A esquina do desemprego: os pedreiros que esperam por trabalho todos os dias no centrosaque minimo da bet365SP:saque minimo da bet365
- Leandro Machado
- Da BBC Brasilsaque minimo da bet365São Paulo

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil
Segundo o IBGE, apenas no 2º trimestre deste ano a construção civil cortou 683 mil vagas
saque minimo da bet365 Um pedreiro resume o que pensa sobre a esquina do desemprego no centrosaque minimo da bet365São Paulo: "Olho para nós, para cada um esperando por uma obra, e lembro daquela letra dos Racionais: 'Aqui tem um coração ferido por metro quadrado'".
O trecho da música fala do Capão Redondo, na zona sul da cidade, mas a vida pode ser igualmente louca na esquina das ruas Barãosaque minimo da bet365Itapetininga e Dom Josésaque minimo da bet365Barros. Toda manhã, dezenassaque minimo da bet365desempregados da construção civil se reúnem ali: estão famintossaque minimo da bet365alguma obra que pague as contas do mês.
Em outros tempos a vida era melhor. O fã dos Racionais MC's explica: "Uns anos atrás, a gente vinha aqui e não demoravasaque minimo da bet365conseguir emprego, patrão buscava pedreiro nessa rua. Parava ônibus para levar peão".
Na semana passada, o IBGE enumerou essa queda do trabalho sentida pelos pedreiros: no segundo trimestresaque minimo da bet3652017, a construção civil cortou 683 mil vagas no Brasilsaque minimo da bet365relação às que existiam no mesmo período do passado - nos primeiros três meses, foram fechadas outras 719 mil. Hoje, o setor tem 6,7 milhõessaque minimo da bet365trabalhadores - no finalsaque minimo da bet3652013, eram 8,1 milhões. No total, o Brasil tem cercasaque minimo da bet36514 milhõessaque minimo da bet365desempregados.
"Os empregos saíram daqui e fugiram para longe", diz o pintor Aristides dos Santos,saque minimo da bet36542 anos, parado desde 2016 e saudoso do temposaque minimo da bet365que conseguia obra facilmente. "Eles não foram para longe, não, foram é para lugar nenhum", corrige.
Os peões da esquina, com maissaque minimo da bet36540 anos, têm pouca qualificação formal: a maioria que conversou com a BBC Brasil não terminou o ensino fundamental. Grande parte saiu há décadassaque minimo da bet365cidadessaque minimo da bet365Minas Gerais, do Norte e do Nordeste. Buscavam uma vida boasaque minimo da bet365São Paulo, mas às vezes ela pode virar uma decepção.
O pedreiro fã dos Racionais até conseguiu se dar bem por anos, mas tem uma visão críticasaque minimo da bet365sua trajetória. Saiu do nortesaque minimo da bet365Minas, onde deixou dois filhos, viveusaque minimo da bet365bicos, por uns tempos caiu no excessosaque minimo da bet365bebida e, agora, despencou na crise econômica. Hoje, vai diariamente à esquina do centro, esperando que apareça alguma sorte.
Ele prefere não revelar seu nome nesta reportagem, por medosaque minimo da bet365ser reconhecido pelos parentes. "Meu irmão, eu moro num albergue, almoço no Bom Prato (restaurante popular que cobra R$ 1 por refeição). O trem está ruim para qualquer lado que eu pego", diz, emocionado. "Você quer que minha filha me veja assim, fodido e mal pago?"

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil
Os trabalhadores desempregados esperam na esquina por alguma oportunidade
Ninguém sabe como esse pontosaque minimo da bet365encontro surgiu. Os mais velhos dizem que ele existe desde a décadasaque minimo da bet3651970, mas que já foisaque minimo da bet365outros locais do centrosaque minimo da bet365São Paulo, como o Brás e a Luz. Um dia, ninguém lembra quando, ele se mudou para o cruzamento da Barão com a Dom Josésaque minimo da bet365Barros, um calçadão.
Essa região é cheiasaque minimo da bet365agênciassaque minimo da bet365empregos temporários, subempregos, pequenos bicos. Toda manhã, na frentesaque minimo da bet365alguns prédios, formam-se filas com pessoassaque minimo da bet365envelope na mão.
Na área dos pedreiros, porém, pouca gente leva o currículo. A experiência está nas mãos calejadas, nas botinas sujassaque minimo da bet365tinta e nas conversas que revelam a construçãosaque minimo da bet365um grande prédio.
Esperando Toninho
O ajudante Evaldo Gonçales,saque minimo da bet36550 anos, conta que as últimas grandes construções das quais participou foram uma fábrica da Fiatsaque minimo da bet365Betim (Minas Gerais) e um edifício da Monsantosaque minimo da bet365Campo Verde (Mato Grosso),saque minimo da bet3652015. Nessa, ele era "fichado" - como os peões chamam as vagas com carteira assinada. Hoje, sobrevivesaque minimo da bet365bicos esporádicos.
Ainda há agênciassaque minimo da bet365emprego que contratam a mãosaque minimo da bet365obra na esquina - elas são chamadassaque minimo da bet365"tempero", por oferecerem vagas temporárias. Uma delas ésaque minimo da bet365um empresário conhecido como "Alemão", um homemsaque minimo da bet365cercasaque minimo da bet3651,90saque minimo da bet365altura e com cabelos um pouco grisalhos.
O problema é que Alemão não aparece com frequência:saque minimo da bet365quatro manhãs, ele passou duas vezes pelo cruzamento, gerando grande expectativa entre os peões, que se viravam para vê-lo. O "salvador" apenas acenava com a cabeça para conhecidos, trocava duas ou três palavras com alguém e ia embora.
Não é assim com Antonio Rodriguez Gonzalez, o Toninho, um espanholsaque minimo da bet36566 anos, donosaque minimo da bet365outra agência. Ele passa parte da manhã entre os pedreiros, conversando, sondando-os.
Parece que todos esperam pela presença do homem baixinho,saque minimo da bet365bigode, e que sempre usa uma boina preta. Toninho, que trabalha no ramo desde 1975, quando fundousaque minimo da bet365empresa, também é saudoso dos bons tempossaque minimo da bet365que eram abundantes os empregos na construção civil. "Diminuiu bastante, com certeza. Antigamente o sujeito chegava aqui e não saía sem uma obra", conta.
Ele diz que chegou a ter 300 peões empregados pelo Brasil no começo da década. Hoje,saque minimo da bet365meses bons, consegue colocar 80.
Em 2016, o piso salarialsaque minimo da bet365um empregado da construção civil era R$ 1.362, segundo o sindicato da categoriasaque minimo da bet365São Paulo.

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil
Antonio Rodriguez Gonzalez recruta pedreiros para trabalharemsaque minimo da bet365obras Brasil afora
Barrigudinha
Até hoje, funciona assim: a agência recebe um pedidosaque minimo da bet365"X" funcionários. Toninho, por exemplo, vai até a esquina e escolhe alguns. Na semana passada, ele estava selecionando trabalhadores para a construçãosaque minimo da bet365um supermercadosaque minimo da bet365Aracaju. Os escolhidos devem viajar na segunda-feira.
Enquanto a BBC Brasil entrevistava os homens, rodinhas se formavam no entorno do repórter. Alguém sempre perguntava: "É boca?", como os trabalhadores apelidaram as vagassaque minimo da bet365emprego.
Toninho explica como recruta: "Converso, vejo como o sujeito está. Se eu te disser que, aqui, só dá para chamar uns 30% desses homens você acredita?", questiona. "Sim, tem um problema sériosaque minimo da bet365alcoolismo: o homem até começa a trabalhar, mas no primeiro salário desaparece para beber", diz.
De fato, a bebida alcoólica é presença constante no pontosaque minimo da bet365encontro. Mas poucos são os que exageram - bebem pinga 51 ou uma cachaça mais barata, conhecida como "barrigudinha" por ter o frasco redondo e pequeno.
"O peão está desempregado, morasaque minimo da bet365albergue, não tem família, não tem perspectiva. Dá para entender porque muitos bebem tanto. Aqui tem mestresaque minimo da bet365obras que caiusaque minimo da bet365desgraça na bebida", diz Toninho. O ajudante Evaldo concorda. "Quando a turma não consegue nada, divide uma garrafasaque minimo da bet36551 para espairecer", diz.

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Ajudantesaque minimo da bet365pedreiro Evaldo Gonçales participousaque minimo da bet365grandes obras, mas hoje sobrevivesaque minimo da bet365bicos
'Pedreirão'
Apesarsaque minimo da bet365tudo, há entre os pedreiros um climasaque minimo da bet365agradável amizade. Eles não vão ali apenas pela possibilidadesaque minimo da bet365emprego, mas também porque existe um sentimentosaque minimo da bet365pertencimento a um grupo. E a nostalgia: passam a manhãsaque minimo da bet365rodinhas contando históriassaque minimo da bet365viagens pelo Brasil atrás das obras.
Um deles brincou com a operação que atingiu as maiores construtoras do país: "Essa Lava Lato acabou foi com tudo, não tem mais emprego nenhum. O único que tem dinheiro aqui é esse repórter aí".
Em outro grupo, Joselito Bispo dos Santos,saque minimo da bet36552 anos, é um dos poucos que não dependemsaque minimo da bet365um emprego para viver, pois recebe um benefício do governo. "Venho aqui mais é para passar o tempo com as amizades", diz.
Ele é orgulhoso da função que exerceu por décadas, desde que saiusaque minimo da bet365Madresaque minimo da bet365Deus (BA), para buscar a sortesaque minimo da bet365São Paulo. "Você sabe quantosaque minimo da bet365areia precisa para fazer um sacosaque minimo da bet365cimento?", questiona ao repórter. "Meu irmão, ergui foi casa, prédio, ponte. Sou um pedreirão. Sou igual ao joão-de-barro, carrego tijolo no bico."







