Como exploração sem limitesbetano 2024areia põebetano 2024risco grão que 'transformou a civilização':betano 2024

betano 2024 Os visitantes do Burj Khalifa,betano 2024Dubai, atualmente o prédio mais alto do mundo, com 828 metrosbetano 2024altura, geralmente são apresentados a uma sériebetano 2024estatísticas sobrebetano 2024construção.

Uma delas é que o arranha-céu consumiu 330 mil metros cúbicosbetano 2024concreto, mistura que é feita principalmentebetano 2024areia. Estar cercado por um deserto deve ter sido uma bênção para o ponto turístico mais famoso dos Emirados Árabes Unidos, certo?

Errado.

De acordo com o Observatório da Complexidade Econômica, um bancobetano 2024dadosbetano 2024comércio internacional compilado pelo Institutobetano 2024Tecnologiabetano 2024Massachusetts (MIT), os Emirados Árabes Unidos são importadores líquidos da substância granular. Sim, um país no deserto que precisa importar areia.

Isso ocorre porque o material tão abundante nos Emirados Árabes Unidos não é o tipo mais apropriado para ser usado na construção civil. A areia utilizada no Burj Khalifa foi importada da Austrália.

O tipobetano 2024grão encontrado nos desertos não tem a composição certa para se misturar com água e cimento e se tornar concreto - uma fórmula na qual areia e cascalho são os componentes mais abundantes.

Pode parecer estranho, dadas as vastas extensõesbetano 2024deserto do mundo, mas alguns especialistas têm alertado para uma possível crise no abastecimento globalbetano 2024areia.

Uso x taxabetano 2024renovação

A areia é uma matéria-prima usada para fazer mais do que concreto. É a partir do aquecimentobetano 2024seus grãos que também é produzido o vidro, por exemplo. As estaçõesbetano 2024tratamentobetano 2024água, porbetano 2024vez, ainda a usam como filtro.

"Areiasbetano 2024vários tipos são ingredientes essenciais na fabricaçãobetano 2024detergentes, cosméticos, pastabetano 2024dente, painéis solares e chipsbetano 2024silício. Nossa civilização é construída literalmente na areia", diz o jornalista Vince Beiser, autorbetano 2024um livro lançado recentemente sobre o tema, O Mundobetano 2024um Grão: A História da Areia e Como ela Transformou a Civilização.

Beiser tem feito reportagens sobre areia há anos ebetano 2024produção inclui artigos sobre o mercado negro do produto.

De acordo combetano 2024pesquisa, há países como o Marrocos, onde a areia extraída ilegalmente representa uma parte substancialbetano 2024seu consumo.

"Em um número chocantebetano 2024países, pessoas estão sendo presas, torturadas e assassinadas por causa da areia. Ainda assim, a quantidadebetano 2024areia sendo extraídabetano 2024todo o mundo está aumentando - a custos terríveis para as pessoas e para o planeta".

O consumo é impulsionado pela crescente urbanização -betano 2024acordo com as Nações Unidas, a porcentagem da população global que vivebetano 2024áreas urbanas aumentarábetano 202454% para 66% até 2050. Desde 1950, a população urbana global aumentoubetano 2024746 milhões para 3,9 bilhões.

Há temoresbetano 2024que a demanda pelos grãos proverbiais tenha atingido um ponto insustentável.

Em um relatório contundente divulgadobetano 20242014, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estimou que o consumo globalbetano 2024areia e cascalho estava "conservadoramentebetano 2024maisbetano 202440 bilhõesbetano 2024toneladas por ano" e alertou para questõesbetano 2024sustentabilidade.

"Areia e cascalho representam o maior volumebetano 2024matéria-prima usada na terra depois da água. Seu uso excedebetano 2024muito as taxasbetano 2024renovação natural", disse o relatório.

"Essa grande quantidadebetano 2024material não pode ser extraída e usada sem um impacto significativo na biodiversidade, na turbidez da água (uma das medidasde qualidade) e nos níveis. Há também consequências socioeconômicas, culturais e até políticas".

A Índia, por exemplo, tem visto a proliferaçãobetano 2024gangues dedicadas a montar operações ilegaisbetano 2024mineração e silenciar dissidentes com violência.

As autoridades indianas enfrentam acusaçõesbetano 2024fechar os olhos para a exploraçãobetano 2024trabalhadores dedicados à extraçãobetano 2024areia.

Negócios bilionários

As atividades ilegais são estimuladas por um simples fato: a areia é um bom negócio.

O mercado globalbetano 2024areia vale US$ 70 bilhões (cercabetano 2024R$ 290 bilhões), segundo especialistasbetano 2024comércio da ONU. Seu preço médio no mercado internacional cresceu quase seis vezes nos últimos 25 anos.

"A ideiabetano 2024areia espalhada por praias ou intermináveis ​​desertos dificulta pensar na escassez, sem falar nos efeitos ambientais e humanosbetano 2024sua extração. Especialmente quando os custosbetano 2024extração são baixos e o acesso é quase ilimitado", explica Aurora Torres, ecologista do Centro Alemãobetano 2024Pesquisa Integrativa sobre Biodiversidade.

Grandes consumidores como Cingapura e China não conseguem o suficientebetano 2024seus mercados domésticos.

Cingapura é o maior importador do mundo, graças a um programabetano 2024quatro décadasbetano 2024expansão territorial no qual a ilha recuperou terras do mar - uma área totalbetano 2024130 quilômetros quadrados.

O projeto continuou, apesar da decisãobetano 2024vários países vizinhosbetano 2024suspender as exportaçõesbetano 2024areia para a ilha, por razões que variavambetano 2024preocupações ambientais a considerações políticas sobre rotas marítimas e fronteiras territoriais.

A China usou mais concreto (e mais areia) durante seu boombetano 2024construção entre 2011 e 2013 do que todo o consumo dos Estados Unidos durante o século 20,betano 2024acordo com dados da International Cement Review e do US Geological Survey.

No entanto, a segunda maior economia do mundo usa areia para algo além do que erguer espigões ou abrir novas rodovias.

O país recuperou terras do Mar do Sul da China, mais especificamente nas Ilhas Spratly, um arquipélago cuja soberania é reivindicada por vários países, mas que foi gradualmente tomada elos chineses.

"Isso significa que os países podem literalmente mudar suas fronteiras. A China construiu a maior frotabetano 2024dragagem do mundo e, desta forma, pode transportar mais areia do fundo do oceano para construir mais terras artificiais do que qualquer outra nação na Terra", acrescenta Beiser.

Mas a extraçãobetano 2024areia pode ter um efeito dramático. Autoridades na Indonésia relataram o desaparecimentobetano 2024ilhas inteiras por causa da mineração intensivabetano 2024areia, que levou à erosão.

A mineração excessiva também torna as áreas costeiras e fluviais mais propensas a inundações - algo preocupante quando consideramos que o nível do mar está subindo.

Em um artigo publicado no ano passado na revista Science, Aurora Torres e colegas também relataram que há evidênciasbetano 2024que a mineraçãobetano 2024areia no Sri Lanka exacerbou o terrível impacto do tsunami que atingiu o país 2004 e matou maisbetano 202430 mil pessoas.

Em uma ironia cruel, o desastre aumentou a demanda do país por areia como parte dos esforçosbetano 2024restauração da área costeira.

Custo ambiental

"A erosão e a degradação causadas pela extraçãobetano 2024areia também são uma ameaça à água e à segurança alimentar. Pode prejudicar os estoquesbetano 2024peixes e outras fontesbetano 2024alimentos cultivados", acrescenta Torres.

Sua "evidência número 1" é o Delta do Mekong, no Vietnã, que é a região produtorabetano 2024alimentos mais importante do sudeste asiático.

"A mineração excessiva é responsável pela maior penetraçãobetano 2024água salgada durante a estação seca. Isso prejudica o abastecimento domésticobetano 2024água e aumenta a salinização das terras cultivadas, o que afeta diretamente a produtividade."

Outros estudos mostraram que os locaisbetano 2024mineração podem contribuir para a propagaçãobetano 2024doenças: no Irã, piscinõesbetano 2024água limpa e calma, gerados pela extraçãobetano 2024areiabetano 2024rios, provaram ser locaisbetano 2024reproduçãobetano 2024mosquitos transmissores da malária.

Há também danos à biodiversidade, graças a mudanças no habitatbetano 2024espécies animais e vegetais. No Brasil, a mineraçãobetano 2024areia invade áreas protegidasbetano 2024floresta tropical perto do Riobetano 2024Janeiro e também é acusadabetano 2024causar degradaçãobetano 2024áreas da Amazônia.

Nos Estados Unidos, a mineração provocou a erosãobetano 2024áreas costeiras na Califórnia, o Estado americano mais associado ao surfe. Os cientistas especularam que a erosão e o levante dos mares poderiam fazer 70% das praias do Estado desaparecer completamente até 2100.

Além disso, as inundações que causaram estragosbetano 2024Houston, quando o furacão Harvey atingiu o continente,betano 2024agostobetano 20242017, foram agravadas pela mineraçãobetano 2024areia no rio San Jacinto.

Em Portugal, o colapsobetano 2024uma ponte sobre o rio D'Ourobetano 20242001, onde maisbetano 202459 pessoas morreram, teve a mineraçãobetano 2024areia como uma das causas.

"Eu não acho que alguém estábetano 2024posiçãobetano 2024dizer quando poderíamos ficar sem areia, mas isso não significa que deveríamos pensar que este é um recurso infinito. Precisamos estudar mais e mais o impacto da extração para obter mais respostas", diz Torres.

"Mas nós temos evidências suficientesbetano 2024que algo precisa ser feito para preservar o meio ambiente."