“Agora a sociedade está vendo o valor do caminhoneiro”, dizem manifestantes no Rio:apostaonline
- Júlia Dias Carneiro
- Da BBC Brasil no RioapostaonlineJaneiro

Crédito, ccd
Cmainhoneiros que protestaram no Rio dizem que sofrem discriminação e que as pessoas acham que eles servem apenas para causar engarrafamento
apostaonline Mesmo depoisapostaonlineo governo anunciar um acordo com representantesapostaonlinecaminhoneirosapostaonlineBrasília para suspender a greve da categoria por 15 dias, motoristas reunidos desde segunda-feiraapostaonlinefrente à Refinaria DuqueapostaonlineCaxias (Reduc), na região metropolitana do Rio, continuavam decididos a fincar o pé no local "até que seja publicado um decreto" cristalizando os termos do acordo.
"Se houver um decreto, acho que o pessoal vai aceitar. Mas acho que isso é uma estratégia do governoapostaonlinedesmobilizar a manifestação", disse à BBC Brasil Sandro Gonçalves, diretor da Associação das EmpresasapostaonlineTransporteapostaonlineCombustíveis e Derivados do Estado do RioapostaonlineJaneiro, após o anúncio do governo - e as informações que recebia a todo instanteapostaonlinegruposapostaonlineWhatsAppapostaonlinecaminhoneiros. "A categoria informou que vai continuar."
Desde a segunda-feira, 21, gruposapostaonlinemotoristas se revezam dia e noite na entrada da refinaria da Petrobras na rodovia Washington Luís, no sentido Rio-Petrópolis.
Pouco antes do anúncio, Gonçalves ajudava a descarregar um loteapostaonlinegarrafasapostaonlineágua, cookiesapostaonlinechocolate e biscoitos salgados enviados por um doadorapostaonlineapoio à greve dos caminhoneiros no Rio. As doações recebidas ao longo do dia incluíram uma panelaapostaonlineangu à baiana, outraapostaonlinesopaapostaonlineervilha e uma remessaapostaonlineovos cozidos.
No quarto dia da greve, as paralisações ocorreramapostaonlinequase todos os Estados do Brasilapostaonlinereação à disparada do preço do diesel. Os impactos incluíram a redução da frotaapostaonlineônibusapostaonlinevárias cidades, faltaapostaonlinecombustívelapostaonlinepostosapostaonlinegasolina, disparadaapostaonlinepreçosapostaonlinepostos, o cancelamentoapostaonlineaulasapostaonlineuniversidades, voos ameaçados por faltaapostaonlinecombustível, estantes vaziasapostaonlinesupermercados e centrosapostaonlineabastecimento e a interrupção da produçãoapostaonlinefábricas.

Crédito, Julia Dias Carneiro/BBC
Os caminhoneiros ficaram na frente da refinaria da PetrobrasapostaonlineDuqueapostaonlineCaxias, no Rio, para impedir que caminhões entrassem para serem abastecidos
'Tudo passa pelo caminhão'
No ambiente inóspito da entrada da Reduc tarde da noite, cercaapostaonlinecem caminhoneiros estavam a postos para impedir a entradaapostaonlinecaminhões-tanque para carregar e distribuir combustível na refinaria da Petrobras.
O grupo era heterogêneo, com motoristas sindicalizados ou autônomos, que atuamapostaonlinesetores como osapostaonlinetransporteapostaonlinecarga seca,apostaonlinecontêineres,apostaonlinecombustível eapostaonlinecaçambas.
Espalhadosapostaonlinetornoapostaonlineuma fogueira mantida acesa dentroapostaonlineum latãoapostaonlinecombustível ("porque aqui faz muito frioapostaonlinenoite", explicou um motorista), eles consideravam o movimento um sucesso.
"Estamos realizados porque estamos sendo reconhecidos", dizia Emanuel Oliveira,apostaonline30 anos, que presta serviço como motorista da Reduc. "O caminhoneiro dorme na rua, não tem onde comer, dormir, tomar banho, está sujeito à insegurança, mas ninguém nunca valoriza a gente", desabafou.
"O caminhoneiro é muito discriminado", reiterava Antônio Carlos Pereira,apostaonline47 anos, que trabalha como motorista desde 1993 e é conhecido por todos como Ratão. "Na cabeça do pessoal, a gente só serve para atrapalhar o trânsito, causar engarrafamento. Esquecem que é a gente que leva tudo para dentro da casa, a comida, a televisão, o conforto. Tudo passou pelo caminhão."
Já sobre os impactos cada dia mais graves gerados no país pelas paralisações, os manifestantes respondiam que a alta dos combustíveis afeta todos, não só a categoria. "Se o povo se conscientizasse, estava todo mundo na rua por conta própria", disse Pereira.
Trégua negociada
A baixa rentabilidade dos fretes, a faltaapostaonlinepontosapostaonlineapoio nas estradas brasileiras e os preços altosapostaonlinepedágios, cobrados mesmo quando o caminhão passa sem carga, eram algumas das queixas que ecoavam entre os caminhoneiros, culminando com os sucessivos aumentos do diesel nos últimos meses e cinco reajustes consecutivos na última semana.
Na noiteapostaonlinequinta-feira, 24, o governo federal anunciou um acordo com representantes da categoria para suspender a greve. O pacote anunciado atende parcialmente à reivindicações da classe. Promete, por exemplo, reduzir a zero a alíquota do Cide sobre o diesel (só até o fimapostaonline2018); estender o períodoapostaonlinereduçãoapostaonline10% no valor do óleo diesel anunciada na quarta-feira pela Petrobrasapostaonlineuma quinzena para um mês; e passar a fazer os reajustes do preço do combustívelapostaonline30apostaonline30 dias,apostaonlinevezapostaonlineacompanhar as flutuações do mercado internacional imediatamente,apostaonlinemodo a gerar maior previsibilidade no setor.

Crédito, Julia Dias Carneiro/BBC
Alguns grevistas pediam a volta dos militares, alegando que o atual governo seria comunista
Além dos acordos traçadosapostaonlineâmbito nacional, no fim da noite o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, anunciou um acordo para atender a uma queixa feita por muitos dos motoristas ouvidos pela BBC Brasil: a redução do ICMS pago sobre o diesel no Estado do Rio, baixando a alíquotaapostaonline16% para 12%, um corteapostaonlinequatro pontos percentuais. Com a medida, que segundo Pezão passará a vigorar com um decreto a ser publicado na segunda-feira, o Rio passa a ter o mesmo ICMS sobre o diesel que São Paulo.
No protestoapostaonlineDuqueapostaonlineCaxias, entretanto, muitos expressavam uma profunda desconfiançaapostaonlinerelação aos governantes e diziam que o movimento ganhara vida própria, com adesãoapostaonlinecaminhoneiros autônomos, não subordinados a associações que entraramapostaonlineacordo com o governo, e afirmando uma rejeição a partidos - não estando ligados "nem à esquerda nem à direita".
Faixas pedindo uma intervenção militar estavam penduradasapostaonlinealguns caminhões, e um grupo erguia um cartaz com os dizeres "Intervenção militar já!!! Ordem e Progresso".
Caminheiro autônomo, Victor da Silva Damasio justificava: "O principal objetivo do movimento é a retirada desse governo comunista que está aí", afirmou. Diante do argumentoapostaonlineque a políticaapostaonlinepreços implementada pela atual direção da Petrobras segue as flutuações do mercado, ele listou uma sérieapostaonlinequeixas sobre o governo atual, desde a faltaapostaonlineacesso à saúde e segurança aos escândalosapostaonlinecorrupção. "Fizeram desse país uma total desordem e aí vão para a TV falar que estão recuperando a economia e a Petrobras. Enquanto isso, nós que temos que pagar a conta da roubalheira."
'Não é só pelo diesel'
Cercaapostaonline70 motoristas do Uber se juntaram à manifestação durante a quinta-feira na Reduc, usando como palavra-chave nas redes sociais o hashtag #somostodosmotoristas.
"Viemos lutar junto com eles porque são uma classe discriminada como nós", afirmou uma motorista que aderiu ao protesto, pedindo para não ser identificada. "Não estamos aqui só por causa do diesel. O governo precisaapostaonlineum tratamentoapostaonlinechoque para ver se abaixa o imposto sobre os combustíveis."
Ao longoapostaonlinetrês horas no local, a BBC Brasil presenciou gritarias, correrias e princípiosapostaonlinetumulto. Um caminhão forçou o acesso à Reduc e quase atropelou manifestantes que bloqueavam a entrada, levando a tumulto na entrada e a negociação com funcionários - até que o veículo fosse forçado a sair, ainda vazio, sob um mistoapostaonlineaplausos e xingamentos.
Pouco depois, mais gritaria e corre-corre. Um ônibus cheioapostaonlinepassageiros queapostaonlinerepente parou ao lado do protesto estava sofrendo um assalto. Caminhoneiros cercaram o veículo e um carro da polícia saiuapostaonlineperseguição aos assaltantes que fugiram, seguidos por manifestantes que saíramapostaonlinecarros cantando os pneus e gritando "pega ladrão".
Os que assistiam à cena falavam na escaladaapostaonlineviolência do Rio como mais um drama que contribui para a insatisfação da categoria, vítima dos frequentes roubosapostaonlinecargas nas viasapostaonlineacesso ao Rio. Um caminhoneiro que não quis se identificar contou ter sido refém duas vezes nos últimos dois anos, com o caminhão carregadoapostaonlineeletrônicos levado para dentro das favelas do Chapadão e da Pedreira, na zona norte. Ele ficou trancado no baú do caminhão enquanto toda a carga era roubada.
Houve aplausos quando chegou mais um carro trazendo doaçõesapostaonlinebiscoitos doces e salgados. "Resolvemos fazer uma campanha na minha empresa para arrecadar dinheiro para ajudar os caminhoneiros, e conseguimos juntar R$ 100", contou Luciano Guedes, donoapostaonlineuma firma que faz a manutençãoapostaonlineaparelhosapostaonlinepilates.
Sua mulher, Ana Rita Ferreira, grávidaapostaonlinesete meses, motivava os motoristas a não desistirem. "Só vai dar certo se vocês continuarem!", incentivava, tirando selfies e fazendo vídeos.

Crédito, Julia Dias Carneiro/BBC
Os grevistas receberam apoioapostaonlinemoradores que levaram biscoitos e água
Combustível só para serviços essenciais
O bloqueio na entrada da refinaria só abria exceção para o abastecimentoapostaonlineserviços essenciais, como das forçasapostaonlinesegurança do Rio eapostaonlinehospitais. Por volta das 20h, um caminhão-tanque chegou vazio - tinha acabadoapostaonlineabastecer a Polícia CivilapostaonlineCampo Grande, na zona oeste.
Thiago Correa, que dirigia o veículo, saudou os manifestantes ao chegar, estacionou o caminhão na refinaria eapostaonlineseguida se juntou ao protesto do ladoapostaonlinefora. A exceção estava sendo feitaapostaonlinesintonia com o protesto. "Estou na luta junto com todo mundo aqui", explicou.
Perguntado sobre os transtornos causados pela paralisação, Sandro Gonçalves, da Associação das EmpresasapostaonlineTransporteapostaonlineCombustíveis e Derivados do Estado do RioapostaonlineJaneiro, pediu apoio e compreensão à população.
"Quando o (preço do) combustível está muito alto, isso se reflete dentro das nossas casas, no nosso arroz, feijão eapostaonlinetodo o resto. Pedimos que toda a população esteja conosco", disse.
Gonçalves afirmou que os manifestantes passariam o tempo que fosse necessário na rua, e se preparava para virar mais uma noite. "Ficar uma semana sem dormir não vai fazer falta", afirmou. "O problema é quando a gente fica sem dormir porque não tem dinheiro para pagar as contas."






