O encontro entre o 'mito' e o 'messias': o que Bolsonaro traz na volta da Índia para Brasil:bet7k estratégia
- Ricardo Senra
- Enviado especialbet7k estratégiaBBC News Brasil a Nova Déli

Crédito, EPA
Tanto Jair Bolsonaro como Narendra Modi trouxeram a direitabet7k estratégiavolta ao poder e prometeram reformas, economias mais modernas e mais empregosbet7k estratégiaseus países
bet7k estratégia Entre 24 e 28bet7k estratégiajaneiro, embet7k estratégiaprimeira viagem oficialbet7k estratégia2020, o presidente Jair Bolsonaro foi o convidadobet7k estratégiahonra da principal celebração pública da Índia, o Dia da República, e teve seu rosto estampadobet7k estratégiaenormes cartazes espalhados por toda a capital Nova Déli.
A mesma homenagem já foi feita a autoridades como a rainha Elizabeth 2ª, Nelson Mandela e dois outros brasileiros: os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro também teve uma sériebet7k estratégiareuniões com empresários e políticos indianos. A única fala pública do presidente ocorreubet7k estratégiaum seminário com CEOsbet7k estratégiaempresas indianas e brasileiras —bet7k estratégiaseu discurso, Bolsonaro pediu para "confiarem no Brasil porque o Brasil mudou".
Para especialistas nas relações entre os dois países, Bolsonaro e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, guardam semelhanças que podem significar uma parceria estratégica para além da economia.
Os dois se elegeram após escândalosbet7k estratégiacorrupção engolirem antecessoresbet7k estratégiacentro-esquerda. Eles trouxeram a direitabet7k estratégiavolta ao poder e prometeram reformas, economias mais modernas e mais empregos. Resgataram uma retórica nacionalista, embalada por forte discurso religioso, por ataques a opositores e por elogios ao passado.
De outro lado, ambos são frequentemente descritos como "ameaças à democracia". São alvosbet7k estratégiacríticas no exterior ebet7k estratégiadesconfiançabet7k estratégiaminorias. Falam constantementebet7k estratégiafake newsbet7k estratégiaataques à imprensa, ao mesmo tempobet7k estratégiaque se beneficiam da polarização do eleitorado, que rende aos dois alcance e enorme popularidade nas redes sociais.
Em seu segundo mandato como homem forte do país, o nacionalista hindu Narendra Modi é chamado por seguidoresbet7k estratégia"messias" — ou alguém que chegou ao poder para resolver os problemas do país. Bolsonaro, sabe-se, é conhecido no Brasil como "mito".
Raio-X da relação bilateral
É consenso entre analistas e membros dos dois governos que as trocas comerciais entre Brasil e Índia estão aquém do seu potencial.
Os indianos ocupam apenas o quarto lugar entre os parceiros comerciais brasileiros na Ásia, atrásbet7k estratégiaChina, Coreia do Sul e Japão.
Para efeitobet7k estratégiacomparação, as trocas comerciais entre Brasil e China chegam a US$ 100 bilhões por ano. Com a Índia, também um gigante asiático com população acimabet7k estratégia1 bilhãobet7k estratégiapessoas e parte do clube das cinco maiores economias do mundo, as trocas ficam muito muito atrás: US$ 7,1 bilhõesbet7k estratégia2019, segundo o Itamaraty.
Na avaliaçãobet7k estratégiaum oficial do governo que preferiu não se identificar, "o Brasil vê a Índia hoje como via a China há 20 anos".
"A cooperação entre os dois países não avançou por profundo desconhecimento e muitas vezes preconceito, apesarbet7k estratégiaambos terem nívelbet7k estratégiadesenvolvimento semelhante, potenciais complementares e convergência política", disse.

Crédito, EPA
Segundo Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, Bolsonaro 'elogiou a liberdade religiosa presente aqui na Índia' e 'falou que se sentiu confortávelbet7k estratégiaestarbet7k estratégiaum país que não é cristão, mas foi muito bem acolhido'
Hoje, os principais produtos vendidos pela Índia para o Brasil são pesticidas e defensores agrícolas, materiais têxteis e peçasbet7k estratégiaautomóveis.
Do outro lado, o Brasil vende principalmente petróleo bruto, açúcar, soja e ouro.
A Índia tem superávit na relação comercial: as exportações brasileiras, segundo o Itamaraty, ficarambet7k estratégiaUS$ 2,76 bilhõesbet7k estratégia2019, enquanto a importações vindas da Índia forambet7k estratégiaUS$ 4,26 bilhões.
Distantes entre si, os países parecem saber pouco um do outro.
Na avaliação do professor indiano Umesh Mukhi, que vive no Brasil há um ano e é professor do Departamentobet7k estratégiaAdministração da FGV, "normalmente a Índia só aparece no contexto do Brics, nunca como nação independente", diz, acrescentando que "a compreensão coletiva dos brasileiros sobre o chefebet7k estratégiaEstado indiano é baixa ou inexistente".
Do lado indiano, a situação não seria muito diferente.
"Quando o primeiro-ministro Modi foi eleito,bet7k estratégia2014, ele fez referências a vários países. Estados Unidos, Alemanha, Rússia... O Brasil também não estava lá. Apareceu junto aos Brics, mas não individualmente."
"O desconhecimento também é uma oportunidade para aprofundamento da relação", avalia.
Defesa
Em comunicado conjunto, Bolsonaro e Modi anunciaram que as trocas comerciais entre os dois países devem saltar dos US$ 7,1 bilhões atuais para US$ 15 bilhõesbet7k estratégia2022 — pouco mais do dobro do valor atual.
Três temas se destacam nos debates econômicos da viagem oficial: defesa, etanol e agronegócio.
Como a BBC News Brasil mostrou no último sábado, um grupobet7k estratégia10 CEOsbet7k estratégiagrandes empresas brasileirasbet7k estratégiaarmas, munição, equipamentosbet7k estratégiavigilância, aviação e inteligência militar acompanhou a comitiva oficialbet7k estratégiaBolsonaro.
Oficiais do Ministério da Defesa, junto a CEOs da Altave, Atech, Avibras, Companhia Brasileirabet7k estratégiaCartuchos, Condor, Embraer, Iveco, Macjee, Omnisys e Taurus participaram pela primeira vez na históriabet7k estratégiaum seminário conjuntobet7k estratégiaindústriasbet7k estratégiaDefesa dos dois países.

Crédito, PRAKASH SINGH/AFP via Getty Images
Painel com fotos do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ebet7k estratégiaJair Bolsonaro; emissários brasileiros querem aproximaçãobet7k estratégiaindianos na área da defesa
Nenhuma das empresas, nem os canais oficiais do ministério da Defesa, haviam anunciado a viagem antes da reportagem.
"Os líderes reiteraram a importância da cooperação bilateral abrangente na áreabet7k estratégiadefesa para fortalecer a Parceria Estratégica", diz o comunicado assinado por Modi e Bolsonaro.
O primeiro resultado concreto foi a assinatura, depoisbet7k estratégia11 mesesbet7k estratégianegociações,bet7k estratégiajoint venture da Taurus Armas com a Jindal Group, maior fabricantebet7k estratégiaaço da Índia, para a construçãobet7k estratégiauma fábricabet7k estratégiaterritório indiano, com tecnologia brasileira.
As ações da Taurus dispararam logo depois do anúncio.
Etanol
Além da defesa, o etanol foi uma das palavras mais repetidas pela delegação brasileira durante a viagem.
O Brasil é o maior produtorbet7k estratégiaetanol vindo da cana-de-açúcar do mundo, enquanto a Índia é a maior produtora mundialbet7k estratégiacana-de-açúcar.
"A possibilidadebet7k estratégiacooperação com a Índia servirá para apoiar a criação do mercado mundialbet7k estratégiaetanol", disse a ministra da Agricultura, Teresa Cristina,bet7k estratégiaum seminário com empresários durante a visita. "Do pontobet7k estratégiavista da Índia, podemos mencionar a redução da poluição nas grandes cidades, maior suprimentobet7k estratégiaenergia renovável e a redução da dependência das importaçõesbet7k estratégiapetróleo."
Junto à ministra, o ministrobet7k estratégiaMinas e Energia, Bento Albuquerque, chegou antes do presidente Bolsonaro país para costurar um projetobet7k estratégiaparceria com o país asiático com o objetivobet7k estratégiatransformar o etanolbet7k estratégiauma commodity global.
Os dois países assinaram termosbet7k estratégiacooperação para desenvolvimento conjuntobet7k estratégiatecnologiasbet7k estratégiaprodução na tentativabet7k estratégiaampliar as exportações do etanol — um biocombustível, portanto alternativa mais limpa ao petróleo.
É cedo, no entanto, para saber se a ambição vai se confirmar. Na primeira década dos anos 2000, o ex-presidente Lula tentou fazer o mesmobet7k estratégiaparceria com o então presidente americano George W. Bush, mas não houve avanços concretos.
Entre os 15 acordos assinados na viagem, um Memorandobet7k estratégiaEntendimento sobre Cooperaçãobet7k estratégiaBioenergia se relaciona a esse tema. Outro memorando prevê a cooperação para a construção, ainda sem previsão,bet7k estratégiaCentrobet7k estratégiaExcelência na Índia para Pesquisasbet7k estratégiaBioenergia.
Agronegócio
A ministra da Agricultura anunciou como primeiro resultado concreto da viagem a abertura do mercado indiano para exportações brasileirasbet7k estratégiagergelim, e, do outro lado, a abertura do mercado brasileiro para exportações indianasbet7k estratégiasementesbet7k estratégiamilho.
Em 2019, o Brasil exportou US$ 24,6 milhõesbet7k estratégiagergelim — o mercado mundial do produto cresce e movimentou R$ 3 bilhões no ano passado, segundo o ministério da Agricultura.
A Índia também se comprometeu a estudar a possibilidadebet7k estratégiacomprar abacate, cítricos e madeirabet7k estratégiaipê do Brasil. Já o Brasil vai avaliar a comprabet7k estratégiamilheto, sorgo, canola e algodão vindos da Índia.
Os dois países também assinaram uma declaraçãobet7k estratégiaColaboração na Áreabet7k estratégiaPecuária e Produção Leiteira.

Crédito, Alan Santos/PR
Bolsonarobet7k estratégiavisita ao Templobet7k estratégiaAkshardham,bet7k estratégiaNova Déli
Durante encontro aberto à imprensa, ao ladobet7k estratégiaBolsonaro, Modi disse que "o Brasil é um parceiro valioso na transformação econômica da Índia e uma fonte confiável para nossas necessidades nos camposbet7k estratégiaalimentos e energia".
Espéciebet7k estratégiaguarda-chuva para a viabilizaçãobet7k estratégiatodas as propostas, o principal acordo assinado entre os dois países é obet7k estratégiaCooperação e Facilitaçãobet7k estratégiaInvestimentos.
O documento é visto como peça-chave para a segurança jurídica das novas trocas comerciais.
Política
O principal paralelo entre os dois líderes — ressaltado pelos próprios, inclusive — é o nacionalismo.
Na noitebet7k estratégiasábado, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, disse a jornalistas que Jair Bolsonaro "elogiou a liberdade religiosa presente aqui na Índia" e "falou que se sentiu confortávelbet7k estratégiaestarbet7k estratégiaum país que não é cristão, mas foi muito bem acolhido" durantebet7k estratégiareunião bilateral com o primeiro-ministro indiano.
"Os dois são notoriamente nacionalistas, defendem seus países, são avessos a alguns fóruns internacionais e acredito que há muita química nessa relação", disse Eduardo Bolsonaro.
Já o ministrobet7k estratégiaRelações Exteriores, Ernesto Araújo, dissebet7k estratégiaum seminário que Índia e Brasil hoje têm "convergênciabet7k estratégiaideias e visõesbet7k estratégiamundo".
Para o chanceler, o país liderado por Narendra Modi "está se modernizando sem abrir mãobet7k estratégiasuas tradições e valores, e está se construindo a partirbet7k estratégiasuas raízes e essência e não a partir dos dogmas dos que formam o mundo pós-nacionalista ou antinacionalista".
"Apenas nações que se reconhecem como nações podem aspirar ser algo no mundo. Essa é a lição da Índia e também a que o Brasil está tentando dar ao mundo."
No comunicado conjunto assinado durante a viagem, os dois líderes anunciaram que vão se apoiar na meta conjunta dos seus paísesbet7k estratégiaconquistar uma cadeira permanente no Conselhobet7k estratégiaSegurança das Nações Unidas.
Para isso, eles querem ampliar o conselho por meiobet7k estratégiauma reforma, incluindo novos assentos nas categorias permanente e não permanente.
A meta é aumentar a representaçãobet7k estratégiapaísesbet7k estratégiadesenvolvimento no conselho.
Esta é uma vontade antiga, segundo analistas, ebet7k estratégiaconcretização depende da vontade dos cinco países ricos que hoje têm cadeira permanente no Conselhobet7k estratégiaSegurança com direito a veto — Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China.
Energia nuclear
O presidente Bolsonaro reforçou o apoio brasileiro à candidatura da Índia ao Grupobet7k estratégiaSupridores Nucleares (o NSG), que tem 48 países, incluindo o Brasil.
O grupo foi criado justamente depoisbet7k estratégiaum teste nuclear feito pela Índiabet7k estratégia1974. O exercício gerou um alerta entre outras potências nuclearesbet7k estratégiaque tecnologias nucleares usadas para fins pacíficos pudessem ser revertidas e transformadasbet7k estratégiaarmamento.
Os membros então se reuniram com o objetivobet7k estratégiaprevenir a proliferaçãobet7k estratégiaarmas nucleares por meiobet7k estratégiacontroles na exportaçãobet7k estratégiamateriais ebet7k estratégiatecnologia.
Os indianos têm o apoio, além do Brasil,bet7k estratégiapaíses como EUA, Reino Unido, França e Rússia para entrar no grupo. A China, porém, se opõe reiteradamente à entrada indiana no grupo. Segundo os chineses, não há coerênciabet7k estratégiapermitir a entrada da Índia, mas proibir a do Paquistão.
O apoio brasileiro é discutido pelos dois países desde pelo menos 2006 — quando Lula se encontrou com o então premiê Índia, Manmohan Singh, durante a primeira visitabet7k estratégiaum chefebet7k estratégiagoverno indiano ao Brasil desde 1968. Em 2016, o Brasil anunciou apoio oficial.

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