Contra suicídios, a importância do apoio social e do cuidado com a saúde da mente:pixbet whindersson
- Paula Adamo Idoeta - @paulaidoeta
- Da BBC News Brasilpixbet whinderssonSão Paulo

Crédito, Getty Images
Depressão e transtornos mentais estão fortemente associados ao suicídio; no Brasil, há maispixbet whindersson11 mil casos por ano, segundo Ministério da Saúde
pixbet whindersson Nana Calimeris até hoje se vê diantepixbet whinderssonmomentospixbet whinderssonque fica mais retraída e isolada, suscetível a sensaçõespixbet whinderssongrande desilusão pixbet whindersson - e a pensamentospixbet whinderssonsuicídio.
Aos 43 anos, a escritora enfrenta a depressão e a ansiedade desde a adolescência, épocapixbet whinderssonque começou a desenvolver "uma vontade muito grandepixbet whinderssonmorrer".
"Me sentia uma pessoa horrível. A sensação era apixbet whinderssonque eu estava respirando o ar que deveria serpixbet whinderssonoutro ser humano."
Casos recentespixbet whinderssongrande repercussãopixbet whinderssonsuicídiopixbet whinderssoncolégios e universidades, bem como a mortepixbet whinderssoncelebridades como o chef e apresentador Anthony Boudain e a designer Kate Spade - ambos no augepixbet whinderssonsuas vidas profissionais -, evidenciam a importânciapixbet whinderssonfalar sobre o tema e diminuir o estigmapixbet whinderssontorno da saúde mental.
Os números também são alarmantes: a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo, totalizando quase 800 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde.
No Brasil, segundo o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, são maispixbet whindersson11 mil suicídios por ano, e alguns especialistas temem que haja uma subnotificaçãopixbet whinderssoncasos.
Não é possível saber o que está por tráspixbet whinderssoncada uma dessas histórias, uma vez que o suicídio é multicausal, ou seja, não há um único fator ou culpado.
Mas especialistas apontam que,pixbet whinderssongrande parte dos casos, há um históricopixbet whinderssontranstornos mentais, diagnosticados ou não: depressão, ansiedade, esquizofrenia, bipolaridade, borderline (de comportamento impulsivo e compulsivo), entre outros.
"Não é possível reduzir o suicídio a uma única causa, mas a depressão causa uma disfunção dos neurotransmissores do cérebro. É partepixbet whinderssonum conjuntopixbet whinderssonfatores psicológicos, culturais, físicos e bioquímicos", diz à BBC News Brasil Daniel Martinspixbet whinderssonBarros, psiquiatra do Institutopixbet whinderssonPsiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC),pixbet whinderssonSão Paulo.

Crédito, Getty Images
Momentospixbet whinderssonisolamento e crise grave requerem atenção médica imediata; é importante estar atento
Associados a essas doenças estão os chamados "Ds": além da depressão, há "o desespero, desamparopixbet whinderssongrupo social, desesperança, desemprego, divórcio e dependência química. Quanto mais 'Ds', maior é o riscopixbet whinderssonsuicídio", explica à BBC News Brasil o psiquiatra Fabio Gomespixbet whinderssonMatos e Souza, coordenador do Programapixbet whinderssonApoio à Vida (Pravida) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Diante disso, dizem os especialistas, é preciso sempre cuidar da saúde mental com o mesmo empenho que nos ensinaram a ter com o restante do corpo.
Corpo saudável
E isso começa por "ter uma vida saudável mesmo: sono adequado, alimentação adequada, atividades físicas e evitar o isolamento social", explica Daniel Barros.
"Os exercícios físicos aumentam as substâncias do prazer - a seratonina, a dopamina e a noradrenalina -, que ficampixbet whinderssonníveis baixospixbet whinderssonpessoas deprimidas", agrega Souza, do Pravida. "Então as atividades físicas funcionam como um escudo protetor. A meditação, a ioga, a natação e o exercício na academia ajudam o corpo a ter mecanismos fisiológicospixbet whinderssoncombate à depressão."
Foi o que Nana Calimeris aprendeu ao longo da convivência com a doença: ela usa a ioga e a meditação para ajudar a conter a ansiedade.
"Aprendi a respirar e a lembrar que as crisespixbet whinderssonansiedade são cíclicas e passam", conta à BBC News Brasil.
"Algumas crises são longas. Mas, com a respiração (da meditação), elas duram menos e eu consigo distinguir meus pensamentos. Isso traz a consciênciapixbet whinderssonque a angústia talvez seja fruto da minha imaginação. Tem hora que dá certo, tem hora que não dá."
O momento mais crítico da doençapixbet whinderssonNana foi aos 28 anos, quando ela se viu prostrada na cama com uma crisepixbet whinderssondepressão profunda. "Eu não via saída para lidar com aquela dor", conta.
Nana tentou se matar, ingerindo uma dose cavalarpixbet whinderssonmedicamentos. Felizmente,pixbet whinderssonmãe a viu desacordada e a levou ao hospital.
Hoje, ela não espera mais chegar ao fundo do poço: "Quando começo a ter ideias suicidas, a sensaçãopixbet whinderssonque não tenho possibilidadepixbet whinderssonaceitação, ou quando me jogo na comida, vou na mesma hora ao médico, porque sei que não estou legal".
A partir daí, com a ajuda do psiquiatra, ela dosa os medicamentos e os combina com terapia. "Nenhum deles resolve (o meu problema) separadamente."

Crédito, Getty Images
Transtornos mentais alteram a química do cérebro e podem causar disfunção na liberaçãopixbet whinderssonneurotransmissores específicos
'Guardiões da vida'
Um apoio crucial para Nana vem do filhopixbet whindersson18 anos, que aprendeu a distinguir os momentospixbet whinderssonque a saúde da mãe não está bem.
"Ele vê quando eu começo a me isolar, quando deixopixbet whinderssonsair, e me alerta", conta Nana.
Da mesma forma, pessoas atentas a sinaispixbet whinderssonisolamentopixbet whinderssonquem está ao seu redor podem ajudar na prevenção ao suicídio, explica Souza, do Pravida.
Ele tem ajudado na formaçãopixbet whindersson"guardiões da vida"pixbet whinderssonescolas, instituições públicas e empresas cearenses.
"Trata-sepixbet whinderssonum grupo atento e treinado para identificar pessoas que estejam faltando, se isolando, chorando. E que se perguntem: 'será que que ela está deprimida? Vou falar com ela'", diz o psiquiatra.
"É preciso ter esses guardiões também dentro da família, que percebam quando é horapixbet whinderssonconversar,pixbet whinderssonlevar (o parente) para uma avaliação médica, para que dê tempopixbet whinderssontratá-lo."
Os sinais a prestar mais atenção são, segundo Souza e Barros:
- Mudançaspixbet whinderssoncomportamento e perdapixbet whinderssoninteresse pelas coisaspixbet whinderssonque a pessoa gostava;
- Crisespixbet whinderssonchoro, ideias pessimistas epixbet whinderssonnulidade;
- Comportamentos compulsivos ao extremo;
- Pessoas que perderam alguémpixbet whinderssonque tenham grande dependência emocional;
- Pessoas que já tenham histórico familiarpixbet whinderssondepressão e suicídio.
Casos assim têmpixbet whinderssonser "avaliados imediatamente", adverte Souza. Mas como distinguir tristezas passageiraspixbet whinderssoncasospixbet whinderssonalta gravidade?
"Na dúvida, considere aquela pessoapixbet whinderssonperigo", opina o psiquiatra. "Pode ser uma tristeza, pode não ser. É bom buscar uma avaliaçãopixbet whinderssonum especialistapixbet whinderssonsaúde mental. É melhor ter certeza, porque não podemos arriscar aquilo que não podemos (nos dar ao luxo de) perder."

Crédito, Getty Images
'Guardiões da vida'pixbet whinderssonescolas, famílias e empresas podem ajudar a identificar pessoas que estejam vulneráveis à depressão
Redepixbet whinderssonproteção social
Ao longo do tratamento, as redespixbet whinderssonapoio social têm um papel fundamental para pessoas com doenças mentais.
"Tenho amigos que são imprescindíveis", relata Nana. "Fez toda a diferença para mim ter um amigo virtual com quem eu falava por Skypepixbet whinderssonmomentos difíceis. Ele me ouvia mesmo quando eu me repetia; ele lia os textos que eu escrevia. São pequenas coisas que fazem muita diferença."
Nesses momentos, o que um amigo deve ou não dizer?
Para Nana, os amigos ajudam ao serem genuinamente presentes.
"É querer saberpixbet whinderssonverdade como você está, e não apenas querer ouvir um 'estou bem'. É dizer 'estou aqui'. Tenho um amigo que me traz uma lembrancinha sempre que viaja, e é algo que me toca profundamente", diz.
"O que não ajuda, nos momentospixbet whinderssondepressão, é dizer 'vamos sair, vamos tomar um sol'. Não adianta. A gente não falaria isso para alguém doentepixbet whinderssoncâncer, então não adianta falar para alguém doentepixbet whinderssondepressão."
A escritora e psicanalista Paula Fontenelle, autorapixbet whinderssonSuicídio: O Futuro Interrompido - Guia para Sobreviventes, acha que devemos evitar meias palavras se estivermos preocupados com um amigo deprimido.
"Uma amiga me telefonou certa vez, e notei que ela estava ligando para se despedirpixbet whinderssonmim. Perguntei sem rodeios se ela estava pensandopixbet whinderssontirar a própria vida. Ela desatou a chorar e contou que sim, que já havia planejado tudo", diz Fontenelle, que acabou conseguindo que a amiga buscasse tratamento, no qual está até hoje.
"É preciso ser direto e ouvir sem julgamento, porque não tem certo ou errado nessas horas. O que a pessoa quer é acabar com a própria dor, não necessariamente morrer. E como a dor é muito grande e muita gente não tem com quem conversar, se você abre a porta para um diálogo, já está ajudando muito."

Crédito, Getty Images
Há tratamento para transtornos mentais e ele é capazpixbet whinderssonsalvar vidas, diz psiquiatra
Na juventude, drogas e excessos digitais
Mundialmente, o suicídio já é a segunda maior causapixbet whinderssonmortespixbet whinderssonjovens entre 15 e 29 anos. E, no Brasil, pesquisas indicam que a morte autoinfligidapixbet whinderssoncriançaspixbet whindersson10 a 14 anos aumentou 65% entre 2000 e 2015.
É preciso lembrar que o cérebro juvenil está exposto a um desequilíbrio no amadurecimento: o hipocampo e a amígdala, regiões cerebrais responsáveis pelos sentimentos e pelo armazenamentopixbet whinderssonemoções, amadurecem mais rapidamente que o córtex pré-frontal, responsável pela regulação emocional epixbet whinderssonimpulsos. Essa disparidade dura até os 25 anospixbet whinderssonidade.
"Temospixbet whinderssonensinar isso aos mais jovens: o seu cérebro ainda está sendo gestado", opina Souza, do Pravida. "Quanto mais saudável o cérebro, menos vulnerável ele estará à depressão e ao suicídio. E por isso é tão importante evitar álcool e drogas. Há uma percepçãopixbet whinderssonque a maconha é inócua, mas ela favorece a depressão, a esquizofrenia e o suicídio."
Essa faixa etária enfrenta ainda outro desafio moderno: a excessiva valorização da vida digitalpixbet whinderssondetrimento das relações presenciais.
"Existe um desequilíbrio grande e uma ausênciapixbet whinderssonespaços para desabafar e conversar,pixbet whinderssonvezpixbet whinderssonapenas olhar a 'revista digital' do Instagram, onde você não vê quem está mal ou sofrendo, porque essas pessoas estão sozinhaspixbet whinderssonseus quartos", diz o psiquiatra.

Crédito, Getty Images
Abusopixbet whinderssonsubstâncias químicas é um fatorpixbet whinderssonrisco para o suicídio - mesmo a maconha, percebida como inócua, pode favorecer a depressão e a esquizofrenia
Proteção e diagnóstico
Por fim, Souza destaca o papel das políticas públicaspixbet whinderssonprevenção, algo que passa por diminuir o tabupixbet whinderssontorno das doenças mentais e aumentar a proteçãopixbet whinderssonedifícios e espaços públicos e privados - por exemplo, gradespixbet whinderssonpontes e estaçõespixbet whinderssonmetrô, redes protetoraspixbet whinderssonvarandas públicas ou ao redorpixbet whinderssonescadarias.
"Há quem diga, 'ah, mas quem quer se matar vai encontrar um modo'. Mas como o suicídio tem um componente muito fortepixbet whinderssonimpulsividade, a dificuldadepixbet whinderssonacesso já vai ter um impacto", opina Souza.
O Ministério da Saúde tem uma "agenda estratégica"pixbet whinderssoncombate ao mal, com a metapixbet whinderssonreduzirpixbet whindersson10% a mortalidade por suicídio até 2020 por meiopixbet whindersson"ampliação da vigilância, prevenção e atenção integral", mas Souza opina que são necessárias campanhaspixbet whinderssonsaúde pública mais amplas, a exemplo do que é feito com doenças infecciosas.
"O Brasil tem campanhas sistemáticas contra a dengue, que matou 200 pessoas no ano passado. Pelo suicídio morreram quase 12 mil", compara.
Do pontopixbet whinderssonvista clínico, ele defende um prontuário único para pacientes do SUS, que permitisse acompanhar o históricopixbet whinderssonsaúde mentalpixbet whinderssonpacientes e a dosagempixbet whinderssonmedicamentos receitados - evitando algo comum, que é um paciente obter o mesmo medicamento tarja pretapixbet whinderssonvários médicos e acabar tendopixbet whinderssonmãos uma dose potencialmente mortal.
E ele ressalta que é possível, sim, tratar a depressão e a intenção suicida. "Não nos deixemos levar pelo 'não tem jeito'. Tem tratamento sim, e é eficaz", diz.
Nana Calimeris se diz um exemplo disso. Nos últimos anos ela passou a se dedicar à carreirapixbet whinderssonescritora, e seu livro A Bibliotecapixbet whinderssonAlexandria tem como personagem principal uma jovem que convive com a depressão.
"E pensar que eu estava disposta a ir embora sem ter realizado esse sonhopixbet whinderssonser escritora", pondera. "Por isso acho que é preciso sempre falarpixbet whinderssonprevenção. As pessoas julgam: 'mas essa pessoa tinha tudo; por que ela se matou?'. Vai ver que ela se matou porque não deu conta. O suicídio existe e precisamos falar a respeito."
pixbet whindersson * pixbet whindersson O Centropixbet whinderssonValorização da Vida (CVV) dá apoio emocional e preventivo ao suicídio. Se você estápixbet whinderssonbuscapixbet whinderssonajuda, ligue para 188 (número gratuito) ou acesse www.cvv.org.br pixbet whindersson . (Até 30pixbet whinderssonjunhopixbet whindersson2018, o CVV atende pessoaspixbet whinderssonMaranhão, Bahia, Pará e Paraná no número 141; após essa data, o atendimento ao país inteiro migrará para o 188.)




