Como era o Saara antesbet7k iosse tornar o maior deserto do planeta:bet7k ios

Vistabet7k iossatélite do deserto do Saara

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Legenda da foto, O deserto do Saara hojebet7k iosdia. A cor creme clara reflete os raiosbet7k iosluz, o que afeta a frequência das chuvasbet7k iosmonções, essenciais para a vegetação

Existem diferentes estudos que reconstituem o clima e a vegetação do Saara nos últimos 10 mil anos.

Um dos mais recentes, publicadobet7k iosconjunto por pesquisadores da Universidadebet7k iosEstocolmo, na Suécia, e das universidadesbet7k iosColumbia e do Arizona, nos Estados Unidos, analisou a sedimentação marinha no norte da Áfricabet7k iosbuscabet7k iosum padrãobet7k ioschuvas.

O Sahel

"A precipitação anual no Saara Ocidental pode ter sido até 2 mil milímetros maior do que é hojebet7k iosdia, comvegetação parecida com a da atual região sul do Senegal", disse Francesco Pausata, climatologista da Universidadebet7k iosEstocolmo e coautor do estudo.

O Senegal, na costa oeste da África, faz parte do Sahel, uma faixabet7k ios500 a 700 kmbet7k ioslargura,bet7k iosmédia, e 5,4 mil kmbet7k iosextensão, protegida por um cinturão verdebet7k iosflora altamente diversificada, que a protege dos ventos do Saara.

É uma zonabet7k iostransição entre o deserto do Saara no norte e a savana sudanesa no sul, que se estende do oceano Atlântico até o mar Vermelho.

O Sahel atravessa a Gâmbia, o Senegal, a parte sul da Mauritânia, o centro do Mali, Burkina Faso, a parte sul da Argélia e do Níger, a parte norte da Nigéria ebet7k iosCamarões, a parte central do Chade, o sul do Sudão, o norte do Sudão do Sul, a Eritreia, a Etiópia, o Djibuti e a Somália.

Sahel,bet7k iosBurkina Faso

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Legenda da foto, O Sahel é uma zonabet7k iostransição, que atravessa 16 países da África, entre o deserto do Saara e a savana sudanesa

"Acredito que os animais que hojebet7k iosdia pastam no Sahel, como os gnus e as gazelas, possam ter vivido até no extremo norte do Saara Ocidental", disse Pausata.

"A parte oriental podia ser um pouco mais seca, mas com pastagens acima da região do paralelo 25 Norte (no norte da Mauritânia)."

Outros pesquisadores, porém, mencionam uma vegetação mais frondosa, com árvores e lagos onde viviam grandes animais.

"A evidência fóssil ebet7k iospólen é bastante clara", diz David McGee, professor do departamentobet7k iosCiências Atmosféricas, Planetárias e da Terra do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.

O Saara verde

McGee compara essa vegetação do Saara verde com a do chamado ecossistema Serengeti (ou Serengueti), no norte da Tanzânia e sudoeste do Quênia.

O Serengeti abriga a maior migração animalbet7k iosmamíferos do mundo. Na língua do povo massai, a palavra Serengit significa "planícies intermináveis".

Serengueti, na Tanzânia
Legenda da foto, O Serengueti: teria sido assim o Saara há cinco mil anos?

"Havia no Saara corpos hídricos permanentes, savanas, pradarias e até alguns bosques", disse à BBC Mundo, o serviçobet7k iosespanhol da BBC, o professor McGee, especialistabet7k iospaleoclimatologia.

"Foram encontrados fósseisbet7k iosgrandes animais que hoje já não são vistos vivos no Saara. Crocodilos, elefantes e hipopótamos."

Assentamentos humanos antigos também deixaram evidências da existênciabet7k iosuma grande fauna, observou McGee.

"Vemos a arte rupestre representando girafas no meio do Saara. Ali também encontramos antigos anzois, o que sugere um estilobet7k iosvida profundamente diferentebet7k ioscomo se viveria atualmente nesta parte do deserto."

Arte rupestre na Líbia

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Legenda da foto, A arte rupestre, como estabet7k iosWadi Tashwenat, na Líbia, é prova da existênciabet7k iosgrandes mamíferos no chamado 'Saara verde', dizem os pesquisadores

Nos poucos e muito isolados corpos hídricos que ainda existem, há peixes das mesmas espécies, que não tiveram qualquer forma modernabet7k ioscontato.

"Isso sugere que, no passado, existiam vias aquáticas que se comunicavam", acrescentou.

Embora seja muito difícil determinar a extensão dessa vegetação, o paleoclimatologista do MIT estima que o cenário descrito tenha se estendido muito ao norte do Saara, onde hoje estão as regiões centrais da Líbia, da Argélia e do Egito.

Sol mais próximo da Terra

Este clima - favorável à existênciabet7k iosuma flora fértil e fauna e o desenvolvimento humano - foi desencadeado pela maior proximidade do Solbet7k iosrelação à Terra durante o verão, o que produziu mudançasbet7k iosinsolação, indicou Francesco Pausata, da Universidadebet7k iosEstocolmo.

"O Saara se tornou verde quando saímos do período glacial. O Sol do verão se tornou mais forte há uns 9 mil anos e isso trouxe uma sériebet7k iosconsequências", explicou Pausata.

"Quando o Saara esquentou, as chuvasbet7k iosmonções se tornaram mais fortes, o que levou a uma vegetação maior que, porbet7k iosvez, reduziu as emissõesbet7k iospoeira e diminuiu o reflexo da luz, promovendo mais precipitações."

Este reflexobet7k iosluz solar, seja da superfície terrestre ou da poeira que flutua na atmosfera, é conhecido como albedo e é um dos fatores mais importantes na aridezbet7k iosuma região.

Esse intenso albedo - a luzbet7k ioscor creme clara refletida na superfície do deserto e também com alto teorbet7k iospartículas minerais - contribuiu para a desertificação do Saara.

Oásis no lago Gaberoun, Líbia

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Legenda da foto, Os cientistas encontraram espéciesbet7k iospeixes idênticasbet7k ioslagos isolados, que aparentemente não tiveram qualquer formabet7k ioscontato

Teorias

Quais foram os fatores e como ocorreu a dramática transformação dessa região no vasto e empoeirado deserto que conhecemos têm sido objetobet7k iosdebate da comunidade científica.

Muitos cientistas concordam que a mudança ocorreu há 5 mil anos, como frutobet7k iosum fenômeno cíclicobet7k iosmaior ou menos insolação.

É algo que ocorre mais ou menos a um intervalobet7k ios20 mil anos, segundo mudanças na órbita da Terra. Mas,bet7k iosquanto tempo o Saara se tornou árido está sendo investigado, diz Pausata.

Uma das teorias sustenta que o Saara passoubet7k iosverde a deserto subitamente,bet7k iosum parbet7k iosséculos, numa das mudanças climáticas mais dramáticas da Terra.

Outra pesquisa, publicadabet7k iosmaiobet7k ios2008, estima que a região tenha se tornado o deserto mais quente do mundo há apenas 2,7 mil anos e que a mudança foi muito mais lenta.

Os autores desse estudo - uma equipe internacional liderada por Stefan Kröpelin, da Universidadebet7k iosColônia, na Alemanha - colheram amostrasbet7k iossedimento do lago Yoa, no norte do Chade.

Temporadabet7k iosmonções na Namíbia

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Legenda da foto, As mudanças periódicas afetam a temporada das chuvasbet7k iosmonções

Com os dados analisados, eles construíram uma história geológica que sugere um processo gradualbet7k iosdesertificação que "continua até o diabet7k ioshoje".

Esta pesquisa data o desertobet7k ios2,7 mil anos, mas estima que os seres humanos tenham abandonado as áreas que estavam se tornando desérticas muito antes, à medidabet7k iosque o clima mudava.

Porbet7k iosvez, o estudo do qual participou. Pausata, analisou as precipitações passadas e concluiu que seres humanos caçadores e coletores povoaram o Saara verde e o abandonaram há uns 8 mil anos, devido a um períodobet7k iosseca que durou mil anos.

Depois disso, as populações retornaram, mas suas práticasbet7k iossobrevivência eram outras, já que a maioria delas criava gado.

Efeito humano?

A pesquisa mais recente,bet7k iosmarçobet7k ios2017, contempla a ideiabet7k iosque os seres humanos desempenharam um papel ativo na criação das condições áridas que existem hoje no Saara.

Segundo o estudo publicado pelo arqueólogo David Wright, da Universidade Nacionalbet7k iosSeul, existem evidências arqueológicas que documentam que a primeira aparição do pastoreio no Saara teve efeitos severos sobre a ecologia da região.

À medidabet7k iosque a vegetação era retirada e substituída para acomodar o gado e os rebanhos, o albedo aumentou e esse efeito influiu nas condições atmosféricasbet7k iosmodo a reduzir a frequência das chuvasbet7k iosmonções.

Pastoreio no Mali

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Legenda da foto, A retirada da vegetação para acomodar o pastoreio afetou a ecologia e reduziu a frequênciabet7k ioschuvas na região

Mas Pausata diz acreditar que esses exemplos não estejam muito bem fundamentados.

"Embora exista um consensobet7k iosque o crescimento intenso do rebanhobet7k iosgado que pasta possa ser prejudicial à variedadebet7k iosplantas, o pasto leve e moderado pode ter resultados positivos", afirma Pausata.

"É certo que no Saara e no Sahel não houve animais domésticosbet7k iospastoreio num período anterior a 8 mil anos, mas havia gnus e outros animais" ,diz o climatologista. Esses animais pastavam e também defecavam ali. Assim, deixavam a área fertilizada para abet7k iosrecuperação quando as chuvas chegassem.

"Não vemos como a introduçãobet7k iosuma população tradicionalbet7k iospastores, há uns 6 mil anos, que tem um deslocamento similar à migração dos gnus, possa ser diferente. Eles também sustentariam a vegetação", afirmou.

Verde outra vez

Por outro lado, McGee reconhece que os humanos possam ter tido alguma influência na desertificação, mas não era só isso o que estava acontecendo.

"Definitivamente não. Os outros fatores (como mudanças cíclicas,bet7k iosacordo com a aproximação da Terra do Sol) já estavam ocorrendobet7k iosmaneira natural."

O período do Saara verde não ocorreu apenas entre 5 mil e 10 mil anos, mas também há 125 mil anos, Naquele período, não houve interferência humana, mas a transiçãobet7k iosúmido para árido.

E, se o fenômeno é cíclico, seria possível supor que o Saara voltará a ser verde outra vez, embora a atividade humana do mundo moderno tenha que ser levadabet7k iosconta, afirma Pausata.

"Daqui a milharesbet7k iosanos o ciclo se repetirá. O problema agora são as forças antropogênicas. A influência humana será mais um efeito, fora da variação natural, que poderá mudar o equilíbrio no futuro do planeta, não apenas no Saara", concluiu.