Desaparecidos no México: 'Encontrei meu filho enterradobetanocassinocova que eu mesma raebri':betanocassino

Cecilia Delgado

Crédito, Arquivo pessoal / Cecilia Delgado

Legenda da foto, Cecilia Delgado durante uma das inúmeras escavaçõesbetanocassinoque participou

A BBC News Mundo, serviçobetanocassinoespanhol da BBC, entroubetanocassinocontato com a ProcuradoriabetanocassinoSonora, Estado onde fica Hermosillo. A porta-voz do órgão disse que não poderia dar muitas informações porque se tratabetanocassinoum caso sob investigação. Mas a procuradora do Estado, Claudia Indira Contreras, prometeu justiça a Delgado e punir "quem quer que seja o culpado".

A seguir, a históriabetanocassinoCecilia Delgado contadabetanocassinoprimeira pessoa.

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Cecilia Delgado com o filho Jesús Ramón Martínez, antesbetanocassinoseu desaparecimento

Crédito, Arquivo pessoal / Cecilia Delgado

Legenda da foto, Cecilia Delgado com o filho, Jesús Ramón Martínez, antesbetanocassinoseu desaparecimento

Quando meu filho desapareceu, prometi a ele que o encontraria.

"Filho, eu prometo que vou te levarbetanocassinovolta para casa. Eu prometo, filho do meu coração. Mesmo que leve uma vida inteira, mesmo que eu tenha que buscar você no inferno", disse a ele.

Depoisbetanocassinodois anos, cumpri minha promessa. Não como eu queria, mas o encontrei.

Ainda fecho os olhos e o vejo na condiçãobetanocassinoque estava. Ele não merecia.

Na noitebetanocassinoseu desaparecimento, Jesús Ramón estava com um amigobetanocassinoseu estabelecimento comercial,betanocassinovendabetanocassinocerveja, quando uma patrulha estadual e uma caminhonete — um Chevrolet Silverado branco com cabine dupla — chegaram.

Além do vídeobetanocassinoum câmerabetanocassinovigilância, há testemunhasbetanocassinoque dois policiais o colocaram na caminhonete branca e o levaram. Ninguém mais voltou a vê-lo vivo novamente.

A polícia estadual disse que ia me ajudar, que ia trazer meu filhobetanocassinovolta. Eles me pediram para ir embora e garantiram que me ligariam. Nunca ligaram.

Tive que encontrar meu filho sozinha porque eles não fizeram seu trabalho.

Cecilia Delgado

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Até o momento, Cecilia Delgado ajudou a exumar 194 corpos

Meu filho tinha 34 anos quando o levaram. Ele era muito alegre, adorava música, dançar, cantar. Me chamavabetanocassino"minha rainha", sempre dizia que me amava e demonstrava isso.

Ele deixou três filhos. A mais nova tem apenas 5 anos. Ela é quem mais sofre com a ausência do pai. "Vovó, por que você demorou tanto para encontrar meu pai?", ela me pergunta chorando inconsolável. É algo que dói na alma.

Mortabetanocassinovida

O desaparecimentobetanocassinoum filho é a coisa mais terrível que pode acontecer a uma mãe.

Eles roubaram tudobetanocassinomim. Me deixaram mortabetanocassinovida.

Cartaz do grupo Buscadoras por la Paz

Crédito, Arquivo pessoal / Cecilia Delgado

Legenda da foto, O desaparecimentobetanocassinoJesús Ramón levou Cecilia a fundar o coletivo 'Buscadoras por la Paz'

Esses dois anos foram um inferno. Sempre pensando: "Onde ele estará, será que está comendo, que o matariam, o que fariam com ele?" É uma dor inimaginável que me atormenta por dentro. Nunca na minha vida eu imaginei que existisse tanta dor.

À noite, na solidão e escuridão, a incerteza bate ainda mais forte.

Ainda estou caminhando, mas sinto que é apenas meu couro, porque já estou morta por dentro. Estou morta.

Perdi as ilusõesbetanocassinotudo, a vontadebetanocassinoviver. A única coisa que me movia era saber que, se eu não procurasse meu filho, ninguém iria procurar. Que se eu morresse, ninguém iria encontrá-lo.

Comecei a procurá-lobetanocassinohospitais, prisões,betanocassinovários municípiosbetanocassinoSonora.

Logo comecei a escavar sepulturas clandestinas. Embora, no meu coração, sempre desejasse que ele estivesse vivo. E pedia a Deus por isso.

Me juntei a alguns coletivos que escavam túmulos clandestinos. E depois, fundei o meu, Buscadoras por la Paz,betanocassinoSonora.

'Procuramos tesouros'

Na maioria das vezes, descobrimos a localização dessas valas, onde os corpos foram enterrados, por meiobetanocassinotelefonemas anônimos.

Vamos até lá armadas. Nossas armas são a picareta, a pá e uma vara. Vamos a qualquer lugar, ao campo, às montanhas, inclusive a casas. Aqui o clima é extremo, o calor às vezes ultrapassa os 50°C, vemos como o vapor sai do solo. Outras vezes, um frio que congela.

Coletivo 'Buscadoras por la Paz'betanocassinoSonora

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, As mulheres do coletivo buscam incansavelmente os filhos

Mas nada nos detém. O amor que temos por nossos filhos é maior do que os rigores do clima, a fome ou o medo.

Vamos procurar nossos tesouros.

Para nós, são tesouros porque os encontramosbetanocassinosepulturas clandestinas que temosbetanocassinoescavar. E eles são, lamentavelmente, cadáveres.

Mesmo assim, com todo o horror que isso significa, encontrá-los e dar a eles uma sepultura digna nos traz uma relativa paz.

Tiramos esses tesouros da escuridão, dessas valas onde depoisbetanocassinomatá-los os enterrambetanocassinouma forma tão vil, tão cruel que não consigo entender como pode haver gente assim, sem coração, que possa fazer tanto mal.

O que eles podem ter feito para que tudo o que eu vi fosse feito com eles? São coisas terríveis. Eles se enfurecembetanocassinoforma bestial, tanto com homens quanto mulheres.

Coletivo 'Buscadoras por la Paz'

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, O coletivo 'Buscadoras por la Paz' é um dos vários do tipo que atuam no México

Me lembrobetanocassinocomo encontramos um menino, acho que ele era um jovenzinho porque seus pés eram muito pequenos. Ele estava acorrentado. Suas pernas estavam acorrentadas e presas por cadeado. Suas mãos, amarradas com um arame. Enterrado a maisbetanocassinoum metro e meiobetanocassinoprofundidade.

Encontramos outros queimados a pontobetanocassinoser impossível identificá-los. Isso dói na alma. Pensobetanocassinosuas mães, que nunca serão capazesbetanocassinoencontrá-los.

'A realidade do México'

Muitos nos criticam porque fazemos transmissões ao vivobetanocassinonossas buscas nas redes sociais. As imagens que aparecem são muito fortes e nos chamambetanocassinosensacionalistas.

Mas é a realidade que estamos vivendo. Não é algo vindobetanocassinoDeus o fato que temos que tirar nossos filhos desses lugares tão feios. Desses buracos que, às vezes, fazem a própria pessoa que vão matar cavar.

Se fazemos os vídeos é porque queremos que as pessoas vejam o nosso trabalho, o que estamos passando. Ninguém gosta disso. Não gostobetanocassinoescavar sepulturas clandestinas. Mas é a realidade do México.

Os desaparecimentos forçados estão na ordem do dia. Aqueles que ficam indignados ao ver um vídeo, é melhor se indignar com aqueles que matam as pessoas e com as autoridades que não fazem seu trabalho.

Não deveria caber a nós, com toda a dor que carregamos, tirar nossos filhosbetanocassinolá.

Coletivo 'Buscadoras por la Paz'

Crédito, Arquivo pessoal / Cecilia Delgado

Legenda da foto, Muitas das vítimas são forçadas a cavar suas próprias sepulturas

Sabemos que iremos encontrar grande parte dos desaparecidos mortos, é muito raro que voltem vivos. E, neste ponto, encontrar seus corpos é um privilégio.

Além disso, as vítimas e suas famílias são "revitimizadas". É muito comum dizerem que se eles foram mortos é porque "estavam fazendo algo errado", quebetanocassinouma forma ou outra estavam ligados ao narcotráfico.

Isso é uma mentira vil. Eu conheço muitos, muitos que foram levados que eram totalmente inocentes. Tembetanocassinotudo: homens, mulheres, jovens e até crianças.

Ebetanocassinorelação àqueles que fizeram algo errado, que o processem judicialmente, não ponham a família neste inferno.

Quem os leva muitas vezes pertence ao crime organizado, mas às vezes algumas autoridades também estãobetanocassinoconluio com eles, como foi o caso do meu filho.

No México, mães e pais foram mortos por procurarem seus filhos. Por isso, muitos nos perguntam se não temos medo. A verdade é que não. E não estou dizendo isso apenas por mim, mas porque vejo nas minhas companheiras.

Não temos medo. O maior medo era perder nossos filhos, e já passamos por isso.

Se fosse possível, eu teria dado minha vida. Eu teria dado mil vezes a minha vidabetanocassinotroca do meu filho.

'Eu desenterrei meu filho'

Após dois anosbetanocassinobuscas incansáveis, encontrei meu filhobetanocassinouma cova clandestina que eu mesma escavei.

Eu mesma desenterrei meu filho. Foi uma coisa terrível.

Jesús Ramón Martínez

Crédito, Arquivo pessoal / Cecilia Delgado

Legenda da foto, Delgado levou dois anos para encontrar o corpobetanocassinoJesús Ramón

Foibetanocassino25betanocassinonovembrobetanocassino2020, exatamente dois anos depois que o vi pela última vez.

Procurávamos corposbetanocassinoum lugar onde havia uma dúziabetanocassinotúmulos.

Quando o encontrei, o reconheci imediatamente. Uma mãe não pode estar errada.

Eu sabia que era ele por causa do aparelho nos dentes, por causa do dente siso e porque ele ainda tinha cabelo no crânio. Seus cabelos castanhos, com os cachinhos que ele não gostava e sempre penteava com muito gel para que não aparecessem. (Chora inconsolável).

Vi então suas roupas. E comprovei que, sim, era meu filho.

Eu gritei: "Não, não, não. Não pode ser", repetia chorando.

Mas sabia que era verdade.

O resultado do examebetanocassinoDNA que chegou dias depois apenas confirmou novamente.

Eu desabei. O mundo desmoronou. Apesarbetanocassinotudo, eu esperava um milagre.

Eu queria que as cinzas do meu filho ficassem na minha casa, mas meus outros dois filhos insistiram que não. Que tinha que deixar no cemitério, para poder continuar vivendobetanocassinoalguma forma.

Em 8betanocassinodezembro, nós o enterramos.

Por seis horas, cantamos suas canções, tocamos música e dançamos para ele. Exatamente como ele uma vez me disse, meio brincando, meio sério, que ele queria que fizéssemos quando ele morresse.

Eu disse a ele para calar a boca, que estava louco. Que eu morreria primeiro.

Nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar que o levariam embora desse jeito.

Por isso, quero dizer a todos no México que não esperem passar pela mesma coisa que eu, que nós, as milharesbetanocassinomães que estão passando por isso, não queremos que isso aconteça com mais ninguém.

A busca continua

Uma semana depoisbetanocassinoencontrar meu filho, peguei minha pá novamente e fui para as montanhas com minhas companheiras.

Desde o desaparecimentobetanocassinoJesús Ramón, encontrei um totalbetanocassino194 tesouros com diferentes coletivos. Mas a situação é tão terrível que essa busca não pode parar.

Moisés Reynoso

Crédito, Cortesía Cecilia Delgado

Legenda da foto, Agora Cecília também procura seu sobrinho, Moisés Alfonso Reynoso

Há sete meses, meu sobrinho Moisés Alfonso Reynoso Delgado,betanocassino28 anos, filho da minha irmã, também desapareceu. Como a meu filho, prometi a ele que o encontraria.

Também prometi a outras mães que não vou parar até encontrarmos seus filhos. E as promessas se cumprem.

Infelizmente, ainda existem milharesbetanocassinotesouros para serem desenterrados

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