O estranho caso da mulher que passou a ouvir 'vozes divinas' e se automutilou por causaglassdoor estrelabettumor no cérebro:glassdoor estrelabet

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Os médicos decidiram, então, realizar uma tomografia do cérebro da paciente e fizeram uma descoberta surpreendente. Sarah tinha um tumorglassdoor estrelabetuma área importante do órgão, que acabou por afetar uma rede neurológica que atua no processamento do som.
Mais comum do que se imagina
Embora a maioriaglassdoor estrelabetnós consiga distinguir claramente sons externos e pensamentos internos, muitas pessoas ouvem vozes - com estimativas variandoglassdoor estrelabet5% até 19% da populaçãoglassdoor estrelabetgeral. Algumas são benignas. Mas outras, quando combinadas com problemasglassdoor estrelabetsaúde mental, podem ser angustiantes. Esse era o tipoglassdoor estrelabetvoz que Sarah ouvia.
As alucinações auditivas, como as que ela experimentou, mostram a fragilidade com que nosso cérebro processa a entrada do som. O caso é um exemploglassdoor estrelabetcomo nossos processos perceptivos funcionam e podem ser facilmente embaralhados.
O primeiro passo para resolver o mistério do comportamentoglassdoor estrelabetSarah consistiuglassdoor estrelabetum mergulhoglassdoor estrelabetseu passado, para investigar por quanto tempo ela havia experimentado sintomas parecidos aos que relatava.
Seu interesse pela religião não havia surgido do nada: Sarah tinha mostrado indíciosglassdoor estrelabetfundamentalismo religioso desde os 13 anosglassdoor estrelabetidade. Tais pensamentos retornariam ao longoglassdoor estrelabetsua vida, mas nunca foram muito duradouros.

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Inicialmente, pensava-se que Sarah era esquizofrênica. Mas suas alucinações auditivas não apresentam os sintomas clássicos. Ela não se isolavaglassdoor estrelabetcontextos sociais ou sofriaglassdoor estrelabetdepressão. "Isso não se aplicava a ela; seu caso era especial", explica Walther.
Quando a tomofrafia revelou o tumorglassdoor estrelabetSarah, Walther percebeu queglassdoor estrelabetredeglassdoor estrelabetneurônios foi "prejudicada"glassdoor estrelabetuma área muito importante, afetando a maneira como ela interpretava sons.
Tumorglassdoor estrelabetavanço lento
O especialista diz acreditar que o tumor possa ter surgido durante a adolescência, período no qual, coincidentemente, teve início o interesse religiosoglassdoor estrelabetSarah.
Ao estudar o histórico médico e os sintomas da paciente, Walther observou que ela tinha tido apenas quatro "períodosglassdoor estrelabetsintomas" e que eles eram sempre os mesmos: Sarah ouvia vozes divinas, se sentia extremamente religiosa e se integrava a grupos religiosos. Mas esse interesse desaparecia logo após surgir, e ela não sentia mais nada durante anos até o ciclo começar novamente.
Associando esses sintomas à localização do tumor, o psiquiatra e seus colegas afirmam ser mais provável que as alucinações delirantesglassdoor estrelabetSarah sejam resultado direto dele, embora os sinais tenham aparecidoglassdoor estrelabetrepente várias vezes ao longoglassdoor estrelabetsua vida.
A explicação para isso, acreditam os especialistas, églassdoor estrelabetque o tumor parece ser do tipoglassdoor estrelabetcrescimento lento, aumentando gradualmente durante um longo períodoglassdoor estrelabettempo.
Eles acrescentam ainda que a periodicidade com que os sintomas apareciam se deve ao fatoglassdoor estrelabetque o cérebro talvez tenha se adaptado ao estresse causado pelo tumor.
"Portanto, pensamos ser muito provável que o tumor tenha afetado periodicamente a rede, durante várias semanas ou meses, período no qual a paciente experimentou tais sintomas", diz Walther.

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Além disso, o tumor era benigno e não cresciaglassdoor estrelabetforma invasiva ou foraglassdoor estrelabetcontrole, como ocorre com os malignos.
Uma segunda tomografia cerebral revelou que o tumor havia se estabilizado, mas, devido àglassdoor estrelabetlocalização, nem cirurgia nem radiação eram possíveis.
Cérebro e espiritualidade
A surpreendente conclusãoglassdoor estrelabetWalther, publicada na revista científica Frontiers of Psychiatry ("Fronteiras da Psiquiatria"), se baseou no argumentoglassdoor estrelabetque o tumorglassdoor estrelabetSarah invadiu áreas importantes para o som, enquanto lesõesglassdoor estrelabetáreas próximas aumentaram os sentimentosglassdoor estrelabet"autotranscendência" semelhantes àqueles experimentados por Sarah.
Seu interesseglassdoor estrelabetreligião claramente teve um papel central no que suas vozes lhe diziam para fazer. Atipicamente, contudo, esse interesseglassdoor estrelabetsi também pode ter sido resultado do tumor. Isso porque ele infiltrou o córtex auditivo no caminho ao lobo temporal - uma área do cérebro que, quando afetada, está associada ao aumento dos níveisglassdoor estrelabetinteresse espiritual nos pacientes com epilepsia do lobo temporal.
O tumor no cérebroglassdoor estrelabetSarah também afetou outras áreas cerebrais ligadas à "forte espiritualidade".

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Evidentemente, como se trataglassdoor estrelabetum caso raro, é difícil determinar se o tumor foi a causa da religiosidade da paciente.
Por outro lado, os pesquisadores destacam que estudos já mostraram que estimular magneticamente áreas próximas no cérebro também afeta a religiosidade e a espiritualidade.
Apesarglassdoor estrelabetatípicos, existem casos similares na literatura médica, embora nenhum idêntico aoglassdoor estrelabetSarah.
Em um deles, uma mulher experimentou "hiper-religiosidade" como resultadoglassdoor estrelabetum tumor cerebral fatal. Até então, a paciente,glassdoor estrelabet60 anos, nunca havia mostrado interesseglassdoor estrelabetreligião e ouvido vozes.
Alberto Carmona-Bayonas, que estudou o caso no Hospital Universitário Geralglassdoor estrelabetMeseguer, na Espanha, explica que o tumor estava localizado no lobo temporal direito da paciente. Segundo ele, "há diversos exemplos na literatura médica sobre esse fenômeno, especialmenteglassdoor estrelabetepilépticos."
Contudo, Carmona-Bayonas enfatiza a diferença entre casos patológicos como esses e "crenças e sentimentosglassdoor estrelabetpessoas normais".
Sarah e a paciente cujo caso ele estudou mostram algo já amplamente conhecido pelos médicos: oglassdoor estrelabetque as personalidadesglassdoor estrelabetpessoas com tumores cerebrais podem mudar, às vezes para melhor. A intensidade dessa mudança vai depender, contudo, do tamanho da área do cérebro tomada pelo tumor.
O casoglassdoor estrelabetSarah também se destaca por outro motivo, oglassdoor estrelabetque seu tumor cresceu muito devagar e ela experimentou sintomas repetidas vezes. Como ele mudou ao longo do tempo, seu interesseglassdoor estrelabetreligião também cresceu e diminuiu.
Além disso, quando uma parte particularglassdoor estrelabetseu cérebro (o tálamo) foi afetada, Sarah ouviu vozes. Embora os remédios reduzissem essas alucinações, uma vez suprimidos, ela passou a ouvi-las novamente.
Para entender como seu tumor causou tais sintomas, precisamos entender como processamos o som.
'Voz interna'
A neurocientista Kristiina Kompus, da Universidadeglassdoor estrelabetBergen, na Noruega, vem tentando resolver o mistério sobre por que algumas pessoas ouvem uma "voz interna" que consideram verdadeira.
Uma das razões pelas quais as alucinações auditivas soam tão reais se deve ao fatoglassdoor estrelabetque elas envolvem o mesmo "caminho" cerebral pelo qual vozes reais e imaginárias são processadas.
"Então, todas as áreas do cérebro relacionadas ao processamento da fala e da audição parecem estar intimamente envolvidas na produção dessas alucinações", diz Kompus.
As alucinações, portanto, nos revelam a forma como nossa percepção funciona. O tálamo - área do cérebroglassdoor estrelabetSarah prejudicada pelo tumor - desempenha um papel inicial e fundamental no processamento do som que ouvimos antes dele ser enviado a outras áreas do cérebro para ser interpretado.

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A informação sensorial que vemos e ouvimosglassdoor estrelabettornoglassdoor estrelabetnós entra primeiro no tálamo - pense nisso como uma estação retransmissora que encaminha o que vemos e ouvimos ao córtex necessário para a triagem.
Essa área tem, então, que trabalhar intensamente para transformar tudo issoglassdoor estrelabetinformações que façam sentido.
Ou seja, "baseando-seglassdoor estrelabetinformações muito escassas que entram pelo nervo auditivo", explica Kompus.
Sempre que a informação apresenta algum tipoglassdoor estrelabetruído, ou ela não é confiável e não parece estar correta, o cérebro "tem que confiar na adivinhação".
O casoglassdoor estrelabetSarah mostra que a informação sensorial que recebemos do exterior responde por apenas uma pequena parcela do que interpretamosglassdoor estrelabetúltima análise. Em vez disso, muitas vezes dependemosglassdoor estrelabetexpectativas e previsões. Se o nosso tálamo não estiver funcionando como deveria, ora por estar comprometido ora por ser mais fino (como é frequentemente o casoglassdoor estrelabetindivíduos com esquizofrenia), não causa surpresa que o resto do processamento auditivo seja afetado.
O conteúdo religioso das vozes que Sarah ouvia poderia ser resultadoglassdoor estrelabetseu interesse anteriorglassdoor estrelabetreligião, uma vez que pessoas que ouvem vozes costumam, muitas vezes, escutar seu próprio "discurso interno"glassdoor estrelabetvoz alta.
"Muitas vezes as alucinações estão ligadas a assuntos que são importantes para um indivíduoglassdoor estrelabetparticular", diz Kompus.
Ouvir vozes, explica Kompus, nem sempre é uma consequênciaglassdoor estrelabetum problemaglassdoor estrelabetsaúde mental, mas vozes negativas podem naturalmente fazer com que um indivíduo se sinta pior.
"Se" alguém "constantemente lhe diz" que você é inútil, estúpido e deve se matar, "não églassdoor estrelabetse admirar que os níveisglassdoor estrelabetdepressão e ansiedade piorem".
Ainda que Sarah mantenhaglassdoor estrelabetfé, as vozes angustiantes que ouve já não a incomodam. Ela aprendeu a conviver com seu tumor, tem um trabalho estável e agora sabe que, se as vozes retornarem, pode buscar ajuda.
- glassdoor estrelabet Leia a versão original desta reportagem (em inglês glassdoor estrelabet ) no site BBC Future








