Por que o assassinato999 bets apostasMarielle virou palco999 bets apostasbatalha ideológica nas redes:999 bets apostas

  • Camilla Costa
  • Da BBC Brasil999 bets apostasSão Paulo
Foto999 bets apostasMarielle Franco ao lado999 bets apostaspessoas que acendem velas e prestam homenagem à vereadora

Crédito, AFP

Legenda da foto,

Levantamento da FGV mostra que maior parte999 bets apostasmenções à morte999 bets apostasMarielle nas redes sociais teve como conteúdo menções999 bets apostasluto e lembranças da trajetória da vereadora

999 bets apostas "Não tenho por que lamentar a morte999 bets apostasquem defendia bandido" versus "Marielle morreu porque era negra, mulher e contra a intervenção militar no Rio". Esta é apenas uma das facetas da batalha ideológica provocada nas redes sociais brasileiras pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, do PSOL, na última quarta-feira.

Só no Twitter, segundo levantamento da Diretoria999 bets apostasAnálise999 bets apostasPolíticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV Dapp), o caso teve 567,1 mil menções999 bets apostas19 horas - entre as 22h do dia 14999 bets apostasmarço, minutos depois do crime, e as 17h do dia 15999 bets apostasmarço. Na noite999 bets apostasquarta, foram registrados 594 tuítes por minuto sobre o tema.

"É um dos maiores picos do ano sobre eventos relacionados à segurança, quase tão grande quanto as menções à intervenção federal no Rio, quando ela foi anunciada", disse à BBC Brasil a pesquisadora da FGV Ana Luisa Azevedo, uma das responsáveis pelo levantamento.

Segundo a pesquisa, as palavras "negra", "mulher", "execução" e "executada" estão entre as dez mais usadas nas mensagens sobre a vereadora.

Elas ajudariam a expressar as interpretações majoritárias sobre o assassinato: a999 bets apostasque a morte999 bets apostasMarielle Franco seria um símbolo da perseguição a líderes999 bets apostasminorias por um estado autoritário e a noção999 bets apostasque minorias estão sujeitas a violência por agentes999 bets apostassegurança, especialmente se forem críticas às corporações policiais. As investigações não permitem endossar até o momento tais opiniões.

"A execução da Marielle é uma amostra clara999 bets apostasque a intervenção começou999 bets apostasfato contra a justiça, contra a democracia. Assim como no passado", disse uma participante do Twitter.

Tuite
Tuite

Por outro lado, houve quem considerasse que a morte da vereadora seria uma prova999 bets apostasque suas críticas à violência policial seriam uam defesa dos criminosos que a teriam vitimado. Tampouco é possível afirmar isso à luz das investifgações por enquanto.

"PSOL defende tanto bandido e agora quer justiça?", questionou um usuário do microblog.

Em resposta a isso, muitos posts também expressavam frustração e decepção com comentários que comemoravam - ou se recusavam a lamentar - a morte da vereadora. Na reclamação, valia inclusive compartilhar conversas privadas no WhatsApp, como fez uma mulher. "Não acredito que alguém tão próxima999 bets apostasmim pense assim", desabafou.

Reprodução

Ana Luisa Azevedo, no entanto, afirma que comentários críticos a Marielle representavam apenas 7% do total999 bets apostasmenções ao caso nos últimos dias,999 bets apostasacordo com o levantamento da FGV Dapp. Já o número999 bets apostasmenções999 bets apostasluto e trajetória999 bets apostasMarielle respondeu por 88% do debate.

"Os dados mostram que o apoio é muito mais999 bets apostasrelação ao que ela representava - como pessoa999 bets apostasorigem humilde, que representava diversas bandeiras - do que um discurso contra a defesa do direitos humanos", avalia.

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| Imagem: FGV Dapp

Os tais direitos humanos

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O apoio à defesa dos direitos humanos parece ter transcendido as filiações partidárias no debate surgido a partir da morte999 bets apostasMarielle, argumenta Azevedo.

"O que vimos foi que não só políticos, meios999 bets apostascomunicação, partidos ou celebridades influenciaram esse debate, como costuma acontecer. Vimos muito uma mobilização popular999 bets apostaspessoas comuns, cidadãos falando sobre o assunto", diz.

"O fato999 bets apostasesse debate não estar concentrado999 bets apostasum grupo específico mostra que 'direitos humanos' é algo que vai além999 bets apostaspartido, mobiliza a sociedade."

Para o psicanalista Tales Ab'Saber, da Universidade Federal999 bets apostasSão Paulo (Unifesp), é latente, na sociedade brasileira, a crítica aos defensores da garantia incondicional aos direitos humanos. Esse é um tema que,999 bets apostasmomentos como este, tende a vir à tona.

"Podemos dizer que o Brasil tem origem numa forma social que desconhece os direitos humanos, com uma grande população trabalhadora excluída999 bets apostasdireitos, que foram os escravos. E ao longo do século 20 tivemos vários episódios autoritários que reforçaram isso", pondera.

"No Brasil existe uma ambiguidade muito grande999 bets apostasque a democracia é discutida por uma estrutura autoritária profunda, que tem a ideia999 bets apostasque os direitos não são para todos. Marielle era tendência oposta à essa"

Reprodução Facebook
Reprodução Facebook

Nos últimos dias, até mesmo figuras ligadas a grupos liberais e conservadores, à direita do espectro político, se manifestaram contra a "comemoração" da morte999 bets apostasuma defensora999 bets apostasdireitos humanos nas redes sociais.

O economista e integrante do programa televisivo Manhattan Connection Ricardo Amorim disse999 bets apostasseu perfil999 bets apostasFacebook que, apesar999 bets apostasdiscordar das posições políticas da vereadora, não consegue "aceitar que tanta gente diga que 'ela defendia bandidos, merecia morrer'".

"Se discordar do que eu acredito fosse razão para alguém merecer morrer, não sobrava ninguém no mundo; nem eu mesmo, que toda hora aprendo algo novo e, muitas vezes, mudo minhas crenças."

De acordo com Ab'Saber, é importante mostrar com dados, como no levantamento da FGV Dapp, que "muito do pensamento autoritário na rede e também da produção999 bets apostasmentiras públicas vêm999 bets apostasgrupos muito pequenos que tem suas produções muito ampliadas".

Mas para o psicanalista Christian Dunker, da Universidade999 bets apostasSão Paulo, "a existência destes 7% (de críticos a Marielle Franco no momento999 bets apostassua morte) já é muito".

"Isso mostra nossa incapacidade999 bets apostasestar no debate, mas respeitar esse momento trágico. Vamos lembrar que podemos brigar, mas vamos terminar todos lá no cemitério. Temos opiniões diversas, mas temos um problema comum que se chama Brasil."

'Estardalhaço'?

De outro lado, críticos da esquerda e do PSOL, partido999 bets apostasMarielle, argumentam que o "estardalhaço"999 bets apostastorno do assassinato seria uma manobra para galvanizar opiniões contra o governo Temer e a intervenção militar.

"A morte da vereadora Marielle deveria reforçar a discussão sobre o enfrentamento do narcotráfico e da bandidagem, bem como da necessidade999 bets apostasse manter a intervenção federal no RJ. Contudo, a tragédia só está servindo da palco ideológico para atacar a intervenção e o governo federal", lamenta um comentador na rede social.

Estes críticos dizem, ainda, que a comoção "esquece" as mais999 bets apostas60 mil mortes violentas que ocorreram no Brasil999 bets apostas2016, incluindo as999 bets apostaspoliciais - dado mais recente divulgado pelo Fórum Brasileiro999 bets apostasSegurança Pública.

Uma montagem999 bets apostasfotos999 bets apostasduas policiais militares negras mortas999 bets apostasataques999 bets apostascriminosos a UPPs do Rio999 bets apostas2012 e 2014, Fabiana Aparecida999 bets apostasSouza e Alda Rafael Castilho, circula com a mensagem: "Mulheres, negras, pobres e brutalmente assassinadas no Rio. Se você nunca ouviu falar delas, é porque não eram militantes999 bets apostasesquerda, eram policiais".

À época, os crimes contra as duas policiais foram amplamente noticiados por meios999 bets apostascomunicação locais e nacionais.

Reprodução Twitter
Reprodução Twitter

Outros já compartilham da teoria conspiratória999 bets apostasque a vereadora teria sido morta pelo narcotráfico999 bets apostasmodo a simular uma execução perpetrada por policiais ou milicianos, com o intuito999 bets apostasminar o apoio popular à intervenção federal no Estado do Rio.

"Marielle seria um alvo escolhido por reunir características que gerariam comoção nacional e questionamento da intervenção, e passar a mensagem999 bets apostasque o comando do tráfico ainda está no comando e há questões que não devem ser mexidas", diz uma mulher no Twitter.

A proliferação999 bets apostassuposições, teorias da conspiração e notícias falsas a respeito do caso Marielle Franco é, segundo Ana Luisa Azevedo, da FGV Dapp, esperada pela repercussão do evento nas redes sociais.

O grau999 bets apostaspenetração destas publicações, no entanto, ainda não foi medido pela equipe.

"Ainda não tivemos tempo hábil999 bets apostasfazer busca por informações falsas, mas999 bets apostasum evento com essas proporções é importante termos a responsabilidade999 bets apostasverificar a procedência999 bets apostasinformações ao retuitar algo", alerta.

Nos últimos dias, boatos que ligavam a vereadora ao traficante Marcinho VP e ao Comando Vermelho, e outros que diziam que999 bets apostasmorte poderia ser utilizada para aumentar o "nível999 bets apostasalerta no Rio" e suspender as eleições começaram a se espalhar pelo Facebook e pelo WhatsApp. Ambos, no entanto foram esclarecidos pelas agências999 bets apostaschecagem999 bets apostasfatos Lupa e Aos Fatos.

Reprodução Twitter
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'Falta999 bets apostasempatia'

Dois dias depois da morte da vereadora - e999 bets apostastextões e debates acalorados nas redes - muitos participantes já começam a rejeitar qualquer enquadramento político do assassinato.

"Tá faltando humanidade. Tá faltando empatia. E não me refiro apenas à direita, a esquerda também não tem que usar a morte dela para defender ideias políticas. Antes999 bets apostasqualquer posicionamento político, uma pessoa morreu cruelmente", disse uma mulher no Twitter.

"É Temer usando a morte para justificar a intervenção, é Dilma usando a morte para dizer que faz parte do golpe. Por isso políticos como Marielle vão fazer falta. Porque a renovação está difícil, e a velha guarda consegue transformar tudo999 bets apostaspalanque", afirmou outro usuário.

Na opinião999 bets apostasTales Ab'Saber, no entanto, não é mais possível separar a morte999 bets apostasFranco999 bets apostassua atuação política - mesmo que ainda não esteja comprovada uma possível motivação política para o crime.

"A militância dela era999 bets apostasmulher, negra, com a defesa da população favelada do Rio999 bets apostasJaneiro. Não dá pra dizer que é uma pessoa qualquer que levou um tiro na rua. Isso também é querer esvaziar a dimensão política do fato e a violência política que está acontecendo no Brasil", afirma.

Reprodução Twitter
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Dunker diz ainda que a apropriação999 bets apostasum episódio dessa dimensão por grupos políticos é inevitável.

"A política necessariamente faz isso. Mas é ruim destruir a força desse evento simplesmente por causa disso. É preciso entender que ele tem importância, sim. Senão, se reduz a morte999 bets apostasuma pessoa a uma conversa999 bets apostasopiniões", afirma Dunker.

Para ele, as pessoas adotam o caso da vereadora - uma tragédia humana - para expressar suas insatisfações mais amplas com o país.

"A gente pode não saber exatamente o que a morte999 bets apostasMarielle significa, mas sabe que isso tocou a todos nós. Por isso muitas pessoas dizem 'quero uma investigação rigorosa'. Porque é essa investigação que passa por Brasília, por desvio999 bets apostascaixas999 bets apostasmunição, por ligações entre polícia e milícias, pela apropriação da mídia. Mas ainda é a morte999 bets apostasalguém."