'O diaapostar na mega sena internetque a polícia americana apontou armas contra mim':apostar na mega sena internet
- João Fellet - @joaofellet
- Da BBC Brasilapostar na mega sena internetWashington

Crédito, Reuters
Campanha "Black Lives Matter" combate a violência policial contra os negros e ganhou projeção internacional
apostar na mega sena internet No começoapostar na mega sena internet2015, poucas semanas depoisapostar na mega sena internetme mudar para Washington, estava caminhando sozinho quando o desenho da luz do sol numa garagem chamou minha atenção. Parei e peguei o celular para fotografar a cena.
Em instantes, um carro subiu na calçada a uns três metrosapostar na mega sena internetmim. Dois homens com pistolasapostar na mega sena internetpunho saíram do veículo, apontando as armas na minha direção e ordenando que eu ficasse imóvel.
Como nos filmes, um deles mostrava um distintivo: eram policiais à paisana. Aos gritos, perguntaram o que eu fazia ali e me pediram um documento. Entreguei o passaporte, disse que estava tirando uma foto e questionei, entre apavorado e revoltado: "É proibido?"
Eles responderam que a polícia usava aquela garagem - o que eu não sabia - e que tinham achado minha atitude suspeita. Quando viram que eu tinha um vistoapostar na mega sena internetjornalista, baixaram o tom e explicaram que estavamapostar na mega sena internetalerta desde o atentado ao jornal Charlie Hebdo,apostar na mega sena internetParis.

Crédito, João Fellet - BBC Brasil
Essa foi a foto que me custou um 'enquadro'apostar na mega sena internetWashington
Anotaram meus dados num caderninho, pediram desculpas ("Estamos só fazendo nosso trabalho, espero que entenda") e foram embora.
Quando contei para minha mãe, a primeira reação dela foi perguntar se eu estava cabeludo e barbudo naquele dia. E sim, eu estava.
Meu cabelo é preto, grosso e cresce para cima. Quando viajo por países árabes ou do norte da África, sou percebido como local até abrir a boca. Para minha mãe, esses traços se acentuam quando estou com barba e cabelo compridos.

Crédito, Arquivo Pessoal
'Quando contei para minha mãe, a primeira reação dela foi perguntar se eu estava cabeludo e barbudo naquele dia'
Lembrei disso ao entrevistar na sexta-feira um latino que é professorapostar na mega sena internetrelações raciais na Universidade Loyolaapostar na mega sena internetChicago, Juan Perea.
Perguntei por que há menos apoio entre os latinos do que entre os brancos ao movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), que combate a violência policial contra os negros e ganhou projeção internacional. Segundo o Pew Research Center, 33% dos latinos nos EUA simpatizam com o movimento. Entre os brancos, são 40%.
Ele citou duas hipóteses: primeiro, os latinos, muitos deles imigrantes ou filhosapostar na mega sena internetimigrantes, ainda não conhecemapostar na mega sena internetdetalhes a história da violência sofrida pelos negros nos EUA.
E segundo: todos no país estão sujeitos a uma "força gravitacionalapostar na mega sena internetdireção à brancura". Por essa dinâmica, latinos que não são vistos nem como brancos nem como negros tendem a pender para o primeiro campo, disfarçando alguns traços físicos ou reprimindo comportamentos (como falar português ou espanholapostar na mega sena internetpúblico).
Ao agir assim, são recompensados. Latinosapostar na mega sena internetpele mais clara conseguem até passar por brancosapostar na mega sena internetalgumas circunstâncias, diz ele.
Quando minha mãe perguntou se eu estava barbudo e cabeludo, ela inconscientemente queria saber para qual lado eu estava pendendo.
Depois do episódio, cortei o cabelo e aparei a barba. Foi impressionante notar como no parqueapostar na mega sena internetque passeio com meu cachorro alguns americanos brancos que me ignoravam passaram a me cumprimentar.

Crédito, Reuters
Fotógrafoapostar na mega sena internetNova Orleans registrou imagemapostar na mega sena internetuma jovem negraapostar na mega sena internetvestido,apostar na mega sena internetpé e aparentando calma diante do que parece ser a chegada esbaforidaapostar na mega sena internetdois policiais armados e trajando equipamento completoapostar na mega sena internetchoque. A foto viralizou internacionalmente.
Sei que jamais me viram como "white" (branco), mas certamente havia me tornado menos "brown" (marrom - o conceito que abriga a maioria dos não negros e não brancos nos EUA). Fui recompensado por pender para a brancura - um privilégioapostar na mega sena internetpessoas que estão nessa zona cizenta.
A mesma lógica, imagino, vale para o Brasil, ainda que lá eu esteja fora dessa zona e seja sempre visto como branco, mesmo barbudo e cabeludo.
Saí ileso da abordagem, mas me pergunto o que teria ocorrido se tivesse feito algum gesto brusco. Teriam atirado? No início, não sabia nem que os homens eram policiais.
Também fiquei me perguntando se eu teria sido abordado se fosse um americano branco. Ou seapostar na mega sena internetfato fui descuidado ao deixar barba e cabelo crescerem.
Vejam como o sistema é perverso: sem perceber, você passa a se culpar por simplesmente ser quem é. Minha barba e meu cabelo cresceram porque barbas e cabelos crescem.
Mas principalmente me perguntava o que teria acontecido se eu fosse negro. Em 2015, 37% das pessoas desarmadas mortas pela polícia americana eram negras, embora negros sejam só 13% da população.
Na semana passada, dois negros desarmados tiveram suas mortes gravadas e divulgadas pelo Facebook - Philando Castile,apostar na mega sena internetMinesotta, e Alton Sterling,apostar na mega sena internetLousiana. Os casos alimentaram ainda mais o debate sobre violência policial contra os negros e geraram uma nova ondaapostar na mega sena internetprotestos pelo país.
Num deles,apostar na mega sena internetDallas, um atirador negro (Micah Johnson, 25 anos) matou cinco policiais e foi mortoapostar na mega sena internetseguida. Segundo a polícia, quando foi cercado pelos agentes, Johnson disse que queria matar pessoas brancas.
Alguns comentaristas conservadores disseram que o movimento Black Lives Matters está no epicentro dos protestos que se intensificaram nos últimos dias nos EUA: era parcialmente culpado pelo ataque por, segundo eles, ter acirrado a tensão racial nos EUA. Membros do movimento, porém, condenaram veementemente o atirador.
Para Na'ilah Suad Nasir, que pesquisa temas raciais na Universidade Berkeley, é preciso analisar os casos separadamente. "Temos um grave problema neste país com o terrorismo e a facilidadeapostar na mega sena internetobter armas, o que parece ter sido o casoapostar na mega sena internetDallas, e outro grave problema com violência policial."
Racismo sistêmico
Quando se falaapostar na mega sena internetracismo na polícia americana (e na brasileira), muitos costumam restringir o problema a "algumas maçãs podres" e a dizer que a maioria dos policiais são pessoas honestas, que querem apenas o bem dos cidadãos.
Mas para Juan Perea, da Universidade Loyola, a coisa é mais complexa: o policial que puxa o gatilho contra um negro desarmado numa abordagem pode ter uma carreira brilhante, ser bom pai e admirado pelos colegas.
Ele cita uma pesquisa feita por pesquisadoresapostar na mega sena internetHarvard que mediu o "preconceito implícito" dos americanos contra negros. O experimento tentou detectar preferências ou preconceitos raciais reprimidos, pedindo que os participantes associassem rapidamente fotosapostar na mega sena internetbrancos e negros a palavras como "agonia", "alegria" e "tristeza".
A pesquisa apontou que a maioria dos americanos brancos tem um "preconceito implícito" contra negros, ainda que seja inconsciente dele.
Talvez só uma minoria dos policiais seja abertamente racista, diz Perea, mas é preciso reconhecer o racismo implícito assentado lá no fundo, aquele racismo que todos carregamos por vivermosapostar na mega sena internetsociedades racistas.
É um racismo muitas vezes sutil, mas que pode tornar um policial mais propenso a atirar contra um negro ao terapostar na mega sena internettomar uma decisão numa fraçãoapostar na mega sena internetsegundo. Ou a lhe dar vozapostar na mega sena internetprisão por desacato após uma discussão. Ou a prendê-lo por carregar um baseado, mas deixar um branco passar.

Crédito, Reuters
'Vidas negras importam'; protestos ocorreramapostar na mega sena internetdiversas cidades americanas
Seguindo esse raciocínio, eu sou racista. Se você cresceu no Brasil ou nos EUA, há boas chancesapostar na mega sena internetque também seja.
Também por essa lógica, as polícias americana e a brasileira só deixarãoapostar na mega sena internetser racistas quando as sociedades americana e brasileira deixaremapostar na mega sena internetser racistas.
O que não quer dizer que até lá não haja formasapostar na mega sena internetimpedir mortes banais, diz Cathy Schneider, especialistaapostar na mega sena internetviolência policial da American University: "Não há nenhuma razão para que a polícia mate alguém desarmado", ela afirma.
"Há muitas formas pelas quais as forças policiais podem diminuir a tensãoapostar na mega sena internetuma situação - elas devem ser treinadas para agir assim."
Em vários lugares dos EUA, já há mudançasapostar na mega sena internetcurso. Muitas polícias têm sido pressionadas a mudar práticas para punir com maior frequência abusos contra minorias, aproximar-se da comunidade e se tornar mais diversas racialmente.
Quanto a mim,apostar na mega sena internetuns tempos pra cá deixeiapostar na mega sena internetcortar o cabelo eapostar na mega sena internetaparar a barba regularmente. Pensei que, se alguém deixarapostar na mega sena internetme cumprimentar por isso, eu é que não quero papo com essa gente.
Mas nunca mais tirei fotos por aqui com a mesma espontaneidade.




