'Como paramos no tempo se há 500 anos lutamos por nossas terras?': índios criticam chefe da Funai:188bet

Crédito, Arquivo Pessoal/BBC Brasil/Programa Aldeias

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"Como estamos parados no tempo se estamos lutando há mais188bet500 anos para que não destruam nossas terras?", questionou.
Taurepang, que vive188betRoraima, criticou a avaliação188betCosta sobre o potencial econômico das terras indígenas. Para o chefe do órgão federal188betdefesa dos índios, esses territórios deveriam ser tratados como áreas188bet"segurança nacional" porque abrigam as últimas reservas188betmadeira, minérios e rios represáveis do país.
Para a líder indígena, Costa tem um pensamento predatório. "No dia188betque esse povo acordar e ver que não pode comer petróleo, quando esse povo acordar e não conseguir respirar ar puro, talvez seja tarde demais."
Ruralistas
Presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Baré criticou a relação entre o presidente da Funai e a bancada ruralista. Na conversa com a BBC, Costa disse não ver "sentimento contra o índio"188betruralistas. "Ele (produtor rural) tem um sentimento188betdefesa da188betterra, como o índio também tem", afirmou na ocasião o presidente da Funai.
Referindo-se aos ruralistas como "classe contrária" aos índios, Baré afirmou que Costa "não tem nenhum compromisso institucional com o órgão que assumiu". "Ele tem a missão institucional188betlevar adiante a política indigenista do país, e não os interesses obscuros da classe contrária."

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Ele também condenou a opinião do presidente da Funai sobre pregação religiosa nas aldeias. Costa, que é pastor evangélico e foi indicado ao cargo pelo Partido Social Cristão (PSC), disse exercer suas funções tecnicamente, mas afirmou não se opor ao proselitismo religioso nas comunidades.
"Todas as instituições religiosas que seguem a palavra188betDeus têm188betbuscar pessoas que venham a conhecer a palavra188betDeus. Por que os índios não, se é a vontade deles?", disse Costa na entrevista. Para o chefe da Funai, a presença188betmissionários não afeta a cultura dos indígenas.
Confrontado com as declarações, Baré questionou a opinião188betCosta. "Se a presença das igrejas não afetasse (os índios), muitos povos não teriam sido dizimados desde que entraram188betcontato com elas."
Polêmica
Coordenador da Comissão Guarani Yvyrupa, que agrega comunidades guaranis do Sul e Sudeste do Brasil, Tiago Karai afirma que o presidente da Funai revelou ignorância ao se manifestar sobre seu povo.
Na entrevista, Costa citou os guaranis ao afirmar que o Estado brasileiro deveria dar assistência aos indígenas para que não dependessem do "assistencialismo". "Exemplo: índios guaranis são coletores. Temos188betdar tecnologia para que eles possam plantar188betsuas terras e ser cultivadores", disse Costa.
Para Karai, porém, o presidente da Funai demonstra ter uma "visão muito errada" do povo. "Os guaranis são agricultores. É complicado que alguém que representa o órgão indigenista não tenha um mínimo conhecimento dos povos indígenas."

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Karai enviou à reportagem fotos188betvariedades raras188betmilho cultivadas há séculos por seu povo.
Para ele, a fala do presidente sugere ainda que os indígenas são "inferiores". "Parece que a gente deveria pensar188betplantar soja, cana, milho188betgrande escala para vender. Só que o indígena não tem esse pensamento, a gente planta para comer e trocar com outros povos, esse é o nosso interesse."
A entrevista188betCosta também motivou críticas entre antropólogos e no setor do Ministério Público Federal que lida com populações indígenas.
Para Henyo Barretto, professor188betantropologia da Universidade188betBrasília e coordenador da Comissão188betAssuntos indígenas da ABA (Associação Brasileira188betAntropologia), Costa comete um "grave disparate" ao querer "integrar os índios exatamente nos sistemas que esgotaram os mananciais hídricos, as florestas e as madeiras".
"Soa quase como um convite para que os índios destruam seu próprio patrimônio ambiental."
Mineração
O professor diz ainda que Costa revelou um "grave desconhecimento" ao afirmar que, caso seja regulamentada pelo Congresso, a mineração188betterras indígenas não exigiria a autorização das comunidades.
Segundo o presidente da Funai, a autorização não seria necessária porque as terras indígenas pertencem à União. "Mas eles deveriam ter uma participação no produto, e com isso haveria uma forma188betamenizar os problemas sociais que eles vivem", disse Costa.
Barretto lembra que o terceiro parágrafo do artigo 231 da Carta diz que "o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais188betterras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei".
Para Barretto, "ignorar que as comunidades precisam ser ouvidas188betrelação a qualquer empreendimento é desconhecer o que a Constituição prevê".
Para o subprocurador-geral da República Luciano Mariz Maia, que coordena a Câmara188betPopulações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal, Costa deveria levar188betconta a complexa relação dos indígenas com seus territórios.

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"Uma terra para o índio é o espaço188betque ele se encontra, e a terra faz parte dele próprio. Não é uma questão188betquantas cabeças188betgado ele pode ter no campo, ou quantas toneladas188betgrãos ele pode extrair, quantas toneladas188betpeixe pode pescar, mas quanto188betvida ele consegue ter a partir daquele rio, a partir daquelas matas, a partir daquela terra."
História
Maia afirma ainda que, quando o presidente da Funai cita na entrevista os problemas que alguns grupos indígenas enfrentam hoje para ser autossustentáveis, ele também deveria citar as causas dessa situação.
"As condições a que os índios são submetidos hoje não decorrem da vontade dos índios, mas da interferência externa188betfazendeiros, garimpos, mineradoras, hidrelétricas e as frentes188betexpansão econômica que produziram a expulsão dos índios188betsuas terras".
Para Marcio Santilli, sócio-fundador do ISA (Instituto Socioambiental) e presidente da Funai entre 1995 e 1996, "a substituição da responsabilidade do Estado pela pregação dos recursos naturais das terras indígenas foi largamente praticada durante a ditadura militar, com desastrosas consequências econômicas, ambientais e188betdesintegração social dos povos indígenas".
"Pero Vaz188betCaminha,188bet1500, após relatar a abundância e a limpidez das águas do Brasil, pediu ao rei188betPortugal para 'salvar esta gente', sendo que agora somos nós que estamos com as torneiras secas", afirma.
Elogios

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Já as declarações188betCosta foram elogiadas pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (bancada ruralista), o deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT).
Segundo Leitão, o presidente da Funai "se mostrou sintonizado com a nova realidade do indígena, e não a188betporta-vozes dos indígenas, que defendem interesses que nada têm a ver com as necessidades desses povos".
"Há muitas diferenças entre indígenas do Norte e do Sul do Brasil. O indígena mudou, não pode mais ser tratado como um retrato na parede", diz Leitão.
O deputado afirma ainda que "muitos povos querem produzir, querem acessar a tecnologia, querem se inserir no mercado". "Temos188betoferecer todo apoio a eles."
Leitão exaltou ainda a aproximação entre o novo presidente da Funai e o Congresso. Na entrevista, Costa disse ter recebido mais188bet"40 deputados e senadores188bettodos os segmentos", vários deles membros da bancada ruralista.
"A Funai por muito tempo teve uma atuação muito ideológica. É muito bom ver que as coisas estejam mudando."








