Por que o númeromelhor apostacrianças hospitalizadas por tentativamelhor apostasuicídio dobrou nos EUA?:melhor aposta
- Ricardo Senra
- Da BBC Brasilmelhor apostaWashington

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Relatórios evidenciam um crescimento sem precedentes nas tentativas e mortes consumadas por suicídio entre crianças e adolescentes nos EUA
melhor aposta Relatosmelhor apostamães e pais pedindo ajuda após encontrarem seus filhos à beira da morte após tentativasmelhor apostasuicídio se tornaram comunsmelhor apostafóruns online e redes sociais nos Estados Unidos.
"Minha filha tomou uma garrafa inteiramelhor apostaLexapro e meia garrafamelhor apostaWellbutrin (ambos antidepressivos). Ela vomitou cinco vezes antesmelhor apostame contar, quando acordei para trabalhar naquela manhã. Essa é uma visão que nenhum pai deveria ver", conta Hammer,melhor apostaum desabafo que deu origem a maismelhor aposta15 relatos semelhantes.
Ann diz que não sabe o que fazer para ajudar a filha. "Ela tem 15 anos e tentou se suicidar hoje ingerindo produtosmelhor apostalimpeza. (...) Ela já tinha tentado se matar vários meses atrás com um corte no pulso."
Claudia fala sobre culpa e vergonha.
"Minha filha, uma criança linda e talentosa, teve uma overdose ontem e eu sinto vergonha por não tê-la ajudado e protegido suficientemente. Sinto culpa, porque meu trabalho é garantir que a vida dela seja boa e segura. Mas no fundo, muito no fundo, também sei que a vida hoje é incrivelmente difícil para as crianças. As cobranças e expectativas parecem se mover muito rápido para que eles acompanhem, e eles sentem que falharam."
Phyllis fala sobre o filho, um meninomelhor aposta15 anos. "Encontrei meu filho no meu quarto,melhor apostaoverdose depoismelhor apostatomar meus remédios. Não consigo pararmelhor apostapensar no que poderia ter acontecido. Não consigo dormir, não consigo comer, e aquela manhã não sai da minha cabeça. Encontrei-o deitado na minha cama, quase sem respirar."
As tragédias se refletem nos resultadosmelhor apostadois relatórios divulgados recentemente nos EUA. Eles chamam atenção para um crescimento sem precedentes nas tentativas e mortes consumadas por suicídio entre crianças e adolescentesmelhor apostatodo o país.
As meninas encabeçam o grupo que mais cresce nesse ranking, evidenciando os impactosmelhor apostaproblemas geralmente associados a adultos - como depressão, ansiedade, bipolaridade e pressão por padrõesmelhor apostabeleza inatingíveis - na saúde mentalmelhor apostaquem ainda frequenta a escola.

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Meninas são o grupo mais vulnerável, por causamelhor apostapressão online e padrões idealizadosmelhor apostabeleza e comportamento
Recorde
De acordo com dados divulgados na semana passada pelo Centromelhor apostaControle e Prevençãomelhor apostaDoenças do governo americano, as mortesmelhor apostameninas entre 15 e 19 anos por suicídio atingiram um recordemelhor aposta40 anos - e dobraram entre 2007 e 2015, com 5,1 casos para cada 100 mil.
O fenômeno atinge também crianças e adolescentes do sexo masculino, cujas mortes ainda acontecemmelhor apostamaior número, mas crescemmelhor apostaritmo menos acelerado: 30% no mesmo período (são 14,2 casos para cada 100 mil), segundo o órgão oficial.
Em números absolutos,melhor aposta2015, foram registrados 524 suicídiosmelhor apostameninas e 1.537melhor apostameninos entre 15 e 19 anos.
Outro relatório apresentado recentemente no Encontro Anualmelhor apostaSociedades Pediátricas dos EUA aponta que as internaçõesmelhor apostamenoresmelhor apostaidade por pensamentos ou tentativasmelhor apostasuicídio dobraram entre 2008 e 2015.
O estudo se focoumelhor apostacrianças e adolescentes entre 5 e 17 anos e, novamente, apontou que o grupo que mais registrou aumento nas internações é o das meninas - que atualmente respondem por 2melhor apostacada 3 dos casos.
O suicídio é hoje a segunda principal causamelhor apostamortesmelhor apostacrianças e jovensmelhor apostaidade escolar (12 a 18 anos) nos EUA, ficando atrás apenasmelhor apostaacidentes.
O volume impressiona: a taxamelhor apostasuicídios infanto-juvenis, segundo o governo americano, é maior que a soma das mortes por câncer, doenças cardíacas e respiratórias, problemasmelhor apostanascimento, derrame, pneumonia e febre.
Pressão online
Chefe da alamelhor apostasaúde comportamental do hospital pediátrico Cook Children's, no Texas, a psicóloga Lisa Elliott diz que os dados recém-revelados "são absolutamente dolorosos, mas não são uma surpresa".
"Nós precisamos tirar os estigmas da saúde mental", diz a PhD, alertando para a incidência dos quadros entre menoresmelhor apostaidade, e não só entre adultos. "Problemasmelhor apostasaúde mental têm que ser vistos pelos pais como qualquer doença, da mesma maneira que os problemasmelhor apostacoração são."

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Redes sociais acabam tendo impacto negativo sobre a autoestimamelhor apostameninas, aumentando seu isolamento
Em coro com outros especialistas, ela afirma que o quadro se agrava pelo uso irresponsávelmelhor apostaredes sociais, que pode gerar competitividade e uma busca por padrõesmelhor apostabeleza e desempenho.
"As redes podem ter impacto negativo sobre a autoestima das meninas e isso aumenta o isolamento delas", avalia Elliott. "Quando notam que não têm uma vida tão perfeita ou glamourosa quanto amelhor apostaoutros, elas concluem que 'algo anormal ou errado está acontecendo comigo'."
Segundo a psicóloga, a sensaçãomelhor apostainvisibilidade nas redes impulsiona práticas ligadas ao bullying entre jovensmelhor apostaambos os sexos.
"O anonimato traz uma desumanização, uma perdamelhor apostaempatia pelos outros, especialmente aqueles diferentesmelhor apostanós. Assim perdemos a capacidademelhor apostarespeitar as opiniões diferentes, o que infelizmente resultamelhor apostamais bullying e mais isolamento."
À BBC Brasil, Eileen Kennedy-Moore, psicóloga e autoramelhor apostadiversos livros sobre saúde mental infantil, diz que não faz sentido proibir o acesso a redes sociais ("os celulares e tablets estão aí, não há como lutar contra isso"), mas que os pais precisam colocar "limites sensatos" na relação entre seus filhos e aparelhos eletrônicos.
"Adolescentes e crianças sempre tiveram a sensaçãomelhor apostauma audiência imaginária,melhor apostaque todos estão sempre olhando para eles", conta a especialista, que vive e trabalhamelhor apostaNova York.
"Com as redes sociais, a experiênciamelhor apostaser vigiado e julgado o tempo todo aumenta", avalia.
Segundo Kennedy-Moore, os aparelhos eletrônicos "também precisam ser colocados para dormir, já que nadamelhor apostabom acontece nesses telefones depois da meia-noite".
"As relações online podem ser uma fontemelhor apostaapoio e conforto. Pacientesmelhor apostacâncer, por exemplo, encontram gruposmelhor apostaapoio na internet que são maravilhosos", diz Moore. "Mas amizades online não podem substituir as amizades cara a cara, e os pais precisam prestar atenção nisso."
Economia e 'contágio'
Daniel J. Reidenberg, diretor do Conselho Nacional para Prevençãomelhor apostaSuicídios, alerta para outras raízes associadas ao aumento dos suicídios infanto-juvenis.
"Há uma pressão extrema sobre esse grupo por competição, ambições e preocupações com o futuro", diz.
"Crises econômicas também têm impacto, uma vez que alguns jovens se sentem um fardo para as famílias. Jogos, vídeos, TV e filmes também influenciam muito as mentes dos jovens. Outra chave para a questão são outros suicídios a que esses jovens expostos. O contágio do suicídio é real, e os jovens são particularmente sensíveis a ele", diz o especialista à BBC Brasil.
Segundo Lisa Elliott, enquanto meninos que tentam cometer suicídio apelam para métodos mais violentos, como o usomelhor apostaarmas, os casosmelhor apostameninas são normalmente associados ao excessomelhor apostasubstâncias controladas e drogas ilícitas.
"Adolescentes não entendem completamente as drogas que estão ingerindo e suas potenciais consequências. Isso pode resultarmelhor apostaoverdoses acidentais", alerta.
De acordo com os entrevistados, os pais que buscam ajuda profissional normalmente contam que encontraram menções a suicídio nos telefones ou cadernos dos filhos, ou perceberam mudançasmelhor apostacomportamento, como isolamento e afastamento dos amigos, irritabilidade, problemasmelhor apostasono emelhor apostanotas escolares e faltamelhor apostainteressemelhor apostaatividades que antes agradavam.

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Presença dos pais na vida dos filhos é estratégia mais eficaz para detectar pensamentos suicidas, e referências ao tema no noticiário podem servir como oportunidade para conversas
"A tentativa mostra muitas vezes que as crianças querem dizer que estão muito bravas ou tristes, mas não sabem como articular isso", avalia Kennedy-Moore. "E muitas pesquisas mostram que a maioria dos que tentam se suicidar acaba se arrependendo do ato."
Para Elliott, os dados apontados pelas pesquisas não devem ser ignorados pelos pais - cujo maior erro costuma ser achar que histórias como as que abrem esta reportagem nunca acontecerão com pessoas próximas.
As referências a suicídios no noticiário, segundo a especialista, podem servir como oportunidade para conversas sobre o tema entre pais e filhos.
"Pergunte a eles por que acham que isso está acontecendo e se sentem algo semelhante", diz. "Assim, você pode descobrir muito sobre o que eles ou seus amigos estão vivendo."
A presença dos pais nas vidas das crianças e jovens é a estratégia mais eficaz, segundo os entrevistados.
"Muitas vezes, nós enchemos a agenda dos nossos filhos com atividades porque pensamos que é saudável, quando seria melhor ter mais tempo com relações humanas saudáveis e realmente gastar tempomelhor apostafamília com qualidade, sem dispositivos eletrônicos", afirma Elliott.








