'Cortei planoblaze de apostassaúde e escola dos filhos': 2 anos depois, ex-metalúrgicos da Ford seguem desempregados e endividados:blaze de apostas

blaze de apostas Em 17blaze de apostasfevereiroblaze de apostas2019, a Ford anunciou que fecharia umablaze de apostassuas históricas fábricas no Brasil, a plantablaze de apostasSão Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

A notícia foi um prenúncio do que aconteceria depois, com a saída definitiva da montadora americana do país. Um dia depois, a reportagem da BBC News Brasil foi à cidade e conversou com funcionários, pegosblaze de apostassurpresa com o desemprego que se avizinhava.

Naquele dia, Clayton Diógenes da Silva, hoje com 45 anos, lembrou a históriablaze de apostassua família, toda ela ligada à multinacional. "Foi na Ford que meu pai criou cinco filhos e que eu criei meus dois", afirmou o inspetorblaze de apostasprocesso, que por 24 anos atuou na fábrica do ABC paulista. "Entrei com 19 anos, e ainda trabalhei um ano com meu pai aqui."

Dois anos depois daquele anúncio, o metalúrgico ainda luta para conseguir se recolocar no mercadoblaze de apostastrabalho. Está desempregado desde então.

"Já fiz entrevistas, mandei currículos, participeiblaze de apostasseleções, mas até agora nada. Está difícil, muitos dos meus colegas estão na mesma situação", diz.

O casoblaze de apostasClayton não é único entre os 2.800 funcionários diretos que foram demitidos da empresa. O númeroblaze de apostasdemitidos pode ter sido bem maior, pois o corte também afetou empresas que prestavam serviços para montadoras, como terceirizadas e fornecedorasblaze de apostasmateriais para a montagem dos veículos.

Esse cenárioblaze de apostasdesemprego deve se repetir nos próximos mesesblaze de apostasoutras três regiões do país, pois na semana passada a Ford anunciou que suas três plantas restantes no Brasil também serão fechadas:blaze de apostasCamaçari (BA), Horizonte (CE) e Taubaté (SP).

Apenas na primeira, cercablaze de apostas12 mil pessoas devem perder seus empregos, segundo Elinaldo Araújo (DEM), prefeito do município baiano.

A empresa americana atribuiu a decisão à pandemiablaze de apostascovid-19, afirmando que ela intensificou um quadroblaze de apostasvendas já ruim e "prejuízos significativos" no país e na América do Sul.

"Com maisblaze de apostasum século na América do Sul e no Brasil, sabemos que estas são ações muito difíceis, mas necessárias, para criar um negócio saudável e sustentável", declarou o diretor executivo da Ford, Jim Farley, na semana passada.

A decisão faz parteblaze de apostasuma reestruturação global da Ford com vistas a melhorar seu desempenho financeiro. Com o fim da produção no Brasil, iniciadablaze de apostas1920, a empresa calcula gastosblaze de apostasUS$ 4,1 bilhões para encerrar as operaçõesblaze de apostasmanufatura no país, e está trabalhando para encontrar compradores.

Dos quatro ex-funcionáriosblaze de apostasSão Bernardo ouvidos pela reportagem nesta semana, apenas um conseguiu recuperar o empregoblaze de apostasmetalúrgico — recebeu a notícia da contratação na segunda-feira, exatos dois anos depois do anúncio do fechamento da Ford na cidade. Outros dois estão desempregados, e um deles conseguiu se aposentar.

Clayton acredita queblaze de apostasidade — 45 anos — influencia na hora da contratação. "Participeiblaze de apostasvárias entrevistas. Alguns colegas mais jovens, com menos experiência e menos formação que eu, conseguiram passar. Não é culpa deles, claro. Nem minha. Mas não conheço ninguém com maisblaze de apostas40 anos que tenha conseguido passar. Minha idade é considerada avançada nessa área", diz.

No períodoblaze de apostasdesemprego, ele não ficou parado: fez um curso técnico no Senai e outrosblaze de apostasespecialização — anos atrás, foi a Ford quem pagoublaze de apostasfaculdadeblaze de apostastecnologiablaze de apostasprocessoblaze de apostasprodução. "Foi até engraçado entrar no Senaiblaze de apostasnovo, com 45 anos, e os colegasblaze de apostasturma com 18, 20… O pessoal já me chamablaze de apostastiozão", brinca.

O metalúrgico também tentou adiantar a aposentadoria, mas teve seu processo negado pelo INSS. Nesses dois anos, diz que precisou se adaptar à nova renda, bastante menor que ablaze de apostasseus tempos na Ford.

"Nossa sorte foi que eu tinha dinheiro guardado, casa própria, carro pago. Minha esposa também trabalha, então conseguimos manter pelo menos nossos filhos na escola deles. Nossa prioridade era manter os estudos. Se teve um lado bom foi que hoje fico mais com meus filhos, levo eles na escola, cozinho, ajudo na liçãoblaze de apostascasa", explica.

O metalúrgico Julianoblaze de apostasOliveira Duarte,blaze de apostas39 anos, é outro que ainda busca emprego. "Vivoblaze de apostasbico. Arrumo o carroblaze de apostasum amigo, faço instalação elétrica, tapeçaria, tudo que me chamarem…", diz.

Nos últimos dois anos, a família precisou cortar gastos: escola particular dos três filhos, planoblaze de apostassaúde, TV a cabo e passeios no fimblaze de apostassemana foram eliminados das contas. "No mercado a gente só compra o básico, economizamos ao máximo. Vivemos negociando as nossas contas", diz Juliano, cuja esposa, operadorablaze de apostastelemarketing, também ficou desempregada nos últimos meses.

O metalúrgico diz que pesa contra ele um problemablaze de apostassaúde adquirido na fábrica da Fordblaze de apostasSão Bernardo — por 11 anos ele atuou na linhablaze de apostasmontagemblaze de apostascarros e caminhões.

"Tenho um problema no ombro e no braço, que começou quando eu trabalhava lá. Cheguei a operar e ficar afastado um período da Ford. Agora, quando chego na seleção, a empresa vê que tenho esse problema e não me chamablaze de apostasjeito nenhum. Se você não tem 100% do que eles querem, eles nunca te chamam. As portas estão fechadas para mim", lamenta ele, que também teve um pedidoblaze de apostasaposentadoria negado pelo INSS.

Embora não reclame do períodoblaze de apostasque atuoublaze de apostasSão Bernardo, o metalúrgico critica a postura da Ford diante das dificuldades e vislumbra um futuro parecido com o seu para os funcionários das três fábricas que irão fecharblaze de apostasbreve.

"Não tenho o que reclamar da Ford enquanto eu estive lá. Sempre foi uma empresa muito boa para os funcionários. Mas ela recebeu muitos benefícios e reduçãoblaze de apostasimpostos para ficar no Brasil. Quando o negócio não ficou mais viável, ela simplesmente jogou tudo para o alto e deixou todos os funcionários na mão. São pessoas que há décadas estavam na empresa", diz.

'Tive sorte'

Já Sergio Soares,blaze de apostas51 anos, teve um pouco maisblaze de apostassorte: assim que saiu da Fordblaze de apostas2019, conseguiu se aposentar. Para ele, contou o períodoblaze de apostasinsalubridade, reconhecido pelo INSS. "Muitos colegas não tiveram a insalubridade reconhecida, e ainda estão tentando se aposentar. Estão parados, sem oportunidade. Eu tive sorte", explica.

Se a fábrica não fechasse, ele pretendia continuar trabalhando por mais cinco anos — mesmo aposentado, viublaze de apostasrenda cair consideravelmente. "Eu queria continuar para juntar dinheiro, fazer um péblaze de apostasmeia e terminarblaze de apostaspagar o financiamento da minha casa. Tive que adiantar tudo isso. O dinheiro da indenização serviu para pagar as prestações", diz ele, que por 25 anos atuou na Ford do ABC paulista.

Dos quatro ex-funcionários ouvidos pelo BBC News Brasil, apenas Paulo Francisco dos Santos, 44, conseguiu novo emprego como metalúrgico — um contrato temporárioblaze de apostasseis mesesblaze de apostasoutra montadora da região.

"Recebi a notícia ontem (18/01). Estou muito feliz. Foram dois anosblaze de apostasmuita luta,blaze de apostasmuita dificuldade, atrasei muitas contasblaze de apostascasa. Muitos dos meus colegas estão na mesma situação, vivendoblaze de apostasbicos, desesperados para conseguir algo estável, com carteira assinada", conta ele, que por 11 anos trabalhou na montadora americana.

Nesse período, Paulo trabalhou como entregadorblaze de apostasuma empresablaze de apostascomércio eletrônico — precisou comprar um carro para a tarefa. O emprego era bem diferente da estabilidade e dos benefícios oferecidos pela Ford, que pagava participação nos lucros, planoblaze de apostassaúde e vale-alimentação.

"Como entregador, eu trabalhava 12 horas por dia, sem parar. Se eu não fosse no domingo, levava advertência e podia até ser dispensado. Era um ritmo maluco, no chicote mesmo", explica. Segundo ele, mesmo trabalhando arduamente, seus rendimentos como autônomo chegavam a R$ 2.800 "nos meses bons" — na Ford, ele ganhava o dobro disso.

"Empregoblaze de apostasmetalúrgico, registradoblaze de apostascarteira e com benefícios, é quase impossívelblaze de apostasconseguir hojeblaze de apostasdia. Tive sorte", diz Paulo, que vai começar na nova empresa nos próximos dias.

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