Grupo3+1 freebetdoutores quer mudar regra que obriga bolsista do governo a voltar ao Brasil: 'Não é fuga3+1 freebetcérebros':3+1 freebet

  • Juliana Sayuri
  • De São Paulo para a BBC News Brasil
Ilustração mostrando "cérebro"3+1 freebetmalas prontas

Crédito, Cecilia Tombesi/BBC News

Legenda da foto,

Regra hoje exige que bolsistas voltem o país, mas grupo defende outras alternativas

3+1 freebet Pedro (nome fictício) fez doutorado na França, onde recebeu uma proposta3+1 freebetemprego. Foi obrigado a recusar a oferta para retornar ao Brasil 3+1 freebet e cumprir o período3+1 freebet"interstício", que se refere à temporada3+1 freebetpermanência obrigatória3+1 freebetex-bolsistas no país após a conclusão dos estudos 3+1 freebet no exterior. Está desempregado 3+1 freebet .

Giovana (nome fictício) faz especialização na Inglaterra e, após a defesa da tese, deverá voltar ao Brasil a fim3+1 freebetcumprir as regras da agência federal3+1 freebetfomento, afastando-se3+1 freebetseu marido europeu e3+1 freebetseus três filhos.

As histórias reais3+1 freebetPedro e Giovana são citadas como exemplos no abaixo-assinado lançado por pesquisadores brasileiros,3+1 freebetfevereiro, que reivindicam revisão e flexibilização das regras atuais que obrigam ex-bolsistas a retornar ao país.

Entre os signatários estão integrantes do Programa-Piloto para a Mobilidade3+1 freebetProfissionais Brasileiros Altamente Qualificados: Brasileiros pelo Avanço da Internacionalização do Conhecimento - Brain (que significa "cérebro"3+1 freebetinglês), uma rede3+1 freebet158 bolsistas e ex-bolsistas3+1 freebetdoutorado do Conselho Nacional3+1 freebetDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação3+1 freebetAperfeiçoamento3+1 freebetPessoal3+1 freebetNível Superior (Capes).

A articulação do Brain começou a partir3+1 freebetum grupo3+1 freebetpesquisadores brasileiros no Facebook. Em agosto3+1 freebet2017, eles fizeram uma das primeiras reuniões por videoconferência, iniciando a elaboração3+1 freebetpropostas para apresentar alternativas ao CNPq e à Capes3+1 freebetrelação ao retorno obrigatório ao país.

"Não se trata3+1 freebetuma "fuga", mas uma circulação3+1 freebetcérebros", define Gilvano Dalagna,3+1 freebet37 anos, que faz parte da diretoria do Brain.

Gilvano Dalagna

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto,

'Queremos retribuir com a moeda que consideramos mais valiosa: nosso trabalho', diz Gilvano Dalagna, que vive3+1 freebetPortugal

Segundo os integrantes do grupo ouvidos pela BBC News Brasil, a obrigatoriedade3+1 freebetretorno ao país muitas vezes implica a recusa3+1 freebetpropostas3+1 freebettrabalho e oportunidades3+1 freebetpós-doutorado no exterior. Além disso, os pesquisadores criticam a ausência3+1 freebetprogramas para reinserir os recém-doutores no mercado no Brasil – uma situação agravada pelo atual contexto econômico e por cortes no orçamento para a educação.

A posição do grupo não é, no entanto, unanimidade dentro da academia.

O biólogo Marcelo Hermes-Lima,3+1 freebet53 anos, professor do Laboratório3+1 freebetRadicais Livres da Universidade3+1 freebetBrasília (UnB), discorda dos argumentos do Brain.

"É óbvio que eles devem voltar. Eles assinaram um contrato (com as agências3+1 freebetfomento). O povo brasileiro está pagando a educação deles. Então, é hora3+1 freebetser adulto, cumprir o compromisso e voltar ao país. Eles devem crescer. Não compartilho dessa visão 'choramingosa' da comunidade científica", critica.

Como funciona hoje – e o que o grupo defende

Pule Podcast e continue lendo
BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

Segundo as regras atuais, os ex-bolsistas da Capes devem regressar ao país até 60 dias após a defesa3+1 freebetsuas teses; para o CNPq, o prazo é3+1 freebet30 dias.

Nos dois casos, os ex-bolsistas devem residir novamente no Brasil por um período mínimo equivalente à estadia no exterior (um pesquisador que morou quatro anos fora, por exemplo, deverá passar quatro anos, no mínimo, no território brasileiro).

Se não retornarem ou não permanecerem o tempo previsto no país, ex-bolsistas estão sujeitos a processos administrativos e deverão devolver os valores recebidos pelas agências. E, se não devolverem, serão cobrados judicialmente a partir da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal3+1 freebetContas da União (TCU) – a dívida pode ultrapassar R$ 300 mil.

Entre 2013 e 2017, 10.206 brasileiros foram contemplados com bolsas3+1 freebetdoutorado pleno no exterior pela Capes, que não possui dados sobre quantos doutores deveriam ter retornado no último ano. No mesmo período, 1.336 brasileiros receberam bolsas3+1 freebetdoutorado no exterior pelo CNPq, que tampouco possui informações sobre a expectativa3+1 freebetretorno.

A proposta do Brain,3+1 freebetacordo com os integrantes ouvidos pela BBC Brasil, é apresentar uma alternativa3+1 freebetressarcimento dos investimentos feitos na formação desses jovens doutores, que continuariam a contribuir com a ciência brasileira a distância.

Eles também pedem mais flexibilidade e transparência das agências na avaliação3+1 freebetseus pedidos3+1 freebetadiamento3+1 freebetinterstício, uma autorização para prolongar a estadia no exterior.

Daniela Machado

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto,

Daniela Machado conta que a Capes topou conversar com o grupo

Entre os participantes do Brain estão doutores (27,4%) e pós-graduandos prestes a concluir seus doutorados até 2019 (72,6%),3+1 freebetdiversas áreas do conhecimento. Espalhados na Europa (84%), América do Norte (15%) e Austrália (1%), eles realizam assembleias periódicas por videoconferência.

Os integrantes enfatizam que reconhecem a necessidade3+1 freebetretribuição à ciência brasileira e admitem que as agências têm direito3+1 freebetexigir contrapartidas pelos investimentos feitos. Ao mesmo tempo, argumentam que é preciso repensar o formato das contrapartidas.

"Reconhecendo que tivemos apoio fundamental para nossa formação, queremos retribuir com a moeda que consideramos mais valiosa: nosso trabalho. O desenvolvimento intelectual foi o que nos trouxe até aqui e é a partir dele que queremos retribuir ao país. Isso não quer dizer que precisamos estar fisicamente no Brasil", diz Gilvano Dalagna.

Graduado pela Universidade Federal3+1 freebetSanta Maria (UFSM), ele fez o doutorado na Universidade3+1 freebetAveiro, Portugal, com apoio da Capes. Em 2012, estudou na University College London (UCL), Inglaterra, como parte do programa Erasmus Mundus.

Após a conclusão do doutorado,3+1 freebet2016, ele voltou ao Brasil por apenas um mês: como recebera convites para participar3+1 freebetprojetos e lecionar na Escola Superior3+1 freebetMúsica e Artes do Espetáculos do Porto, ele interrompeu o interstício e voltou a Portugal.

Radicado3+1 freebetAveiro, ele ministrou cursos online e prestou consultoria para programas3+1 freebetpós-graduação3+1 freebetuniversidades brasileiras. Como exemplos3+1 freebetcontribuição a distância, cita a possibilidade3+1 freebetocupar posições estratégicas como "embaixadores"3+1 freebetuniversidades brasileiras, liderando projetos internacionais e promovendo intercâmbio para pesquisadores brasileiros.

Déborah Maia Lima

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto,

'É como se não importasse se você passa os dias dormindo e assistindo Netflix desde que esteja no território brasileiro', reclama Déborah Lima

'Qual é a lógica3+1 freebetvoltar ao país3+1 freebetperspectiva?'

Integrante do Brain desde o início, a pesquisadora mineira Déborah Maia Lima,3+1 freebet47 anos, deve concluir o doutorado3+1 freebetdança na Universidade3+1 freebetQuebec3+1 freebetMontreal (UQAM), no Canadá, até o fim do ano. De lá, mantém colaborações com a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), a UnB e a Universidade Federal do Rio Grande do Rio (UFRGS).

"Não queremos privilégio ou 'fugir' do Brasil. Queremos uma mudança3+1 freebetparadigma: abandonar a ideia3+1 freebet"fuga"3+1 freebetcérebros (brain drain), que é da década3+1 freebet1960, para pensar a atualização da política das agências3+1 freebetfomento para a inserção internacional e a globalização do conhecimento", diz.

Titulados recentemente, os jovens doutores do Brain não têm vínculo empregatício no Brasil. Segundo relatos, muitos ex-bolsistas estão sendo forçados a abandonar as áreas3+1 freebetespecialização ao regressar ao país, por não conseguirem ingressar no mercado, seja nas universidades públicas seja na iniciativa privada.

"O governo investiu uma quantia gigantesca3+1 freebetdinheiro nas nossas formações e somos imensamente gratos. Devemos retribuir ao povo brasileiro com desenvolvimento científico e inovação tecnológica. Assim, qual é a lógica3+1 freebetvoltar ao país sem perspectiva e muitas vezes num subemprego?", questiona Lima.

"Para as agências, é como se não importasse se você passa os dias dormindo e assistindo Netflix desde que esteja no território brasileiro. Isso é poder contribuir com a ciência? Não seria melhor ter esses jovens pesquisadores brasileiros transitando e internacionalizando a educação do país?", conclui.

A pesquisadora Clarissa Justino3+1 freebetLima,3+1 freebet27 anos, também integra o movimento, mas não pretende prolongar3+1 freebetestadia no exterior. Quer voltar ao país3+1 freebetmaio3+1 freebet2019, após a conclusão3+1 freebetseu doutorado3+1 freebetengenharia civil na Universidade Técnica3+1 freebetDelft (TU Delft), Holanda. O plano é procurar um pós-doutorado no Brasil, mas ela está pessimista diante das disputadas vagas.

"Essa falta3+1 freebetoportunidades impede que o ex-bolsista gere conhecimento e inovação. Assim, a sociedade deixa3+1 freebetreceber um retorno do montante3+1 freebetdinheiro público investido na formação dele. O ex-bolsista também perde, pois após anos3+1 freebetpreparação e profissionalização, se vê obrigado a atuar3+1 freebetcampos completamente diferentes do seu, apenas para conseguir se sustentar", diz.

Clarissa Justino

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto,

Clarissa Justino quer voltar ao Brasil, mas teme falta3+1 freebetoportunidades

Caso a caso

Em outubro3+1 freebet2012, a Capes publicou uma portaria que previa a possibilidade3+1 freebetliberar a obrigação3+1 freebetretorno3+1 freebetex-bolsistas, a partir3+1 freebetcritérios3+1 freebet"desempenho3+1 freebetatividades técnico-científicas relevantes". Um mês depois, porém, ela foi revogada.

"A Capes não é uma agência3+1 freebetviagens", comenta o filósofo e professor da USP Renato Janine Ribeiro, que foi diretor3+1 freebetavaliação da agência entre 2004 e 2008 e ministro da Educação entre abril e outubro3+1 freebet2015. Para ele, é preciso ter regras claras e responsabilidade3+1 freebetretorno3+1 freebetex-bolsistas.

"Entendo, e autorizei3+1 freebet2015, que alunos que recebem3+1 freebetentidades do exterior auxílios e bolsas para prolongarem3+1 freebetpermanência fora do país possam ter seu pedido aceito. Mas isso representa apenas um adiamento3+1 freebetsua volta, não uma política sistemática na qual o Brasil passaria a apoiar o estabelecimento3+1 freebettais doutores no exterior, financiando assim universidades e institutos3+1 freebetpesquisa3+1 freebetpaíses ricos", diz.

Em 2015, a equipe do então ministro foi procurada por um astrofísico que fazia pós-doutorado na França. O estudo do pesquisador, considerado3+1 freebetponta, atraiu a atenção da faculdade francesa que o convidou, mediante cartas assinadas, a continuar ali por dois anos adicionais.

A pesquisa necessitava3+1 freebetuma tecnologia disponível na instituição estrangeira, que manteria integralmente o pesquisador visitante, "a custo zero para o Brasil", lembra Janine. Assim, frisa o filósofo, o astrofísico não estava se negando a retornar ao país, mas pedindo adiamento do interstício. Ele foi favorável à autorização, que acabou aprovada pela Capes.

"Se a volta do pesquisador não permite que ele continue a desenvolver3+1 freebetpesquisa com a mesma capacidade e fluência que teria se continuasse na instituição estrangeira, não faz sentido seguir uma norma que prejudica a ciência. Seria como se o Estado sabotasse o próprio Estado (e a ciência)", diz Janine.

Tentativas frustradas

Em outubro3+1 freebet2016, a Capes publicou uma nova portaria que flexibilizou a regra3+1 freebetretorno. Para permanecer no exterior, o pesquisador deveria submeter um novo projeto3+1 freebetpesquisa, designado "novação", a ser avaliado por três especialistas.

Em agosto3+1 freebet2017, a norma foi revogada. No meio tempo, 74 dos 76 projetos submetidos foram reprovados.

Uma das negativas foi ao projeto3+1 freebetJulia Salles,3+1 freebet36 anos, que deve concluir o doutorado no departamento3+1 freebetcomunicação na UQAM, no Canadá, até setembro.

Mestre3+1 freebetarte contemporânea e novas mídias pela Universidade3+1 freebetParis 8, Julia faz parte3+1 freebetum programa3+1 freebetpós-graduação que integra outras duas instituições canadenses. "Faço pesquisa3+1 freebetuma universidade, dou aula3+1 freebetoutra, sou aluna3+1 freebetoutra", diz ela, que desenvolve documentários para internet. "Tenho um pé na indústria criativa, outro na academia."

Julia Salles

Crédito, Louise Ducamin

Legenda da foto,

Doutoranda no Canadá, Julia Salles teve duas propostas3+1 freebetadiamento do retorno recusadas

O projeto3+1 freebet"novação" da autora incluía uma coprodução Brasil-Canadá para um projeto3+1 freebetrealidade virtual, com investimento recebido do SP-Cine e3+1 freebetum fundo canadense; um projeto intitulado Brazil Hub, no laboratório Sense Lab da Universidade Concordia,3+1 freebetMontreal; e um núcleo3+1 freebetpesquisas na Universidade Federal do Estado do Rio3+1 freebetJaneiro (Unirio) que incluía congressos e cursos3+1 freebetcurta duração no Brasil.

O primeiro pedido foi negado, segundo a interpretação da autora sobre o parecer, por falta3+1 freebetinformações sobre o valor monetário das atividades.

Para o segundo pedido, ela adicionou um orçamento evidenciando a movimentação financeira dos projetos (ela recebera cerca3+1 freebet100 mil dólares canadenses3+1 freebetbolsa; as atividades envolveriam mais3+1 freebet200 mil dólares canadenses3+1 freebetbenefício brasileiro). O projeto foi reprovado.

Conversas

Após a revogação da portaria da Capes, o Brain começou a se articular, buscando diálogo com as agências e apoio3+1 freebetassociações, como a Associação Nacional3+1 freebetPós-Graduandos (ANPG) e a Associação3+1 freebetBrasileiros Estudantes3+1 freebetPós-Graduação e Pesquisadores no Reino Unido (ABEP-UK).

A bióloga Daniela Machado,3+1 freebet32 anos, mestre pela Fiocruz e desde dezembro doutora pela Escola Normal Superior3+1 freebetLyon, na França, é uma das diretoras do grupo que participa desses diálogos.

Ela conta que a Capes aceitou ouvir as propostas do Brain. Foram feitas duas reuniões por videoconferência3+1 freebetabril e maio. Os pesquisadores pediram para participar do grupo3+1 freebettrabalho constituído por representantes da Capes e consultores para discutir a "novação".

Procurada pela reportagem, a entidade afirma que tem mantido um "diálogo aberto" com o movimento, "ponderando as demandas e levando3+1 freebetconsideração o ponto3+1 freebetvista dos bolsistas e ex-bolsistas".

De acordo com os integrantes do Brain, o CNPq não respondeu às mensagens encaminhadas ao presidente e a duas coordenações3+1 freebetprojetos internacionais.

"O CNPq não tem conhecimento desta iniciativa, mas parece ser uma iniciativa interessante, pois a internacionalização da ciência é bandeira do CNPq", afirmou à BBC News Brasil o presidente do conselho, Mario Neto Borges.

Segundo ele, a nova diretoria já analisou o assunto e decidiu a favor da flexibilização. Trata-se da recente resolução normativa 007/2018.

"O fundamento principal desta flexibilização se baseia no fato3+1 freebetque o pesquisador, que por justa razão quiser permanecer no exterior, pode contribuir com o Brasil por meio das atividades propostas no termo da novação. Melhor assim que ser obrigado a voltar ao Brasil sem condições3+1 freebetexercer3+1 freebetnova qualificação", conclui.