Viagra, appspoker miranamoro e menopausa contribuem para avanço do HIV entre mulheres acimapoker mira60 anos:poker mira

  • Fernanda Cunha
  • De Brasília para a BBC Brasil
Comprimidos para vírus do HIV

Crédito, Fernanda Cunha/BBC Brasil

Legenda da foto,

Entre 2005 e 2015, a participação das mulheres acimapoker mira60 anos entre as pacientes diagnosticadas com HIV aumentoupoker mira2,9% para 6,4%

poker mira A aposentada Luiza (nome fictício) tem 68 anos e sempre priorizou hábitos saudáveis. Alimentação balanceada, caminhadas e aulaspoker miradança faziam parte dapoker mirarotina diária. Até ano passado, ela se orgulhavapoker miranão tomar nenhum remédio, "nem para controlar níveispoker miracolesterol, muito menos para diabetes".

Mas as coisas mudaram depoispoker miraum breve relacionamento, o primeiropoker mira15 anospoker miraviuvez, durante o qual Luiza contraiu HIV.

Essa é uma história menos incomum do que parece. De acordo com dados do Ministério da Saúde, apesarpoker mirater caídopoker miraquase todas as faixas etárias nos últimos dez anos, a taxapoker miradetecção do vírus entre as mulheres apresentou um aumentopoker mira24,8% no grupo com maispoker mira60 anos.

Em 2005, essas mulheres representavam 2,9% do totalpoker mirapacientes diagnosticadas com HIV. Em 2015, eram 6,4%.

Luiza conheceu Manoel,poker mira62 anos,poker mirabailes e competiçõespoker miradança para terceira idade. Também aposentado, ele tinha saídopoker miraum relacionamento muito longo quando os dois começaram a namorar. Mas a relação não engatou. Poucos meses depois do início, Luiza decidiu acabar o relacionamento. O porquê nem ela sabe.

"Talvez por não saber conviver com outra pessoa depoispoker miratanto tempo sozinha. Ou talvez por não estar apaixonada."

Mas com certeza o fim não foi pela recusa sistemáticapoker miraManoelpoker mirausar preservativo.

"O jovem que nasceu depois dos anos 80 já iniciou apoker miravida sexual sabendo da existência e da necessidade da camisinha. Mas a pessoa acima dos 60 anos tevepoker mirainiciação sexual e grande parte dapoker miravida ativa sem o preservativo. Então, para eles é muito mais difícilpoker mirase acostumar", analisa a psicóloga e gerente operacional do Departamentopoker miraDSTs/Aids da Paraíba, Ivoneide Lucena.

Viagra, aplicativos e menopausa

Os idosos hoje vivem uma vida muito mais ativa do que antes do surgimento da Aids.

Por um lado, as drogas para disfunção erétil, como o Viagra, possibilitam uma vida sexual mais longa para o homem. Por outro lado, a mulher que já passou pela menopausa acredita que, por não correr riscospoker mirauma gravidez indesejada, o uso da camisinha se torna desnecessário. Há ainda a popularização dos aplicativospoker miranamoro, permitindo que pessoas se conheçam e se relacionem com mais facilidade.

A tudo isso, soma-se o fatopoker miraparte da população ainda acreditar que só são suscetíveis ao vírus aqueles que no passado eram conhecidos como "grupopoker mirarisco", ou seja, homossexuais, profissionais do sexo e viciadospoker miradrogas.

Pensando assim, muita gente se expõe ao contágio, aumentando cada vez mais o númeropoker miraheterossexuais soropositivos, por exemplo.

Armáriopoker miraremédios para vírus do HIV

Crédito, Fernanda Cunha/BBC Brasil

Legenda da foto,

Entre os heterossexuais, a mulher é mais propensa à contaminação do HIV

Dentre esses heterossexuais, a mulher está mais propensa à contaminação do HIV. O ginecologista Salviano Brito explica que isso se deve à anatomia: "A mucosa da vagina funciona como uma esponja, tornando mais fácil a contaminaçãopoker miradoenças, seja por vírus, bactéria ou fungo".

Ele lembra ainda que durante o ato sexual é comum acontecerem lesões no órgão, potencializando os riscospoker miracontágio.

Para Luiza, porém, nada disso era novidade, visto que ela havia trabalhado na áreapoker mirasaúde por décadas antespoker mirase aposentar. Então, o que faltou?

"Nada. Sobrou confiança. Fui casada por 32 anos e nunca tive outro relacionamento, nem antes e nem depois. Inocente, achei poderia confiar."

Diagnóstico

Pule Podcast e continue lendo
BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

Pouco depois do fim do namoro,poker mirameadospoker mira2016, Luiza foi hospitalizada com desidratação, anemia e desnutrição.

Ao fimpoker mira20 dias, ainda debilitada, ela recebeu alta com o diagnósticopoker miradepressão e gastrite. Nessas quase três semanas, a aposentada passou por inúmeros exames, menos opoker miraHIV. "Nenhum médico pediu."

Um mês depois, para verificar se a anemia havia diminuído, Luiza voltou ao hospital. A filha dela, Carolina,poker mira35 anos, pediu que o testepoker miraHIV fosse feito, mas "só por protocolo".

Um dia depoispoker mirapegar o resultado, que deu positivo, e, ainda sem acreditar, Carolina recebeu um telefonema da irmãpoker miraManoel, comunicando o falecimento do irmão. Durante a ligação, a ex-cunhada da mãe comentou que ele era soropositivo.

Carolina não tinha mais dúvida, Luiza havia sido contaminada pelo ex-namorado. "Minha mãe, com quase 70 anospoker miraidade, HIV positivo. Aquilo era inacreditável! Preciseipoker miratrês dias para conseguir conversar com ela", conta a filha, que tinha na reação da mãepoker miramaior preocupação.

Quando se recuperou do choque, Carolina decidiu conversar com a mãe, inicialmente sobre a notíciapoker miraque Manoel havia falecido epoker miraque ele era soropositivo.

"Eu entendi logo e pensei: HIV? Era só o que me faltava", relata Luiza. Carolina apenas confirmou com o resultado dos exames.

Recomeço

Mãe e filha passaram a lidar com a culpa. Da partepoker miraCarolina, por não ter alertado Luiza sobre os riscos. Da partepoker miraLuiza, por ter se deixado acreditarpoker miraum estranho.

A família, então, foipoker mirabuscapoker mirainformação - o dia a dia das duas passou a incluir médicos, remédios e terapias.

"Foi então que vimos que era mais comum do que imaginávamos", conta Carolina. "Nós até encontramos conhecidos nos corredorespoker mirapostospoker miraapoio, buscando comprimidos ou assistindo palestras. E, principalmente, muitos idosos", completa.

Remédios para vírus do HIV

Crédito, Fernanda Cunha/BBC Brasil

Legenda da foto,

O Ministério da Saúde fez apenas duas campanhas publicitárias para o grupo dos idosos

Mas o aumento dos diagnósticospoker miraHIV na terceira idade existe e é bem maior do que se imagina. Segundo relatório divulgado recentemente pela OMS (Organização Mundialpoker miraSaúde), 40%poker miratodas as pessoas contaminadas pelo vírus no mundo, cercapoker mira14 milhões, ainda não sabem.

"Para cada caso notificado, cercapoker miracinco continuam desconhecidos. Nós trabalhamos com dados que apontam a direção do problema, mas, na verdade, a abrangência da contaminação vai mais longe do que se tem conhecimento", alerta Ivoneide Lucena.

Desafios

Passados oito meses do diagnóstico, Luiza está tomando a medicação antiretroviral diariamente, assim como outras 18 milhõespoker mirapessoaspoker miratodo mundo. Ela comemora o fatopoker miranão ter tido nenhum efeito colateral e mais do que nunca mantém a rotina saudável.

Essa disciplina, segundo o infectologista Tarquino Erastides, é peculiar à idade. "Mesmo com HIV positivo, os jovens pensam que são imortais. Os idosos já perderam essa ilusão. Mais do que viver, eles querem sobreviver."

Hoje, o maior desafiopoker miraLuiza, epoker miratantas outras idosas, é superar o estigmapoker miraque o HIV é uma sentençapoker miramorte. Para isso, o atendimento psicológico é fundamental.

"O mundo feminino, principalmente nessa idade, convive pouco com a liberdade sexual. Ao se depararem com um diagnóstico positivo, as idosas se sentem culpadas e imediatamente se vinculam à imagempoker miratragédia, que caracterizou o descobrimento do vírus nos anos 80", afirma a psicóloga Maria Teresa Goyatá, que acompanha o tratamentopoker miraLuizapoker miraum Centropoker miraReferênciapoker miraHIV/Aids,poker miraBrasília.

Segundo ela, após alguns mesespoker miratratamento, a saúde melhora consideravelmente e elas percebem que é possível ter uma vida normal sendo soropositivo. Investir na autoestima e na resiliência da paciente é a parte seguinte da estratégia.

"Por mais que a equipe médica ajude, se a idosa não reagir e assumir as reponsabilidades, o HIV se torna uma doença fatal."

Luiza preferiu não dizer o nome real ou ser fotografada - por isso,poker mirafilha e o ex-namorado também receberam nomes fictícios nesta reportagem. "Só quero alertar as outras mulheres e ficarpoker mirapaz."