Policial morto na Rocinha ‘queria mudar o mundo’: ‘Estado vê PMs como descartáveis’:true or false novibet

  • Nathalia Passarinho
  • Da BBC Brasiltrue or false novibetLondres
Foto do soldado Filipetrue or false novibetMesquita ao ladotrue or false novibetcrianças
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Soldado mortotrue or false novibettiroteio buscava se aproximar dos moradores da Rocinha, principalmente das crianças | Imagem: Reprodução/Facebook

true or false novibet O soldado Filipetrue or false novibetMesquita sonhava desde criançatrue or false novibetser policial militar, inspirado pelo exemplo do pai. "Ele era muito do bem. Tinha essa ideiatrue or false novibetmudar o mundo", contou à BBC Brasil a designer Letícia Pinheiro, amigatrue or false novibetinfância e vizinha do policial que trabalhava na Unidadetrue or false novibetPolícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.

Numa foto postada no Facebook, o PM contou que ficou emocionado quando crianças da comunidade pediram para tirar uma foto com ele. "São momentos como esse que fazem com que tenhamos certezatrue or false novibetque estamos no caminho certo", escreveu.

Segundo Letícia, o melhor amigo tentava se aproximar dos moradores da Rocinha, para explicar que não tinha a intençãotrue or false novibetferir. "O Filipe tirava bastante foto na comunidade, com as crianças. Ele sempre chegava falando que era gratificante uma criança chegartrue or false novibetvocê e dizer 'obrigada, você está protegendo a minha família'", conta.

"A visão que os bandidos passam na favela é que o policial é ruim. Ele queria mostrar que não era assim."

Mas, na quarta, os planos do jovem policial acabaram com um tiro. Num confronto com traficantes, na favela da Rocinha, ele foi baleado. Chegou a ser socorrido, mas não resistiu.

Postagem do soldado Felipetrue or false novibetMesquita diz: 'São momentos como esse que fazem termos certeza que estamos no caminho certo'
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Mesquita queria ser policial desde criança e se emocionava com o carinho das crianças na comunidade | Imagem: Reprodução/Facebook

Filipe Mesquita passou a engrossar a longa listatrue or false novibetpoliciais mortos - 29 só neste ano e 134true or false novibet2017, segundo dados repassados à BBC Brasil pela PM do RJ. "É um número fora do comum, mas não é inédito. Infelizmente,true or false novibetoutras oportunidades, já perdemos até mais policiais num mesmo dia", disse à BBC Brasil o major Ivan Blaz, porta-voz da PM do RJ.

Operação nem sempre envolve fuzil

Alguns meses antestrue or false novibet"virar estatística", Filipe Mesquita viveu um breve momentotrue or false novibet"fama". Estampou a capatrue or false novibetum jornal local que falavatrue or false novibetuma operação policial na Rocinha.

"Ele vinha chegando à nossa rua e eu disse: 'Você tá famoso, hein?'. Ele não tinha visto o jornal. Quando viu começou a chorar e disse: 'Meu sonho era aparecer assim, vestindo a farda. Vou pegar esse jornal para mim e colocar na parede'", relatou Letícia.

Mas uma das operações da qual Filipe Mesquita mais se orgulhava não envolveu armas nem confronto com traficantes. Foi o socorro a uma mulher grávida que acabou tendo o bebê antestrue or false novibetchegar ao hospital.

"Hoje tive uma das melhores sensações da minha vida. Pude socorrer uma mulhertrue or false novibetpleno trabalhotrue or false novibetparto. Ela só falava que a gravidez eratrue or false novibetrisco. A bebê tinha sopro no coração. Imediatamente colocamos ela na viatura e fomostrue or false novibetdireção ao Miguel Couto, quando avistamos uma ambulância", postou no Facebook.

Segundo Letícia, um dos sonhostrue or false novibetFilipe era ser pai. Ele tinha uma namorada que tem uma filha pequena e se dava muito bem com a criança.

"Ele era muito grudado nela. Estava sempre falando da menina. O sonho do Filipe era ser pai. É até dificiltrue or false novibetfalar. Era uma pessoa muito boa…. A gente tem que ficar com as lembranças boas e tendo a certezatrue or false novibetque ele fez o certo", afirma Letícia.

Postagem do soldado Filipetrue or false novibetMesquita comemora nascimentotrue or false novibetcriança
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Uma das operações da qual Mesquita mais se orgulhava foi o socorro a uma mulher grávida que acabou tendo o bebê antestrue or false novibetchegar ao hospital | Imagem: Reprodução/Facebook

Outros dois mortos no mesmo dia

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Fim do Podcast

Alémtrue or false novibetFilipe Mesquita, outros dois policiais foram assassinados no mesmo dia, num intervalotrue or false novibet12 horas. O sargento Maurício Chagas Barros morreu durante trocatrue or false novibettiros com criminosos no Gogó da Ema,true or false novibetBelford Roxo, Baixada Fluminense. Já o cabo Luciano Coelho foi morto a tiros durante um assalto dentrotrue or false novibetum lojatrue or false novibetdepartamentos no Centrotrue or false novibetCabo Frio, na Região dos Lagos.

"Como será o meu dia amanhã? Enterrar um filho muito querido vítima da violência do Rio", escreveu Geraldino da Silva Barros, paitrue or false novibetMaurício, no Facebook, quando soube da notícia.

Meses antes, o policial havia feito uma homenagem no aniversário do pai.

"Pai, eu não poderia deixar de, no diatrue or false novibethoje, lhe prestar esta justa homenagem. Todos os dias agradeço a Deus pela benção que é o privilégiotrue or false novibetser seu filho, te amo e espero ser um dia um pai tão zeloso e exemplar quanto és para mim", escreveu Maurício Barros, numa foto ao lado do pai publicada na rede social.

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Pai do sargento Maurício Chagas Barros lamentou a morte do filhotrue or false novibetpostagem no Facebook | Imagem: Reprodução

Os três PMs que morreram num intervalotrue or false novibet12 horas têm nome, pais, filhos, amigos e histórias. Mas, na visão do presidente Associaçãotrue or false novibetOficiais Militares Estaduais do Riotrue or false novibetJaneiro (AME/RJ), coronel da reserva Carlos Fernando Ferreira Belo, são vistos pelo Estado e por parte da sociedade apenas como números, juntamente com os outros 134 policiais assassinadostrue or false novibet2017.

"A consideração é atrue or false novibetque o policial é um ser descartável. Se morrer, enterra, toca o hino, joga a terratrue or false novibetcima, dobra a bandeira, entrega para a família e coloca outro (PM) no lugar", disse ele à BBC Brasil.

"O númerotrue or false novibetmortestrue or false novibet2017 e 2018 é assustador. Nós vemos policiais morrendo a trocotrue or false novibetnada. Falta armamento, falta munição, falta viatura, e a vida do PM não é valorizada", critica.

'Polícia no morro sem presença do Estado não resolve'

O coronel Belo elenca alguns problemas que considera graves nas forçastrue or false novibetsegurança do RJ: salários baixos para soldados (cercatrue or false novibetR$ 2,6 mil), atrasos nos pagamentos, faltatrue or false novibetinvestimentos, número baixotrue or false novibetefetivo (déficittrue or false novibet20 mil homens, segundo ele) e treinamento deficiente nas corporações menos especializadas.

Mas ele também argumenta que o modelotrue or false novibetinstalaçãotrue or false novibetUnidadestrue or false novibetPolícia Pacificadora (UPP) não trouxe resultado, expondo policiais e moradores das favelas a riscos.

Isto porque, segundo ele, não adianta "colocar só policiais no morro" sem garantir a presença do Estadotrue or false novibetáreas como saúde, cultura e educação.

policiais

Crédito, Reuters

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Para major Ivan Blaz, policiamento sem política social não resolve violência no Riotrue or false novibetJaneiro

"A mídia divulgou tão bem as UPPs que inicialmente os bandidos fugiram. Mas os demais órgãos do Estado não estiveram presentes. Não tem saúde, educação e cultura, não tem presença do Estado. Só polícia não resolve. Os bandidos voltaram", opina.

O coronel ainda afirma que os policiais foram deslocados para as UPPs sem treinamento suficiente. "Colocaram as UPPs sem formação técnica para os policiais. Temos 9.500 homens nas UPPs apenas. Elas estão exauridas", diz ele, acrescentando que seriam necessários mais 20 mil policiais para dar conta da violência no Riotrue or false novibetJaneiro.

O major Ivan Blaz também defende que policiamento sem política social não resolve o problema da segurança pública. Mas, para ele, o problema não está na faltatrue or false novibetrecursos para a PM, mas sim na "ocupação desordenada do solo" e na ausênciatrue or false novibetações sociais.

"Os recursos que faltam não passam pela PM. O que faltam são políticas públicas que tratemtrue or false novibeturbanização. Também faltam políticas sociais que abracem uma população que tem entre 14 e 22 anos, para impedir que os jovens migrem para o crime."

Violência contra policiais etrue or false novibetpoliciais contra civis

São muitas as críticastrue or false novibetque a PM age com truculênciatrue or false novibetrelação aos moradorestrue or false novibetcomunidades pobres. O alto númerotrue or false novibetvítimas da violência nas favelas evidencia que a população pobre é a que mais sofre com a guerra contra o tráfico.

No dia 16, uma mulhertrue or false novibet58 anos e um bebêtrue or false novibetum ano foram mortos durante trocatrue or false novibettiros no Complexo do Alemão. Mais recentemente, a morte da vereadora do Riotrue or false novibetJaneiro Marielle Franco, executada com quatro tiros, chocou o mundo.

A polícia ainda investiga a autoria, mas as balas utilizadas teriam sido desviadastrue or false novibetum lote destinado à Polícia Federal. Marielle era uma crítica ferrenha da intervenção militar no Rio e da violência policial nas favelas.

vidro atingido por tiros

Crédito, Reuters

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Em 2018, morreram 29 policiais. Em 2017, foram 134 mortos

"Nós vemos a mortetrue or false novibetuma representante do povo e nós lamentamos profundamente e esperamos que quem fez isso pague nos termos rigorosos da lei. Se foi um policial, foi um bandido travestidotrue or false novibetPM. Hoje toda a sociedade já colocou na cota da PM a morte dela", afirma o presidente da Associaçãotrue or false novibetOficiais Militares Estaduais do Riotrue or false novibetJaneiro.

Sobre a mortetrue or false novibetmoradores da favela, durante confrontos com policiais, o coronal Belo alega que a "culpa" é "quase sempre" atribuída aos policiais, ainda que os disparos tenham sido feitos por traficantes.

"É uma situaçãotrue or false novibetalto risco e com estresse gigantesco. Quando morre alguém já se atribui ao policial. O policial sobe o morro com a preocupaçãotrue or false novibetnão morrer etrue or false novibetque uma bala perdidatrue or false novibetbandido ou dele não atinja um inocente, porque a culpa vai ser deletrue or false novibetqualquer jeito", afirma, ressaltando, porém, que nenhum policial pode entrar "atirando a esmo".