Copa do Mundo: o histórico da FIFA com governos autoritários:esquema de apostas no futebol

  • Letícia Mori - @leticiamori_
  • Da BBC Newsesquema de apostas no futebolSão Paulo
Jogadores posando para foto, no gramado, com mão na boca

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Na vésperaesquema de apostas no futebolpartida nesta quarta-feira (23/11), jogadores da Alemanha posaram para foto com a mão na boca,esquema de apostas no futebolprotesto contra restrições a que atletas têm sido submetidos emesquema de apostas no futebolexpressão política

esquema de apostas no futebol O histórico do Cataresquema de apostas no futebolrelação aos tratamentoesquema de apostas no futeboldireitos humanos tem gerado protestos contra a realização da Copa do Mundoesquema de apostas no futebolfutebol no país desde o anúncio da escolha do anfitrião, 12 anos atrás.

Geraram revolta não apenas a postura do país quanto aos direitos da população LGBT (homossexualidade é crime no país) e das mulheres, mas também pelo esquemaesquema de apostas no futeboltrabalho para estrangeiros que levantaram os estádios e que foi considerado desumano e análogo à escravidão pela Anistia Internacional.

A postura da FIFA, que organiza o campeonato, diante da monarquia absolutista que governa o Catar também gerou inúmeros protestos.

A FIFA costuma impor uma sérieesquema de apostas no futebolregras aos anfitriões, que muitas vezes entramesquema de apostas no futebolconflito com a legislação local. No Catar, no entanto, a FIFA aceitou sem reclamar a proibiçãoesquema de apostas no futebolvendaesquema de apostas no futebolbebidas alcoólicas nos estádios anunciada pela monarquia dois dias antes do início do torneio e proibiu os jogadoresesquema de apostas no futebolfazerem manifestações durante as partidas.

Na quarta-feira (23/11), jogadores da Alemanha taparam as próprias bocas durante a foto oficial do primeiro jogo do timeesquema de apostas no futebolprotesto contra a proibição. Muitos integrantes do time queriam usar a braçadeira com as cores do arco-íris "One Love",esquema de apostas no futebolapoio à causa LGBT, mas seu uso foi proibido pela entidade.

"A Fifa não se importa com direitos humanos, isso não é relevante para o negócio", afirma o historiador do futebol Flávioesquema de apostas no futebolCampos, professoresquema de apostas no futebolHistória da USP e coordenador do Ludens, núcleo interdisciplinaresquema de apostas no futebolpesquisas sobre jogos. "Ela é muito pragmática no sentidoesquema de apostas no futebolrealizar as atividades e os eventos independente dessas questões."

Campos se refere não somente à Copa do Catar, mas ao fato da FIFAesquema de apostas no futebolse relacionar sem problemas com governos autoritários e que ferem direitos humanos desde os primeiros campeonatos.

Entenda o histórico da entidade com governos autoritários.

A Copaesquema de apostas no futebol1978 na Argentina

Jogadores sorrindo e erguendo taça

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Copaesquema de apostas no futebol1978 na Argentina, quando a anfitriã foi também a campeã; na época, país sofria uma brutal ditatura militar

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Em 1978, a Argentina era governada por uma brutal ditadura militar que havia chegado ao governo dois anos antes atravésesquema de apostas no futebolum golpe militar. Mas a FIFA decidiu realizar a Copa no país mesmo assim.

"Havia um mundial transcorrendo enquanto a tortura era praticadaesquema de apostas no futebolgrande volume na Argentina", diz Flávioesquema de apostas no futebolCampos. "Não existe nenhum limite do que um governo pode fazer desde que o negócio esteja dando dinheiro, desde que se alimente esse complexo econômico."

O clima político no país era bastante conturbado, com inúmeros protestos sendo feitos pelas Mães da Praçaesquema de apostas no futebolMaio, que buscavam seus filhos desaparecidos.

A organização do torneio foi marcada por muitos problemas e polêmicas. Muitos estádios ficaram prontos no último minuto, com gramados recém-plantados se soltando durante os jogos. O governo foi acusadoesquema de apostas no futebolfavorecer o time da Argentina, já que os jogos dos anfitriões aconteceram todosesquema de apostas no futebolBuenos Aires, com os adversários precisando viajar pelo país.

A escolha da Argentina tinha acontecido anos antes, mas diante dos crimes da ditadura, o então chefe da Fifa, João Havelange, foi pressionado para mudar a sede do torneio para a Europa, o que não aconteceu.

A mudança não seria algo impossível, afirma Campos, tanto que aconteceu algumas copas depois,esquema de apostas no futebol1986, quando a Colômbia desistiuesquema de apostas no futebolreceber o Mundial e a Copa foi realizada no México.

A realização do torneio não aconteceu sem protestos.

Houve uma forte campanha pelo boicote da Copa, explica Mateus Gamba Torres, professoresquema de apostas no futebolhistória da Universidadeesquema de apostas no futebolBrasília. "Houve bastante protesto internacional. Alguns jogadores boicotaram, não foram. E outros, que foram, participaram das manifestações da Praçaesquema de apostas no futebolMaio", afirma Torres.

"O time da Holanda, que foi para a final, afirmou que se ganhasse não iria receber a taça das mãos do Videla (o ditadoresquema de apostas no futebol1978)", diz o historiador. O campeonato acabou sendo vencido pelo time da casa — e a taça foi entregue pelo ditador.

A Copaesquema de apostas no futebol1934 na Itália

A segunda Copa do Mundo FIFA da história,esquema de apostas no futebol1934, foi realizada na Itália governada pelo ditador fascista Benito Mussolini.

Mussolini queria tanto que o país fosse o anfitrião que destacou um general, Giorgio Vaccaro, presidente da Federação Italianaesquema de apostas no futebolFutebol, para negociar com a FIFA.

Vaccaro prometeu um grande investimento no evento (3,5 milhõesesquema de apostas no futebolliras). E, 1932, a Itália venceu a disputa contra a Suécia para sediar a Copa.

Selo mostra desenhoesquema de apostas no futebolestádio e avião

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Selo postal da Copa do Mundoesquema de apostas no futebol1934, na Itália comandada por Mussolini

A Copaesquema de apostas no futebol2018 na Rússia

Campos também cita a administraçãoesquema de apostas no futebolVladimir Putin como um governo autoritário com quem a FIFA decidiu fazer parceria para realizar a Copa — no caso, a Copaesquema de apostas no futebol2018 na Rússia.

Nominalmente uma democracia, a Rússia ainda tem eleições. "No entanto, pode ser considerado um governo autoritário pelos inúmeros mecanismosesquema de apostas no futebolperpetuaçãoesquema de apostas no futebolpoder criados por Vladimir Putin, que lidera o país (como presidente ou primeiro-ministro) há 22 anos", diz Campos.

Mesmoesquema de apostas no futebol2018, muito antes dos embargos e reprimendas internacionais por ter invadido a Ucrânia, a Rússiaesquema de apostas no futebolPutin já enfrentava críticas pela perseguição a opositores políticos, pelo controle da imprensa, pelo ambiente hostil ao público LGBT e por usar mecanismosesquema de apostas no futebolvigilância e controleesquema de apostas no futebolinformações. Também já havia acusaçõesesquema de apostas no futebolinterferência nas eleições americanas.

'Democracia demais'

A realização destes Mundiaisesquema de apostas no futebolpaíses com governos autoritários mostram que a faltaesquema de apostas no futeboldemocracia não só não é considerada um problema, mas pode ser vista como um ponto positivo pela FIFA, dizem os historiadores.

A própria FIFA já admitiu que considera "democracia demais" uma "dificuldade".

Em 2013, o então secretário geral da entidade, Jérôme Valcke, disse que "democracia demais" pode atrapalhar a organização do mundo.

"Vou dizer algo que é maluco, mas menos democracias às vezes é melhor para organizar a Copa do Mundo", afirmou Valckeesquema de apostas no futebolum evento.

"Quando você tem um chefeesquema de apostas no futebolEstado forte que pode tomar as decisões, como talvez o (presidente russo Vladimir) Putin possa fazeresquema de apostas no futebol2018... Isso é mais fácil para nós organizadores", afirmou Valcke.

O dirigente falava sobre o que considerava as dificuldadesesquema de apostas no futebolorganizar o evento no Brasil, que teve protestos contra a Copa e greveesquema de apostas no futeboltrabalhadores na construção dos estádios antes do Mundialesquema de apostas no futebol2014.

"(No Brasil) há várias pessoas, vários movimentos e vários interesses e é bastante difícil organizar uma Copa do Mundo nessas condições", afirmou.

O presidente da FIFA, Gianni Infantino (ao centro), ao lado do presidente Vladimir Putin (à dir.) e do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (à esq.)

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O presidente da FIFA, Gianni Infantino (ao centro), ao lado do presidente Vladimir Putin (à dir.) e do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (à esq.)

A BBC procurou a FIFA para comentar tanto a falaesquema de apostas no futebolValcke quanto as críticas sobreesquema de apostas no futebolrelação com governos autoritários, mas não teve resposta.

No entanto,esquema de apostas no futeboldiversas ocasiões, o atual presidente da FIFA, Gianni Infantino, rebateu críticas sobre a postura da entidade e sobre a forma como o Catar trata os trabalhadores imigrantes, a população LGBT e as mulheres.

Infantino, que é italiano e suíço, disseesquema de apostas no futebolum pronunciamentoesquema de apostas no futebol19esquema de apostas no futebolnovembroesquema de apostas no futebolDoha, um dia antes da abertura da Copa, que sabe o que é ser discriminado porque "sofreu bullying na escola por ser ruivo e ter sardas".

"Hoje eu me sinto catariano, me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Me sinto gay, me sinto uma pessoa com deficiência. Me sinto como um trabalhador imigrante", disse ele.

Infantino também afirmouesquema de apostas no futeboloutra ocasião que a realização da Copa no Catar é uma coisa positiva porque "foram feitos diversos avanços"esquema de apostas no futeboldireitos humanos no país por causa da atenção que o país ganhou com o evento.

O que a FIFA ganha

Campos afirma que há um motivo financeiro para a FIFA escolher países com governos autoritários, já que eles tendem a investir grandes somasesquema de apostas no futeboldinheiro no evento —esquema de apostas no futebolpaíses democráticos, tende a haver mais transparência e escrutínio sobre o usoesquema de apostas no futeboldinheiro público para o mundial.

"Governos autoritários gastam muito mais dinheiro, sem ter quem fiscalize. É só olhar o quanto o Catar investiuesquema de apostas no futebol2022 (US$ 220 bilhões, a Copa mais cara da história). A Argentina investiu muito mais que outros países que fizeram o evento 4, 8 anos depois", afirma Mateus Gamba Torres, da UNB.

"Em um país autoritário tem censura para tudo, os dados não são divulgados. Os trabalhadores nem cogitam fazer greve, e na hipóteseesquema de apostas no futebolhaver uma, ela é duramente reprimida", diz Torres.

"A Fifa não se importa com direitos humanos. Quer estádios prontos para vender ingresso, para vender patrocínio."

Ao mesmo tempo, lembra ele, há um risco envolvido até mesmo do pontoesquema de apostas no futebolvistaesquema de apostas no futebolnegócios.

"O que menos existeesquema de apostas no futebolditadura é estabilidade e cumprimentoesquema de apostas no futebolcontrato", afirma. "Veja a proibiçãoesquema de apostas no futebolcerveja que o Catar anunciou dois dias antes da Copa começar. Isso não deve ter caído nem um pouco bem com os patrocinadores", diz.

"Eles podem dar discursos que os direitos humanos avançaram por causa da Copa, mas é hipocrisia, porqueesquema de apostas no futebolnenhum momento a FIFA exigiu essas melhoras", diz Flávio Campos. "E ao decidir fazer o evento ali, dá um destaque, dá uma legitimação ao governo."

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