Desnutrição, abusos e mortes fazem da Amazônia o pior lugar do Brasil para ser criança:caça níquel jogo

Amazônia
Legenda da foto, Indicadores apontam que a Amazônia é o pior lugar do Brasil para ser criança

"Casos como estes são recorrentes no município", lamenta a assistente social, cuja infância também foi marcada pela pobreza. Em Breves,caça níquel jogoacordo com dados do Sistemacaça níquel jogoVigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), 37,7% das criançascaça níquel jogoaté cinco anoscaça níquel jogoidade sofriamcaça níquel jogodesnutrição crônicacaça níquel jogo2018 — percentual bem maior que a média brasileira,caça níquel jogo13,1%.

No Pará, 85% dos domicílios não têm acesso adequado à redecaça níquel jogoesgoto, e 2.157 crianças morreram antescaça níquel jogocompletar um anocaça níquel jogo2016. "Depois da escola brincava na rua mesmo, no meio das poças d'água", lembra Glinda. "Não senti faltacaça níquel jogopolíticas voltadas à cultura, esporte e lazer. Não dá pra sentir falta daquilo que não vivenciei."

Assistente social Glinda Sousa Farias, 25 anos

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, "Depois da escola brincava na rua mesmo, no meio das poças d'água", lembra Glinda, que cresceucaça níquel jogoBreves e hoje acompanha denúncias contra violaçãocaça níquel jogodireitoscaça níquel jogocrianças

Filhacaça níquel jogopai madeireiro e mãe sacoleiracaça níquel jogouma famíliacaça níquel jogobaixa renda com quatro filhos, ela viu o pai ficar desempregado depois que a madeireiracaça níquel jogoque ele trabalhava fechou as portas,caça níquel jogo2009. A família, que morava no centro da cidade, mudou-se para um bairro mais distante e passou a vivercaça níquel jogoum pequeno cômodocaça níquel jogomadeira. Nesse período, sobreviveram basicamente da renda do Bolsa Família, que transfere R$ 89 por pessoa a famílias que vivem abaixo da linhacaça níquel jogopobreza, mais R$ 41 por criança ou adolescente, limitado a R$ 205 (cinco benefícios).

"As madeireiras fecharam por completo ou parcialmente, mas não tínhamos um plano B. Não estou defendendo o desmatamento, só que ninguém disse para o meu pai o que ele deveria fazer. Isso aconteceu com muitas famílias. Papai depois conseguiu outro emprego, mas outros não tiveram a mesma sorte."

Conseguiram, com muito esforço, manter os filhos na escola pública, e Glinda e os irmãos, quando adultos, estudaram também na Universidade Federal do Pará (UFPA). "Hoje, os filhos estão concluindo o ensino superior, outros formados, concursados, empregados. Todos da família têm renda própria", afirma, reconhecendo que, nas estatísticas da região, históriascaça níquel jogosucesso como a dela são exceção.

4caça níquel jogo10 crianças sãocaça níquel jogofamílias sem renda para cesta básica

Ao todo, 9 milhõescaça níquel jogocrianças vivem na Amazônia Legal, região formada por Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima e parte dos Estadoscaça níquel jogoMaranhão, Tocantins e Mato Grosso. Os indicadores apontam que,caça níquel jogotodas as regiões do país, é ali o pior lugar do Brasil para ser criança, destaca relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Sãocaça níquel jogolá os mais altos níveis nacionaiscaça níquel jogomortalidade infantil.

Nos nove Estados da Amazônia Legal, cercacaça níquel jogo43% das crianças e dos adolescentes vivemcaça níquel jogodomicílios com renda per capita insuficiente para adquirir uma cesta básicacaça níquel jogobens, contra 34,3% da média nacional. Além disso, muitas meninas e muitos meninos amazônicos não têm atendidos seus direitos a educação, água, saneamento, moradia, informação e proteção contra o trabalho infantil.

Em 2016, 1.225 crianças morreram antescaça níquel jogocompletar 1 ano no Estado do Amazonas. Além disso, desde 2010, os casoscaça níquel jogosífilis congênita diagnosticadoscaça níquel jogocrianças menorescaça níquel jogoum anocaça níquel jogoidade cresceram 710%, segundo dados do ministério da Saúde reunidos pela Unicef. Foram 802 casos sócaça níquel jogo2017. A proporçãocaça níquel jogomães com acesso ao pré-natal foicaça níquel jogo46%, registrando um aumentocaça níquel jogo183% entre 2000 a 2016.

"A Amazônia é o pior lugar do Brasil para ser criança. Todos os indicadores sociais estão apresentando valores piores que a média brasileira e muitíssimo piores que os do sudeste do país. De criança fora da escola, vacinação, mortalidade infantil, acesso à água, saneamento", resume a coordenadora do Unicef na Amazônia Legal, Anyoli Sanabria. Ela explica que as crianças vivemcaça níquel jogoum estadocaça níquel jogo"privação múltipla",caça níquel jogoque, alémcaça níquel jogoviver na pobrezacaça níquel jogotermos financeiros, elas têm vários outros direitos violados que prejudicam não sócaça níquel jogoqualidadecaça níquel jogovida, mas comprometem seu futuro e limitam seu desenvolvimento.

As áreas rurais e dispersas ficam,caça níquel jogogrande medida, sem acesso ou com acesso limitado aos serviços básicos como saúde, educação e proteção social. Vulneráveis e desassistidas, essas populações — principalmente, crianças e adolescentes — enfrentam uma sériecaça níquel jogoriscos, alerta a entidade.

Moradores das comunidades ribeirinhas do região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

Crédito, Bruno Barreto/Instituto Mamirauá

Legenda da foto, Moradores das comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

'Sem social, não há ambiental'

A visãocaça níquel jogoeducadores, agentescaça níquel jogosaúde, ONGs e instituições dedicadas à infância ouvidas pela BBC News Brasil écaça níquel jogoque as crianças que vivem na Amazônia, nas cidades ou na zona rural, enfrentam uma quase que total escassezcaça níquel jogoserviços públicos — à exceção das que vivem nas capitais. Eles alertam: não vai dar para salvar o meio ambiente sem preservar a população local, cada vez mais vulnerável e dependendocaça níquel jogobenefícios sociais.

"Sem social, não há ambiental", resume Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, que atua na Amazônia. "No mundo inteiro as questões da pobreza e do meio ambiente estão ligadas", afirma Scannavino, que diz que famílias pobres e sem assistência e serviçoscaça níquel jogosaúde são mais vulneráveis ao ilegalismo ambiental.

"Se eu tenho uma criança doente e eu precisocaça níquel jogodinheiro,caça níquel jogoremédio, e tem um madeireiro pedindo uma autorização para tirar uma árvore do meu lote, muito provavelmente eu vou estabelecer um acordo com ele, porque a vida do meu filho estácaça níquel jogojogo. Situações como essa se repetem e impactam o meio ambiente e favorecem a cultura do ilegalismo."

Para serem efetivas, as políticas públicas para a infância na região precisam considerar as peculiaridades e desafios extras do chamado "fator amazônico": as meninas e os meninos vivem com suas famíliascaça níquel jogouma região muito extensa territorialmente, mas pouco povoadacaça níquel jogocomparação às demais regiões. Em média, cada quilômetro quadrado da Amazônia é habitado por apenas cinco pessoas, enquanto quecaça níquel jogooutras regiões do País essa taxa écaça níquel jogo48 habitantes por quilômetro quadrado.

Às vezescaça níquel jogocomunidadescaça níquel jogodifícil acesso vivem crianças indígenas, quilombolas, ribeirinhos, mas também mais e maiscaça níquel jogograndes cidades — juntamente com populações tradicionalmente urbanas, afirma a Unicef no relatório "Agenda pela Infância e Adolescência na Amazônia".

A principal privação a que meninas e meninos amazônicos estão sujeitos é a faltacaça níquel jogoacesso a saneamento. Enquanto a média nacionalcaça níquel jogocrianças e adolescentes sem esse direito estácaça níquel jogo24,8%, na maioria dos Estados da Amazônia ela está próxima aos 50%, chegando a 89% no Amapá,caça níquel jogodadocaça níquel jogo2017. A única exceção na região é Roraima, com 11,5%caça níquel jogocrianças e adolescentes sem saneamento, segundo a Unicef.

"Os indicadores sociais mostram que as crianças na Amazônia têm maior riscocaça níquel jogomorrer antescaça níquel jogoum anocaça níquel jogoidade ecaça níquel jogonão completar o ensino fundamental. Além disso, a taxacaça níquel jogogravidez na adolescência é alta, e as meninas e os meninos na região estão vulneráveis às mais variadas formascaça níquel jogoviolência, incluindo o abuso, a exploração sexual, o trabalho infantil e o homicídio", afirma relatório da Unicef divulgadocaça níquel jogosetembro e que analisa os principais desafios para a infância na região.

Açaizal nativocaça níquel jogoBreves

Crédito, Antonio Silva/ Agência Parácaça níquel jogoNotíciasAGPA

Legenda da foto, Extrativismocaça níquel jogoaçaí é uma das atividades econômicascaça níquel jogoBreves, que já viveu cicloscaça níquel jogoextração da borracha e da madeira

Também é na Amazônia Legal que o assassinatocaça níquel jogojovens e adolescentes aumentacaça níquel jogoritmo mais acelerado no país. Entre 2007 e 2017, o númerocaça níquel jogohomicídioscaça níquel jogojovens cresceu acima da média nacionalcaça níquel jogoquase todos os Estados que compõem a Amazônia Legal. Enquanto o homicídiocaça níquel jogojovenscaça níquel jogo15 a 19 anos aumentou 35,1% no Brasil na década, avançou muito mais no Acre (312,5%); Amapá (107%); Amazonas (117,8%); Maranhão (78,5%); Pará (94,1%); Roraima (112,8%); e Tocantins (222,3%). As exceções foram Mato Grosso (25,8%) e Rondônia (8,6%), segundo dados do Atlas da Violência, elaborado pelo Fórum Brasileirocaça níquel jogoSegurança Pública.

"As altas taxascaça níquel jogohomicídiocaça níquel jogoadolescentes mostram que a vidacaça níquel jogomeninas e meninos das periferias é marcada por uma enorme faltacaça níquel jogooportunidades que os torna cada vez mais vulneráveis à violência letal. Alémcaça níquel jogomanter os investimentos na primeira infância, é necessário que o país invista igualmente na segunda décadacaça níquel jogovida", defende a Unicef no relatório "Agenda pela infância e adolescência na Amazônia".

No meio da água, sem água

A 1500 quilômetroscaça níquel jogoBreves (PA) no municípiocaça níquel jogoTefé (AM), com cercacaça níquel jogo60 mil habitantes na região do Médio Solimões, na Amazônia Central, nenhum aluno pode beber água na escola, apesarcaça níquel jogoviverem na maior bacia hidrográfica do mundo. Coliformes fecais foram detectados na águacaça níquel jogotodas as 19 escolas do município, levando a frequentes casoscaça níquel jogogiárdia, lombriga e diarreias.

Também faltam banheiros e recursos para higiene pessoal, e qualquer tipocaça níquel jogosaneamento básico é praticamente inexistente. Em 52% das escolas nota-se a presença ostensivacaça níquel jogomoscas, segundo estudo realizadocaça níquel jogo2015 pelo Institutocaça níquel jogoDesenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações que atuacaça níquel jogoreservas na região da Amazônia central, e trabalha com uma comunidade estimadacaça níquel jogo13 mil pessoas.

"A qualidade da água é uma questão relevante para as crianças, as pessoas que moram na várzea não têm águacaça níquel jogoqualidade para beber. Reflete principalmente a carênciacaça níquel jogoserviços públicos, a faltacaça níquel jogoenergia elétrica, que inibe tanto o bombeadorcaça níquel jogoágua quanto tratamentocaça níquel jogoágua", diz explica Maria Cecilia Gomes, engenheira ambiental e pesquisadora e coordenadora do programa qualidadecaça níquel jogovida do Institutocaça níquel jogoDesenvolvimento Sustentável Mamirauá.

"Praticamente não existem esses serviços nas áreas rurais da Amazônia. A gente pode dizer que as condiçõescaça níquel jogosaúde são bastante precárias, principalmente na disponibilidade e a qualidade da água. Às vezes a água está presentecaça níquel jogoquantidade, mas está contaminada", afirma a pesquisadora, que cita que é comum a incidência na populaçãocaça níquel jogodiarreia relacionada a lombriga, giárdia, ameba.

Maria Mercês Bezerra da Silva, técnicacaça níquel jogoenfermagem que atua no instituto há maiscaça níquel jogo20 anos, diz que, apesar da precariedade, hoje nota-se mais consciência da populaçãocaça níquel jogorelação a medidascaça níquel jogohigiene pessoal, por exemplo, mas falta o reforço das políticas públicas que praticamente inexistem para muitas comunidades.

Moradorescaça níquel jogocomunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

Crédito, Aline Fidelix/Instituto Mamirauá

Legenda da foto, Moradorescaça níquel jogocomunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

Mesmo quando estão na escola, a saúde das crianças estácaça níquel jogorisco. Pesquisa "Avaliação do cenário WASH (água, saneamento e higiene)caça níquel jogoescolas urbanas e ruraiscaça níquel jogouma pequena cidade na Amazônia brasileira", publicadacaça níquel jogo2018 com dados referentes a 2015, mostrou que as escolascaça níquel jogoTefé não ofereciam condições sanitárias adequadas para seus alunos e não realizam manutenção periódicacaça níquel jogosuas instalações.

"As irregularidades documentadas incluem a faltacaça níquel jogosabão para lavar as mãoscaça níquel jogo84% das escolas, a presençacaça níquel jogovetorescaça níquel jogodoenças e outros insetos, bebedouros e banheiros insuficientes e com manutenção insuficiente, inundações e entupimentoscaça níquel jogobanheiros, água potável contaminada com E. coli e faltacaça níquel jogomanutenção regularcaça níquel jogofossas sépticas. Com basecaça níquel jogonossos resultados, pode-se estimar que maiscaça níquel jogo9.000 estudantes no municípiocaça níquel jogoTefé estão expostos a riscos resultantes das más condições sanitáriascaça níquel jogosuas escolas".

A situação é ainda mais grave para as crianças indígenas, segundo a Unicef. Do total da população autodeclarada indígena do país, 46,6% vivem na Amazônia Legal, representando 1,5% da população da região. Enquanto o Brasil registra 14 óbitoscaça níquel jogomenorescaça níquel jogo1 ano por 1.000 nascidos vivos. Entre os indígenas, na Amazônia, morrem aproximadamente 31,3 crianças menorescaça níquel jogoum ano para cada 1.000 nascidas vivas. "É fundamental priorizar investimentos e esforços naqueles gruposcaça níquel jogocrianças e adolescentescaça níquel jogosituaçãocaça níquel jogomaior vulnerabilidade", defende a entidade.

Violência sexual e propostacaça níquel jogo'fábricacaça níquel jogocalcinhas'

"Gente, será que o Brasil não descobriu que o paraíso é aqui? Vocês têm uma ilha extraordinária. Eu vejo turista do mundo todo cruzando o mundo para ir para o Havaí, pra colocar um colarzinho e dançar hola. Vamos ver os turistas do mundo todo chegando aqui para dançar carimbó", disse,caça níquel jogodiscurso no dia 18caça níquel jogojulhocaça níquel jogoBreves, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Naquele dia, Damares lançou o programa Abrace o Marajó, com o objetivocaça níquel jogoerradicar o abuso e a exploração sexual e a violência contra a mulher no país. Cogitou, na ocasião, até criar um gabinete próprio na cidade.

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no lançamento do Abrace o Marajó,caça níquel jogoBreves (PA):

Crédito, Willian Meira - MMFDH

Legenda da foto, A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no lançamento do Abrace o Marajó,caça níquel jogoBreves (PA): "Nós temos que levar uma fábricacaça níquel jogocalcinhas para a ilha do Marajó, gerar emprego lá"

"O projeto é unir todos os ministérios pra agora. As crianças do Marajó têm pressa. Inclusive eu estava conversando com a minha assessoria se há a possibilidadecaça níquel jogoeu ter um gabinete aqui no Marajó. Eu sei o que é violência contra criança. Fui estuprada aos seis anos e fui barbaramente agredida por um homem hospedado na minha casa", disse a ministra, ao participarcaça níquel jogoaudiência pública sobre o tema na cidade.

"Por que os pais exploram [as crianças]? É por causa da fome? Vamos levar empreendimentos para a ilha do Marajó, vamos atender às necessidades daquele povo. Uns especialistas chegaram a falar para nós aqui no gabinete que as meninas lá são exploradas porque não têm calcinha. Não usam calcinha, são muito pobres. E perguntaram 'por que o ministério não faz uma campanha para levar calcinhas para lá?'", questionou. "Nós temos que levar uma fábricacaça níquel jogocalcinhas para a ilha do Marajó, gerar emprego lá, e as calcinhas saírem baratinhas para as meninas", disse a ministra,caça níquel jogodiscurso disponível no Youtube.

A ministra escolheu Marajó para lançar o programa nacional porque a região é emblemática quando se trata da exploração sexual infantil. A fama começoucaça níquel jogo2006, quando denúncias revelaram uma redecaça níquel jogoexploração sexualcaça níquel jogocrianças e tráficocaça níquel jogodrogas no municípiocaça níquel jogoPortel (PA), vizinhacaça níquel jogoBreves, que envolvia vereadores, empresários, autoridades policiais, servidores públicos. Historicamente, os casoscaça níquel jogoexploração sexual comercial na região ocorrem com o consentimento ou não dos pais, seja na área urbana, rural ou nos rios,caça níquel jogobalsas.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirmou que a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente estará contribuindo com ações para a prevenção e o enfrentamento das violações aos direitoscaça níquel jogocrianças e adolescentes da região, com especial atenção ao abuso e a exploração sexual.

Além disso, informou que estão sendo firmadas parcerias com as prefeiturascaça níquel jogoSoures e Breves para a realizaçãocaça níquel jogocapacitação dos atores do Sistemacaça níquel jogoGarantiacaça níquel jogoDireitos,caça níquel jogoprofissionais da educação, da saúde e da segurança, "ainda durante este mêscaça níquel jogonovembro". Aindacaça níquel jogoacordo com a pasta, "está prevista para dezembro uma grande açãocaça níquel jogoparceria com a iniciativa privada para a distribuiçãocaça níquel jogobrinquedos e material educativo para alertar pais, responsáveis, crianças e adolescentes acerca do abuso e da exploração sexual".

"A exploração sexual infantil, infelizmente, é uma mazela social encontradacaça níquel jogodiferentes municípios da região marajoara Ocidental, destacando-secaça níquel jogoPortel, Melgaço, Curralinho, Chaves, Afuá, Muaná e no municípiocaça níquel jogoBreves que é considerado o mais bem estruturado e que concentra o maior númerocaça níquel jogohabitantes", explica estudo da pesquisadora Jacqueline Tatiane da Silva Guimarães, doutoracaça níquel jogoeducação e mestrecaça níquel jogoServiço Social pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Ela destaca que a exploração sexual, violência, educação precária, fome e dentre outros problemas fazem parte da vida dessas infâncias. "O quadrocaça níquel jogopobreza atinge diretamente a infância marajoara, que se torna alvocaça níquel jogoexploração, violência e assédios, tendo os seus corpos vistos como simples forçacaça níquel jogotrabalho e mercadoria."

Para além das calcinhas, vulnerabilidade econômica e a pobreza das famílias parecem ser os elementos mais determinantes para a faltacaça níquel jogoproteção das crianças contra este tipocaça níquel jogocrime. A economia do Marajó é marcada historicamente por atividades predatóriascaça níquel jogomatérias-primas, que geraram renda concentrada na mãocaça níquel jogopoucos extraem riqueza sem gerar bem-estar para a população, como a exploração da borracha e da madeira, deixando um rastrocaça níquel jogodesemprego que perdura até hoje.

No Arquipélago do Marajó, estão concentrados os municípios mais pobres do Estado do Pará e do Brasil, com o menor PIB per capita do Estado. O rendimento mensal das famílias giracaça níquel jogotorno das vendas do açaí e mandioca na feira do agricultorcaça níquel jogoBreves, juntamente com benefícios sociais, segundo estudo das pesquisadoras Avelina Oliveiracaça níquel jogoCastro e Maria Angelica Motta-Maués, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

"Na cidade, só 6,1%caça níquel jogodomicílios têm esgotamento sanitário adequado. A água é distribuída só quatro horas por dia, e não para todos os bairros. Por isso, uma cena comum é ver as crianças dedicando parte do dia a levarcaça níquel jogobaldes a água que tiram diretamente do Rio Parauaú, o principal da cidade, ou dos caminhões-pipa", diz a pesquisadora Jacqueline Guimarães, da UFPA. "A realidade da infância está intimamente ligada à realidade das famílias marajoaras, que refletem nas crianças as condiçõescaça níquel jogovida que estão sendo submetidas, a faltacaça níquel jogoemprego, baixa escolaridade", diz,caça níquel jogoartigo. "As crianças acabam por não ter seu desenvolvimento garantido, pois as crianças no Marajó têm seus direitos violados porque suas famílias estão sendo violadas, ecaça níquel jogoluta diária acaba sendo pela própria sobrevivência."

Comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central:

Crédito, Rafael Forte/Instituto Mamirauá

Legenda da foto, Comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central: 63% das casas do Amazonas não têm acesso à rede geralcaça níquel jogoesgoto ou água tratada

Por que a riqueza dos grandes empreendimentos não chega às crianças?

A exploração da riqueza da região e os grandes empreendimentos, diferentemente do que pode supor o senso comum, têm tornado mais pobres e desprotegidas as vidas das crianças da Amazônia.

Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Centrocaça níquel jogoPesquisa Aplicadacaça níquel jogoDireitos Humanos e Empresas da Fundação Getúlio Vargascaça níquel jogoSão Paulo (FGV CeDHE), com o apoio financeiro do Fundo Nacional para Criança e o Adolescente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, aponta diversos impactos e violações nos direitos das crianças e adolescentes, analisando os casos das usinascaça níquel jogoBelo Monte,caça níquel jogoAltamira (PA), Jirau e Santo Antonio,caça níquel jogoPorto Velho (RO), e faz uma associação direta das obras com o aumento dos casoscaça níquel jogoviolaçãocaça níquel jogodireitos das crianças.

Usinacaça níquel jogoBelo Monte

Crédito, Beto Silva / Norte Energia/Senado

Legenda da foto, Análise da implantação das usinascaça níquel jogoBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, aponta relação direta das obras com o aumento dos casoscaça níquel jogoviolaçãocaça níquel jogodireitos das crianças

Um exemplo é o casocaça níquel jogoAltamira, quecaça níquel jogo2017 tornou-se o município com a maior taxacaça níquel jogohomicídio do Brasil — 114 homicídios para 108.382 habitantes —, atestando um crescimento da violência social associado ao processocaça níquel jogoimplantaçãocaça níquel jogoBelo Monte e à expansão rápida, desordenada e mal planejada da cidade, aponta o estudo.

Dados da Polícia Civil apontam que Altamira tinha taxa por 100 mil habitantescaça níquel jogo52 homicídioscaça níquel jogo2009, último ano antes do início das obras, explica um dos coordenadores do estudo, pesquisador Assiscaça níquel jogoCosta Oliveira, professor do campus Altamira da UFPA e doutorando pela Universidadecaça níquel jogoBrasília (UnB).

"Um fluxocaça níquel jogomilharescaça níquel jogopessoascaça níquel jogofora da cidade, buscando emprego direto ou indireto nas obras com perfil majoritariamente masculino, e que reconfigurou as dinâmicascaça níquel jogoconvivência ecaça níquel jogoconflito social", diz Oliveira. Quando as obras terminaram, muitos ex-trabalhadores permaneceram no municípiocaça níquel jogosituaçãocaça níquel jogoociosidade e desemprego, levando,caça níquel jogoalguns casos, que também entrassem no mercado do tráficocaça níquel jogodrogas para conseguir renda. "Os danos sociais estão muito menosprezados na implantação das grandes obras e empreendimentos."

Também atraiu moradores para Altamira o alagamento do rio Xingu, decorrente do barramento da Belo Monte no município. Enquanto todas essas pessoas se mudavam para lá, não houve nenhum reforço prévio ou contrapartidacaça níquel jogoinvestimento a maiscaça níquel jogosegurança pública, por exemplo, para proteger a população local.

O que se viu, no estudo dos casoscaça níquel jogoBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, foi um aumento vertiginosocaça níquel jogocasoscaça níquel jogoabuso e exploração sexual no períodocaça níquel jogoimplantação dos empreendimentos, que mantém patamar elevado, ainda que menor, quando os empreendimentos começaram a funcionar. "No caso do abuso sexual, constatou-se que existe um aumentocaça níquel jogodenúncias aos órgãos públicos, mas existiu uma demora/dificuldadecaça níquel jogojudicialização e punição dos acusados, muitas vezes decorrentes da inexistênciacaça níquel jogoinformações sobre a localização dos mesmos."

Também houve um aumentocaça níquel jogodemanda por reconhecimentocaça níquel jogopaternidade e pensão alimentícia quando as obras terminaram e os funcionários começaram a ir embora, "diretamente ligada às relações afetivo-sexuaiscaça níquel jogofuncionários das obras com adolescentes e mulheres da região, com correlato descompromissocaça níquel jogoprover o sustento econômico aos seus filhos".

Distribuiçãocaça níquel jogofiltros d'águacaça níquel jogocomunidade do Rio Tabajós, trabalho da ONG Saúde & Alegria

Crédito, ONG Saúde e Alegria/Divulgação

Legenda da foto, Distribuiçãocaça níquel jogofiltros d'águacaça níquel jogocomunidade do Rio Tabajós, trabalho da ONG Saúde & Alegria

Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelecem que os direitos das crianças e adolescentes devem ser considerados prioridade absoluta, destaca o estudo. "O que significa que devem ter primazia na formulaçãocaça níquel jogopolíticas sociais,caça níquel jogoproteção e no atendimentocaça níquel jogoserviços públicos, conforme prevê o artigo 4, parágrafo único, do ECA".

Enquanto integrantes da sociedade, as empresas também são responsáveis por fazercaça níquel jogoparte na responsabilidade pela proteção dos direitoscaça níquel jogocrianças e adolescentes, alerta o estudo. Mas, nos casoscaça níquel jogoBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, a análise dos 891 documentos que compõem os processoscaça níquel jogotomadacaça níquel jogodecisão mostrou que os direitos das crianças e adolescentes só foram consideradoscaça níquel jogo64 documentos, na etapacaça níquel jogolicenciamento ambiental.

Quais são as soluções sugeridas?

Para melhorar a vida das crianças na Amazônia, destaca a pesquisadora Jacqueline Guimarães, da UFPA, é preciso que as entidades que trabalham com a criança e adolescente realizem um trabalho conjuntocaça níquel jogoformacaça níquel jogorede, tendocaça níquel jogomente que cada região tem suas peculiaridades.

"Não basta a simples existênciacaça níquel jogoEscolas, Conselhos Tutelares, Conselhocaça níquel jogoDireito da Criança e adolescente, Centroscaça níquel jogoReferênciacaça níquel jogoAssistência Social. É fundamental a realizaçãocaça níquel jogoaçõescaça níquel jogodiálogos e agendas que se comuniquem e articulem entre as diferentes instituições que pretendem proteger a infância".

Na visão da Unicef, é fundamental identificar e acompanhar a dispersão das populações indígenas e ribeirinhas, que emigramcaça níquel jogosuas terras para as periferias das cidades. Em muitos casos, esses fluxos migratórios acontecemcaça níquel jogorazão da implantaçãocaça níquel jogograndes obrascaça níquel jogoinfraestrutura - que, por um lado, desalojam populações e, por outro, geram empregos, oucaça níquel jogobuscacaça níquel jogooutras oportunidadescaça níquel jogotrabalho, por questõescaça níquel jogosaúde, por causacaça níquel jogoconflitos fundiários oucaça níquel jogobuscacaça níquel jogoeducação. "A maioria da população indígena jovem já se encontra na periferia das médias e grandes cidades da região".

Outro caminho, defende a Unicef, é fortalecer a capacidade dos municípios, que representa o poder público mais próximo da população, para atuarcaça níquel jogocontextoscaça níquel jogograndes complexidades sociais, econômicas, sociais e geográficas, como a Amazônia. "Em muitos lugares, as instâncias municipais, estaduais e federal na Amazônia Legal não são capazescaça níquel jogogarantir e realizar sozinhas os direitos, especialmente das populações vulneráveis. Por isso, União, Estados e municípios precisam investir na formação e qualificação permanente dos serviços e agentes públicos. Isso pode ser feito por meiocaça níquel jogoparcerias com universidades e escolascaça níquel jogogoverno e gestão, e demais instituições públicascaça níquel jogopesquisa e ensino".

Para o coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, que atua na Amazônia, Caetano Scannavino, é preciso discutir um modelo econômico ecaça níquel jogodesenvolvimento que, alémcaça níquel jogogerar riqueza, beneficie a população localcaça níquel jogomaneira sustentável."

"Ao longo dessas décadas, desmatamos o equivalente a duas Alemanhas para que 63% dessas áreas fossem ocupadas por pastoscaça níquel jogobaixíssimas produtividade, níveis africanos. Estamos desmatando para ficar mais pobres? Não para substituir por algo eficiente, que poderia gerar inclusão e desenvolvimento para todos e não só para a geração atual, mas para a frente", diz ele que, para isso, defende uma somacaça níquel jogoesforçoscaça níquel jogotodos os setores da sociedade: governo, academia, ONGs e movimentos sociais, seguindo modeloscaça níquel jogoiniciativas que já funcionam na região,caça níquel jogopequena escala. "Isso que precisa ser debatido. Há décadas se extrai recursos da Amazônia, e as pessoas não estão mais ricas. Estão mais pobres porque não melhorou o pécaça níquel jogomeia, e a floresta não tem mais a riqueza que tinha antes".

A assistência social Glinda, moradoracaça níquel jogoBreves, tem visão parecida sobre o futuro das riquezas naturais da regiãocaça níquel jogoque ela nasceu. "A florestacaça níquel jogopé gera lucros pra uns e prejuízos pra outros", diz. "Esse é o nosso grande problema, eles a veem sob o olhar da ganância. Mas o aqui o povo existe e resiste".

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