Como 'Ainda Estou Aqui' inspira jovens a compartilhar no TikTok históriasaplicativo de apostapais e avós torturados na ditadura:aplicativo de aposta

A foto mostra uma mulher jovem,aplicativo de apostapele e cabelos claros ao fundo e, no primeiro plano, ela mostra uma foto 3x4aplicativo de apostaum homem, jovem,aplicativo de apostapele clara e cabelos escuros.

Crédito, Arquivo pessoalaplicativo de apostaMaria Petrucci

Legenda da foto, O paiaplicativo de apostaMaria sofreu traumas e sempre falava sobre o assunto com muito receio e medo

Os relatos foram compartilhados graças a uma trend no TikTok, inspirada no filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, e que rendeu postagens virais, com maisaplicativo de apostaquatro milhõesaplicativo de apostavisualizações.

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Fim do Matérias recomendadas

O longa foi indicado nas categorias Melhor Filmeaplicativo de apostaLíngua Estrangeira e Melhor Atriz (Fernanda Torres) ao Globoaplicativo de apostaOuro 2025, alémaplicativo de apostarepresentar o Brasil na disputa pela indicação ao Oscar.

A obra entrou na lista preliminar dos 15 indicados para a categoriaaplicativo de apostaMelhor Filme Estrangeiro do Oscar, e o resultado definitivo daqueles que concorrerão será divulgadoaplicativo de aposta17aplicativo de apostajaneiroaplicativo de aposta2025.

Um dos primeiros vídeos foi oaplicativo de apostaMaria, onde ela segura a foto 3x4 do pai, preso na época, e escreve: "O impactoaplicativo de apostaver esse filme sendo filhaaplicativo de apostaum preso político da ditadura que hoje tem Alzheimeraplicativo de apostaestado avançado".

O post tinha como trilha sonora a música É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo, do cantor Erasmo Carlos, e que compõe o longa.

Após essa publicação, outros jovens começaram a compartilhar relatos sobre pais e avós que sofreram com a perseguição, destacando como o filme se tornou um marco para que o tema fosse falado abertamente.

"Eu não imaginei que ia ter essa repercussão e muitas pessoas jovens perguntando o que foi a ditadura. Fiquei feliz que pude contribuir para que outras pessoas pudessem ter mais consciênciaaplicativo de apostatodo o prejuízo que muitas famílias sofreram. Vi um paralelo com a história do meu pai", diz Maria.

Codinome Frederico

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Logo que ingressou na faculdadeaplicativo de apostaadministração pública na décadaaplicativo de aposta1970, o paiaplicativo de apostaMaria, Sérgioaplicativo de apostaAzevedo, hoje com 78 anos, entrou para o movimento estudantil e ajudou pessoas que eram perseguidas pela ditadura.

Ele e os amigos usavam um apartamento para salvar e abrigar indivíduos e deixá-losaplicativo de apostasegurança.

"Eles chamavamaplicativo de aposta'aparelho' e funcionava como uma espécieaplicativo de apostaesconderijo. Para dificultar a identificação, ele também usava o nomeaplicativo de apostaFrederico", diz Maria.

Na época, ele tinha uma amiga chamada Anita e os dois combinaramaplicativo de apostase encontraraplicativo de apostauma praça no bairro do Leblon, na zona sul do Rioaplicativo de apostaJaneiro. Ela demorou muito a aparecer no local e quando ele e um amigo estavam indo embora, foram surpreendidos por militares.

"Os militares os pisotearam e os levaram para a penitenciária da Tijuca", relembra a estudante.

Chegando ao local, ele passou cinco diasaplicativo de apostauma cela, deitadoaplicativo de apostauma esteira no chão, com um militar armado ao seu lado.

"Ele ficou por voltaaplicativo de apostadois meses na prisão e, nesse meio tempo, ocorreram diversas situações que o impediramaplicativo de apostaser torturado", conta. Na primeira vez, segundo Maria, os militares haviam encontrado jovensaplicativo de apostaoutro grupo e não realizaram a tortura.

"Provavelmente acharam um outro grupo mais significativo. E talvez não desconfiaram dele, porque ele realmente escondeu muita gente relevante no apartamento", acrescenta.

Em um outro momento, ele foi levado para uma sessãoaplicativo de apostatortura na qual as pessoas eram chamadasaplicativo de apostaordem alfabética.

Por ter o nome S, ele estava entre os últimos e, bem naquele dia, o horário para tortura havia acabado. "Ele nunca agradeceu tanto por ser Sérgio e ter o S no nome", relembra.

Em outro momento, um militar o acorda no meio da noite e pergunta se ele era o Frederico e diz "que não queria estar na pele dele e que ele havia caído".

Maria conta que o pai chegou a pensar que fora delatado pelos amigos, mas, ao chegar na salaaplicativo de apostatortura, viu seu amigo ensanguentado e, mesmo assim, o companheiro disse que aquele não era o Frederico que os militares estavam buscando.

"Até hoje a gente não sabe se ele quis poupá-lo ou se não era ele mesmo. Ele passou 'raspando' por sessõesaplicativo de apostatortura", conta a jovem.

Após quase dois meses, ele consegue ser solto com a ajudaaplicativo de apostaum militar conhecido da família, que o ajuda com argumentosaplicativo de apostaque ele tinha bons antecedentes e que já havia estudado no colégio naval na adolescência.

Maria Petrucci com o pai, Sérgio, nos diasaplicativo de apostahoje

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, O paiaplicativo de apostaMaria tem Alzheimeraplicativo de apostaestado avançado e não se recorda da tortura que sofreu na ditadura

Ao sair da cadeia, Maria conta que o pai era vigiado constantemente por militares e precisou mudaraplicativo de apostacasa. Ele havia passadoaplicativo de apostaum concurso para ser fiscalaplicativo de apostarenda e sofreu ameaças para assumir o cargo, o que o fez desistir.

"Eles não queriam que alguém contra o regime ocupasse um cargo público", conta.

Só depoisaplicativo de apostamuito tempo e com uma liminar na Justiça, que ele conseguiu,aplicativo de apostafato, pleitear o cargo.

Depois, passou por processosaplicativo de apostaexílio, quando foi estudar para um mestrado no Chile e na Argentina, até retornar ao Brasil, nos anos 70.

Devido a todas as adversidades, Sérgio sofreu traumas e sempre falava sobre o assunto com muito receio e medo. "Ele falava baixo, falava com medo. Chegou a dar depoimento na Comissão Nacional da Verdade e ficou realmente nervoso", relembra a filha.

Fim dos sonhos e Alzheimer

Mesmo não sofrendo tortura física, as sequelas psicológicas foram graves,aplicativo de apostaacordo com Maria. Ele conta que o pai tomou por muito tempo ansiolíticos e, mesmo após anos, ainda tinha receioaplicativo de apostafalar sobre tudo que viveu na prisão.

A estudante também relata que o pai parouaplicativo de apostasonhar, literalmente, anos após sair da cadeia.

"Ele não tinha mais a experiênciaaplicativo de apostasonhar como as pessoas normais. Quando ele saiu da prisão, ele sonhava muito com tortura, tirando a camisa, a calça, para se 'desidentificar'", diz.

"Como fazia abusoaplicativo de apostaansiolíticos, teve um comprometimento psíquico e neural. Então, ele realmente não sonhava com nada ou não se lembrava. E também não tinha mais esperança com a vida. Tornou-se uma pessoa muito pessimista", acrescenta.

Em 2018, Sérgio foi diagnosticado com demência e a doença foi evoluindo. Ele precisou se retirar da faculdadeaplicativo de apostaque dava aula e foi tendo uma piora no quadroaplicativo de apostasaúde.

Atualmente, por decisão da família, ele viveaplicativo de apostauma ILPI (Instituiçãoaplicativo de apostaLonga Permanência), e tem dificuldadeaplicativo de apostareconhecer as filhas. "Hoje, ele já estáaplicativo de apostaestágio avançado do Alzheimer e muito debilitado. Tem dificuldade para se comunicar, para formar frase", diz.

Mesmo diante da condição, Maria acredita que os resquícios da ditadura ainda permanecem. "Uma vez eu estava cantando Chico Buarque para ele e ele disse para eu não cantar aquilo que iam me prender", relembra.

Para a jovem, a identificação com o filme veio justamente daí, já que, para ela, a cena mais emblemática foi quando a atriz Fernanda Montenegro, que interpreta Eunice no fim da vida, reconhece o marido na televisão e esboça reação sem dizer uma palavra.

"Foi muito impactante. Ela ressurgeaplicativo de apostasi mesma. Fiquei muito comovida com esses paralelos", diz.

Para ela, a obra é fundamental para preservar a históriaaplicativo de apostatodas as pessoas que passaram por algum tipoaplicativo de apostatortura nessa época, alémaplicativo de apostamostrar para outras que duvidam que isso existiu.

"Tenho relatoaplicativo de apostaamigos que foram assistir com pais conservadores. E sóaplicativo de apostaconseguirem ter empatia e entender o que pelo menos foi o regime militar, fico feliz. É muito importante a empatia que o cinema proporciona", diz.

'Meu pai foi torturado e teve o tímpano perfurado'

Celso Lungarettiaplicativo de apostadepoimento na Marinha durante a ditadura

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Celso Lungaretti foi preso pelo regime militar quando era guerrilheiro

A estudante Luana Lungaretti,aplicativo de aposta22 anos, cresceu ouvindo sobre o impacto da ditadura militar na vidaaplicativo de apostaseu pai, Celso Lungaretti, hoje com 74 anos.

Jornalista e ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), ele foi preso aos 19 anosaplicativo de apostauma operação que desarticulou o grupo ao qual pertencia.

Celso foi preso no dia 16aplicativo de apostaabrilaplicativo de aposta1970 e levado para a sede do DOI-CODI, na zona norte do Rioaplicativo de apostaJaneiro.

Durante o tempoaplicativo de apostadetenção, foi submetido as sessõesaplicativo de apostatortura que incluíam choques elétricos e espancamentos.

"Choques nos dedos, nos testículos e com eletrodos atados nos ouvidos,aplicativo de apostaforma que sentíamos como se um raio atravessasse nosso cérebro", relembra Celso,aplicativo de apostaentrevista à BBC News Brasil.

Ele sofreu agressões pelo tenente Ailton Joaquim, que, segundo Sérgio, era considerado um dos mais violentos da época. O militar chegou a ministrar uma aula práticaaplicativo de apostatortura na Vila Militar,aplicativo de apostaoutubroaplicativo de aposta1969, para um grupoaplicativo de apostasargentos e oficiais.

"Em uma dessas sessões, ele teve o tímpano do ouvido direito estourado, uma lesão que resultouaplicativo de apostaanosaplicativo de apostacrisesaplicativo de apostalabirintite e cirurgias", conta Luana.

"Fiz três cirurgias, mas até hoje continua perfurado. O buraco só diminuiuaplicativo de apostadiâmetro, mas, se entrar água, infecciona", afirma o jornalista.

Cartaz da época da ditadura com fotosaplicativo de apostapessoas procuradas pelo regime, com os dizeres "Terroristas assassinos procurados - Depoisaplicativo de apostaterem roubado e assassinado vários paisaplicativo de apostafamília, estão foragidos. Avise o primeiro policial que encontrar se você suspeitar da presençaaplicativo de apostaum dos procurados. Ajude-nos a protegeraplicativo de apostaprópria vida e aaplicativo de apostaseus familiares"

Crédito, Arquivo pessoalaplicativo de apostaLuana Lungaretti

Além dos danos físicos, as marcas psicológicas e sociais foram severas. "Ele passou quase um ano tentando se reerguer psicologicamente após a prisão. Ainda assim, enfrentou difamações e foi acusado injustamenteaplicativo de apostadelatar seus colegas. Isso o isolouaplicativo de apostamuitas pessoas e comprometeuaplicativo de apostacarreira profissional por décadas", relata a filha.

Ele chegou a ficar um ano preso, e levou praticamente o mesmo tempoaplicativo de apostaque ficouaplicativo de apostacárcere para se recuperar. "Não tinha dinheiro para pagar terapeuta, mas fui superando os traumas e revolta represada", diz.

Segundo Celso, pelo menos 20 pessoas que ele conhecia pessoalmente foram assassinadas durante a luta armada ao participaraplicativo de apostauma comunidade alternativa, a conviteaplicativo de apostaantigos amigos dele da escola.

Para driblar a hostilidade e os preconceitos, ele chegou a usar pseudônimos para assinar trabalhos na imprensa e conseguir trabalho.

A história do pai nunca foi um tabu dentroaplicativo de apostacasa. Desde cedo, Luana ouviu sobre o período repressivo e como ele moldouaplicativo de apostavisãoaplicativo de apostamundo.

"Meu pai nunca se calou sobre o que viveu. Ele sempre participouaplicativo de apostadebates, deu entrevistas e escreveu sobre o tema. Em 2005, publicou o livro Náufrago da Utopia, onde relataaplicativo de apostatrajetória na guerrilha e as marcas deixadas pela ditadura", ressalta.

Ao assistir ao filme Ainda Estou Aqui, a estudante sentiu-se representada."Foi impossível não me emocionar e pensar no que meu pai enfrentou. Era como se eu pudesse sentir, mesmo que minimamente, o que ele viveu na pele", diz.

No entanto, a experiência foi marcada por limitações: tanto ela quanto Celso têm deficiência auditiva, e a ausênciaaplicativo de apostalegendas nos cinemas brasileiros dificultou o acesso.

"Uma pessoa que me acompanhava precisou escrever pelo WhatsApp o que acontecia para que eu pudesse entender." O pai da jovem ainda não conseguiu assistir ao longa, justamente pela faltaaplicativo de apostaacessibilidade.

Luana Lungaretti com seu pai, Celso, nos diasaplicativo de apostahoje

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Luana conta que a históriaaplicativo de apostaseu pai nunca foi tabuaplicativo de apostacasa

A repercussão do filme e dos vídeos no TikTok, onde Luana compartilhou a históriaaplicativo de apostasua família, é, para ela, uma oportunidadeaplicativo de apostaconscientizar as novas gerações.

"A maioria que defende, muitas vezes, é influenciada por opiniões extremistas e,aplicativo de apostaalguns casos, sem fundamento sobre o assunto. Falta mais estudo e, principalmente, humanidade", diz Luana.

Questionados sobre as pessoas que pedem para que a ditadura retorne, ambos são categóricos nas respostas. Para eles, defender a volta desse regime é fruto da faltaaplicativo de apostainformação.

"Tais pessoas, ou estão sendo enganadas por gente inescrupulosa que lhes impingem mentiras cabeludas aproveitandoaplicativo de apostainocência, ou são seres desumanos ao extremo", diz Celso.

A filha ainda faz um apelo para que essas pessoas se coloquem no lugar das minorias,aplicativo de apostaquem perdeu alguém eaplicativo de apostaquem teve que lutar.

"Viver com medo, viver sendo vigiado, viver sob cautela o tempo todo, viver sem direitos. Isso não é viver, e não podemos permitir que se repita."

'Minha avó ficou exilada por dez anos na França'

A fotoaplicativo de apostapreto e branco mostra uma mulher jovem,aplicativo de apostapele clara e cabelos escuros, olhando para a câmera.

Crédito, Arquivo pessoalaplicativo de apostaElisa Nunes

Legenda da foto, Vera Tudeaplicativo de apostaSouza precisou abandonaraplicativo de apostavida no Brasil durante a ditadura militar

A avó da estudante Elisa Nunes, Vera Tudeaplicativo de apostaSouza, precisou abandonaraplicativo de apostavida no Brasil durante a ditadura militar.

"Minha avó era muito jovem, praticamente da minha idade, e teve que largar tudo para acompanhar meu avô, que era da luta armada. Ela não era militante, mas ajudava pessoas perseguidas, como o Rubens Paiva", conta Elisa.

Vera acabou sendo identificada pelas autoridades após ajudar na fugaaplicativo de apostaum amigo, que acabou capturado. A situação se tornou insustentável, e ela partiu para o exílio na Françaaplicativo de aposta1969. Lá, ingressou no Partido Comunista Francês e passou a observar as diferenças sociais e políticasaplicativo de apostarelação ao Brasil.

"Ela via como políticas públicas, saúde e educaçãoaplicativo de apostaqualidade mudavam a vida das pessoas, e isso marcou muito a visão dela", explica a neta.

Mesmo politicamente ativa no exílio,aplicativo de apostaavó enfrentou dificuldades financeiras. Sem formação acadêmica completa, fez trabalhos manuais e passeava com cachorros para sustentar as filhas gêmeas. "A ditadura roubou isso dela, e ela teve que se virar com o que dava para criar minha mãe e minha tia", relata Elisa.

Segundo a jovem, a avó conta que o período, apesar dos desafios, foi importante para a formação política dela, que agora tem 81 anos. "Ela nunca escondeu essa parte da vida para a família, sempre contou suas experiências. Foi uma época difícil, mas que trouxe muito aprendizado para ela e meu avô."

Elisa também explorou a história da avó emaplicativo de apostamonografia do ensino médio, que abordava o papel das mulheres na ditadura.

"Usei os relatos dela para mostrar como era ser mulher na linhaaplicativo de apostafrente naquele período. Foi muito especial trazer essa memória para o trabalho", afirma.

A identificação da família com o filmeaplicativo de apostaWalter Salles foi imediata. "Assistimos juntos porque sabíamos que nos reconheceríamos nos personagens. Somos uma famíliaaplicativo de apostaclasse média, e a trajetória deles lembra muito a da minha avó."

Ao levar a históriaaplicativo de apostaVera para o TikTok, a estudante quis destacar a força e resiliência da avó.

"Ela é uma heroína invisível, a mulher que eu mais admiro no mundo. É importante contar essas histórias para que ninguém esqueça o que aconteceu e para que possamos entender melhor nosso passado."

Para Elisa, a faltaaplicativo de apostapunição aos responsáveis pelo regime contribui para o esquecimento coletivo.

"Os culpados nunca foram punidos, e isso cria um fatoraplicativo de apostaesquecimento muito grande nas pessoas. Muitos defendem a ditadura sem saber o que realmente aconteceu”, diz