Mães sobrecarregadas, jovens ainda nas ruas: os desafios da quarentena para criançasbwinregiões carentes:bwin

Crédito, Mrcio James/Semcom
Entre filmes, videogames, legos e brincadeiras na cozinha, Fabiola Oliveira Davi, 33, também tenta manter ativo Nicollas, 5, "que tem uma energia que não acaba nunca". A família (que inclui o marido e um bebêbwin9 meses) não estava acostumada a passar tanto tempo dentro do apartamento no conjunto habitacional. "Está apertado, porque geralmente nós quatro só ficávamos aqui todos juntos durante a noite", conta.
Diante do avanço do novo coronavírus no Brasil, tendo São Paulo como foco principal do contágio, famíliasbwintodos os níveisbwinrenda têm vivido as dificuldadesbwinconciliar o teletrabalho e os cuidados com as crianças e a casa. Mas a situação se agravabwinregiões mais carentes e periféricas, onde -bwinum momentobwinque as escolas estão fechadas - não há a mesma estrutura ou espaço para educar e entreter os pequenos e manter o isolamento social recomendado pelos especialistas.

Crédito, Arquivo pessoal
Há ainda outras duas preocupações urgentes: primeiro, com a crescente insegurança financeira nessas regiões; segundo, com o fatobwinque a conscientização sobre o isolamento social parece não ter chegado a todos, particularmente aos adolescentes.
"Ainda vejo muita gente nas ruas, indo a bailes ou fazendo festasbwincasa", diz Katia dos Santos, que mora perto do terminalbwinônibusbwinCidade Tiradentes. "Meus vizinhos fizeram uma festa que durou dois dias. Tem muitos adolescentes que acham que a doença afeta só os idosos. Só que é muito comum aqui ter idoso morando junto com a família."
'Estarbwincasa pode ser muito difícil'
Professor do Fundamental 1 e 2 e morador do Campo Limpo (zona sulbwinSão Paulo) na rede pública, Daniel MachadobwinOliveira também tem visto muitos jovens circulando nas ruasbwinseu bairro. "Pelo Facebook, vejo que uma parcela dos meus alunos estábwinquarentena e outra parcela está escorregando (no isolamento). Está falando do coronavírus, mas indo a baile à noite", conta.
Para os adolescentesbwinregiões mais periféricas, diz Oliveira, "ébwincostume estar na rua e nem sempre tem muito diálogobwincasa. Muita gentebwincomunidade vivebwinespaço minúsculo. É do cotidiano não ter (muita opção de) lazer, então ele sai e vai para baile funk. Falando com base nos problemas que escuto no dia a dia deles, estarbwincasa pode ser muito difícil. Às vezes tem violência, pai preso, faltabwindinheiro ebwinestrutura."
As estatísticas brasileiras também ajudam a explicar por que o confinamento é muito mais desafiador para crianças e adolescentesbwinregiões carentes.
Das 18,4 milhõesbwincrianças que o Brasil tinhabwin2017, 41,3% moravambwinlares com ao menos uma inadequaçãobwinsaneamento - seja ausênciabwinesgoto, abastecimentobwinágua ou coletabwinlixo, segundo dados levantadosbwinoutubro passado pelo economista Naercio Menezes Filho, do Insper, para a BBC News Brasil.

Crédito, Getty Images
Quase um quarto das casas dessas crianças tinha ao menos uma inadequaçãobwinmoradia, ou seja, sem banheiro próprio, paredesbwinmateriais não resistentes, adensamento excessivo (maisbwintrês pessoas dividindo cada dormitório) ou custosbwinaluguel que não cabiam no bolso da família.
Em São Paulo, maior cidade do país, alguns dos bairros mais carentes chegam a terbwin25% a 50%bwinsua população morandobwinfavelas, segundo dados compiladosbwin2019 pela Rede Nossa São Paulo.
Os mais jovens,bwinparticular, têm dificuldadebwinficarbwincasabwinambientes que podem ser "opressores", diz Daniel Cara, professor da FaculdadebwinEducação da USP e membro da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação.
"Tomando as precauções sanitárias, eu estive com educadores do Jardim São Luiz (um dos bairros mais carentes da zona sul paulistana) e vi as pessoas circulando nas ruas. O comércio foi reduzido, mas não é uma situaçãobwinisolamento", conta Cara.
"As casas não têm internetbwinbanda larga, e às vezes o pacotebwindadosbwininternet é dividido entre vizinhos. E muitos jovens estão convictos do que disse (o presidente) Jair Bolsonaro,bwinque não vai acontecer nada com eles se pegarem o vírus. O discurso do Bolsonaro (contrariando autoridadesbwinsaúde e criticando o isolamento social) acabou sendo conveniente para esses jovens."
O que mais o assusta, diz Cara, é ver aumentar a escassezbwindinheirobwinregiões onde o desemprego e a informalidade já eram altos e a renda, mais baixa que a média da cidade.

Crédito, Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Jéssica Aquino,bwinCidade Tiradentes, mantém o bom humor e a disposição para brincar com os filhos e protegê-los da pandemia, mas está receosa quanto à renda da famíliabwinmeio à quarentena. Passando o dia inteiro com as crianças no apartamento, ela vê os gastos com luz, água e alimentação aumentarem,bwinum momentobwinque o orçamento já estava apertado.
Ela trabalha como operadorabwintelemarketing (está licenciada durante a quarentena) e seu marido segue trabalhando durante o isolamento, mas sem registrobwincarteira. "Ainda não sabemos como vai ser no mês que vem", conta.
Renda e merenda
Os professores Daniel Oliveira e Katia Santos demonstram preocupação também com outra parcelabwinseus estudantes: os que podem ser mais duramente afetados pela ausência da merenda durante o período sem aulas. Santos diz que alguns alunos "vão sentir muita falta da merenda, porque vão para a escola para se alimentar".
Para Daniel Cara, o temor é que,bwincasos extremos, o "esgotamento da renda aumente os conflitos sociais".
Os efeitos disso podem se refletir particularmente nas crianças e adolescentes, mais suscetíveis ao estresse tóxico causado pelas tensões. "O estresse tóxico é um problema que independebwinclasses sociais, masbwinuma famíliabwinclasse média, a casa tende a ser maior e a estruturabwinapoio, também. Entre a populaçãobwinbaixa renda a situação é pior."
Em caráter emergencial, o governo do EstadobwinSão Paulo anunciou na quarta-feira (25) que vai dar, a partirbwinabril, R$ 55 para cercabwin700 mil estudantes (20% do total) matriculados na rede estadual que estejambwinsituaçãobwinextrema pobreza. O dinheiro é para ser usado para a comprabwinalimentos enquanto as aulas estiverem suspensas.
Pelo Twitter, o secretário estadualbwinEducação, Rossieli Soares, afirmou que, a partirbwin21bwinabril, os alunos da rede terão aulas à distância, com professores ensinandobwinestúdios e os estudantes acompanhandobwincasa.
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FinalbwinTwitter post
Na rede municipal, assim como na estadual, houve adiantamento das férias escolares para o período da quarentena. Segundo a assessoria da Secretaria MunicipalbwinEducação, estão sendo estudadas medidas para oferecer atividades aos alunos a partirbwin9bwinabril, caso a quarentena se mantenha, e também para ofertar vale-alimentação às crianças.
Em âmbito nacional, o Plenário da Câmara dos aprovou na quarta-feira (26) um projetobwinlei que prevê a distribuição dos alimentos da merenda às famíliasbwinestudantes que tiveram aulas suspensas na rede pública. O texto agora vai ao Senado.
Para Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, a reação dos órgãos públicosbwineducação foi lenta ao coronavírus, deixando muitas crianças e adolescentes e seus pais sem orientação ou sem ter o que fazerbwincasa nos primeiros dias ou semanasbwinrecesso.
Considerando que grande parte dos alunos não terá banda largabwincasa para acompanhar aulas virtuais, Cruz acha que a estratégia adequada agora é as secretariasbwinEducação se organizarem para reforçar o ensino quando as aulas presenciais puderem ser retomadas.
"Para cumprir as 800 horasbwinaula obrigatórias, teremos alunos que precisarãobwinaulasbwintempo integral, e deverá ser feita uma busca ativabwinalunos que vão acabar não voltando para a escola, porque vão sentir que perderam o ano ou porque vão precisar trabalhar para ajudar os paisbwintemposbwincrise econômica", diz à BBC News Brasil.

"O melhor agora é as secretarias se estruturarem para garantir o cumprimento do currículo na volta às aulas, viabilizar o ensino integral e minimizar as consequências educacionais (da quarentena). Apostando que as aulas voltembwinagosto, as escolas terão que fazer um anobwinum semestre."
Manter a rotina
Instituições particulares que atendem jovensbwinperiferia também estão preocupadasbwinmanter a rotina dos estudantes durante a quarentena e a suspensão das escolas. A escola Alef Peretz, que mantém uma unidade dentro do clube Hebraica, no bairro nobre do Jardim Paulistano, e outra na favelabwinParaisópolis, começou, no dia 23, a dar aulas virtuais para os alunosbwinensino médiobwinambas as unidades.
Para os cem alunos da unidadebwinParaisópolis, foi criada uma estrutura especial: um doador ofereceu tablet com teclados e chipsbwininternet para que os estudantes pudessem acompanhar as aulas.
"É uma situação delicada, não é fácil, porque muitos morambwincasas muito pequenas, com idosos junto às famílias. Neste momento, é muito importante manter a rotina e ocupar a mente com provas,bwinvezbwincom coronavírus", diz Marcelo Davidovici, presidente da instituição.
Ele afirma que os alunos estão "felizesbwinestudar". Na turma que se formou no ano passado, muitos conseguiram vagasbwinuniversidades públicas, motivando os que cursam os anos seguintes. "São estudantes que veem a escola como uma chancebwinmudança social. Temos lábwinParaisópolis mentes tão brilhantes comobwinqualquer outro lugar do mundo", conclui Davidovici.
Angústias
Nas proximidades da represa Guarapiranga, no extremo sulbwinSão Paulo, o professor Edney Bonfim perguntou pela internet a seus alunos da rede pública, a pedido da BBC News Brasil, como estão encarando o pedidobwinconfinamento e a ausênciabwinaulas.
Muitos contam já sentir saudades da escola, dos colegas e dos professores. Eles dizem estar se esforçando para se manterbwincasa e cumprir a quarentena, saindo só quando estritamente necessário. Se entretêm com videogames, maratonasbwinséries e atividades domésticas. Alguns se queixambwinestarem confinadosbwinespaços pequenos, mas a maioria diz entender a importânciabwinse isolar para proteger-se a si e aos demais da covid-19.
No outro extremo da capital,bwinCidade Tiradentes, Katia Santos acha que seus pequenos alunosbwin5 e 6 anos também estão bem conscientes sobre os cuidados com a saúde, mas se angustia com a incerteza do momento atual para crianças ainda tão pequenas e pede notícias constantemente às famílias via WhatsApp.
"É difícil até para adultos manter uma rotina agora. Quanto tempo a gente vai ficar longe delas (crianças)? Na educação infantil, é difícil fazer coisas online, porque o foco na educação é o brincar. Como vamos saber se eles estão se desenvolvendo?"

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