Moa do Katendê: Os minutos que antecederam o assassinatosite loterias federalmestresite loterias federalcapoeira esfaqueado após discussão política:site loterias federal

Passados mais 10 minutos, segundo a mesma versão, quem entra no bar é o barbeiro Paulo Sérgio Ferreirasite loterias federalSantana,site loterias federal36 anos, que ainda não sabe, mas dali a pouco tempo vai matar o Mestre Moa do Katendê.

Abatido e sem força na voz, o alfaiate Reginaldo disse à BBC News Brasil que,site loterias federalrepente, Paulo Sérgio se intrometeu na conversa da família, dizendo que o país precisavasite loterias federalmudança e quem tinha que ganhar a eleição era Bolsonaro.

"Eu respondi a ele: 'rapaz, você é novo, ainda não sabe nada da vida'. Ele aí já veio com grosseria e Moa se meteu, também dizendo que ele não sabia pelo que já passamos. Disse assim: 'você não sabe o quanto sofri pra ter liberdade'. Eles ficaram discutindo e até João (dono do bar) falou pro cara: 'rapaz, olhe com quem você tá discutindo, com um senhor'. Aí ele se afastou, pagou a conta e foi embora", relata Reginaldo.

Volta repentina do esfaqueador

O irmão da vítima afirma que, cinco minutos após deixar o bar, Paulo Sérgio surgiu repentinamente, atacando seu irmão por trás a facadas. "Eu só vi o vulto. Ele veio do nada e passou juntosite loterias federalmim já dando facada. Germínio tentou defender, mas não adiantou. Como é que o cara dá 12 facadas assimsite loterias federalmeu irmão? Chegou na covardia. Foi uma discussãosite loterias federalpolítica e pronto. Se fosse coisa séria, a gente ia ficar lá sentado bebendo?", indaga Reginaldo, como quem questiona a si mesmo.

Ele disse que, com o corposite loterias federalMoa do Katendê já no chão, Paulo Sérgio ameaçou golpear quem estavasite loterias federalvolta – quatro outros clientes –, abriu caminho e fugiu.

Acionada, a Polícia Militar encontrou o assassino minutos depois, escondido na casa onde morava há dois meses com a mulher e dois filhos, a 100 metros do local do crime.

"Os policiais da 26ª Companhia Independentesite loterias federalPolícia Militar avistaram um rastrosite loterias federalsangue que levava até uma casa e prenderamsite loterias federalflagrante o homicida. Ele já estava com uma mochila com roupas no intuitosite loterias federalfugir", informou a corporaçãosite loterias federalnota.

Golpeado no braço, Germínio, primosite loterias federalMestre Moa, ainda está hospitalizado, mas sem riscosite loterias federalmorte.

À 0h38 da segunda-feira, quando Paulo Sérgio já estava dentro do camburão da PM, tocou o celularsite loterias federalSomonair da Costa,site loterias federal35 anos. Filhasite loterias federalMoa do Katendê, ela dormia sem saber que o pai fora morto pertosite loterias federalsua casa.

"Tomei aquele susto quando o celular tocou e já acordei me tremendo, porque perdi minha mãe há um mêssite loterias federalinfarto. Era uma amiga com essa notícia. Bateu o desespero, acordei meu irmão, a gente saiu correndo. Quando cheguei, só vi meu pai lavadosite loterias federalsangue. Não dá nem pra acreditar nisso", narra a professorasite loterias federaldança.

Versões

Responsável pelo caso, a delegada Milena Calmon, do Departamentosite loterias federalHomicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), descreve Paulo Sérgio como agressivo e diz que ele caisite loterias federalcontradiçãosite loterias federalsuas versões. À polícia, o barbeiro já havia reconhecido a discussão por divergência política, o que foi confirmado por testemunhas já ouvidas.

"Foi mesmo uma discussão por causasite loterias federalpolítica, até a vítima sobrevivente já confirmou. O autor do crime estava defendendo Bolsonaro e a vítima, do lado do PT. De acordo com as testemunhas, houve ofensas verbaissite loterias federallado a lado. O autor então foisite loterias federalcasa, pegou a faca, voltou e fez o que fez", afirmou a delegada.

Mas, na delegacia, Paulo Sergio, um homem corpulentosite loterias federal1,80 m que contou ter começado a beber na tarde do domingo, negou a discussão política e alegou, falando a jornalistas, que estava apenas conversando "sobre futebol" com o dono do bar.

"Ele que levantou e começou a me chamarsite loterias federalpreto e veadinho. Eu bebendo, fiquei exaltado, fuisite loterias federalcasa e aconteceu o fato", disse ele, que a até a noitesite loterias federalterça-feira não tinha advogado constituído.

Segundo a delegada, Paulo Sérgio já tinha dois registrossite loterias federalpassagens pela polícia. Umsite loterias federal2009, por se envolversite loterias federaluma briga, e outrosite loterias federal2014, quando foi denunciado por um adolescentesite loterias federal14 anossite loterias federalsituaçãosite loterias federalrua, que informou ter sido ameaçado pelo barbeiro com uma tesoura, depoissite loterias federalpedir R$ 0,50.

"Como é que meu irmão ia chamar elesite loterias federalpreto e veadinho? Um homem com a históriasite loterias federalMoa,site loterias federaltanta luta pela cultura negra. Isso é uma grande mentira", diz Reginaldo.

No seu ateliê, onde as máquinassite loterias federalcostura estão paradas desde domingo, ficaram as batas estampadas que Moa do Katendê levaria nesta quarta-feira para um eventosite loterias federalSão Paulo.

"Tudo aqui pronto pra meu pai viajar pra mais um trabalho. A ficha ainda nem caiu, parece que ele vai chegar pra pegar o material. Meu pai era uma pessoasite loterias federalpaz", disse Somonairsite loterias federalmeio às peçassite loterias federalroupa.

Trajetória reverenciada por Caetano Veloso

"Moa do Katendê, a quem devo a revelação que foi ver e ouvir o gruposite loterias federalpessoas na rua cantando 'Misteriosamente o Badauê surgiu', foi morto a facadas por ter dito que votarasite loterias federalHaddad. O assassino, um bolsonarista apaixonado, foi encontrado quando tentava fugir. (...) Moa era meu amigo e foi uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afrosite loterias federalSalvador. Estousite loterias federalluto por ele. (...) Fundador do Badauê, compositor, mestresite loterias federalcapoeira, Moa vive na história real da cidade e deste país", afirmou o cantor e compositor Caetano Veloso numa rede social.

Nascido no Dique Pequeno, como é chamada a localidade onde foi morto, Moa fez suas primeiras gingas na capoeira ali mesmo, como discípulo do Mestre Beto Bobó. Com o passar dos anos, ficou responsável por levar adiante o legado do seu mestre.

Da escolasite loterias federalcapoeira, veio a dança afro, como integrante do grupo Viva Brasil, que entre as décadassite loterias federal1960 e 1970 ganhou o mundo por meio do trabalho da folclorista e pesquisadora Emília Biancardi.

No mesmo período, ele começou a compor para os blocos afro, que ganhavam força no cenário musicalsite loterias federalSalvador.

"Moa era um artista incrível, um talento reconhecido no mundo inteiro. Jogava capoeira, dançava, escrevia. É uma perda imensa para a cultura da Bahia e do Brasil", disse Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê Aiyê, maior bloco afro da Bahia.

Foi justamente uma composição para o Ilê que fez a famasite loterias federalMoa do Katendê se espalhar ainda mais. A canção Badauê, citada na postagemsite loterias federalCaetano Veloso, posteriormente veio a ser gravada pelo artista no disco Cinema Transcendental (1979).

Mais do que uma música, Badauê virou também um blocosite loterias federalafoxé, criado pelo próprio Moasite loterias federal1978. Na tradição carnavalesca da Bahia, os afoxés são os blocos que levam para as ruas o Ijexá, ritmo tradicional dos terreirossite loterias federalreligiõessite loterias federalmatrizes africanas.

Projeção dos afoxés para o mundo

Para Chico Assis, pesquisador quesite loterias federal2017 defendeu uma dissertaçãosite loterias federalmestrado sobre os afoxés da Bahia, Moa do Katendê foi um dos maiores propagadores da cultura afro-baiana pelo mundo.

"Quando o Badauê saiu pela primeira vez, os afoxés estavam enfraquecidos, mas ele fez uma mudança, juntando a contemporaneidade com a tradição. Então os afoxés voltaram a ter força. E Moa seguia espalhando essa cultura por todo canto, dando aulassite loterias federaldiversos países da Europa", disse.

Vivendo nos Estados Unidos, o poeta baiano Guellwaar Adún, parceirosite loterias federalMoa do Katendêsite loterias federaldiversas composições para blocos afro, disse à BBC News Brasil que a mortesite loterias federalMoa lhe tirou "um irmão e um pai".

"Ele era um cara da vida, da alegria, um cara ético,site loterias federaluma simplicidade imensa, que não queria nada que fosse dos outros. Foi meu maior incentivador nas artes e tem a vida tirada dessa forma bárbara".

Para Adún, a morte do amigo é um exemplo do "momento gravíssimo pelo qual o Brasil está passando, tomado pela histeria".

"O conservadorismo é diferente do fascismo. O fascismo é que trazsite loterias federalsi o ódio, essa vontadesite loterias federalatacar estruturas culturais que Bolsonaro prega. Ele ataca mulheres, gays, negros. É claro que isso reflete nas pessoas", afirma o poeta, que é fundador da editora Ogun's Toques, que publica exclusivamente autores negros do Brasil ou dos Estados Unidos.

"Quem é da capoeira sabe como os negros já sofreram, sabe da desigualdade que enfrentamos. Moa lutava contra tudo isso através dasite loterias federalarte. Era um disseminadorsite loterias federalconhecimento e cultura. Sua morte foi um crime político. O discursosite loterias federalódio no Brasil quer interditar qualquer tiposite loterias federalideia e manifestação contrária, mas não vai conseguir. A artesite loterias federalMoa não vai morrer. Nós vamos existir e resistir", concluiu Adún.

Bolsonaro nega ser racista, homofóbico e misógino. Questionado nesta terça-feira por jornalistas sobre a morte do capoeirista, ele afirmou lamentar o ocorrido, mas que a pergunta foi "invertida" e que não tem como controlar todos os seus apoiadores.

"Quem tomou a facada fui eu, pô! O cara lá que tem uma camisa minha, comete lá um excesso. O que eu tenho a ver com isso? Eu lamento", afirmou o presidenciável.

"Peço ao pessoal que não pratique isso. Mas eu não tenho controle sobre milhões e milhõessite loterias federalpessoas que me apoiam. Agora, a violência vem do outro lado, a intolerância vem do outro lado. Eu sou a prova – graças a Deus, viva – disso aí."