.

Crédito, Culture Club/Getty Images
No fim das contas, a geomitologia desafia nossa maneiracrash blaze apostaspensar sobre nosso passado e nosso futuro.
"A geomitologia desafia a crençacrash blaze apostasque todos os mitos e lendas são apenas ficção e fantasia", afirma Mayor.
"Geomitos são tesouroscrash blaze apostasinformações e detalhes para as ciências físicas que,crash blaze apostasoutra forma, seriam perdidos."
Segundo ela, novos geomitos podem até ser criados para as futuras gerações analisarem.
"Imagino que o aquecimento global, as mudanças climáticas e a elevação do nível do mar podem inspirar novos geomitos", diz.
"A lição mais importante é que vamos sobreviver", acrescenta Nunn.
"Isso não significa que não teremos que nos adaptar,crash blaze apostasmuitos casoscrash blaze apostasforma radical, para acomodar os efeitos da mudança climática. Mas significa que iremos sobreviver a ela".
crash blaze apostas Leia a versão original crash blaze apostas desta reportagem (em inglês) no site BBC Future crash blaze apostas .

crash blaze apostas Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube crash blaze apostas ? Inscreva-se no nosso canal!
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimoscrash blaze apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticacrash blaze apostasusocrash blaze apostascookies e os termoscrash blaze apostasprivacidade do Google YouTube antescrash blaze apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliquecrash blaze apostas"aceitar e continuar".
Finalcrash blaze apostasYouTube post, 1
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimoscrash blaze apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticacrash blaze apostasusocrash blaze apostascookies e os termoscrash blaze apostasprivacidade do Google YouTube antescrash blaze apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliquecrash blaze apostas"aceitar e continuar".
Finalcrash blaze apostasYouTube post, 2
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimoscrash blaze apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticacrash blaze apostasusocrash blaze apostascookies e os termoscrash blaze apostasprivacidade do Google YouTube antescrash blaze apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliquecrash blaze apostas"aceitar e continuar".
Finalcrash blaze apostasYouTube post, 3








