Como um grupoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesjornalistas surdos conseguiu lançar um dos programas mais assistidosapostas online em foguetesMoçambique:apostas online em foguetes

Jornalismoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessuperação
As reportagens do programa abordam temas ligados a pessoas com deficiências, mas também o noticiárioapostas online em foguetesgeral, principalmente saúde e esporte. Nos bastidores, a realidade da produção éapostas online em foguetessi um exemploapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesjornalismoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessuperação.
A redação é formada por oito jornalistas - sete deles surdos e um cadeirante. Além do repórter e do operadorapostas onlineapostas online em foguetesfoguetescâmera, há um terceiro integrante fundamental na equipe que sai às ruas: o intérprete. Todo o trabalho é feito com a intermediação dele. Na TV Surdo, são dois.
Há vezes ainda, durante a gravação,apostas online em foguetesque é preciso encontrar um tradutor para o intérprete, porque o entrevistado não fala português -apostas online em foguetesMoçambique, são faladas maisapostas onlineapostas online em foguetesfoguetes30 línguas. Certa vez, para produzir uma só reportagem, foi preciso se comunicarapostas online em foguetestrês línguas e fazer duas traduções.
Nenhum dos jornalistas surdos cursou ensino superior. Na verdade, a maioria nem concluiu o ensino regular. Com dificuldades para acompanhar as aulas, os jornalistas da TV Surdo foram abandonando a escola -apostas onlineapostas online em foguetesfoguetesformaçãoapostas online em foguetesjornalismo vemapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesum curso intensivo oferecido por uma ONG.
José Fernando Mulambo, repórter cinematográfico, cursou até a segunda classe, equivalente ao segundo ano do ensino fundamental no Brasil. Jorge Elias Mavamba, também repórter cinematográfico, foi até a quinta classe. Felismina Banze, editora, chegou à nona classe. Beatriz Majope, fotógrafa, e Lizete Vieira, repórter, fizeram até a décima.
A apresentadora Carla é a única que concluiu a décima segunda classe, e agora está no segundo ano no ensino superior.
Sousa, o diretor, estudou até a sexta. Levou treze anos,apostas onlineapostas online em foguetesfoguetes1982 a 1995, para completar um ciclo que deveria ter levado apenas seis anos. O jornalista precisou repetir cada ano duas vezes. "Quando terminei a sexta classe, eu já deveria estar na universidade."
Acesso à informação

Sousa ficou surdo aos 6 anos, depoisapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesuma meningite. Assim como ele, seisapostas onlineapostas online em foguetesfoguetescada dez pessoas surdasapostas online em foguetesMoçambique não nasceram surdas, mas tiveram alguma doença que provocou a perdaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesaudição.
De repente, assistir televisão com a família deixouapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesser um divertimento. Havia momentosapostas online em foguetesque todos riam, menos Sousa. Ele perguntava qual era o motivo das risadas e lhe respondiam que iriam lhe explicar depois. Mas, muitas vezes, o "depois" nunca chegava.
Isso acontecia com outros colegas surdos. Quando se encontravam, conversavam sobre os programasapostas onlineapostas online em foguetesfoguetestelevisão para ver o que cada um tinha entendido. Afinal, do que os parentes riam? Foi assim que surgiu a ideiaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetescriar a TV Surdo.
"As pessoas surdas recebem 'informações escuras'. A informação é dada, mas a pessoa surda não pode perceber. É assim na rádio, na televisão, nas escolas, nos hospitais", fala o criador do programa.
"A língua portuguesa é muito difícil para pessoas surdas. Por isso, devem aprender primeiro a línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais, depois o português. A TV Surdo é uma oportunidadeapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesse informarem pela línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais", diz Sousa.
Ele chegou à escola especial com oito anos, sem saber nada da línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais moçambicana. Foram os amigos que lhe ensinaram, pouco a pouco. Juntos, eles iam construindo o seu novo vocabulário, começando pelo universo do colégio e das crianças: caderno, cadeira, árvore, pássaro.
Apesarapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesa turma ser formada apenas por crianças surdas, as aulas não eramapostas online em fogueteslínguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais. "Os professores só usavam língua oral. É um desrespeito. Dentro da sala, ficávamos calados. Se o professor nos visse conversandoapostas online em fogueteslínguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais, dava palmatória", lembra Sousa.
Foram muitas as vezesapostas online em foguetesque ele e os amigos cabularam a aula e foram para um parque perto da escola. "Tinha balanços, brinquedos, mas a gente não usava. O que nós gostávamosapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesfazer era conversar. Sentávamos e conversávamos todo o tempo, até a horaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesir para casa."
Era um momento precioso. Muitas vezes, nemapostas online em foguetescasa as crianças surdas conseguiam conversar, porque suas famílias tampouco falavam línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais.

Hoje, já se usa línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais nas escolas especiais para surdosapostas online em foguetesMoçambique, mas a maioria das crianças com a deficiência não tem acesso a elas.
"As crianças surdas precisamapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesoportunidades iguais na educação. Não pode haver diferença. Não podem esperar ou depender da boa vontade das pessoas. É preciso ver como as pessoas surdas aprendem e preparar material adequado", diz o diretor da TV Surdo.
Redação do Enem
O diretorapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesadvocacia e saúde da TV Surdo, Emerson Chiloveque acompanhou com interesse o debate sobre o tema da redação do Enemapostas onlineapostas online em foguetesfoguetes2017, sobre o desafio da educação dos surdos no Brasil.
"Vi que esse tema pegou as pessoas desprevenidas. O fatoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetester havido um tema dessesapostas online em foguetesum exameapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesadmissão à universidade já é um grande passo. Tudo que está debaixo do tapete precisa ser exposto. Mas não se trataapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesum confronto. Agora é preciso aprofundar esse debate. Só falar sobre a pessoa surda não vai resolver", opina.
Único integrante do grupo que fez ensino superior, Chiloveque é um exemplo do caminho tortuoso dos surdos para chegar à faculdade.
Ele queria ir à universidade. Não passou no exameapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesadmissãoapostas online em foguetesuniversidades moçambicanas, então buscou bolsasapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesestudo fora do país. Concorreu e foi aceito na Rússia, um país parceiroapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesMoçambique desde a luta pela independênciaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesPortugal. A necessidadeapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesfalarapostas online em foguetesrusso, idioma que assustaria muita gente, não o deteve. Aprendeu a lerapostas online em foguetesrusso e contou com o apoio dos professores locais.
Chiloveque estudou Relações Internacionais e História na Universidade Pedagógicaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesTula. Na Rússia. Em russo.

Na TV Surdo, ele é a única pessoa que, apesarapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesnão ouvir, fala português. Ficou surdo aos 18 anos, devido a uma meningite, e conservou a fala. Naquela altura, estava terminando a escola. Teve que ficar um ano afastado e, quando voltou, "não compreendia absolutamente nada".
Para conseguir concluir, criou seu próprio métodoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesestudo: emprestava cadernosapostas onlineapostas online em foguetesfoguetescolegas e copiava as anotações. Em casa e na biblioteca, estudava sozinho.
"A minha história é diferente porque eu não nasci surdo. A maioria dos surdosapostas online em foguetesMoçambique tem uma educação muito pobre, tem dificuldadeapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesleitura e escritaapostas online em foguetesportuguês. A maioria não consegue chegar à décima classe. Há uma desistência muito grande. Temos que parar com esse ciclo", diz. "Pode haver outro Emerson a esperaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesoportunidades."
Além da produçãoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesreportagens, a TV Surdo também realiza palestrasapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessaúde. Um dos assuntos é o HIV, a principal causaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesmorteapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesadultosapostas online em foguetesMoçambique. Nos últimos meses, Emerson Chiloveque visitou escolas para falar sobre o tema com jovens surdos. E viu que muitos não tinham informação a respeito, ao contrário dos jovens ouvintes.
A dificuldadeapostas onlineapostas online em foguetesfoguetescomunicação com os surdos leva à faltaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesinformação, diz ele. "Temos mostrado a necessidadeapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesexistir uma comunicação inclusiva. Queremos transmitir informaçãoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesforma inclusiva."
Línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais
Tive a oportunidadeapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesconviver na redação da TV Surdoapostas online em foguetesoutubro, como parteapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesuma formação para jornalistas moçambicanos. Ali, eu era uma das únicas pessoas que não falava a línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais. Quem não podia se comunicar era eu, não eles.
"Vamos fazer um exercícioapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessubstituição", propôs Sousa. "Se há 900 mil pessoas ouvintes e 100 mil pessoas surdas, as pessoas surdas são a minoria. Mas se há 900 mil pessoas surdas e 100 mil pessoas ouvintes, os ouvintes são a minoria. Então, quem teria dificuldade na comunicação seriam os ouvintes. Se existissem muitos surdos, os ouvintes iriam querer aprender línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais para não se sentirem excluídos."
Muito acolhedora, a equipe da TV Surdo se esforçou para me incluir. Com paciência, foi me ensinando novos sinais, embora eu não tenha conseguido reter mais que vinte deles. É como aprender uma língua nova. Se era difícil para mim aprender a línguaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetessinais, eu não podia deixarapostas onlineapostas online em foguetesfoguetespensar como devia ter sido (e como ainda deve ser) difícil para eles aprenderem português.
Eu tinha muita dificuldadeapostas online em foguetescompreender uma conversa sozinha. Era dependente da ajuda do intérprete. Fernando, repórter cinematográfico, foi o que mais insistiu comigo. Tentava me fazer entender o que ele diziaapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesdiversas formas e, quando eu tentava buscar o socorro do intérprete, me estimulava a tentarmosapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesnovo. A sensação eraapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesfrustração por eu não conseguir corresponder à dedicação da TV Surdoapostas online em foguetesme ensinar a nova língua.
"Quantas pessoas surdas você conhece no Brasil?", foi a primeira pergunta que Fernando me fez. Eu fiquei desconcertada. Não conheço nenhuma. "Por que não conhece?", Fernando replicou, com a surpresa colada no rosto. Por que eu não conheço? Essa pergunta me acompanha até hoje. Segundo o IBGE, são quase 350 mil surdos no Brasil.
A experiência com a TV Surdo me ensinou muito sobre dedicação, motivação, superação, inclusão. E me ensinou sobre minha própria dificuldadeapostas onlineapostas online em foguetesfoguetescomunicação com pessoas surdas. A limitação não é só deles, éapostas onlineapostas online em foguetesfoguetestodos nós.
*Amanda Rossi é jornalista da BBC Brasil. Entre setembro e outubro, deu aulasapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesjornalismoapostas onlineapostas online em foguetesfoguetesdados para jornalistas moçambicanos, da TV Surdo inclusive.
