Campanha #PrimeiroAssédio expõe tabugames sportingbetviolência sexual contra meninos:games sportingbet
- Renata Mendonça - @renata_mendonca
- Da BBC Brasilgames sportingbetSão Paulo

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Abuso sexualgames sportingbetmeninos ainda é tabu;games sportingbet2014, 13 meninos foram abusados por dia no Brasil, segundo Disque Denúncia
games sportingbet Rafael estava brincando no fliperama com um primo quando sentiu um homem estranho se aproximar demais. O menino ficou incomodado – o desconhecido estava com o pênis ereto e o esfregou nele. Rafael empurrou o primo para o lado e saiu – tinha 10 anos.
Marcelo* costumava ficar sob supervisão da vizinha quando a mãe não tinha com quem deixá-lo. Ele tinha 11 anos, mas ela insistiagames sportingbetlhe dar banhos que duravam mais do que o normal. O menino achava esquisito.
João Vitor* sempre brincavagames sportingbet"lutinha" com o pai. Depoisgames sportingbetum tempo, porém, começou a perceber que a brincadeira tinha alguns toques por baixo do shorts que ele não gostava.
Depoisgames sportingbetmuito tempo sendo abusado e ameaçado pelo vizinho da família, Daniel* teve problemasgames sportingbetsaúde e precisou recorrer à mãe. Ele foi para o hospital e, aos 12 anos, se descobriu com uma DST (doença sexualmente transmissível).
A BBC Brasil decidiu abordar o tema do assédio e violência sexual contra meninos após pedidogames sportingbetleitoresgames sportingbetmídias sociais. "Vamos falar também das vítimas masculinas?", pediu um internauta no Facebookgames sportingbetdiscussões sobre a repercussão da campanha criada sob a hastag #primeiroassédio.
Em meio aos milharesgames sportingbetdepoimentosgames sportingbetmulheres,games sportingbetnúmero bem menor, homens também revelaram episódiosgames sportingbetassédio e violência sofridos no passado como os reunidos pela reportagem da BBC Brasil. Em outros casos, mulheres revelaram a violência sofrida por homens próximos. "Namorei um cara que tinha sido abusado sexualmente quando criança e vi o quanto isso tinha transformado ele", disse.
Proporção semelhante se encontra nos dados oficiais, que mostram um número bem inferiorgames sportingbetvítimas masculinas. Mas essa é apenas uma das razões pelas quais o tema ganha menos espaço.
Cultura machista
Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, há uma tendência a se subestimar o problema da violência sexual contra meninos pelo fatogames sportingbeto tema ser visto como um grande tabu na sociedade.

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Especialistas ressaltam a importânciagames sportingbetcampanhas para quebrar o tabu sobre o abuso sexualgames sportingbetmeninos e meninas
"É algo que precisa realmente ser mais investigado. Nas pesquisas sobre o abuso sexualgames sportingbetmeninos, eles notam que esses casos são mais subnotificados ainda do que ogames sportingbetmeninas", disse à BBC Brasil Flávio Debique, gerente técnicogames sportingbetproteção infantil da ONG Plan International Brasil, que lida com direitos das crianças.
"A dificuldadegames sportingbetfalar sobre esse tema tem a ver com nossa cultura machista e patriarcalgames sportingbetconsiderar que isso para os meninos significaria a 'perda'games sportingbetsua condiçãogames sportingbethomem."
Um estudo feito nos Estados Unidos revelou recentemente que umgames sportingbetcada seis homens sofreu algum tipogames sportingbetabuso antes dos 16 anos no país. No Brasil, há poucos dados sobre o assunto; mas o Disque Denúncia (o Disque 100, serviço nacionalgames sportingbetdenúnciagames sportingbetabuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes) registrougames sportingbet2014 uma média diáriagames sportingbet13 denúnciasgames sportingbetabusosgames sportingbetmeninos.
O número ainda representa menosgames sportingbet30% dos casos com meninas, masgames sportingbetacordo com especialistas, também é alarmante.
"O númerogames sportingbetmeninos abusados é bastante subnotificado, e isso se deve à nossa cultura. O casogames sportingbetmeninos assediados não vem à tona por conta do constrangimentogames sportingbetassumir que eles passaram por isso", disse à BBC Irene Pires Antonio, psicóloga judiciária da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunalgames sportingbetJustiça do Estadogames sportingbetSão Paulo.
Desde 2012, ela atende meninos e meninas que passaram por experiênciasgames sportingbetabuso sexual. "Tanto os meninos quanto as meninas têm bastante dificuldadegames sportingbetfalar sobre isso. Mas os meninos chegam aqui muito mais constrangidos, apreensivos. Vivemosgames sportingbetuma cultura que 'homem não chora' e 'sabe se defender sozinho'. Admitir uma fraqueza é difícil."
Denúncias
Em 2014, foram 22.450 denúncias feitasgames sportingbetabuso sexualgames sportingbetcrianças e adolescentes – uma médiagames sportingbet61,5 por dia. Dessas, 17.630 foramgames sportingbetabusos envolvendo meninas e 4.820, envolvendo meninos.
Fazer a denúncia já é, segundo especialistas, uma experiência traumática para criançasgames sportingbetambos os sexos. Mas no caso dos meninos, o processo é ainda mais complexo. Enquanto meninas que sofrem crimes sexuais recorrem à Delegacia da Mulher (delegacia especializada para tratar casosgames sportingbetviolência contra a mulher), os meninos precisam ir a delegacias comuns para relatar os casosgames sportingbetabuso.

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Dos 71 casosgames sportingbetabuso infantil que chegaram ao Tribunalgames sportingbetJustiça do Estadogames sportingbetSão Paulo desde 2012, 73% eramgames sportingbetmeninas e 27% eramgames sportingbetmeninos; entre os abusadores, 97% eram pessoas conhecidas, 0,4% eram mulheres
"O mesmo delegado que está ali ouvindo o casogames sportingbetroubo,games sportingbetassassinato, é o que vai ouvir o casogames sportingbetabuso do menino", explicou Pires.
Em algumas cidades, existem Ambulatóriosgames sportingbetAtendimento para Violência Sexual Contra a Mulher, mas quando a vítima é um menino, não há local específico para que ele possa fazer esse atendimento.
"Não existe Ambulatóriogames sportingbetViolência Sexual, existe um Ambulatóriogames sportingbetViolência Sexual contra a Mulher. Lá, são apenas ginecologistas atendendo. São macas ginecológicas. O lugar não é preparado para receber meninos. Ele vai entrargames sportingbetum ambiente exclusivamente feminino", afirma.
"É muito possível que os meninos tenham mais dificuldade pra enfrentar isso porque a própria sociedade não está pronta para receber os casos."
Alguns Estados implementaram um esquema para reduzir o constrangimento da criança ao denunciar uma situaçãogames sportingbetabuso ou violência sexual.
Antes disso, o procedimento padrão no tratamentogames sportingbetcasosgames sportingbetabuso infantil previa que a criança ou adolescente tivessegames sportingbetrepetir várias vezesgames sportingbethistória, passando pelo delegado, pelo IML (Instituto Médico Legal, onde se faz o examegames sportingbetcorpogames sportingbetdelito para detectar as provas do abuso), pelo juiz, etc.
Mas o "Depoimento Especial" mudou isso, segundo a psicóloga. "Antes, a criança tinha que falar sobre o abuso na frente do juiz, sozinha. Hoje, nesse método, ela precisa contar o que sofreu apenas duas vezes, e o depoimento é feito para a psicóloga, com o juiz assistindo fora da sala. O que melhorou bastante, porque antes era um constrangimento muito grande", diz ela.
"Nós fazemos um atendimento psicológico com essa criança e com a família dela, procuramos descobrirgames sportingbetonde veio o abuso, qual é a situação atual e tratar esse problema."
Preconceito
Na raiz da dificuldadegames sportingbetum menino para relatar casosgames sportingbetque sofreram assédio ou abuso está o temor do preconceito que pode surgir quanto agames sportingbetorientação sexual, segundo os especialistas.
"A pior condenação que um menino pode ter na sociedade machistagames sportingbetque vivemos é ser gay", explica Flávio Debique. "Aqui o homem precisa ser 'macho'. Então se ele for abusado por uma mulher e reclamar disso, será tachadogames sportingbetgay, e se for abusado por um homem e denunciar, também pode ser considerado gay."

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Casosgames sportingbetabusogames sportingbetmeninos acontecemgames sportingbettimesgames sportingbetfutebol, por exemplo; segundo psicóloga, são ocorrênciasgames sportingbetque o menino acaba 'seduzido' quando se encontragames sportingbetuma situação vulnerável
"Se a mulher aborda um homem, ainda que ele seja criança ou adolescente, espera-se que ele esteja pronto para isso."
Para Debique, a "cultura machista é a grande vilã" na maior parte dos casosgames sportingbetassédio ou abuso sexualgames sportingbetcrianças, porque é ela que estabelece o "poder" do homem com relação à mulher e que determina que o homem não pode assumir a condiçãogames sportingbetvítima, ele precisa ser "durão".
A psicóloga do Tribunalgames sportingbetJustiçagames sportingbetSão Paulo, no entanto, destaca um outro elemento na questão também cercado por um tabu: o papel muitas vezes ativogames sportingbetmulheres como autoras da violência.
"Os cuidados maternais podem encobrir muita coisa, por exemplo. A mulher fica com o papelgames sportingbetdar banho,games sportingbetlevar ao banheiro. E às vezes o abuso acontece aí, seja pela mãe ou por uma conhecida que está tomando conta da criança", disse Irene, acrescentando, no entanto, que o númerogames sportingbetcasos é muito pequeno: 0,4% do total dos que chegaram ao tribunal.
Segundo Debique, uma das soluções para a questão seria agames sportingbetdar mais peso ao ensinogames sportingbetigualdadegames sportingbetgênero. "Tudo começa na forma como a gente assume o que é ser homem e o que é ser mulher, as desvantagens que as meninas têm e as aparentes vantagens que os homens têm. As desigualdadesgames sportingbetgênero afetam as pessoasgames sportingbetmaneira diferente, mas todos saem perdendo."
Irene aponta também a importânciagames sportingbetfalar mais sobre o abuso sexualgames sportingbetmeninos e meninas. Campanhasgames sportingbetprevenção e conscientização ajudam a chamar a atenção para o caso. "Toda vez que começa uma campanha ou que sai uma matéria sobre isso no jornal, aumenta muito o númerogames sportingbetdenúncias. Isso prova a importânciagames sportingbetfalar sobre o tema e acabar com o tabu", conclui.
*Os nomes são fictícios.




