O lado obscuro da Coreia do Sul, descrita como 'modelo' a ser seguido pelo Brasil:cuiaba fc palpites

cuiaba fc palpites Na décadacuiaba fc palpites1960, após o fim da guerra da Coreia (1950-1953), a economia da Coreia do Sul estava completamente arrasada. Seu PIB per capita (a riqueza produzida anualmente por um país dividido pelo seu númerocuiaba fc palpiteshabitantes) era a metade do brasileiro.

Bastou menoscuiaba fc palpitesuma década para que a Coreia do Sul igualasse a marca do Brasil. E, meio século depois, o PIB per capita sul-coreano é três vezes superior ao brasileiro.

Com investimentos maciçoscuiaba fc palpiteseducação e produtividade do trabalhador, a Coreia do Sul sempre foi considerada por muitos especialistas como um "modelo a ser seguido" pelo Brasil e outras naçõescuiaba fc palpitesdesenvolvimento. Um sinônimocuiaba fc palpitesinovação tecnológica.

Atualmente, o país figura entre as 15 maiores economias do mundo. Ali, a expectativacuiaba fc palpitesvida, já bastante alta inclusive para os padrões dos países desenvolvidos, deve chegar a 90 anoscuiaba fc palpites2030, superando a do Japão, atual recordista mundial. Quase metade da população sul-coreana tem Ensino Superior. A taxacuiaba fc palpitesdesemprego também é baixa: 3,6%.

No entanto, a jornada da Coreia do Sul rumo ao rol dos países mais ricos do mundo talvez não tivesse sido possível sem os bilhõescuiaba fc palpitesdólares injetados pelos Estados Unidos após o fim do conflito,cuiaba fc palpitesmeio à Guerra Fria — a disputa com a extinta União Soviética por áreascuiaba fc palpitesinfluência no mundo.

Tampouco sem a mão-de-ferro do Estado. Alçado ao comando do país por meiocuiaba fc palpitesum golpe militar, o então presidente Park Chung-hee (1963-1979) decidiu descartar as orientações americanas e investir o dinheiro na formaçãocuiaba fc palpitesgrandes conglomerados controlados por um grupo restritocuiaba fc palpitesfamílias - os chamados chaebols (ou campeões nacionais).

Foram assim lançadas as bases para um amplo programacuiaba fc palpitesdesenvolvimento industrial, que temcuiaba fc palpitesmultinacionais como Samsung ou Hyundai algunscuiaba fc palpitesseus principais expoentes - e que, segundo alguns especialistas, tem encorajado esquemascuiaba fc palpitescorrupção.

Oscar

Parasita, o primeiro longa faladocuiaba fc palpitesoutro idioma que não o inglês a ganhar o Oscarcuiaba fc palpitesMelhor Filme, lança luz sobre o legado que décadascuiaba fc palpitesdesenvolvimento deixaram à sociedade sul-coreana, ao pintar um retrato ácido das relações entre pobres e ricos no país.

O filme é uma crítica às nítidas diferençascuiaba fc palpitesclassecuiaba fc palpitesuma sociedade capitalista e desigual, ainda que bem diferente do Brasil, onde mansões coexistem com favelas, e Estados Unidos, onde o 1% mais rico acumula 20,3% da riqueza do país, segundo dados da ONU. No Brasil essa relação mostra que o 1% mais rico detém 28,3% da riqueza total, a segunda maior concentraçãocuiaba fc palpitesrenda, atrás apenas do Catar onde o 1% mais rico da população fica com 29% da riqueza nacional.

Na Coreia do Sul, o 1% da população detém apenas 12,2% da riqueza do país.

Apesar da menor desigualdade, muitos sul-coreanos não estão felizes com a situação atual: trêscuiaba fc palpitescada quatro jovens entre 19 e 34 anos querem deixar o país,cuiaba fc palpitesacordo com uma pesquisa publicadacuiaba fc palpitesdezembro pelo jornal The Hankyoreh.

Shin Hyun Bang, professorcuiaba fc palpitesEstudos Urbanos da London School of Economics (LSE), especializadocuiaba fc palpitesÁsia, explica que o país passou por grandes mudanças nos últimos 20 anos que ainda não foram assimiladas.

Depoiscuiaba fc palpitesquase duas décadas crescendo anualmentecuiaba fc palpitesmédia 9% ao ano, a Coreia do Sul foi um dos países mais atingidos pela crise financeira asiática que eclodiucuiaba fc palpites1997. No ano seguinte, seu PIB registrou uma quedacuiaba fc palpitesmaiscuiaba fc palpites5%, segundo dados do Banco Mundial.

"Como o desenvolvimento do país foi muito rápido durante o século 20, há uma memória vívida entre as gerações mais adultascuiaba fc palpitesoportunidades a que tiveram acesso nos anos 1970 ou início dos anos 1990, quando a economia se expandiu e os empregos ofereciam segurança.", diz Shin à BBC Mundo, o serviçocuiaba fc palpitesnotíciascuiaba fc palpitesespanhol da BBC.

"Mas, desde então isso mudou, tornando o nívelcuiaba fc palpitesdesigualdade maior que a meta", acrescenta.

Gini

O coeficientecuiaba fc palpitesGini é geralmente a medida mais usada para avaliar a desigualdadecuiaba fc palpitesuma sociedade e consistecuiaba fc palpitesum escalacuiaba fc palpites0 a 1,cuiaba fc palpitesque os resultados mais próximos a 0 indicam maior igualdade do que aqueles próximos a 1.

O da Coreia do Sul situa-secuiaba fc palpites0,35,cuiaba fc palpitesacordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Ou seja, abaixocuiaba fc palpites0,53 do Brasil e 0,46 do Chile e do México ou mesmocuiaba fc palpites0,39 dos Estados Unidos; embora ainda longecuiaba fc palpites0,29 da França ou 0,26 da Dinamarca.

Apesarcuiaba fc palpitesser mais igualitária do que países como o Reino Unido ou os EUA, a percepção dos sul-coreanos é outra e parte da razão está no fatocuiaba fc palpitesque, emboracuiaba fc palpiteseconomia estejacuiaba fc palpitesexpansão no momento, seu crescimento é muito menor do que antes.

"Agora, a Coreia do Sul tem uma taxacuiaba fc palpitescrescimento como a dos países desenvolvidos e isso significa que não está tirando as pessoas da pobreza da maneira que antes, então há um sentimentocuiaba fc palpitesque as pessoas estão imobilizadas", diz Owen Miller, professorcuiaba fc palpitesEstudos Coreanos na Escolacuiaba fc palpitesEstudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidadecuiaba fc palpitesLondres.

Excessocuiaba fc palpitesgraduados?

Após a crise, a Coreia do Sul experimentou uma flexibilidade trabalhista que, segundo Miller e Shin, levou a grandes diferençascuiaba fc palpitesoportunidades entre gerações e a faltacuiaba fc palpitesestabilidade no emprego.

O desemprego no país é baixo, mas, entre os países da OCDE, a Coreia do Sul tem uma das maiores taxascuiaba fc palpitestensão no ambientecuiaba fc palpitestrabalho: 51% dos trabalhadores dizem que trabalham mais do que deveriam.

"Eles passaramcuiaba fc palpitesuma situaçãocuiaba fc palpitesque a maioria tinha emprego estávelcuiaba fc palpitesuma empresa para outra na qual todos trabalham com contratos temporários. Portanto, há mais insegurança, mais desigualdade e menor taxacuiaba fc palpitescrescimento", explica Miller.

"Outra coisa que os sul-coreanos falam muito é a competição intensa: todo mundo quer ir para as melhores universidades, todo mundo quer que seus filhos se saiam bem. Tudo isso é psicologicamente prejudicial."

"Como o ingresso na universidade foi durante décadas objetocuiaba fc palpitesdesejocuiaba fc palpitesmuitos e a melhor maneiracuiaba fc palpitesconseguir um emprego estável, a Coreia do Sul tornou-se um dos países com as taxas mais altascuiaba fc palpitesgraduadoscuiaba fc palpitesuniversidades do mundo", prossegue.

Como resultado, maiscuiaba fc palpites30% dos sul-coreanos têm um emprego para o qual estão superqualificados,cuiaba fc palpitesacordo com um relatório do Banco Central da Coreia publicadocuiaba fc palpites2019, e se mantêm nesta situação há pelo menos três anos.

A frustração gerada por essa faltacuiaba fc palpitesequilíbrio é sentida especialmente entre os jovens, como destacou Shin: "Há mais empregos cuja demanda cresce: aqueles com qualificações mais baixas,cuiaba fc palpitesfábricas, etc. E é por isso que vemos a imigraçãocuiaba fc palpitestrabalhadores estrangeiros na Coreia do Sul."

"Mas acho que esses empregos não atendem às expectativas da geração mais jovem, que possui diploma universitário. Quem estudou na faculdade espera obter determinadas posições", pondera,

O governo reagiu implementando programas para exportar profissionais como o K-move, uma iniciativa para ajudar jovens sul-coreanos a encontrar "empregoscuiaba fc palpitesqualidade" no exterior. No entanto, o númerocuiaba fc palpitesfuncionários que o programa envia ainda é baixo: menoscuiaba fc palpites6 milcuiaba fc palpites2018.

Como disse o vice-reitor do Instituto do Banco Asiáticocuiaba fc palpitesDesenvolvimento Kim Chul-ju no ano passado à agênciacuiaba fc palpitesnotícias Reuters, "a fugacuiaba fc palpitescérebros não é uma preocupação imediata do governo. Em vez disso, é mais urgente evitar que eles caiam no pobreza ".

cuiaba fc palpites 'Colherescuiaba fc palpitesouro cuiaba fc palpites , prata cuiaba fc palpites e barro'

Dada a educaçãocuiaba fc palpitesexcesso e as poucas oportunidadescuiaba fc palpitesemprego para os profissionais, outro problema bastante acentuado diz respeito à faltacuiaba fc palpitesmobilidade social:cuiaba fc palpitesuma sociedade extremamente estratificada, quem nascecuiaba fc palpitesfamília com posses e recursos, já larga na frente.

"Em outras palavras, ter uma "colhercuiaba fc palpitesouro" (expressão equivalente a "berçocuiaba fc palpitesouro") se refere a tudo que alguém pode disfrutarcuiaba fc palpitesseus pais,cuiaba fc palpitestermoscuiaba fc palpitesriqueza e capital social que podem herdar", diz Shin.

"Por outro lado, ter 'colhercuiaba fc palpitesbarro' refere-se à ausência dessa herança. Se você tiver uma colhercuiaba fc palpitesbarro, não terá o tipocuiaba fc palpitesrede social que teria se seus pais tivessem boas conexões", acrescenta o especialista.

A ausênciacuiaba fc palpitesoportunidades iguais para as gerações jovens é uma questão muito presente na Coreia do Sul, onde as pessoas dizem que a colher com que se nasce (prata para a classe média) influenciará seu progressocuiaba fc palpitessuas carreiras oucuiaba fc palpitescapacidadecuiaba fc palpitescomprar o primeiro imóvel.

Na pesquisa publicada pelo The Hankyoreh, 85% dos jovens concordaram com a seguinte declaração: "Pessoas que nasceram pobres nunca serão capazescuiaba fc palpitescompetir com pessoas que nasceram ricas".

"Na Coreia do Sul, há um sentimentocuiaba fc palpitesque ou você é um vencedor ou um perdedor", diz Miller.

"Se você estudar muito e ingressarcuiaba fc palpitesuma boa universidade, conseguirá um emprego decente e será um vencedor. Se não o fizer, ficará completamente marginalizado e será um perdedor".

"Por isso, a Coreia do Sul é o país com os maiores gastos familiarescuiaba fc palpiteseducação no mundo", acrescenta.

"Enquanto a maioria estudacuiaba fc palpitesescolas públicas, todos recebem educação fora do sistema escolar, quase sem exceção. Se você écuiaba fc palpitesuma família pobre, pode dar-lhes algo, mas não será suficiente para que estejam no mesmo nível que o filhocuiaba fc palpitesuma famíliacuiaba fc palpitesclasse média ou rica", diz.

O esforço nos estudos não é mais visto como chave para ascensão social: "As pessoas sentem que isso não é mais possível, que a classe média e os ricos monopolizaram boas universidades, boas escolas e acesso a bons empregos".

Até recentemente, acrescenta Miller, a Coreia do Sul era uma sociedade "relativamente plana": "Até a décadacuiaba fc palpites1990, a percepção eracuiaba fc palpitesque todos estavam brigando juntos. Havia alguns ricos, mas não eram super-ricos ostentadores".

Tal fenômeno é retratado, por exemplo, na canção Gangnam Style, que rodou o mundo e faz alusão a um bairro luxuoso da capital Seul.

A OCDE, que reúne os países mais ricos, aponta a Coreia do Sul como umcuiaba fc palpitesseus membros com maior desigualdadecuiaba fc palpitesrenda, onde os mais ricos ganham quatro ou cinco vezes mais do que os mais pobres.

Trata-secuiaba fc palpitesum patamar muito próximo ao do Reino Unido e da Dinamarca, mas com nívelcuiaba fc palpitesdesigualdade bem inferior aocuiaba fc palpitesoutros membros, como Chile (23,7%) e EUA (20,2%).

A desigualdade é mais claramente notada na população acimacuiaba fc palpites65 anos. Segundo a OCDE, metade dos idosos vive na pobreza, o nível mais elevadocuiaba fc palpitestodos os países que formam a organização.

Questões globais

Um dos aspectos que mais simbolizam as diferenças entre as classes no filme é a moradia.

O longa chamou atenção para os banjiha, um tipocuiaba fc palpitesporão inicialmente pensado como bunker para emergências e cujo uso para habitação foi legalizado pelo governo após a crise imobiliária dos anos 1980.

Como explicou o diretor Bong Joon-hocuiaba fc palpitesuma entrevista ao site Indiewire publicadacuiaba fc palpitesoutubro: "Quanto mais pobre você é, menos acesso terá à luz do sol e é assim na vida real: eles têm acesso limitado às janelas".

E aos quartos: a Coreia do Sul está entre os países da OCDE com o menor número médiocuiaba fc palpitesaposentos por pessoa (1,4). Mascuiaba fc palpitestermoscuiaba fc palpitesacesso à moradia, a entidade posicionou o paíscuiaba fc palpites2017 como um dos melhores.

Por outro lado, um relatório sobre o país publicado no ano seguinte pela relatora especial das Nações Unidas sobre direito à moradia adequada, Leilani Farha, informou que: "a faltacuiaba fc palpitesmoradia acessível é uma barreira substancial para se vivercuiaba fc palpitesuma propriedade adequada".

Os aluguéis não abocanham apenas 50% dos salários sul-coreanos, mas muitas das casas são "tão pequenas que, mesmo com apenas um ou dois moradores, elas já estão superlotadas", disse o estudo.

A isso se acrescenta que o tipo mais comumcuiaba fc palpitesaluguel na Coreia do Sul é o chonsei, pelo qual os inquilinos depositamcuiaba fc palpitesimediato uma quantia que variacuiaba fc palpites50% ou 70% do valor total do aluguel, normalmente por um períodocuiaba fc palpitesdois anos. O proprietário investe esse dinheiro e, no final do contrato, devolve a quantia inicial integralmente aos inquilinos, mas mantém para si o retorno sobre essa aplicação. Durante o período, o inquilino não precisa pagar aluguel mensal.

Mas o que parece à primeira vista um ótimo negócio, pode trazer riscos. Como a grande maioria dos sul-coreanos não tem o dinheiro à vista, precisa tomar um empréstimo bancário. Ou seja, tem que pagar juros sobre o valor emprestado.

Moradia cara

Para se ter uma ideia,cuiaba fc palpites2014, o valor médio do chonsei chegou a US$ 300 mil (R$ 1,3 milhãocuiaba fc palpitesvalores atuais).

Os banjiha eram bunkers que começaram a ser alugados como apartamentos devido à faltacuiaba fc palpitesmoradias.

Por que, então, a OCDE coloca a Coreia do Sulcuiaba fc palpitesum bom lugar nesse sentido?

No resto do mundo, a habitação também se tornou um problema.

Os preçoscuiaba fc palpitesvenda e aluguel não paramcuiaba fc palpitessubircuiaba fc palpitesmuitos países da Europa, onde adultos são obrigados a compartilhar um apartamento porque não podem pagar o valor integral do aluguel. Em cidades como Londres, alguns imóveis não têm salacuiaba fc palpitesestar porque elas são transformadascuiaba fc palpitesquartos.

Os jovens com diploma universitário que acabam subempregados também são um perfil cada vez mais visto ao redor do planeta. Na Espanha, por exemplo, representam 37,6%, segundo dados do Eurostat, o órgão estatístico da União Europeia.

A América Latina também experimentou um crescimento moderado nos últimos anos - o combate à crescente desigualdade social foi uma das bandeiras dos protestos que eclodiram no Chile no fim do ano passado.

Shin, da LSE, diz acreditar que o segredo do sucesso do Parasita é retratar um problema "universal": "A popularidade do Parasita não tem a ver com a realidade da Coreia do Sul, mas com a realidade do mundo".

Com reportagem de Stefania Gozzer, da BBC News Mundo

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