Damares Alves: 'Tem mulher mais empoderada no Brasil do que eu?':444 bets

Damares Alves

Crédito, Elisa Kriezis/BBC

Legenda da foto, 'O homem que me estuprou interrompeu meu sonho444 betsmorar no céu', diz Damares Alves à BBC News Brasil

Também diz se dedicar à segurança da população LGBT444 betsgeral, com foco especial nos grupos que estão fora dos grandes centros — ribeirinhos, indígenas e quilombolas. O discurso coaduna com a pauta do movimento LGBT, forte opositor do governo, e contradiz falas do próprio presidente, que já declarou que "gays não são semideuses" e a "maioria é fruto do consumo444 betsdrogas".

Damares chega a fazer coro com feministas ao afirmar que mulheres são chamadas444 bets"histéricas" quando defendem seus pontos444 betsvista e são frequentemente interrompidas por homens ao tentar completar seus raciocínios. A desigualdade444 betsgênero na política preocupa Damares, também pastora, pedagoga e advogada: "Nós ainda temos mais444 bets2 mil municípios sem uma mulher sequer na Câmara444 betsVereadores".

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A ênfase arrefece, no entanto, quando Damares é questionada sobre o gabinete444 betsBolsonaro, que tem apenas duas ministras444 betsmeio a 22 ministérios (e órgãos com status444 betsministério). "Ele escolheu pelo perfil técnico e o trouxe pessoas que ele conhecia", desconversa. "Mas, no segundo escalão, ele pode escolher com mais calma."

Damares chora mais444 betsuma vez ao narrar,444 betsdetalhes, a série444 betsestupros que sofreu entre os 6 e 8 anos444 betsidade. "O homem que me estuprou interrompeu meu sonho444 betsmorar no céu", diz, alertando que crianças alvo444 betsabusos devem pedir ajuda e não podem se sentir culpadas.

"Tem abuso que é prazeroso para a criança, porque o pedófilo sabe como tocar, onde tocar", diz. "Eu encontro adultos, especialmente mulheres, que se sentem culpadas por isso. Eu digo que não se sintam culpadas, eram crianças e não tinham controle sobre seus corpos."

Todo tempo, ela reforça um compromisso pessoal com áreas remotas do país. "Eu vou para a região ribeirinha e lá a gente encontra a lenda do boto. Mas o boto que engravidava a menina era o pai, que botava a culpa no boto. O incesto é444 betsverdade no Brasil e vamos enfrentar isso."

As frases polêmicas que costumam gerar manchetes são abundantes. "Tem criança que conversa com duende. Tem crianças que falam com fadas. Tem crianças que falam com pôneis. Eu não posso falar com Jesus?", diz.

Também afirma que é "a ministra mais bonita do Brasil".

"E já estou concorrendo também a mais bonita do Mercosul, e mais bonita do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)."

Oscilando entre discurso hiper-religioso e posições que poderiam se associadas a vozes progressistas, Damares provoca a esquerda: "Você não pode usar certas palavras como empoderamento, porque é da esquerda. Espera aí. Tem mulher mais empoderada no Brasil do que eu? Uma menina que vem lá444 betsbaixo, que não tem sapato para estudar, vai a uma escola, sofre violência, é discriminada e chega a ser ministra? Isso é empoderamento da mulher."

Leia os principais trechos da entrevista:

Damares Alves

Crédito, Elisa Kriesis/BBC

Legenda da foto, 'Sou a (ministra) mais bonita do Brasil, tá? E já estou concorrendo também a mais bonita do Mercosul, a mais bonita do Brics'

444 bets BBC News Brasil - O que explica444 betsboa avaliação entre os pobres?

444 bets Damares Alves - A pauta. A nossa pauta é extraordinária. O ministério tem oito secretarias e todas falam diretamente com o povo. O ministério que fala diretamente com a população é o nosso. E nós estamos cuidando444 betscrianças — todo mundo quer ver crianças bem cuidadas. Estamos enfrentando a violência contra a mulher — todo mundo quer a erradicação dela. Acredito que a popularidade é por conta da pauta e fico muito feliz com isso. Está todo mundo falando444 betsdireitos humanos no Brasil.

444 bets BBC News Brasil - Esse anúncio gera curiosidade sobre seu futuro político. Como se vê depois dessa gestão? Pensa444 betsse candidatar a cargos públicos?

444 bets Damares Alves - Pelo amor444 betsDeus, não. É muito trabalho. Quando acabar o meu período, tudo o que quero é uma rede na praia deitada apenas lendo as boas notícias do Brasil. Com certeza, nenhuma pretensão política. Não dá nem para pensar nisso agora. Não tenho nenhum interesse político, nenhum interesse444 betscargo eletivo.

444 bets BBC News Brasil - Dá para dizer que nunca vai se candidatar?

444 bets Damares Alves - Hoje eu digo nunca. Nunca, nunca, nunca, nunca. Não quero passar pela urna. Falo inclusive que a urna é muito cruel. Eu quero morrer feliz acreditando que as pessoas gostam444 betsmim. Já pensou se você vai para a urna e descobre que as pessoas não acreditam e gostam444 betsvocê? Então deixa eu morrer acreditando. Urna, jamais. Cargo eletivo, jamais.

444 bets BBC News Brasil - A senhora disse que todo mundo está falando sobre direitos humanos no Brasil. Pergunta simples: direitos humanos são para humanos direitos?

444 bets Damares Alves - Olha, direitos humanos são para todos. Para todos. O que está acontecendo hoje no Brasil é que estamos falando dos direitos humanos que são indissociáveis, interligados e interdependentes. Nós universalizamos os direitos humanos e o discurso. Estamos indo para a origem, a fonte, que é a Declaração (Universal dos Direitos Humanos) e conversando com o Brasil. Proteger mulher é direitos humanos? É. Proteger criança é direitos humanos? É. E os idosos? Então, nós começamos a falar para o Brasil o que é444 betsverdade direitos humanos.

Por um período, as lutas ficaram muito segmentadas. As pessoas achavam que direitos humanos eram só as minorias ou a população carcerária. A gente está falando com todo mundo: gente, alimentação, acesso a educação é direitos humanos.

444 bets BBC News Brasil - Pergunto porque boa parte dos apoiadores do governo e do presidente têm esse discurso, inclusive os filhos e o próprio presidente, que dizem que direitos humanos são "coisa para bandido".

444 bets Damares Alves - Eu entendo que o que eles querem dizer é que foi segmentada a luta dos direitos humanos no Brasil, ao ponto444 betsque pessoas se perguntavam se há necessidade444 betsum ministério444 betsdireitos humanos no Brasil. Porque houve uma segmentação. Os grupos que se apresentavam defensores444 betsdireitos humanos...

444 bets BBC News Brasil - Quais grupos?

444 bets Damares Alves - Mais os grupos444 betsesquerda. Apresentavam aí a bandeira LGBT, minorias e população carcerária. Por exemplo, a gente nunca viu lá atrás movimentos indo à rua defender saneamento básico à luz dos direitos humanos. Nunca ouviu grupos falando que corrupção é violação444 betsdireitos humanos. O que eles queriam dizer lá atrás era: 'vamos falar que direitos humanos são para todos'. E é exatamente o estavam querendo dizer e o que estamos tentando fazer, essa conversa.

444 bets BBC News Brasil - Eles falaram isso444 betsuma outra forma, né...

444 bets Damares Alves - Mas é isso. Eles devem ter exagerado no discurso. Mas é exatamente isso, direitos humanos444 betsforma universal.

Damares Alves e o presidente Bolsonaro

Crédito, AFP

Legenda da foto, Damares Alves e o presidente Bolsonaro durante cerimônia444 betsnomeação dos ministros444 betsEstado444 bets1o444 betsjaneiro444 bets2019, no Palácio do Planalto

444 bets BBC News Brasil - A senhora citou mulheres, idosos, crianças...

444 bets Damares Alves - Povos tradicionais. Todos eles. Por exemplo: nós estamos trazendo à luz os que estavam invisibilizados no Brasil. Nunca se falava dos povos ciganos no Brasil. Eles são 1,2 milhão. Nós temos no Brasil muito mais ciganos do que índios e estes povos estavam à margem. Estamos falando444 betsmulher cigana, da violência no dia a dia na rua contra ela, da evasão escolar das crianças ciganas, do preconceito contra ciganos no Brasil e fazendo este enfrentamento. Outro povo: as marisqueiras, que são consideradas povo tradicional, os seringueiros, os ribeirinhos. Estamos trazendo à luz os que estavam invisibilizados. Isso não é ideia da ministra, não, é ordem do presidente da República.

444 bets BBC News Brasil - A senhora contou o que está sendo feito por grupos que, nas palavras da senhora, estavam invisibilizados. O que está sendo feito pelos grupos que, na avaliação da senhora, eram os preferidos: LGBTs, negros e...

444 bets Damares Alves - Em relação à população LGBT: fizemos uma discussão sobre qual é a prioridade do segmento. Enfrentamento à violência. Então vamos priorizar isso. Como estão os membros da comunidade na região ribeirinha? Vamos pegar um barquinho e vamos lá na comunidade ribeirinha saber como está o menino gay. Descobrimos que a política pública não chegou para ele. Cadê os gays indígenas? Onde estão as meninas lésbicas indígenas? Por que não se falou nisso no Brasil?. Nós descobrimos que eles são hostilizados444 betsalgumas comunidades e precisamos cuidar deles.

Os direitos, que na área urbana foram tão reivindicados,444 betsalgumas regiões não foram garantidos. Então estamos indo lá. Como estão os gays nos quilombos? Como essa população é tratada nos povos tradicionais? E isso tem sido uma inovação e uma revolução: eu pegar um barco e ir a uma cidade como São Gabriel da Cachoeira para saber como está a comunidade LGBTi lá. Quer que eu diga para você?

444 bets BBC News Brasil - Sim.

444 bets Damares Alves - Precisando ser cuidada, amparada, e estamos fazendo isso.

444 bets BBC News Brasil - Como, na prática?

444 bets Damares Alves - Deixa eu voltar para o centro urbano. No centro urbano, percebemos que o grupo que mais sofre violência são as travestis. Começamos a conversar com elas: por que sofrem tanta violência? Esse público é caro para mim. É um público que eu amo e acompanho há muito tempo. Por muito tempo na minha vida eu fui para as ruas444 betsmadrugada abraçar as travestis, cuidar delas, enquanto ativista444 betsdireitos humanos, pastora, amiga, mãe, mulher.

A grande reivindicação delas é empregabilidade. Existe preconceito para empregar uma travesti. É fácil uma lésbica, um transexual, um gay estar bem inserido no mercado no trabalho, mas as travestis ficaram à margem. Então, estamos cuidando desse público especificamente: trazendo programas444 betscapacitação, empregabilidade, conversando com o setor empresarial. Eu encontro professoras travestis nas ruas, meninas especiais, matemáticas na rua se prostituindo. Elas alegam que o mercado não as absorve.

O presidente Bolsonaro tem como bandeira o combate à violência444 betstodos os segmentos. Então, o violência contra travestis e gays estão dentro deste pacote. E está dando certo. A nossa diretoria voltada à comunidade LGBTi nós herdamos do passado e permanece intacta. A própria diretora que veio do outro governo continua, uma mulher extremamente sensata, a professora Marina, uma transexual extremamente sensata, e tem me ajudado a conduzir as políticas para o segmento.

444 bets BBC News Brasil - Este é um segmento que fez muita oposição ao governo na campanha. Muitas pessoas podem estar surpresas com os comentários citando as travestis, por exemplo. A senhora defende as chamadas terapias444 betsconversão, a chamada "cura gay" faz sentido?

444 bets Damares Alves - Eu defendo o direito à liberdade444 betsexpressão. Se alguém disser que vivenciou a homossexualidade e hoje não a vivencia mais, ele tem o direito444 betsfalar isso. Esse grupo me procurou para dizer que não consegue falar isso sem ser perseguido. Nosso ministério tem que garantir o direito à liberdade444 betsexpressão.

E é possível, sim, alguém não querer mais vivenciar a homossexualidade, como alguém não querer mais vivenciar a bissexualidade ou a heterossexualidade. Essa transição é normal, ela acontece. Então por que não vou reconhecer que houve pessoas que deixaram444 betsvivenciar a homossexualidade? Elas existem, precisam ser respeitadas, e uma das coisas que reclamaram muito foi a liberdade444 betsescrever suas histórias. Então esse grupo existe e me procurou.

Agora, a cura gay é outra coisa. Inclusive é um termo pejorativo para algumas pessoas que querem deixar444 betsvivenciar a homossexualidade. Vou lidar com esse tema com muita maturidade, respeitando a condição444 betsque ele está vivendo, se está feliz agora porque deixou a homossexualidade, ele vai continuar feliz. Se quiser voltar a ser homossexual, vai voltar.

444 bets BBC News Brasil - Pode haver, portanto, política pública nesse sentido, para as pessoas que…

444 bets Damares Alves - O que pode haver no nosso ministério: se estão sendo vítimas444 betsviolência, terão o direito444 betsdenunciar e nós vamos ter a obrigação444 betsfazer esse recorte e ouvir. Eles estão sendo perseguidos porque estão deixando444 betsvivenciar a homossexualidade. Nós vamos protegê-los também.

Eu não vou fazer nenhuma campanha com um cartaz dizendo deixe444 betsser gay, deixe444 betsser bi, deixe444 betsser hétero. Não, isso não existe, não existe política pública para isso. Existe política para garantir a todos segurança e direitos.

444 bets BBC News Brasil - Mulheres, claro, são parte importante da444 betspauta e violência é uma das bandeiras principais. A senhora pessoalmente já sofreu violência por ser mulher?

444 bets Damares Alves - Acabei444 betssofrer e pela imprensa. Temos que falar444 betstodos os tipos444 betsviolência contra a mulher — existe a violência física, que todo mundo vê, o soco no rosto, a marca, os sinais e cicatrizes, mas existe a violência psicológica e emocional contra a mulher, que se fala muito pouco no Brasil. Existe a violência patrimonial contra a mulher e a violência política. Estamos ousando444 betstrazer o debate da violência política contra a mulher no Brasil. Ela existe? Claro que existe.

444 bets BBC News Brasil - O que aconteceu?

444 bets Damares Alves - Quando um parlamentar sobe na tribuna e começa a esbravejar por direitos, todo mundo aplaude e fala que este homem é guerreiro e valente. Se uma parlamentar sobe na tribuna e grita por direitos, é histérica. É muito comum uma mulher estar444 betsum debate, conduzindo uma discussão, e ser interrompida o tempo todo. Isso é uma violência contra a mulher. Tem mulheres que não conseguem colocar até o final as suas ideias e444 betsposição porque são interrompidas.

Até mesmo o respeito dos partidos às candidaturas das mulheres. Elas não têm que vir para partido apenas para cumprir uma cota. O partido tem que entender que elas são necessárias no processo político. E estamos lutando muito por isso: nosso ministério ousa agora fazer um grande desafio — nós ainda temos mais444 bets2 mil municípios sem uma mulher na Câmara444 betsVereadores.

Nosso alvo é no mínimo uma mulher444 betstodas as câmaras444 betsvereadores do Brasil. Inclusive eu também quero participar da campanha como garota propaganda. Tipo: toda mulher pode. Olha eu aqui: uma mulher dos bastidores, assessora, que ralou muito, que veio da pobreza, não tinha nem sapato, lutei e saí dos bastidores a ministra. O recado vai ser; lugar444 betsmulher é onde ela quiser.

Hoje, no governo Bolsonaro, nós temos muitas mulheres no quadro, no segundo, no primeiro escalão, muitas mulheres. Ele inclusive fez uma reunião para colocarmos os nomes444 betsmulheres tomando decisões no Brasil. Ele disse: "que coisa mais extraordinária". Por exemplo, DataPrev, é uma mulher liderando. IBGE, uma mulher extraordinária. Inmetro, mulher. Secretárias nacionais, temos muitas. Inclusive mulheres diversas.

Nós temos a primeira surda no Brasil a ocupar um cargo444 betsalto escalão. Duas indígenas no alto escalão: a secretária nacional da Igualdade Racial e a da Saúde Indígena. Temos também uma secretária surda no Ministério da Educação. Mulheres com deficiência: a secretária nacional444 betsPolíticas Públicas para a Mulher é uma mulher com deficiência.

Então, todas as mulheres estão no governo Bolsonaro no alto escalão tomando decisões e conduzindo a nação. Quer que eu diga uma coisa? É por isso que está dando certo.

444 bets BBC News Brasil - E os ministérios, ministra? Só lembro da senhora e444 betsTeresa Cristina (Agricultura).

444 bets Damares Alves - Duas ministras, né?

Damares Alves e Teresa Cristina (Agricultura)

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Damares Alves e Teresa Cristina (Agricultura) são as únicas mulheres à frente444 betsministérios no Brasil

444 bets BBC News Brasil - Não está faltando mulher?

444 bets Damares Alves - Ele escolheu pelo perfil técnico e o presidente trouxe pessoas que ele conhecia. Isso não significa que outras mulheres não poderão ocupar outros ministérios. Mas, no primeiro momento, essas duas mulheres estavam muito próximas dele, então ele trouxe as duas. Mas, no segundo escalão, ele pode escolher com mais calma. Porque o ministério precisa ser apresentado444 betsimediato. Mas, no segundo escalão, ele teve mais tempo para pensar e trouxe mulheres extraordinárias e o Brasil está dando certo porque estamos lá.

444 bets BBC News Brasil - Mas isso não contradiz o seu discurso, ministra? A senhora está falando do segundo escalão, mas defendia que mulheres ocupem…

444 bets Damares Alves - Na próxima reforma administrativa, com certeza eu acredito que mais mulheres virão para os ministérios. Eu tenho certeza.

444 bets BBC News Brasil - A senhora dá essa dica ao presidente?

444 bets Damares Alves - Ele tem dito isso444 betstrazer mais mulheres para o primeiro escalão.

444 bets BBC News Brasil - Como eu disse no começo da entrevista, a senhora é a segunda ministra mais popular desse governo...

444 bets Damares Alves - E a mais bonita do Brasil, tá? E já estou concorrendo também a mais bonita do Mercosul, a mais bonita do Brics.

444 bets BBC News Brasil - É possível que parte da nossa audiência não conheça a senhora tão bem. A senhora citou444 betsinfância, falou que…

444 bets Damares Alves - Uma infância difícil, dura, família pobre. Meu pai era missionário e pastor. Estivemos com os oprimidos, pobres e excluídos no interior do Nordeste. Então, venho dessa família vocacionada a cuidar dos pobres, vivenciando também a pobreza. Faço minha primeira faculdade, pedagogia, acredito na educação como instrumento arrebatador e444 betsinclusão, mas estou444 betssala444 betsaula dando aula desde os 12 anos e lidando com temas bem delicados como mulheres camponesas.

Eu conheço a realidade, por isso meu ativismo com as marisqueiras, a mulher do campo. Em seguida vou trabalhar com os meninos444 betsrua, sou uma das fundadoras do Movimento Nacional Meninos e Meninas444 betsRua e logo vou trabalhar com os povos tradicionais. Eu tenho uma história voltada aos excluídos e minorias no Brasil. Depois444 betspedagogia, eu faço direito444 betsSão Paulo, me formo advogada444 bets1991 e vou para a advocacia no dia a dia. E me especializando444 betsdireito constitucional. Em 1998, sou chamada para ser assessora jurídica no congresso. Fiquei444 bets1998 a 2018 trabalhando dentro do Congresso Nacional. Essa é a minha trajetória.

444 bets BBC News Brasil - Poderia contar sobre o caso dos dois pastores na444 betsinfância? A história que ficou conhecida como o caso da goiabeira. O que houve e como se sentiu com a repercussão.

444 bets Damares Alves - Aos 6 anos, eu fui vítima do abuso do estupro. Meu pai, esse homem generoso, acreditava444 betstodo mundo. Estávamos444 betsuma comunidade e recebíamos missionários para ajudar a fazer o trabalho. A gente recebe este pastor444 betscasa. Ele era um falso pastor, porque não existe pastor pedófilo. Existe pedófilo fingindo que é pastor. Não existe padre pedófilo. Existe pedófilo fingindo que é padre. Assim como professor pedófilo não existe, eles buscam essas áreas para estar próximos444 betscrianças.

Este homem entra na nossa casa, abusa da confiança444 betsmeu pai e me estupra aos 6 anos444 betsidade. E continuou444 betscasa depois desse ato, foram dois anos444 betsabusos seguidos. Depois outro pastor também se aproximou e abusou444 betsmim.

Então, aos 6 anos444 betsidade, eu passei pelo calvário, eu passei pelo holocausto. O abuso444 betscrianças não destrói só a criança, ele destrói a mulher ou o homem. Foi tão ruim que aos 10 anos eu quis me matar por causa das dores que trouxe. Tenho feito no Brasil um enfrentamento à violência sexual contra crianças. Eu não sou ministra porque fui estuprada. Eu sou ministra porque tenho uma luta444 betsdefesa das crianças. Eu fiz da dor a minha bandeira, a minha luta. No momento444 betsque decidi não me matar e desci do pé444 betsgoiaba, eu decidi: eu não vou morrer e nenhuma criança perto444 betsmim será machucada.

Sou sobrevivente, mas não sou a única, somos milhões444 betsmulheres sobreviventes no Brasil. Há uma projeção444 betsque uma a cada três mulheres no Brasil são abusadas sexualmente até os 18 anos. Então nós somos um terço444 betssobreviventes e falar disso é, para mim, libertador e para muitas mulheres que não tiveram a coragem444 betsadmitir que foram vítimas do abuso.

A pedofilia no Brasil é444 betsverdade, ela é apavorante, ela mata, destrói corpo, alma e espírito e a gente vai ter que fazer esse enfrentamento. E eu quero falar444 betsabuso sexual444 betsmeninos. Não se fala444 betsabuso sexual444 betsmeninos no Brasil. De cada 10 meninas abusadas, 3 denunciam. Mas444 betscada 100 meninos abusados, só um denuncia. Existe444 betsverdade e eles sofrem tanto quanto a menina.

Mas agora estamos diante444 betsoutra tragédia, que é o estupro444 betsbebês no Brasil. Essa modalidade444 betsviolência sexual estourou nos últimos 5 anos e está nos deixando muito preocupados. Quando falo bebês, estou falando444 betscrianças444 betsdias, meses. Eu vi a imagem444 betsuma bebê444 bets22 dias sendo estuprada. Foi a mais nova que eu vi, mas temos no ministério registro444 betsuma menina444 bets8 dias, e444 betsSão Paulo444 betsum menino444 bets7 dias.

A produção444 betsimagem444 betsestupro444 betsbebês está crescendo muito. Já encontramos imagens444 betspais que não são abusadores, mas produz imagens444 betsabuso para vender. Tem vídeos444 betsestupro444 betsbebês que podem custar444 betsR$ 60 mil a R$ 100 mil reais. É um mercado que está crescendo muito. Então, um pai, por tentação444 betsdinheiro, acaba abusando444 betsbebês para produzir imagens.

444 bets BBC News Brasil - Há algum tipo444 betsestatística sobre isso? Como essas informações chegam até a senhora e o que na prática está sendo feito?

444 bets Damares Alves - O estupro444 betsbebês chega por notificação das unidades444 betssaúde, quando uma criança é atendida. Essa é a maior fonte. Mas temos as imagens, muitas imagens circulando444 betsbebês que não foram atendidos444 betshospitais. Comparando as imagens, esse comércio444 betsimagens e as crianças chegando aos hospitais, temos a conclusão444 betsque o estupro444 betsbebês explodiu no Brasil. Há fóruns na deep web444 betspais divulgando imagens444 betsbebês sendo abusados. E os pais trocam imagens. Eu recebo inúmeras imagens444 betsestupros444 betsbebês no meu celular. Compartilhar imagem444 betsabuso é crime. Arquivar é crime. Produzir é crime. Portanto, se receber uma imagem, delete.

444 bets BBC News Brasil - A senhora recentemente fez um comentário que gerou controvérsia e críticas. A senhora se referia aos abusos na ilha444 betsMarajó e disse que as meninas não usavam roupas444 betsbaixo e…

444 bets Damares Alves - Não fui eu que disse isso. É o que acontece com essa ministra polêmica. Pegam uma frase dela fora444 betscontexto. Eu estava dizendo que, na Ilha444 betsMarajó, o estupro444 betsmeninas é tão grande e que fica todo mundo justificando: dizem que se estupra meninas no Marajó porque lá há fome. Então, eu disse: vamos levar comida. Disseram que estupram meninas porque elas não usam calcinha. Então vamos levar calcinhas, vamos construir uma fábrica444 betscalcinha. O que eu estava dizendo: o estupro não se explica, o abuso não se relativiza ou minimiza. Eu estava dizendo isso, mas pegaram essa frase. Vir dizer que menina é estuprada porque deu mole? Ah, para com isso.

O cara que abusou444 betsmim aos seis anos olhou nos meus olhos e disse que o seduzi, que eu era culpada, e me fez sentir culpada por anos. A culpa me levou à tentativa444 betssuicídio. Ele dizia que eu era suja, imunda e pecadora. Você sabe o que é dizer isso a uma menina cristã, que sonha um dia morar no céu com Deus e sabe que para morar com Deus ela não pode pecar e tem que ser pura?

Ele não tinha o direito444 betsdizer aquilo para mim. Porque aos 6 anos444 betsidade, quando ele falou aquilo, eu achei que não iria mais para o céu. Ele roubou o céu444 betsmim. Ele interrompeu meu sonho444 betsmorar no céu. É isso que eles fazem, o abusador destrói sonhos, interrompe o destino. E hoje, no Brasil, fica-se culpando meninas e meninos. A criança não é culpada.

E tem outro detalhe com relação ao abuso: há adultos, que, quando olham para trás no abuso, sentiram prazer no abuso. Nem sempre o abuso é como no meu caso, com dor, com sangue, com violência. Tem abuso que é prazeroso para a criança, porque o pedófilo sabe como tocar, onde tocar, e às vezes desperta prazer. O nosso corpo foi feito pelo prazer. Eu encontro muitos adultos, especialmente mulheres, que se sentem culpadas porque sentiram prazer. Eu digo que não se sintam culpadas, eram crianças e não tinham controle sobre seus corpos.

Foi ruim a minha exposição. Foi ruim porque foram cruéis comigo, riram da minha história. Só Damares quis se matar aos 10 anos? Não. Estamos assim444 betscrianças no Brasil pensando444 betssuicídio. O suicídio entre crianças é444 betsverdade no Brasil. Na hora444 betsme matar, eu fui para cima do pé444 betsgoiaba. Na verdade, eu não queria me matar, eu queria aliviar a dor. Peguei veneno, veneno444 betsrato e quando estava444 betscima do pé444 betsgoiaba chorando eu comecei a conversar com meu amigo imaginário e o meu amigo imaginário tem nome. Se chama Jesus Cristo. As crianças conversam com amigos imaginários. Tem criança que conversa com duende. Eu não posso falar com Jesus? Tem crianças que falam com fadas, que falam com pôneis. Eu não posso falar com Jesus? Foi uma experiência extraordinária: falem como quiser, mas eu sei a experiência que tive lá.

444 bets BBC News Brasil - Eu conversei com pessoas próximas à senhora que me disseram que a senhora tem pautas muito próximas às da esquerda. Isso faz sentido? A senhora tem alguma afinidade com a pauta feminista, por exemplo?

444 bets Damares Alves - Eu quero dizer à esquerda que ela não é pai e mãe dos direitos humanos. Eles têm o discurso, é um discurso bom, eles têm o discurso, mas eu tenho discurso e tenho prática. 'Você não pode usar vermelho porque é a cor da esquerda'. Por que não? Você não pode usar certas palavras como empoderamento, porque é da esquerda. Espera aí. Tem mulher mais empoderada no Brasil do que eu? Uma menina que vem lá444 betsbaixo, que não tem sapato para estudar, que vai a uma escola, sofre violência, é discriminada e chega a ser ministra? Isso é empoderamento da mulher. Eu falo a palavra nesse sentido: dar voz e oportunidade à mulher. Não é que minhas pautas são iguais às da esquerda. É que, por algum tempo, a esquerda falou que era dona dos direitos humanos. Não tem pai e mãe essa bandeira, ela é444 betstodos nós.

444 bets BBC News Brasil - Muita gente diz também que o feminismo não é uma pauta da esquerda, é algo maior e444 betstodas as mulheres. A senhora concorda?

Papa Francisco

Crédito, Reuters

Legenda da foto, "Eu amo esse papa", diz Damares Alves

444 bets Damares Alves - Claro. O que questiono no feminismo é o ativismo radical. A forma444 betsalguns protestos delas. Sabia que estou conquistando muita coisa no Brasil só com o diálogo? É possível dialogar. Esse feminismo exagerado tinha uma pauta no Brasil: a marcha pelo aborto. Eu tenho tanta coisa no Brasil para proteger a mulher, porque eu vou à rua pedir só aborto. Nós temos uma legislação no Brasil que garante à mulher444 betscaso444 betsestupro fazer o aborto,444 betsrisco444 betsvida para a mãe e444 betscaso444 betsanencefalia. A legislação está lá, isso é bandeira do Congresso Nacional, eu não vou fazer ativismo contra ou pró-aborto, vou cuidar444 betsmulheres, levar comida e capacitação profissional.

444 bets BBC News Brasil - A senhora está444 betsRoma para, entre outros compromissos, se encontrar com o papa. Isso pode surpreender muita gente, a senhora é uma liderança evangélica forte e isso acontece dois meses depois da canonização da Irmã Dulce, quando nem o presidente, nem a primeira-dama, nem a senhora vieram para cá. Como vê esse encontro?

444 bets Damares Alves - Eu sou apaixonada por esse papa. Gosto demais dele. O Brasil é um país católico, um país444 betsmaioria católica, nós respeitamos demais a comunidade católica, trabalhamos444 betsparceria. Estar com o papa é uma honra e um orgulho para qualquer ser humano, independente da444 betsreligião. Eu vou estar com uma das figuras mais impactantes e impressionantes da nossa era, que é o papa Francisco.

444 bets BBC News Brasil - Parte dos seus apoiadores não deve gostar desse seu comentário, chamam esse papa444 betscomunista. O que a senhora acha disso?

444 bets Damares Alves - Algumas pessoas acham esse papa demasiadamente progressista, outros acham conservador. O que conheço do papa Francisco? Um homem que se preocupa com educação, com família. Eu só tenho que admirar esse homem. Então, é a minha posição. Eu gosto do papa. Tem pessoas que o criticam. Eu gosto demais dele.

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