'Meus filhos estão apanhando e se separando dos amiguinhos por política':aposta bet365 presidente

Ilustração mostra crianças discutindo voto na escola e apontando a outra criança

Crédito, Ilustração: Brum

"Na escola do meu filho, tem duas crianças que ficam falando 'Lula é ladrão', e todas falam como se elas próprias votassem. Tem uma continuidade entre o (voto do) adulto e a criança. Mas começou algo bizarro, que são discussões do tipo 'se você votou no Lula, não troco figurinha da Copa com você'", conta Marcia, que moraaposta bet365 presidenteFlorianópolis (SC) e é eleitora declaradaaposta bet365 presidenteLuiz Inácio Lula da Silva (PT).

Marcia ficou ainda mais incomodada quando a briga virou física: houve um diaaposta bet365 presidenteque o filho dela voltou chorando por ter recebido um puxãoaposta bet365 presidentecabelo após uma discussão sobre os candidatos à Presidência.

"Chegou ao pontoaposta bet365 presidenteque ele (o colega) falou: 'vou bateraposta bet365 presidentevocê porque você votou no Lula'. E bateu."

A professora mediou o conflito, que acabou ali mesmo. Marcia não chegou a conversar com a família da outra criança.

"Nem tenho o contato do pai, porque ele parece ser muito bolsonarista. E o filho fica falandoaposta bet365 presidenteCristo, fala que menino não pode usar roupa tal. Eu nem quero que o meu filho ande com ele", diz ela.

Na escola do filho mais velhoaposta bet365 presidenteMarcia,aposta bet365 presidente8 anos, quem apanhou dos amigos foi uma "criança bolsonarista", que era minoria na classe. Mesmo sem o episódio envolver diretamente seu filho, Marcia achou tudo "bem grave".

Assim como nesses casos,aposta bet365 presidentemeio ao calor das eleições, têm pipocado pelo país relatosaposta bet365 presidentediscussões partidárias que levaram a brigas ou situações delicadas nas escolas. E envolvem até mesmo crianças pequenas, ainda incapazesaposta bet365 presidenteentender a complexidade do debate político.

Na capital catarinense, onde Marcia mora, 45,67% dos eleitores votaramaposta bet365 presidenteBolsonaro e 42,43%,aposta bet365 presidenteLula no primeiro turno.

A disputa partidária se reflete também no segundo turno para governador no Estado, entre Jorginho Mello, do PLaposta bet365 presidenteJair Bolsonaro, e Décio Lima, do PTaposta bet365 presidenteLula. E as divisões são sentidas no dia a dia da família.

"A escola virou um palco da disputa dos pais, dos valores dos pais, algo que é muito mais grave do que a eleição. E mais duradouro", opina Marcia, cujo nome real será omitido para preservar a identidade das crianças.

Mais duradouro até porque,aposta bet365 presidenteparte do círculo social dela, a polarização se enraizou também entre as crianças, a dependeraposta bet365 presidenteem quem o pai ou mãeaposta bet365 presidentecada uma delas votou.

"Teve uma festinhaaposta bet365 presidenteum amiguinho da escola (do filho mais velho,aposta bet365 presidente8 anos)aposta bet365 presidenteque os país que eram eleitores do Lula se juntaram numa mesa. Os que eram neutros ou bolsonaristas sentaramaposta bet365 presidenteoutra. Quando eu vi, as crianças também tinham feito o mesmo: não estavam mais brincando todas juntas. Porque elas mesmas já sabem 'quem votouaposta bet365 presidentequem', tanto os amigos do meu filho mais novo quanto o mais velho", conta Marcia.

"Eles me dizem: 'fulaninho vota no Bolsonaro'. E também falam: 'não vou brincar com eles'. Então não é só que eles são violentados, como também falam (que não querem brincar com as crianças do lado adversário)."

Fotomontagem com os rostosaposta bet365 presidenteBolsonaro e Lula

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Além da escolha do próximo presidente da República, entre Bolsonaro e Lula, segundo turno também definirá 12 governadores

'Disputaaposta bet365 presidentequem tem razão'

Na escola do filho mais velhoaposta bet365 presidenteMarcia, onde ocorreu a agressão contra o menino filhoaposta bet365 presidenteeleitoresaposta bet365 presidenteBolsonaro, a coordenação pediu aos pais que prestassem atenção à forma como temas adultos estão sendo discutidos na presença das crianças.

"Nesta sociedade polarizada, até mesmo as crianças pequenas ficam numa disputaaposta bet365 presidentequem tem razão. Sendo que até o 5° ano, elas estão reproduzindo o que escutam - ainda não têm a capacidadeaposta bet365 presidentedosar ou refletir. E neste momento atual as famílias estão muito seguras do seu posicionamento (político)", diz à BBC News Brasil uma das integrantes do corpo pedagógico da escola (que também não será identificada para preservar a identidade dos alunos).

A educadora agrega que o casoaposta bet365 presidenteagressão envolveu dois estudantes, depoisaposta bet365 presidenteprovocaçõesaposta bet365 presidentetorno da política.

Mas, se tratandoaposta bet365 presidentecrianças tão jovens, "não tem uma vítima e um vilão. Um ficou provocando o outro, e eles se irritaram. A professora então falou sobre a importância do respeito, e o que ficou na turma é: mesmo que discordemos, precisamos conviver".

Ela não acha que a situação neste ano esteja mais grave por causa da polarizaçãoaposta bet365 presidentesi, mas sim por causa das redes sociais e aplicativosaposta bet365 presidentemensagem. "As crianças estão trazendo (reproduzindo) as discussões entre os familiares no grupoaposta bet365 presidenteWhatsApp", afirma.

"Por isso temos pedido aos familiaresaposta bet365 presidentegeral que cuidem da forma como envolvem os filhos nessas discussões. Por vezes assuntos diversos do mundo adulto chegam jáaposta bet365 presidenteforma conflituosa, desrespeitosa e carregadasaposta bet365 presidentepreconceito - o que não é do universo infantil."

Claudia Costin, diretora do Centroaposta bet365 presidenteExcelência e Inovaçãoaposta bet365 presidentePolíticas Educacionais (Ceipe-FGV), diz que também tem escutado casos e questionamentos relacionados a como lidar com a política partidária por parteaposta bet365 presidentediversos pais, professores e secretáriosaposta bet365 presidenteEducação do país.

"É lógico que essa questão tem aparecido mais nas escolas, e nem sempreaposta bet365 presidentemodo respeitoso, porque as crianças reproduzem o que veem", diz à BBC News Brasil.

O natural, ela agrega, é que adultos tentem passar às criançasaposta bet365 presidentevisãoaposta bet365 presidentemundo como se fosse a única. Costin cita o livro O Horror da Guerra, do historiador britânico Niall Ferguson, que relata como, depois da Primeira Guerra Mundial, alguns países europeus envolvidos no conflito passaram a ensinar às crianças o militarismo e o ódio à população dos países adversários, inclusive usando informações falsas para reforçar nas gerações futuras a visão negativaaposta bet365 presidenterelação aos vizinhos.

"Ou seja, nem as fake news são novidade. Mas se queremos avançar no processo civilizatório, precisamos dar senso crítico às crianças - ensiná-las tanto a buscar fontes confiáveisaposta bet365 presidenteinformação como a adotar uma comunicação não agressiva. Porque um dos pilares da educação é aprender a viver juntos e conseguir dizer minha opinião sem desqualificar quem pensa diferente. Isso, aliás, é a base da democracia."

A preocupaçãoaposta bet365 presidenteCostin é que, mesmo que o momento atualaposta bet365 presidenteódio passe, "fique na criança essa ideiaaposta bet365 presidenteque ela deve odiar quem pensa diferente".

Na casaaposta bet365 presidenteMarcia,aposta bet365 presidenteFlorianópolis, isso é temaaposta bet365 presidentereflexão. "Meu marido conversa com as crianças sobre direito democrático, sobre respeitar o coleguinha (independentemente da opinião política). Mas eu acho que o momento político é outro. Concordo que a gente deve realmente ensinar sobre aceitar as diferenças, mas isso se esta fosse uma eleição entre Lula e FHC, entre Lula e Simone Tebet, entre Lula e José Serra. A questão é o limite da democracia. Odeio quando dizem que estamosaposta bet365 presidenteuma polarizaçãoaposta bet365 presidenteextremos, porque não são dois extremos", diz ela,aposta bet365 presidentereferência às ameaças à ruptura democrática feitas por Jair Bolsonaro.

E as diferentes perspectivas se refletem também nos dois filhos do casal. O mais novo - que levou o puxãoaposta bet365 presidentecabelo na escola - é mais predisposto a comprar brigas políticas. O mais velho é mais conciliador, evita conflitos e quer preservar suas amizades.

"Ele me pediu que eu não colocasse o adesivo do Lula no meu carro, porque viu que o carro do melhor amigo dele aqui da rua tem uma bandeira do Bolsonaro. E ele não quer perder o amiguinho", conta Marcia.

Mas ela também se preocupa com o rumo que o debate político está tomando.

"Chegou a um pontoaposta bet365 presidenteque o que seria adesão a pautas políticas não está acontecendo: se fala moralmente do sujeito, e nãoaposta bet365 presidenteprojeto político. Não tem debateaposta bet365 presidenteprojeto político. Só se fala que o outro é 'violento', 'mau', 'ladrão'. Para a maioria do eleitorado, tudo foi para o âmbito moral e ético", avalia.

"A posição política virou hoje uma coisa identitária. Antes, era só uma posição política. Você discutia se concordava ou não com a meritocracia, se concordava ou não com privatizações. (...) Agora, é puramente moral, algo pautado pelo bolsonarismo. Parece que se trata da identidade do sujeito - não se trata maisaposta bet365 presidenteaderir a pautas políticas, mas sim a uma identidade."

- Este texto foi publicado originalmenteaposta bet365 presidentehttp://roberthost1.accountsupport.com/brasil-63378260