Pressão sobre STF e outras possíveis consequências das gravações envolvendo Jucá:playtech betano

  • Mariana Schreiber
  • Da BBC Brasilplaytech betanoBrasília
Romero Jucá

Crédito, Agencia Brasil

playtech betano playtech betano Menosplaytech betanoduas semanas depois do afastamento da presidente Dilma Rousseff, o governo interinoplaytech betanoMichel Temer foi atingido porplaytech betanoprimeira bomba relacionada à operação Lava Jato.

O jornal Folhaplaytech betanoS. Paulo divulgou nesta segunda-feira trechosplaytech betanoconversas entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, que sugerem o uso do impeachment como formaplaytech betanotrocar o comando do país para conter as investigaçõesplaytech betanocorrupção.

O trecho mais grave das conversas relevadas pelo jornal é o momentoplaytech betanoque Jucá diz que "tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria". Segundo a reportagem, a fala se refere à Lava Jato, que investiga os dois interlocutores da conversa, Jucá e Machado.

Jucá negou as acusações, dizendo que falava nãoplaytech betanouma interferência na Lava Jato, mas simplaytech betanoestancar "a paralisia do Brasil, estancar a sangria do desemprego, separar (os políticos) que têm culpa dos que não têm culpa".

No entanto, a Folhaplaytech betanoS. Paulo divulgou os áudios apontando que Jucá não falava sobre economia na conversa.

Além disso, a conversa sugeriria a necessidadeplaytech betanorealizar um "pacto", inclusive com o Supremo Tribunal Federal, para delimitar o alcance da operação. Sob pressão, Jucá anunciou no fim da tarde que se licenciará do Ministério do Planejamento a partir desta terça para que o caso seja esclarecido, e que retornará caso seja "reconvidado" por Temer.

Segundo a Folha, os diálogos foram gravadosplaytech betanoforma oculta,playtech betanomarço, portanto antesplaytech betanoa aberturaplaytech betanoprocessoplaytech betanoimpeachment contra Dilma ter sido autorizada pela Câmara,playtech betano17playtech betanoabril, e confirmada pelo Senado,playtech betano12playtech betanomaio. A reportagem diz que os áudios estãoplaytech betanoposse da Procuradoria-Geral da República (PGR) - a assessoria da instituição informou que não comentaria o assunto.

Entenda abaixo os trechos mais importantes da conversa entre Jucá e Machado e quais seu significados e possíveis consequências políticas.

Impeachment como pacto para conter Lava Jato

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Em determinado trecho da conversa revelada pela Folha, Jucá diz que "tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria",playtech betanoaparente referência à operação Lava Jato. Os trechos transcritos pela reportagem indicam que essa fala foi dita quando ambos discutiam o riscoplaytech betanonovas delações premiadas que poderiam comprometer o PMDB.

Em outro trecho, Jucá acrescenta que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Machado então responde: "aí parava tudo". "É. Delimitava onde está, pronto", resume o ministro, a respeito das investigações.

Para Renato Perissinoto, professorplaytech betanociência política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a revelação desses diálogos pode aumentar a pressão para que o STF julgue o mérito do processoplaytech betanoimpeachment, ou seja, se manifeste sobre se há fundamento jurídico para a cassaçãoplaytech betanoDilma. Até o momento, a maioria dos ministros tem sinalizado que a Corte deve se limitar a interferir para garantir a legalidade do rito do processo.

"Claro que isso torna esse governo, do pontoplaytech betanovista da legitimidade, ainda mais fraco", afirma o professor.

Segundo Rafael Cortez, analista político da Consultoria Tendências, a conversaplaytech betanoJucá e Machado certamente será usada pelos apoiadores do retornoplaytech betanoDilma como formaplaytech betanoquestionar a legitimidade do impeachment. No entanto, considera que "ainda não há evidênciaplaytech betanoque isso por si só vai reverter o apoio (à cassaçãoplaytech betanoDilma)", já que o novo governo "gerou toda uma expectativa nos grandes agentes econômicos eplaytech betanoparte relevante da sociedade".

No último dia 12, 55 senadores votaram pela abertura do processoplaytech betanoafastamento da presidente. Será preciso que 54 votem porplaytech betanocondenação para que a petista seja definitivamente cassada.

Para Cortez, o fatoplaytech betanoa conversaplaytech betanoJucá ter vindo à tona "é um sinalplaytech betanoque a votação final do impeachment não está garantida", ainda que ele opine que a absolvição da presidente ainda seja o cenário menos provável.

E se conversa tivesse sido divulgada antes?

Na avaliação dos dois cientistas políticos, se a divulgação dessas conversas tivesse ocorrido antes das votações da Câmara e do Senado sobre o impeachmentplaytech betanoDilma, poderia ter influenciado o destino da petista.

"Se essas gravações tivessem saído antes do processoplaytech betanoimpeachment, o constrangimentoplaytech betanotirar uma presidente contra quem não se tinha nenhuma acusação (de favorecimento pessoal por corrupção) para colocar no lugar um governo com sete ministros citados na Lava Jato seria ainda maior", opina Renato Perissinoto, da UFPR.

Para Cortez, o impacto das gravações seria mais relevante se elas tivessem sido reveladas antes, pois agora que Temer chegou ao poder "tem mecanismos na mão", como nomeaçõesplaytech betanocargos, para limitar impacto das gravações no meio político.

"Enquanto era uma coalizão fora do governo (defendendo o impeachment) e o status quo era o governo Dilma, certamente a gravação teria impacto mais relevante", disse.

PSDB

Em outro momento da conversa, Jucá e Machado falam sobre como políticos do PSDB podem ser atingidos pela Lava Jato.

No trecho mais comprometedor revelado pela Folha, Machado diz que "o primeiro a ser comido vai ser o Aécio (Neves, senador e presidente do PSDB)". Em seguida, as transcrições indicam que teria havido um "esquema" para eleger Aécio presidente da Câmara dos Deputados. O mineiro presidiu a Casa entre 2001 e 2002, no final do governo Fernando Henrique Cardoso.

"(Sussurrando) O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara?", pergunta Machado, segundo a Folha.

Pouco depois, Machado continua: "O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participeiplaytech betanocampanha do PSDB...".

Jucá apenas responde: "É, a gente viveu tudo".

Para Cortez, a referência a Aécio traz instabilidade para a aliança política que dá base ao governo Temer no Congresso.

"Isso indica que a coalizão (pró-impeachment) não vai necessariamente se traduzir numa ampla janelaplaytech betano(aprovação de) reformas (no Congresso). O PSDB vai dar o apoio (ao governo Temer) mas ao mesmo tempo vai procurar se descolar".

Já Perissinoto observa que esse é mais um episódio que tende a enfraquecer Aécio, que já vinha enfrentando o desgasteplaytech betanoter sido citadoplaytech betanodelações da Lava Jato, por exemplo como suposto beneficiárioplaytech betanoum esquemaplaytech betanocorrupçãoplaytech betanoFurnas, estatal do setor elétrico, o que o senador nega.

Jucá e Machado comentam que Aécio não teria mais chancesplaytech betanovencer eleição, aparentementeplaytech betanoreferência à próxima disputa presidencialplaytech betano2018.

"Curiosamente, embora o PSDB tenha sido uma das lideranças no processoplaytech betanoimpeachment, esse processo o enfraqueceu", diz Perissinoto, citando o fatoplaytech betanoa Lava Jato ter "transbordado para todos os partidos".

Cunha

Jucá e Machado também conversam sobre a situaçãoplaytech betanoEduardo Cunha, presidente afastado da Câmara dos Deputados sob acusaçãoplaytech betanousar seu cargo para atrapalhar investigações.

Para o ministro do Planejamento, o deputado "está morto". Em aparente referência a Cunha, ela também indica a necessidadeplaytech betanoque algum político seja punido para diminuir a pressão popular.

"Tem que ser um boiplaytech betanopiranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem", disse a Machado. Na entrevista coletiva desta segunda-feira, Jucá disse que não se referia a um bode expiatório, mas simplaytech betano"punir os culpados" pela corrupção.

Para Perissinoto, a estratégiaplaytech betanoeventualmente usar Cunha como bode expiatório não funcionaria. "Eu acho que é um erroplaytech betanocálculo, porque se tem um cara que não se deixa matar tranquilamente é o Cunha. Porque ele tem não sei quantos deputados na mão dele, conhece o podreplaytech betanomeio mundo. Se ele cai, vai cair um casteloplaytech betanocartas com ele".

STF e militares

Em outro momento do diálogo, Jucá diz que teria conversado com ministros do STF e militares sobre apoio ao processoplaytech betanoimpeachment.

"(Em voz baixa) Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condiçõesplaytech betano(inaudível) sem ela (Dilma). Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar", disse Jucá, segunda a transcrição da Folha.

Na avaliaçãoplaytech betanoCortez, essas afirmações tendem a fazer com que o Supremo atue para "reforçar esses sinaisplaytech betanoque ele não está associado a partidos políticos e que tampouco é partidário do movimentoplaytech betanominimizar os efeitos da Lava Jato".

"É usual que lideranças políticas encontrem canaisplaytech betanodiálogos com ministrosplaytech betanoSupremo. Evidentemente, a insinuaçãoplaytech betanoque esses contatos deveriam representar desvios aumentam o incentivo do Supremoplaytech betanoreforçar os sinaisplaytech betanoque eleplaytech betanofato é independente do processo político", observa.