Uso desenfreadobetway bônusantibióticos na pandemia pode levar a 'apagão' contra bactérias resistentes:betway bônus
- Mariana Alvim - @marianaalvim
- Da BBC News Brasilbetway bônusSão Paulo

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Antibióticos foram muito usados no tratamento para covid-19 para evitar coinfecçõesbetway bônusbactérias e fungos — mesmo que estas não tenham sido constatadas
betway bônus Um problema declarado há anos como uma das maiores ameaças para a saúde global se depara agora com uma pandemia.
O resultado, como ébetway bônusse imaginar, deverá ser altamente preocupante.
Pesquisadores e médicos atentos ao problema da resistênciabetway bônusbactérias e fungos acreditam que o uso desenfreadobetway bônusantibióticos no tratamentobetway bônuscovid-19 tornará ainda mais drástico o cenário atual,betway bônusque já há faltabetway bônusantibióticos capazesbetway bônuscombater certas doenças e micro-organismos — que, por vários fatores, têm se mostrado fortes e hábeisbetway bônusdriblar esses medicamentos.
Antes da pandemia, a situação já era preocupante: no cenário mais drástico, até 2050, a chamada resistência microbiana (doenças resistentes a antibióticos) poderá estar associada a 10 milhõesbetway bônusmortes anuais, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS)betway bônus2019. Hoje, acredita-se que pelo menos 700 mil pessoas morrem por ano devido à essa resistência microbiana.
Muitos problemas comunsbetway bônussaúde, como pneumonia e infecção urinária, já têm seus tratamentos dificultados por conta da resistência. Há também condiçõesbetway bônussaúde mais graves afetadas pelo problema, como a tuberculose multirresistente (com resistência a pelo menos dois antibióticos, isoniazida e rifampicina).
Mas inúmeros estudos pelo mundo têm mostrado que, mesmo sem eficácia e necessidade comprovadas para combater a covid-19, antibióticos foram amplamente usados durante a pandemia — e a "conta" poderá ser cobrada nos próximos anos com uma resistência microbiana ainda mais aumentada.
"Já tínhamos o problema da resistência microbiana antes. Em virtude da covid-19, muitos antibióticos foram receitados. Em um futuro não muito distante vamos ter um problema mais sério do que já teríamos", resume Victor Augustus Marin, professor da Universidade Federal do Estado do Riobetway bônusJaneiro (Unirio) e pesquisador na áreabetway bônusbiologia molecular.
"Vamos ver efeitos daqui a seis meses, daqui a um ou dois anos, quando pacientes com outras doenças chegarem ao hospital. O médico vai prescrever um antibiótico que pode não funcionar naquele paciente, ou vai aumentar a resistência (de micro-organismos presentes no grupo da pessoa)", prevê Marin, responsável pelo Laboratóriobetway bônusControle Microbiológicobetway bônusAlimentos da Escolabetway bônusNutrição (Lacomen) da universidade.
Preocupada com esse futuro, a OMS publicoubetway bônusmaio um guia para tratamentobetway bônuscovid-19 que, entre outros pontos, recomendou expressamente a não utilização dos antibióticos no tratamento da nova doençabetway bônuscasos suspeitos ou leves. Mesmo para casos moderados, a entidade indicou que o uso só deve ser feito após indíciosbetway bônusuma infecção bacteriana.
"O uso generalizadobetway bônusantibióticos deve ser desencorajado, uma vez quebetway bônusaplicação pode levar a taxas maioresbetway bônusresistência bacteriana, o que vai impactar o volumebetway bônusdoenças e mortes durante a pandemiabetway bônuscovid-19 e além", diz o documento da OMS.
Médico do Hospital Sírio-Libanês,betway bônusSão Paulo, Luciano Cesar Pontesbetway bônusAzevedo explica que o que se observa nos hospitais e tem sido documentadobetway bônuspesquisas científicas pelo mundo é o usobetway bônusantibióticos com a justificativa nãobetway bônustratar a infecção causada pelo coronavírus diretamente — mas sim uma eventual infecção concomitante por alguma bactéria.
"Isso (usobetway bônusantibióticos no tratamentobetway bônuscovid-19) vem muito do fatobetway bônusque é uma doença nova, e ninguém conhecia a taxabetway bônuscoinfecção (por bactérias). Para influenza, a gripe comum, pode ter coinfecçãobetway bônus30 a 40% dos casos. Para covid-19, estudos têm sugeridobetway bônus5 a 7,5%betway bônuscoinfecção", explica Azevedo, que trabalha com medicina intensiva e medicinabetway bônusemergência e tem doutorado pela Universidadebetway bônusSão Paulo (USP) e pós-doutorado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).
"Quando se sabe que a taxabetway bônuscoinfecção é baixa, não precisa passar antibiótico para todo mundo com covid — como quem estábetway bônusambulatório, ou se tratandobetway bônuscasa."
A condutabetway bônusmédicos e hospitais deve ser receitar antibióticos apenas após uma infecção por bactérias ou fungos realmente ser constatada, preferencialmente por examebetway bônuscultura bacteriana e ainda exames que permitem detectar genesbetway bônusresistência a certos antibióticos.
Diversas pesquisas mostram que essa prudência não foi adotada por muitos profissionais e hospitais.
Um estudo envolvendo 38 hospitais do Estadobetway bônusMichigan, nos Estados Unidos, mostrou que 56,6%betway bônus1.705 pacientes hospitalizados com covid-19 logo receberam antibióticos como terapia "empírica" — quando não há identificaçãobetway bônusqual bactéria ou fungo está causando infecção. Dessas pessoas, apenas 3,5% tiveram uma coinfecção bacteriana confirmada por exames.
Outro estudo, com dadosbetway bônus99 pacientes tratados no hospital Jinyintanbetway bônusWuhan (cidade chinesa onde começou a pandemia), mostrou que 71% deles receberam antibióticos, mas apenas 1% teve coinfecção por bactéria constatada por exames e 4% por fungos.
Com respostasbetway bônus166 médicosbetway bônus23 países, outra pesquisa constatou que apenas 29% dos profissionais escolheram não receitar antibióticos para pacientes com covid-19 hospitalizadosbetway bônusleitos (menos graves do que aqueles na UTI).
Já na UTI, o antibiótico mais prescrito foi a associação piperacilina/tazobactama. Esta combinação é um antibiótico do tipo inibidorbetway bônusbeta-lactamase, uma classe incluída pela OMS na categoria mais urgente ("criticamente importante") na busca por medicamentos substitutos que consigam driblar a resistência.

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Klebsiella pneumoniae faz partebetway bônuscategoria 'crítica' das bactérias contra as quais o desenvolvimentobetway bônusnovos remédios é mais urgente, segundo lista da OMS
Há diversas pesquisas pelo mundo mostrando que bactérias originalmente alvos deste antibiótico, como a Escherichia coli e a Klebsiella pneumoniae, estão ficando resistentes a ele. Um tipo da Klebsiella pneumoniae, a KPC — sigla para Klebsiella pneumoniae produtorabetway bônuscarbapenemase — ficou conhecida como "superbactéria" por produzir uma enzima capazbetway bônuscombater os medicamentos mais potentes para tratarbetway bônusinfecções graves, com destaque para os chamados carbapenêmicos.
Na pandemiabetway bônuscoronavírus, foi relatado um uso variadobetway bônusantibióticos, incluindo também a moxifloxacina, medicamentos da classe dos carbapenemas, quinolonas, entre outros.
Antibiótico associado à cloroquina

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A azitromicina teria utilidade no controle do sistema imunológico, mas estudobetway bônuscientistas brasileiros afastoubetway bônuseficácia para covid-19
Enquanto muitos antibióticos foram usados para evitar coinfecções — independentemente se elas existiambetway bônusfato ou não —, houve um antibiótico específico muito usado na pandemia e que teria uma outra função, abetway bônusfortalecer o sistema imunológico no combate ao coronavírus.
A azitromicina foi o segundo medicamento mais receitado no tratamento da covid-19 por médicosbetway bônustodo o mundo que participarambetway bônusum levantamento da Sermo, uma plataforma mundial usada por estes profissionais. O antibiótico foi prescrito por 41% dos 6,2 mil entrevistados contra o novo coronavírus, atrás apenas dos analgésicos.
O médico Luciano Cesar Pontesbetway bônusAzevedo explica que, normalmente, a azitromicina é usada com antibiótico contra infecções bacterianas nas chamadas vias aéreas superiores, como no nariz e na garganta. Entretanto, para algumas doenças, já foi sugerido que o antibiótico poderia ter também efeito anti-inflamatório, controlando uma reação exagerada do sistema imunológico — que, na covid-19, é um dos principais caminhos para quadros mais preocupantes.
Para Azevedo, um grande impulsionador da azitromicina no tratamentobetway bônuscoronavírus foi um estudo da França que mostrou o que seriam resultados benéficos da associação deste antibiótico com a hidroxicloroquina, envolvendo cercabetway bônus30 pacientes.
Divulgadobetway bônusmaio na plataforma medRxiv (em que são postados trabalhos sem a chamada revisão dos pares), o trabalho foi dias depois retirado do ar a pedido dos próprios pesquisadores, com a seguinte justificativa: "Por conta da controvérsia sobre a hidroxicloroquina e da natureza retrospectiva desse estudo, os autores pretendem revisar o manuscrito após a revisão dos pares".
Em setembro, Azevedo fez partebetway bônusuma coalizãobetway bônuscientistas brasileiros que publicou na prestigiada revista científica Lancet um estudo clínico refutando os benefícios da azitromicina para pacientes graves com covid-19. O mesmo grupobetway bônuspesquisadores já tinha afastado antes, com outro trabalho, a utilidade da hidroxicloroquina associada à azitromicina.
Esta faz parte da classe dos macrolídeos, que está na categoriabetway bônusmaior urgência na classificação da OMS. A resistência à azitromicina pode afetar o tratamentobetway bônusdoenças como otite e gonorreia.
Representando empresas nacionais e internacionais do setor, a Associação da Indústria Farmacêuticabetway bônusPesquisa (Interfarma) respondeu à BBC News Brasil por e-mail que o uso off label (diferente daquele que está documentado na bula)betway bônusmedicamentos é "de inteira responsabilidade do médico, que pode achar necessáriobetway bônusacordo com as necessidades clínicasbetway bônusseu paciente, mesmo sabendo que essa indicação ainda não foi aprovada".
Entretanto, a associação reconheceu também a excepcionalidade da crise sanitária atual, afirmando que "não tendo vacina ou um tratamento eficaz contra a covid-19, alguns protocolos têm adotado o uso off label de antibióticos e outros medicamentos".
A Interfarma não respondeu como avalia o uso empíricobetway bônusantibióticos (sem constatação do micro-organismo causando infecção) e destacou que a OMS "promove o princípio do uso racionalbetway bônusmedicamentos, ou seja, que o paciente receba tratamento apropriado para suas necessidades clínicas".
Como uso desenfreadobetway bônusantibióticos para covid-19 teria efeitos negativos, na prática?

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Aumentobetway bônusresistência microbiana após covid-19 pode ter efeitos individuais, como comunitários —betway bônushospitais e vizinhanças
Os pesquisadores entrevistados pela reportagem explicam que os efeitos preocupantes do amplo usobetway bônusantibióticos na pandemia poderiam se expressar tanto nos pacientes individualmente como a nível comunitário, comobetway bônushospitais e vizinhanças.
Segundo Victor Augustus Marin, receber um antibiótico sem um diagnóstico preciso pode acabar desestabilizando a comunidadebetway bônusmicro-organismos que existe naturalmentebetway bônusnosso corpo, como na flora intestinal — formando uma "microbiota".
"Em condições normais, nossa microbiota estábetway bônussimbiose. Quando você ingere um antibiótico, o que causa? A disbiose: alguns micro-organismos são eliminados, enquanto outros crescem. Crescem aqueles que têm resistência, e antes estavam inibidos pelo resto da microbiota", explica o pesquisador da Unirio.
"Dar um antibiótico sem diagnóstico é como dar um tirobetway bônusbazucabetway bônusuma mosca — pode até matar a bactéria, mas pode criar resistênciabetway bônusoutras que já estavam no organismo (naturalmente). É preciso dar um tirobetway bônuschumbinho primeiro para ver se funciona."
Luciano Cesar Pontesbetway bônusAzevedo diz que "com toda a certeza" esse amplo usobetway bônusantibióticos durante a pandemia terá também efeitos mais amplos na população.
"Esses antimicrobianos que estamos usando indiscriminadamente, como a azitromicina e a claritromicina, aumentam na comunidade a chancebetway bônusbactérias resistentes, como as que causam pneumonias. Possivelmente, quando chegarem pneumoniasbetway bônuscomunidade daqui a dois, três anos, vamos precisar começar usando antibióticos mais fortes", prevê o médico.
Pesquisadores costumam falarbetway bônusmicro-organismos resistentes na "comunidade" para quando eles já são detectados fora dos hospitais.
Isso porque, dentro destes ambientes, bactérias e fungos resistentes são particularmente preocupantes.
Usobetway bônusantibióticosbetway bônuscasos gravesbetway bônuscovid-19
Azevedo acrescenta que, além da coinfecção por uma bactéria ou fungo, existe também a possibilidadebetway bônusuma superinfecção.
"É quando,betway bônusuma fase mais tardia da covid-19, o paciente é contaminado por germes hospitalares. Acontece fundamentalmente com pacientesbetway bônusUnidadesbetway bônusTerapia Intensiva (UTI), graves, que já têm um graubetway bônusdeficiência do sistema imunológico", explica o médico.
Ainda que um paciente no ambiente hospitalar possa estar sujeito a micro-organismos mais resistentes, Azevedo diz que mesmo assim o usobetway bônusantibióticos deve ser criterioso — sendo precedido por exames e modulado, se possível, para tempos mais curtos.
Uma equipe do Hospital Israelita Albert Einstein,betway bônusSão Paulo, publicoubetway bônusagosto dados sobre 72 pacientes com covid-19 que foram internadosbetway bônusUTIs ou receberam cuidados intensivos — mostrando que 84,7% deles receberam antibióticos intravenosos durante a internação, sendo o tipobetway bônusmedicamento mais usado neste grupobetway bônuspacientes.
Infectologista do hospital, Fernando Gatti aponta que, enquanto para pacientes com covid-19betway bônusgeral a coinfecção pode ser menor que 10%, para pacientes mais graves esse percentual sobe para cercabetway bônus30%.
"O que acontece? O vírus tem ação inicialmente lesiva no pulmão. As bactérias que fazem parte da colonização do trato respiratório acabam tendo mais facilidade para invadir o tecido pulmonar", explica Gatti.
"A pneumonia pode então ser complicada por uma infecção bacteriana, o que aumenta o tempo na ventilação mecânica, UTI, catéter..."
Assim, ele explica que no Albert Einstein o procedimento para pacientes graves com covid-19 é a administraçãobetway bônusantibióticos venososbetway bônus"amplo espectro" (que atingem uma variedadebetway bônuspatógenos) mesmo sem exames detalhando uma possível coinfecção por bactéria — a chamada terapia "empírica".
Depois, com os examesbetway bônuscultura bacterianabetway bônusmãos, a equipe então usa antibióticos mais específicos considerando os micro-organismos e suas resistências.
É um cuidado tomado justamente para evitar a exposição longa a antibióticos que possam acabar fortalecendo as bactérias e fungos.
Luciano Cesar Pontesbetway bônusAzevedo diz que, para pacientes que tiveram quadros mais gravesbetway bônuscovid-19, a resistência se torna um problema ainda mais delicado porque doenças crônicas e sequelas podem deixar mais fraco o sistema respiratório — e, assim, mais vulnerável a novas infecções.
Se reconhece que para pacientes graves, a administraçãobetway bônusantibióticos é mais "difícilbetway bônuscriticar" pois muitas vezes responde a uma questãobetway bônusvida e morte, Azevedo diz que o uso generalizadobetway bônusantibióticos na pandemia mostra que ainda falta adesão a um problema que é na verdade uma ameaça global.
"Acho que a pauta da resistência microbiana não foi incoporada por profissionaisbetway bônussaúde e pelos governos. E se trata tambémbetway bônusuma pauta que envolve não só o ambiente hospitalar, mas também a agropecuária", destaca o médico.
Conforme mostrou a BBC News Brasilbetway bônus2019, pesquisadores têm mostrado cada vez mais como micro-organismos e resquíciosbetway bônusantibióticos não têm fronteiras — possivelmente se alastrando pelos alimentos, lixo hospitalar, rios e canaisbetway bônusesgotos.
"Infelizmente, a covid-19 não veio para ajudar nisso, pelo contrário", lamenta Azevedo.

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