Por que um casal brasileiro deixa seu filho brincar com onças-pintadas:robo luva bet

  • Vinícius Lemos
  • De Cuiabá para a BBC News Brasil
Tiago com duas onças no rio

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto,

Uma fotorobo luva betum menino ao ladorobo luva betduas onças-pintadas viralizou recentemente na internet. Alguns acharam que era montagem, mas a imagem é real

robo luva bet Um garoto acompanhadorobo luva betduas onças-pintadasrobo luva betuma lagoa. Ele demonstra conforto com a situação e faz carinhorobo luva betum dos felinos, enquanto o outro animal está com uma pata encostada no ombro esquerdo do jovem. A cena, que causou estranheza nas redes sociais robo luva bet nas últimas semanas, faz parte da rotinarobo luva betTiago Jácomo Silveira,robo luva bet12 anos, desde que ele era recém-nascido.

A imagem do garoto foi publicada, inicialmente, pelo próprio pai, o biólogo Leandro Silveira,robo luva bet49 anos. Depois, a fotografia foi compartilhadarobo luva betpáginasrobo luva betFacebook e perfis do Instagram.

Em uma publicação feita no dia 23, um usuário do Facebook compartilhou a imagemrobo luva betTiago com as onças. A fotografia teve maisrobo luva bet2 mil compartilhamentos e 22 mil reações, sendo as mais comuns delas o "amei" e o "uau". Na postagem, não há explicação sobre a origem do registro. Nos comentários, alguns disseram tratar-serobo luva betmontagem, enquanto outros elogiaram a coragem do jovem.

Para Tiago, a repercussão da foto foi uma surpresa, pois considera se tratarrobo luva betuma situação comumrobo luva betseu cotidiano. O garoto frisa que muitas pessoas se surpreendam com o fatorobo luva betele conviver com onças-pintadas.

"Eu tenho alguns amigos que não acreditam nisso, acham que é 'fake'. Mas a maioria dos meus conhecidos acha isso muito legal e tem vontaderobo luva betconhecê-las. Eu acho muito bom poder levar um pouquinho dessa experiênciarobo luva betvida que tenho para outras pessoas que não tiveram a mesma sorte que eu", afirma à BBC News Brasil.

Além do pai do garoto, a mãe, Anah Tereza Jácomo,robo luva bet49 anos, também é bióloga. Os dois coordenam o Instituto Onça-Pintada (IOP), que tem o objetivorobo luva betpreservar e estudar o maior felino das Américas.

"O meu filho nasceurobo luva betum ambiente com onças-pintadas. Então, ele convive bem com elas desde a infância e sabe como lidar. Logicamente, a gente o instrui e impõe limites, mas hoje ele já sabe o que fazer ou não. É uma questão muito natural para ele", diz Leandro.

Crescendo com as onças-pintadas

Tiago bebê com onça no colo

Crédito, Arquivo pessoal

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Tiago é filhorobo luva betbiólogos que trabalham com a preservação das onças-pintadas

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O nascimentorobo luva betTiago foi planejado desde o início do relacionamentorobo luva betAnah e Leandro, que estão juntos há 28 anos. Os biólogos esperaram a conclusão do doutorado para que tivessem um filho.

"Tinha certezarobo luva betque ser mãe me privaria,robo luva betcerta forma, da minha carreira. Meu marido sempre foi muito companheiro e pediu que concluíssemos os estudos primeiro, porque, na visão dele, não seria justo eu me afastar da carreira durante a maternidade, ao passo que a dele estariarobo luva betplena ascensão", diz.

Após o doutorado, Anah e Leandro decidiram que era o momentorobo luva better um filho. Na época, eles já haviam criado o Instituto Onça-Pintada e passavam o dia lidando com estudos sobre felinos. Quando Tiago nasceu, o casal cuidavarobo luva bettrês onças-pintadas recém-nascidas.

"Nessa época, íamos viajarrobo luva betcaminhonete, para resolver questões do instituto, e levávamos o nosso filho e as onças juntos. Ele ia no colo da minha esposa e elas iam perto da gente, para não se machucar. No trajeto, muitas vezes parávamos para dar mamadeira para ele e para as onças. Isso aconteceu muitas vezes", relata Leandro.

Em razão do convívio que teve com os animais desde pequeno, Tiago sempre considerou natural a proximidade com onças-pintadas. "O referencial dele é baseado na gente. Ele foi crescendo e aprendendo os limites, vendo o que poderia ou não fazer. Mas, para ele, é algo muito comum esse relacionamento, porque foi criadorobo luva betum ambiente rural. Esse é o cotidiano dele. Não há nadarobo luva betabsurdo", afirma Leandro.

O garoto se considera privilegiado por ter se relacionado com as onças-pintadas desde pequeno. "Sempre foi uma relaçãorobo luva betamor e respeito. Sempre gostei muito disso e sempre ajudei a cuidar dos animais", comenta.

Tiago ressalta que segue as instruções dos pais para lidar com os bichos. "Eles me ensinaram que o medo e o respeito são sentimentos importante e inteligentes. Porque quando você não tem medo e não respeita o animal, você não respeita o limite dele e, por isso, ele também acaba não te respeitando", pontua.

Tiago, os pais e a onça

Crédito, Arquivo pessoal

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Os paisrobo luva betTiago o ensinaram desde pequeno como deveria se comportar perto das onças

Limites do convívio

Desde que o filho era menor, Leandro ensinava ao garoto sobre a conduta que ele deveria ter com as onças-pintadas. O biólogo costuma passar os mesmos ensinamentos a pessoas que desconhecem informações sobre o felino.

"Esses animais não agem contra o ser humano, no sentidorobo luva betnos ver como presas. Eles reagem às nossas ações. Então, é importante respeitá-los. Por exemplo, se ele está comendo ou nervoso, ele avisa que não quer proximidade, pela linguagem corporal, então é importante respeitar", diz.

"É fundamental entender os limites e não mexer com o animal quando ele não está bem. Não há como forçar algo com a onça-pintada. É importante compreender o momentorobo luva betque ela quer ficar sozinha e se afastar. Quando ela quiser proximidade, se aproximará. Isso é uma regra fundamental para a convivência. Onça não é um animal social, mas cria laços para a vida inteira", acrescenta.

Segundo a bióloga, nunca houve incidente entre o garoto e as onças - e ela comenta que nunca deixou o filho sozinho com os animais.

"Sempre tivemos muitos cuidados. Não somente com as onças, mas com qualquer outro animal. Mas o mais importante é que o meu filho aprendeu muito cedo como conhecer cada um. Em nosso sítio, as regrasrobo luva betsegurança sempre foram muito determinadas, claras e obedecidas", diz.

Tiago com onça filhote

Crédito, Arquivo pessoal

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'É fundamental entender os limites e não mexer com o animal quando ele não está bem', explicam Leandro e Anah

Na imagem que repercutiu nas redes sociais, uma cadela da raça blue heeler aparece próxima aos felinos. Os bichos mantêm uma relaçãorobo luva betproximidade. Na Organização Não-Governamental (ONG), há outros animais, normalmente encaminhados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), como veados, macacos e lobos-guará,. Segundo Leandro, todos vivemrobo luva betharmonia.

O IOP está localizado na região ruralrobo luva betMineiros, no interiorrobo luva betGoiás,robo luva betuma propriedaderobo luva bet50 hectares, pertencente ao casalrobo luva betbiólogos. O instituto não é aberto a visitação, para evitar incômodo aos animais ou prejuízo aos estudos realizados no lugar.

Amor por onças-pintadas levou à criaçãorobo luva betinstituto

Leandro se encantou pelas onças-pintadas ainda na infância, quando assistiu a um documentário sobre os felinos. Anos depois, a paixão pela espécie o levou a cursar biologia. O primeiro estágio dele foirobo luva betum projeto que lidava com onças-pintadas. "Foi a primeira vezrobo luva betque tive contato com a espécie. Depois, nunca mais pareirobo luva bettrabalhar com ela", relata.

Na universidade, ele conheceu Anah, que também cursava biologia. Os dois sãorobo luva betGoiás. Desde a épocarobo luva betque eram estudantes, desenvolvem atividades com o maior felino das Américas. Em junhorobo luva bet2002, criaram o Instituto Onça-Pintada. O principal objetivo deles era estudar a espécie e ajudar a preservá-la.

Anos após a criação do instituto, uma equipe do Ibama perguntou se Leandro e Anah tinham interesserobo luva betreceber onças-pintadas recém-nascidas, que eram órfãs e haviam sido resgatadas da natureza. O casal, que não tinha a criação dos felinos como objetivo inicial, aceitou. Para acolhê-los, elaborou um criadouro científico, que hoje ocupa metade da propriedade rural.

Anah, Leandro e Tiago com uma onça

Crédito, Arquivo pessoal

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Onças e outros animais convivemrobo luva betharmonia numa propriedaderobo luva bet50 hectares pertencentes aos dois biólogos

O IOP está localizado dentro do sítio. Alémrobo luva bet25 hectares para o criadouro, o lugar também é dividido entre a parte destinada aos animaisrobo luva betoutras espécies, a área utilizada para os estudos desenvolvidos por profissionais que atuam no instituto e a residência da família.

O instituto é mantido com doaçõesrobo luva betempresários ou pessoas físicas e por meiorobo luva betrecursos particulares do casalrobo luva betbiólogos. "É uma eterna busca por recursos. Nunca são valores governamentais, porque o poder público nunca nos ajudou. Ultimamente, temos apoiorobo luva betempresas. Mas 95% dos recursos têm sido particulares, meus e da Anah, por meiorobo luva betassessorias que fazemos", diz Leandro.

No IOP, atualmente há 14 onças-pintadas. Destas, quatro são filhotes, dois são jovens e há oito adultos. Na última década, 35 felinos passaram pelo lugar. Normalmente, os que deixam o instituto são encaminhados para outros criadouros, para auxiliar na reprodução e preservação da espécie.

As onças-pintadas que chegam recém-nascidas ao criadouro não retornam à natureza porque a principal ameaça a elas, segundo pesquisas do IOP, são os pecuaristas.

"Nesse sentido, consideramos um contrassenso devolver à natureza um animal que já veio para o cativeiro fruto desse conflito", explica Anah. Outro motivo que faz com que os felinos sejam encaminhados a outro criadouro é a necessidaderobo luva betcontato com humanos, que eles desenvolvem no início da vida, por meio da alimentação ourobo luva betoutros cuidados básicos,robo luva betrazão da ausência da mãe.

"Esses animais dificilmente perdem o elo com a presença humana e, se soltos, muito fatalmente, caso se aproximemrobo luva betlocais com a presença humana, podem acabar sendo abatidos", acrescenta a bióloga.

Ameaçarobo luva betextinção

A onça-pintada está presenterobo luva bet21 países, entre eles Argentina e Estados Unidos. Em alguns, como Uruguai e El Salvador, ela foi extinta. O Brasil concentra a maior parte delas, abrigando 48% da espécierobo luva bettodo o mundo. No país, o animal também está ameaçadorobo luva betextinção.

"Temosrobo luva bet20 mil a 30 mil onças-pintadas no Brasil. Elas são consideradas ameaçadas porque, ao longo dos anos, perdemos maisrobo luva bet50% da distribuição original delas. A tendência é que, como todos os grandes predadores mundo afora, caso não haja políticarobo luva betconservação, ela seja extinta."

"É um animal que compete com condições humanas, tem riscos aos seres humanos. Então, a tendência do homem é eliminar. Tudo o que gera riscos, gera prejuízo. Se não criarmos uma política diretarobo luva betcompensação aos prejuízos que esses animais causam, ele vai ser eliminado", pontua. Segundo o biólogo, não há nenhum tiporobo luva betação do poder público para a preservação dos felinos.

Tiago e onça

Crédito, Arquivo pessoal

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Segundo os biólogos, se as onças-pintadas correm o riscorobo luva betserem extintas no futuro, se políticas públicasrobo luva betpreservação não forem adotadas

Muitos dos filhotes que chegam ao IOP se tornaram órfãos após as mães serem mortas por produtores rurais, enquanto saíamrobo luva betbuscarobo luva betalimentos para os filhos. "Há inúmeros filhotes que morrem depois da perda da mãe, por não conseguirem se manter sozinhos. Infelizmente, o númerorobo luva betórfãos que chegam para a gente é muito pequeno, perto do total que fica abandonado", explica Leandro.

Um dos principais trabalhos do IOP é conscientizar a população sobre a preservação das onças-pintadas. Os principais alvos da iniciativa são os produtores rurais. Para auxiliar no diálogo com eles, o instituto criou o Certificado Onça-Pintada. "Propomos valorizar os produtosrobo luva betproprietários que se comprometem a tolerar os prejuízos causados por onças e jamais abatê-las", diz Anah. Segundo ela, 170 mil hectaresrobo luva betfazendas já aderiram ao selo. "O nosso objetivo é atingir 1 milhãorobo luva bethectaresrobo luva bet10 anos", revela.

Anah explica que a importância da conscientização dos produtores rurais ocorre porque, no Brasil, 70% das terras estãorobo luva betáreas privadas. "As unidadesrobo luva betconservação, sozinhas e isoladas, não têm tamanho e não asseguram a conservação da onça-pintadarobo luva betlongo prazo. Dessa forma, ela precisa do proprietário rural para ter a chancerobo luva betsobreviver", pontua a bióloga.

Preocupação com o futuro

Tiago e filhoterobo luva betonça

Crédito, Arquivo pessoal

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Muitos dos filhotes que chegam ao IOP se tornaram órfãos após as mães serem mortas por produtores rurais, enquanto saíamrobo luva betbuscarobo luva betalimentos para os filhos

A luta pela preservação das onças-pintadas é conhecida por Tiago desde a mais tenra idade. Há um ano, ele deixou o sítio onde morava com os pais, na sede do IOP, para se mudar para Goiânia, para estudar. O garoto, que está no oitavo ano do ensino fundamental, sente saudades da convivência diária com os bichos.

"Está sendo muito difícil ficar longe dos animais, porque convivi com eles desde pequeno. Toda vez que volto para a casa dos meus pais, sinto que os animais também sentem saudaderobo luva betmim. Eles me reconhecem e brincam comigorobo luva betuma maneira diferente. Isso é muito gratificante, porque vejo que o amor e o carinho que dei para eles anos atrás está sendo retribuído", diz o estudante.

Tiago visita os pais a cada três meses. A foto que viralizou na internet foi tirada durante o feriado da Proclamação da República,robo luva bet15robo luva betnovembro. No futuro, ele não quer continuar distante do lugar onde nasceu. O garoto planeja cursar biologia e retornar para o sítio da família, onde quer dar continuidade à iniciativa desenvolvida pelos pais.

"Quero fazer biologia, mas não para ser professor. Quero trabalhar com os animais, na prática. Pretendo dar continuidade ao instituto e ajudar meus pais, porque essa é uma causa muito nobre. A gente está tentando salvar uma espécierobo luva betextinção e realmente quero continuar com essa luta", declara.

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