O Brasil deveria mudar o modo como lida com a memória da escravidão?:encerrar aposta indisponível sportingbet
- João Fellet - @joaofellet
- Da BBC Brasilencerrar aposta indisponível sportingbetWashington (EUA)

Crédito, Lofgren/Gouvea/Ferrez
O Brasil recebeu a maioria dos africanos escravizados enviados às Américas
encerrar aposta indisponível sportingbet Uma sala com peçasencerrar aposta indisponível sportingbetum navio que levava para o Brasil 500 mulheres, crianças e homens escravizados é a principal atração do museu sobre a história dos americanos negros,encerrar aposta indisponível sportingbetWashington.
Numa segunda-feiraencerrar aposta indisponível sportingbetoutubroencerrar aposta indisponível sportingbet2016, era preciso passar 15 minutos na fila para entrar na sala com objetos do São José — Paqueteencerrar aposta indisponível sportingbetÁfrica, no subsolo do Museuencerrar aposta indisponível sportingbetHistória e Cultura Afroamericana.
Inauguradoencerrar aposta indisponível sportingbetsetembro daquele ano pelo Smithsonian Institution, o museu custou o equivalente a R$ 1,7 bilhão e rapidamente se tornou o mais concorrido da capital americana, esgotando ingressos com mesesencerrar aposta indisponível sportingbetantecedência.
Em 1794, o São José deixou a Ilhaencerrar aposta indisponível sportingbetMoçambique, no leste africano, carregadoencerrar aposta indisponível sportingbetpessoas que seriam vendidas como escravasencerrar aposta indisponível sportingbetSão Luís do Maranhão. A embarcação portuguesa naufragou na costa da África do Sul, e 223 cativos morreram.
Visitantes — emencerrar aposta indisponível sportingbetmaioria negros americanos — caminhavamencerrar aposta indisponível sportingbetsilêncio pela sala que simula o porãoencerrar aposta indisponível sportingbetum navio negreiro, entre lastrosencerrar aposta indisponível sportingbetferro do São José e algemas usadasencerrar aposta indisponível sportingbetoutras embarcações (um dos pares, com circunferência menor, era destinado a mulheres ou crianças).
"Tivemos 12 negros que se afogaram voluntariamente e outros que jejuaram até a morte, porque acreditam que quando morrem retornam a seu país e a seus amigos", diz o capitãoencerrar aposta indisponível sportingbetoutro navio,encerrar aposta indisponível sportingbetrelato afixado na parede.
Provaencerrar aposta indisponível sportingbetexistência
Expor peçasencerrar aposta indisponível sportingbetum navio negreiro era uma obsessão do diretor do museu, Lonnie Bunch. Em entrevista ao The Washington Post, ele disse ter rodado o mundo atrás dos objetos, "a única prova tangívelencerrar aposta indisponível sportingbetque essas pessoas realmente existiram".
Destroços do São José foram descobertosencerrar aposta indisponível sportingbet1980, mas só entre 2010 e 2011 pesquisadores localizaramencerrar aposta indisponível sportingbetLisboa documentos que permitiram identificá-lo. Um acordo entre arqueólogos marinhos sul-africanos e o Smithsonian selou a vinda das peças para Washington.

Crédito, Divulgação/Smithsonian
Inauguradoencerrar aposta indisponível sportingbetsetembro, o Museuencerrar aposta indisponível sportingbetHistória e Cultura Afroamericana custou US$ 1,7 bilhão
Que o destino do São José fosse o Brasil não era coincidência, diz Luiz Felipeencerrar aposta indisponível sportingbetAlencastro, professor emérito da Universidadeencerrar aposta indisponível sportingbetParis Sorbonne e um dos maiores especialistas na história da escravidão transatlântica.
Ele afirma à BBC News Brasil que fomos o paradeiroencerrar aposta indisponível sportingbet43% dos africanos escravizados enviados às Américas, enquanto os Estados Unidos acolheram apenas 0,5%.
Segundo um estudo da Universidadeencerrar aposta indisponível sportingbetEmory (EUA), ao longo da escravidão ingressaram nos portos brasileiros 4,8 milhõesencerrar aposta indisponível sportingbetafricanos, a maior marca entre todos os países do hemisfério.
Esse contingente, oito vezes maior que o númeroencerrar aposta indisponível sportingbetportugueses que entraram no Brasil até 1850, faz com que Alencastro costume dizer que o Brasil "não é um paísencerrar aposta indisponível sportingbetcolonização europeia, mas africana e europeia".
O fluxoencerrar aposta indisponível sportingbetafricanos também explica porque o Brasil é o país com mais afrodescendentes fora da África (segundo o IBGE, 53% dos brasileiros se consideram pretos ou pardos).
Por que, então, o Brasil não tem museus ou monumentos sobre a escravidão comparáveis ao novo museu afroamericanoencerrar aposta indisponível sportingbetWashington?
Apartheid e pilhagem da África
Para Alencastro, é preciso considerar as diferenças nas formas como Brasil e EUA lidaram com a escravidão e seus desdobramentos.
Ele diz que, nos EUA, houve uma maior exploraçãoencerrar aposta indisponível sportingbetnegros nascidos no país, o que acabaria resultando numa "forma radicalencerrar aposta indisponível sportingbetracismo legal,encerrar aposta indisponível sportingbetapartheid".

Crédito, BBC Brasil / João Fellet
Museu virou um dos mais concorridos da capital americana e está com os ingressos esgotados até março
Até a décadaencerrar aposta indisponível sportingbet1960,encerrar aposta indisponível sportingbetpartes do EUA, vigoravam leis que segregavam negros e brancosencerrar aposta indisponível sportingbetespaços públicos, ônibus, banheiros e restaurantes. Até 1967, casamentos inter-raciais eram ilegaisencerrar aposta indisponível sportingbetalguns Estados americanos.
No Brasil, Alencastro diz que a escravidão "se concentrou muito mais na exploração dos africanos e na pilhagem da África", embora os brasileiros evitem assumir responsabilidade por esses processos.
Ele afirma que muitos no país culpam os portugueses pela escravidão, mas que brasileiros tiveram um papel central na expansão do tráficoencerrar aposta indisponível sportingbetescravos no Atlântico.
Alencastro conta que o reino do Congo, no oeste da África, foi derrubadoencerrar aposta indisponível sportingbet1665encerrar aposta indisponível sportingbetbatalha ordenada pelo governo da então capitania da Paraíba.
"O pelotãoencerrar aposta indisponível sportingbetfrente das tropas era formado por mulatos pernambucanos que foram barbarizar na África e derrubar um reino independente", ele diz.
Vizinha ao Congo, Angola também foi invadida por milicianos do Brasil e passou vários anos sob o domínioencerrar aposta indisponível sportingbetbrasileiros, que a tornaram o principal pontoencerrar aposta indisponível sportingbetpartidaencerrar aposta indisponível sportingbetescravos destinados ao país.
"Essas histórias são muito ocultadas e não aparecem no Brasil", ele afirma.
encerrar aposta indisponível sportingbet Reparações históricas
Para a brasileira Ana Lucia Araújo, professora da Howard University,encerrar aposta indisponível sportingbetWashington, "o Brasil ainda está muito atrás dos EUA" na forma como trata a história da escravidão.
"Aqui (nos EUA) se reconhece que o dinheiro feito nas costas dos escravos ajudou a construir o país, enquanto, no Brasil, há uma negação disso", ela diz.
Autoraencerrar aposta indisponível sportingbetvários estudos sobre a escravidão nas Américas, Araújo afirma que até a ditadura militar (1964 – 1985) era forte no Brasil a "ideologia da democracia racial", segundo a qual brancos e negros conviviam harmonicamente no país.
São recentes no Brasil políticas para atenuar os efeitos da escravidão, como cotas para negrosencerrar aposta indisponível sportingbetuniversidades públicas e a demarcaçãoencerrar aposta indisponível sportingbetterritórios quilombolas.

Crédito, Divulgação/Smithsonian
Expor peçasencerrar aposta indisponível sportingbetum navio negreiro era uma obsessão do diretor do museu
Ela diz que ainda poucos museus no Brasil abordam a escravidão, "e, quando o fazem, se referem à população afrobrasileiraencerrar aposta indisponível sportingbetmaneira negativa, inferiorizante".
Segundo a professora, um dos poucos espaços a celebrar a cultura e a história afrobrasileira é o Museu Afro Brasil,encerrar aposta indisponível sportingbetSão Paulo, mas a instituição deveencerrar aposta indisponível sportingbetexistência principalmente à iniciativa pessoalencerrar aposta indisponível sportingbetseu fundador, o artista plástico Emanoel Araújo.
E só nos últimos anos o Rioencerrar aposta indisponível sportingbetJaneiro passou a discutir o que fazer com o Cais do Valongo, maior porto receptorencerrar aposta indisponível sportingbetescravos do mundo. Mantido por voluntários por vários anos, o local se tornou neste ano candidato ao postoencerrar aposta indisponível sportingbetPatrimônio da Humanidade na Unesco. (Nota do editor: o local entraria na lista da Unescoencerrar aposta indisponível sportingbet9encerrar aposta indisponível sportingbetjulhoencerrar aposta indisponível sportingbet2017)
Para a professora, museus e monumentos sobre a escravidão "não melhoram as vidas das pessoas, mas promovem um tipoencerrar aposta indisponível sportingbetreparação simbólica ao fazer com que a história dessas populações seja reconhecida no espaço público".
Visibilidade e representação
Para o jornalista e pesquisador moçambicano Rogério Ba-Senga, a escravidão e outros pontos da história entre Brasil a África têm pouca visibilidade no país, porque "no Brasil os brancos ainda têm o monopólio da representação social dos negros".
"Há muitos negros pensando e pesquisando a cultura negra no Brasil, mas o centro decisório ainda é branco", diz Ba-Senga, que moraencerrar aposta indisponível sportingbetSão Paulo desde 2003.
Para ele, o cenário mudará quando negros forem mais numerosos na mídia brasileira — "para que ponham esses assuntosencerrar aposta indisponível sportingbetpauta" — e nos órgãos públicos.
Para Alencastro, mesmo que o Estado brasileiro evite tratar da escravidão, o tema virá à tona por iniciativaencerrar aposta indisponível sportingbetoutros grupos.
"Nações africanas que foram pilhadas se tornaram independentes. Há nesses países pessoas estudando o tema e uma imigração potencialmente crescenteencerrar aposta indisponível sportingbetafricanos para o Brasil", ele diz.
Em outra frente, o professor afirma que movimentos brasileirosencerrar aposta indisponível sportingbetperiferias e grupos quilombolas pressionam para que os assuntos ganhem espaço.
"Há hoje uma desconexão entre a academia e o debate no movimento popular, mas logo, logo tudo vai se juntar, até porque a maioria da população brasileira é afrodescentente. Os negros são maioria aqui."
* Este texto foi atualizadoencerrar aposta indisponível sportingbet19encerrar aposta indisponível sportingbetnovembroencerrar aposta indisponível sportingbet2019.







