'Fiz laqueadura aos 25 anos e realizei um sonho':ggbet cassino

"Eu sempre ouvia que tinha que ter dois filhos para poder fazer. Mas não faz sentido. E quem não quer ter filho nenhum?", diz ela, hoje com 26 anos.

Quando tinha 25 anos, Karoline resolveu checar por si mesma quais eram,ggbet cassinofato, os requisitos legais para o procedimento.

E descobriu que 25 anos é justamente a idade mínima exigida pela legislação para mulheres que quiserem fazer a cirurgiaggbet cassinoesterilização — e que mulheres mais jovens também podem fazer o pedido se tiverem pelo menos dois filhos.

ggbet cassino (Em 2022, após a publicação desta reportagem, a idade mínima caiu para 21 anos)

"Eu até levei a lei impressa na médica caso algum dos médicos fosse mal informado", diz ela, que ficou positivamente surpreendida ao perceber que não teria resistência.

"Era a primeira vez que eu ia nessa médica, do planoggbet cassinosaúde que tenho no trabalho. Demora, mas nenhum dos médicos que eu passei falou que eu não poderia fazer por causa da minha idade ou por não ter filhos", diz Karoline. "Foi um alívio. Eu achei sinceramente que seria mais difícil."

Depoisggbet cassinofazer a cirurgia, a jovem compartilhou seu relato no Facebook. O post teve 20 mil curtidas e maisggbet cassino16 mil comentários — boa parte dos quais fazendo perguntas sobre o caminho para o procedimento ou querendo tirar dúvidas sobre como é passar por ele.

"Eu quis compartilhar minha história para que outras mulheres com o mesmo desejo saibam que é possível, para que elas não desanimem", diz a jovem. "A gente tem que correr atrás dos nossos direitos."

"Teve alguns comentários criticando, mas, para ser sincera, depoisggbet cassinoum tempo eu pareiggbet cassinoacompanhar, estou só respondendo quem me mandou dúvidas por mensagem."

Quais as exigências para fazer laqueadura?

A Leiggbet cassinoPlanejamento Familiar,ggbet cassino1996, estabelecia que a esterilização só é permitidaggbet cassinopessoas capazes, maioresggbet cassino25 anos, ou, se forem mais jovens, que tenham pelo menos dois filhos vivos.

(Em 2022, após a publicação desta reportagem, uma nova lei entrouggbet cassinovigor alterando para 21 anos a idade mínima para o procedimento e explicitando que não é necessária a aprovação do cônjuge para fazê-lo)

"Como é um ato definitivo, praticamente sem volta, existe uma cautela na lei para evitar a realizaçãoggbet cassinomulheres muito jovens", explica a advogada Renata Farah, presidente da Comissãoggbet cassinoDireito à Saúde da OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil). "Mas a maioria das dificuldades que as pessoas encontram não são entraves legais, mas da cultura do hospital, do Estado, etc", afirma.

A partir dessa idade, as únicas exigências são quanto aos procedimentos que precisam ser seguidos: é preciso um intervalo mínimoggbet cassino60 dias entre a pessoa manifestar a vontade ao médico pela primeira vez (por escrito) e o procedimento, e a pessoa precisa ser informada dos riscos da cirurgia, dos possíveis efeitos colaterais, da dificuldadeggbet cassinorevertê-la e das outras opçõesggbet cassinocontracepção existentes.

"A médica conversou comigo, perguntou se eu tinha certeza, disse que é um método muito radical e a reversão é difícil, eles explicam tudo", conta Karoline. "Ela explicou que, mesmo com a cirurgia, ainda há chanceggbet cassinofalha, já que nenhum método é 100% seguro."

"Mas como eu tinha muita certeza ela me encaminhou para a cirurgia", diz Karoline, que também precisou se submeter aos vários exames pré-cirúrgicosggbet cassinopraxe e passou por um atendimento psicológico nesses dois meses. "O que eu digo para quem me pergunta é que é preciso ter muita certeza, porque a psicóloga vai te questionar muito."

Como mora com namorado, a auxiliar administrativa teve a opçãoggbet cassinopedir o procedimento como solteira ou como parteggbet cassinouma união estável. "Acabei fazendo como pessoaggbet cassinounião estável porque achei que seria mais fácilggbet cassinoser aprovado", diz ela.

"Durante o procedimento, ficaram me perguntando qual a opinião do meu namorado, o que ele acha. Ele também não quer ter filhos, mas esse não é o ponto, é uma decisão que é minha."

Em casosggbet cassinohomens e mulheres casados ou com união estável, a lei exige que se apresente também a autorização do cônjuge para a realização da cirurgia.

"Eu acho super errado, porque o corpo é meu, a decisão é minha, mas como queria evitar ter problemas e tinha essa opção, acabei levando a autorização do meu namorado", diz ela.

Após o encaminhamento da ginecologista, da psicóloga e do cirurgião, o planoggbet cassinosaúde aprovou o procedimento. Após todas as burocracias, Karoline foi levada pelo pai e pelo namorado ao hospital, onde ficou um dia internada para a cirurgia.

"Meus pais sempre aceitaramggbet cassinoboa que eu não quero ter filhos, é algo que eles sempre souberam e sempre me deram muito apoio", conta. "É genteggbet cassinofora [da família] que diz, 'ah, mas você vai se arrepender, vai mudarggbet cassinoideia'. Pessoas que acham que a verdade delas é a verdadeggbet cassinotodo mundo."

"Eu tenho amigas que têm filhos e não queriam ter, é uma situação muito difícil", diz.

"O corpo é meu, a vida é minha, eu sempre tive certeza. Não acho que vou me arrepender", afirma ela, que diz que realizar o procedimento foi a "realizaçãoggbet cassinoum sonho".

A laqueadura é uma cirurgia um pouco mais complicada que a vasectomia, procedimentoggbet cassinoesterilização feitoggbet cassinohomens. É caracterizada pelo corte e ligamento cirúrgico das tubas uterinas, impedindo o processoggbet cassinofecundação.

Mas Karoline não teve problemas na recuperação.

"No dia, eu não podia levantar e tive um poucoggbet cassinodor, mas passou com os remédios", diz a jovem, que continuou tomando remédios e anti-inflamatórios nos dias seguintes. "Também tive que limpar os pontos três vezes ao dia, mas foi só. Saí andando do hospital."

Teoria e Prática

Karoline fez o procedimento pelo planoggbet cassinosaúde — os planos são obrigados por determinação da Agência Nacionalggbet cassinoSaúde a oferecer laqueadura, vasectomia e implantação do DIU desde 2008, quando foram incluídos na listaggbet cassinocobertura mínima obrigatória.

Mas nem todo mundo tem a mesma facilidade que ela, com relatosggbet cassinopessoas que tiveram o procedimento negado por motivos não relacionados a questões médicas ou legais, como "questões religiosas". Uma resolução da ANS determina que mesmo que não haja médico ou hospital no plano que esteja disponível para realizar o procedimento, a operadora do plano é obrigada a indicar um "profissional ou estabelecimento mesmo fora da rede conveniada do plano e custear o atendimento".

O Estado também tem, por lei, o deverggbet cassinooferecer o procedimentoggbet cassinoesterilização através do Sistema Únicoggbet cassinoSaúde — o SUS realizou maisggbet cassino67 mil laqueadurasggbet cassino2018 e um número parecidoggbet cassino2017.

Pelas regras do Ministério da Saúde, a cirurgia pode ser feitaggbet cassinograçaggbet cassinoqualquer hospital público que tenha serviçoggbet cassinoobstetrícia e ginecologia. Em 2017, foram realizadas 67.525 laqueaduras, e,ggbet cassino2018, 67.056 procedimentos.

No entanto, são frequentes os relatosggbet cassinopacientes que tiveram muita dificuldadeggbet cassinoconseguir fazer a cirurgia e diversos que não conseguiram.

Um estudo publicado neste ano pela pesquisadora Amanda Muniz Oliveira, da Universidade Federalggbet cassinoSanta Catarina, mostra que, embora o procedimento seja garantido por lei, há frequentes recusas na realização da cirurgia no Estado, o que "gerou judicializaçãoggbet cassinodiversos pedidos". A pesquisa mostra que decisões judiciais sobre o assuntoggbet cassinoSanta Catarina ora ignoram e ora salientam os requisitos da lei.

Segundo o estudo, frequentemente, quando o procedimento é garantido pela Justiça, não é "sob o fundamentoggbet cassinoque se trata da vontade da mulher, e, sim, porque a mulher é hipossuficiente financeiramente", diz Oliveira, na pesquisa.

"Os Estados, municípios e hospitais podem ter procedimentos locais diferentes, mas não podem restringir direitos que são garantidos pela legislação nacional", afirma a advogada Renata Farah.

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