O longo processo na Rússia para identificar o último Romanov (e o interessegreenbets como sacarPutin na dinastia):greenbets como sacar
- Lioman Lima - @liomanlima
- Da BBC News Mundo

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Família real russa foi assassinada no dia 18greenbets como sacarjulhogreenbets como sacar1918
greenbets como sacar O eco dos estilhaços reverberou como um trovão no meio da madrugada. Pouco depois, reinou outra vez o silêncio.
No pequeno sótão da Casa Ipátiev, nas redondezas da cidade russagreenbets como sacarEcaterimburgo, só restava o rastrogreenbets como sacarsangue egreenbets como sacarbalas, os fragmentosgreenbets como sacarcrânio, cabelos e pequenos pedaçosgreenbets como sacarcérebro por entre os buracos do papel parede.
Era 18greenbets como sacarjulhogreenbets como sacar1918, e o futuro da Rússia havia acabadogreenbets como sacarajustar as contas com o passado: um grupogreenbets como sacarbolcheviques liderados por Yákov Yurovski, um marxista fervoroso, havia acabadogreenbets como sacarassassinar a família real.
Era o fim dos Romanov, a longeva dinastia que governou "todas as Rússias" por maisgreenbets como sacar300 anos.
Yurovski e seus seguidores enterraramgreenbets como sacarvalas comuns nos Montes Urais naquelas noite não apenas os corpos do czar Nicolau 2º,greenbets como sacaresposa Alexandra e os cinco filhos do casal (Olga, Tatiana, Maria, Anastásia e Alexei), mas um dos maiores mistérios do século 20.
O paradeiro — e, depois, o destino — dos Romanov foi por maisgreenbets como sacarum século um dos temas mais polêmicos do imaginário popular, político e religioso da Rússia.
Hoje, eles são objetogreenbets como sacaruma estranha disputa entre dois poderes que voltaram a se reconciliar na Rússiagreenbets como sacarPutin: a Igreja e o Estado.

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Bolcheviques dispararam contra os Romanov no sótão da casagreenbets como sacarque a família estava escondida
Durante maisgreenbets como sacarduas décadas, a cúpula da Igreja Ortodoxa Russa se negou a reconhecer os restos encontrados nos arredoresgreenbets como sacarEcaterimburgo como sendo da família real.
Mesmo diantegreenbets como sacarsucessivos testesgreenbets como sacarDNA, impediu que as ossadasgreenbets como sacarAlexei egreenbets como sacarsua irmã Maria fossem enterrados da Catedralgreenbets como sacarSão Pedro e São Paulo, o cemitériogreenbets como sacarfato da dinastia Romanov.
O tema voltou a ser notíciagreenbets como sacarjulho, quando o Comitêgreenbets como sacarInvestigação da Rússia, o principal órgãogreenbets como sacarinvestigação criminal do país, confirmou que, após 37 análises forenses, era possível concluir — novamente — que os ossos pertenciam aos membros da família real.
"Baseando-se nos numerosos achados dos especialistas, a investigação chegou à conclusãogreenbets como sacarque os restos pertencem a Nicolau 2º,greenbets como sacarfamília e as pessoasgreenbets como sacarseu entorno", diz um comunicado.
Mas por que o principal órgãogreenbets como sacarinvestigação criminal da Rússia segue reconfirmando fatos relacionados a um homicídio que aconteceu maisgreenbets como sacarum século atrás?
Um longo caminho
O paradeiro dos restos da família real foi uma das informações mais bem guardadas da Rússia comunista.
Apenasgreenbets como sacar1979 um geólogo com uma veiagreenbets como sacardetetive amador, Alexander Avdonin, descobriu os primeiros ossos nas cercanias da Casa Ipátiev,greenbets como sacarEcaterimburgo.
E, por temer represálias do regime, voltou a enterrá-los onde os encontrou e lá os manteve até 1991, quando a União Soviética se desintegrava.

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Várias análises confirmaram a autenticidade das ossadas encontradasgreenbets como sacarEcaterimburgo
Uma ampla investigação e uma sériegreenbets como sacarexamesgreenbets como sacarDNA (para os quais até o príncipe Philip, marido da rainha da Inglaterra, Elizabeth 2ª, doou sangue) comprovaram que as ossadas pertenciam a Nicolau 2º,greenbets como sacaresposa, três dos cinco filhos e quatro empregados que também foram assassinados naquela noitegreenbets como sacar1918.
Um das grandes perguntas que a Rússia se fazia na época era onde estavam os restos dos outros dois filhos do casal (o paradeirogreenbets como sacarAnastasia também foi motivogreenbets como sacarespeculação, mas os indícios apontam que ela morreu na execução junto comgreenbets como sacarfamília).
"Em 1998, depoisgreenbets como sacaruma investigaçãogreenbets como sacarcinco anos, o governo russo decidiu enterrar as ossadas no sepulcro familiar dos Romanov na Catedralgreenbets como sacarSão Pedro e São Paulo,greenbets como sacarSão Petersburgo, como um gesto políticogreenbets como sacarreconciliação e expiação pelos crimes cometidos no período soviético", diz Marina Alexandrova, professora da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
O Santo Sínodo, órgão dirigente da Igreja Ortodoxa, entretanto, se opôs à decisão e pediu uma investigação mais aprofundada antes do enterro.
"Devido à motivação política do evento e a ausênciagreenbets como sacarconsulta à Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca não participou da cerimônia e rejeitou os resultados dos testes", diz a professora.

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Membros da família real chegaram a ser exumados para que novos testesgreenbets como sacarDNA fossem realizados
O presidente do país na época, Boris Yeltsin, desafiou a Igreja e deu sinal verde para a realização do funeral. O ato foi panogreenbets como sacarfundogreenbets como sacaruma grande fricção que marcou o governogreenbets como sacarYeltsin e a cúpula da Igreja Ortodoxa — à época debilitada após perder espaço durante as décadasgreenbets como sacarregime soviético.
Yeltsin renunciaria pouco depois, na noite do dia 31greenbets como sacardezembrogreenbets como sacar1999, deixando o cargo nas mãosgreenbets como sacarseu então primeiro-ministro, um antigo agente da KGB que havia se tornadogreenbets como sacardiscreta sombra: Vladimir Putin.
Uma nova etapa da relação entre Estado e Igreja então começava.
Putin, a Igreja e o último czar
Conforme explica Pablogreenbets como sacarOrellana, professor do King's Collegegreenbets como sacarLondres, no Reino Unido, o início do governogreenbets como sacarPutin marcou uma nova fase,greenbets como sacarresgate da dinastia Romanov, que foi além das águias douradas e dos símbolos da Rússia Imperial.
"Emgreenbets como sacargestão, foram recuperadas algumas tradições da Rússia czarista, como o banhogreenbets como sacarum lago gelado na Páscoa ou no Natal, que alguns czares faziam para pedir bênção à nação — e é algo que Putin voltou a fazer", pontua.
"Mas acredito que um dos elementos mais importantes nesse sentido é a recuperação da Igreja Ortodoxa, que voltou a ser tão poderosa quanto antes e se intitulou outra vez como religião oficial."

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Putin retomou a tradição czaristagreenbets como sacartomar banhogreenbets como sacarum lago gelado no 'dia da epifania'
Em um referendo realizadogreenbets como sacarjunho para definir se Putin seguiria no poder até 2035, os russos também votaram para converter a crença ortodoxagreenbets como sacarreligião oficial do país, o que foi visto como uma consolidação das relações entre o Patriarcadogreenbets como sacarMoscou e o Kremlin.
E é nesse novo contexto que os Romanov se tornam figuras-chave para os poderes. "A família imperial russa é vital para o regime atual e para a narrativa nacionalista que o impulsiona, porque é a conexão entre o passado e o presente da Rússia, entre o antes e o depois do regime soviético", avalia De Orellana.
"Para a Igreja, o tema dos Romanov é central, porque a Igreja Ortodoxa Russa é parte da família real e a família real é parte da Igreja."
Desde a ascensãogreenbets como sacarPutin ao poder, a cúpula da Igreja Ortodoxa Russa proclamou como santos o último czar,greenbets como sacaresposa e seus filhos, o que foi visto com receiogreenbets como sacarum país onde a família real ainda égreenbets como sacarparte lembrada pelos massacres e pela fome aos quais submeteu o povo russo.
Além da canonização, a Igreja também decidiu construir um grandioso templo no localgreenbets como sacarque a família foi assassinada.

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As ossadasgreenbets como sacarAlexei egreenbets como sacarirmã só foram encontradasgreenbets como sacar2007
Mas um tema continuava sendo um empecilho: a autenticidade dos restos mortais dos últimos czares.
"A Igreja russa tem se mostrado relutantegreenbets como sacarreconhecer as ossadas como pertencentes à família Romanov desde que foram exumadas oficialmentegreenbets como sacar1991 próximo a Ecaterimburgo", afirma Alexandrova.
"E, ainda que múltiplos testegreenbets como sacarDNA e análises forenses na Rússia egreenbets como sacaroutros países tenham demonstrado que elas pertencemgreenbets como sacarfato à família real, a seu médico e a três membrosgreenbets como sacarseu círculo íntimo, o tema segue sendo controverso até hoje."
Maria e Alexei
Os restos dos dois filhos do czar que não foram encontrados com a família só foram descobertos muitos anos depois,greenbets como sacar2007.
"E testesgreenbets como sacarDNA realizados dentro e fora da Rússia confirmaram se tratar dos restosgreenbets como sacarMaria e Alexei", afirma a professora da Universidade do Texas.
"A Igreja Ortodoxa Russa, entretanto, novamente se negou a reconhecer a descoberta e negou a realização do enterro no sepulcro familiar."
Nos anos seguintes, as caixas com os fragmentosgreenbets como sacarossos — uma "massagreenbets como sacarcinzas e cabelos" — permaneceramgreenbets como sacarestantes empoeiradas nos arquivos estatais russos.
"Seus restos ainda não foram enterrados, o que, ironicamente, vai contra a tradição ortodoxagreenbets como sacarforma geral."

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O fatogreenbets como sacaros restos terem sido encontradosgreenbets como sacarlocais diferentes levantou dúvidas na cúpula da Igreja Ortodoxa
Novas investigações
Em 2008, a Suprema Corte da Rússia reabilitou oficialmente a família real e reconheceu que Nicolau 2º egreenbets como sacarfamília foram vítimasgreenbets como sacarrepressão política.
Dois anos depois, outro tribunal russo determinou que a investigação sobre o assassinato fosse reaberta, o que ficou a cargo do principal órgãogreenbets como sacarinvestigação criminal do país.
Em 2015, por determinaçãogreenbets como sacarinstâncias da Igreja Ortodoxa, os restos da família real foram mais uma vez exumados e submetidos a testesgreenbets como sacarDNA, que confirmaram novamente que se tratava do czar egreenbets como sacarsua família — inclusive Alexei e Maria.
O funeral dos últimos Romanov estava previsto para acontecergreenbets como sacaroutubro deste ano, mas a Igreja pediu para postergar novamente a cerimônia para realizar uma investigação por conta própria. "Até hoje não foram anunciados resultados", diz Alexandrova.
Às vésperas do centenário do massacre,greenbets como sacar2018, o governo russo anunciou que uma nova pesquisa havia confirmado mais uma vez que as ossadas pertenciam aos Romanov. Neste ano, mais uma vezgreenbets como sacaruma data próxima à efeméride, voltou a divulgar os achados.
As razões para o debate
De acordo com De Orellana, a disputagreenbets como sacartorno da autenticidade dos restos mortais encontradosgreenbets como sacarEcaterimburgo mostra como durante o governo Putin a Igreja voltou a ser uma "instituição legitimadora" — e que, portanto, "legitima também o que se quer contar da história".
"Vemos issogreenbets como sacarcomo a Igrejagreenbets como sacarvárias ocasiões teve a palavra final, como na questãogreenbets como sacaronde os corpos ficarão", pontua.

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Sob Putin, Estado e Igreja têm se reaproximado, mas poderes ainda têm posicionamentos diferentes sobre o destino dos restos mortais reais
Nesse sentido, o especialista acredita que a posição da igreja no caso dos Romanov gera um delicado conflito político.
"O governo Putin precisa dar um fim à história, precisa que os corpos sejam 'encontrados' tambémgreenbets como sacarmaneira simbólica, 'trazê-los para casa' e ter um localgreenbets como sacarque eles possam ser celebrados."
"Toda essa reconstrução é importante, porque Putin reinventou o nacionalismo russo com base nas mesmas teorias nacionalistas dos czares. Ou seja, não é apenas uma obsessão para demonstrar que as ossadasgreenbets como sacarfato pertencem à família real, mas um esforço para estabelecer uma continuidade entre o passado e a Rússiagreenbets como sacarhoje", completa.

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Os Romanov são considerados santos para cristãos ortodoxos russos
Roman Lunkin, diretor do Centro para o Estudo da Religião e da Sociedade, uma organização estatal, avalia que tanto o governo quanto a Igreja estão envolvidosgreenbets como sacarum processo mútuogreenbets como sacarrevisionismo da história do czarismo para "benefício próprio".
"A Igreja russa não quer reconhecer que os restos mortais pertencem à família real, porque existe um riscogreenbets como sacardivisão interna como consequência disso", pondera.
Segundo Alexandrova, conforme as crenças ortodoxas, é um pecado grave rezar ante "imagens falsas". A igreja, porgreenbets como sacarvez, se mostra reticentegreenbets como sacaraceitar o resultado das investigações feitas até hoje sob o argumentogreenbets como sacarque não foi convidada a participar do processo.

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O czar é visto por alguns como 'um Cristo'
Alguns cristãos ortodoxos russos acreditam que membros da família real conseguiram escapar e vivemgreenbets como sacarsegredo na Europa e nos Estados Unidos.
"Pensam que o que houvegreenbets como sacar1918 foi um assassinato ritual por bolcheviquesgreenbets como sacarorigem judaica. Também há um movimento que vê Nicolau 2º como um Cristo que morreu pelos pecados dos russos."
Ainda que esses movimentos não sejamgreenbets como sacarfato populares, diz ele, teriam força o suficiente para causa repercussão nos meiosgreenbets como sacarcomunicação, algo que a cúpula da Igreja certamente gostariagreenbets como sacarevitar.
"Para a Igreja, o assassinato da família real é um símbologreenbets como sacartodo o mal do período soviético, do satanismo e da ideologia marxista. Para o Estado, entretanto, o período soviético é também um períodogreenbets como sacarvitórias — e o último czar não é um exemplogreenbets como sacarlíder forte", afirma Lunkin.
"Então, é evidente que a glorificação da família real significa coisas diferentes para Estado e Igreja."

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